sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Hoje também parece estar na moda isso da transição defensiva do Benfica


"A equipa de Jorge Jesus fabricou quase dez oportunidades para marcar golo, só fez dois, empatou (2-2) em casa do Standard Liège que fica na Bélgica, país que justificou a braçadeira de capitão em Vertonghen, mas não explica alguns problemas que se voltaram a repetir esta época no Benfica, que já estava apurado para a fase seguinte da Liga Europa, mas assim terminou no segundo lugar do grupo 

Uma determinada coisa, reação, produto, maneira de vestir ou forma de pensar virar moda não é de agora, tão pouco de ontem, nem de há uma semana, sempre foi algo passageiro e do momento, as modas vêm presas a uma etiqueta de validade que tem lá as datas, mesmo que não apareçam escritas. Cedo ou tarde, o prazo finda em quase tudo e ainda haverá de chegar o dia, sabemos lá nós, em que o capitão de uma equipa de futebol e decidido por aspetos não convencionais.
Ser o jogador com mais anos de clube, ou o mais velho, ou o unânime futebolista com mais qualidade, ou o com mais estatuto sempre foram os fatores a considerar. Poderemos tê-los como moda: sempre foi assim, e normal que assim continue. Até que veio Jorge Jesus, rodou meia equipa, nessa rodagem incluiu a titularidade de defesa que há anos é co-capitão do Benfica e não lhe deu a braçadeira.
A responsabilidade de a passar para o corpo de Jan Vertonghen - por o adversário ser o Standard e o jogo ser em Liège, na Bélgica, terra do jogador chegado há poucos meses a Portugal - e dedutível ao treinador, que também reclamou para si a decisão de ver a equipa como apta a ser capitaneada por Nico Otamendi, outro defesa central chegado no verão ao Benfica. A moda dos requisitos tradicionais para se ser capitão não pegou aqui.
A moda que não é bem moda, mas obrigação, de no futebol ter de se formar uma equipa organizada e coesa no momento defensivo, com todos a se posicionarem no lugar certo e a reagirem padronizados ao que o adversário tenta fazer, também voltou a não pegar a 100% na equipa.
Aos 12’, o Standard reciclou rapidamente a bola da esquerda para a direita, meio Benfica reagiu lentamente e, na outra metade, deixou-se que os belgas ficassem em igualdade numérica na área (Weigl foi dar cobertura a Nuno Tavares, que abordou o adversário com bola, e Taarabt não compensou o alemão) e um cruzamento chegou a Nicolas Raskin e ao seu cabelo descolorado, moda que parece atravessar gerações.
Até aí, é verdade, o Benfica rematou por Waldschmidt, Taarabt e Everton em três jogadas nas quais gerou oportunidades em transição, movendo-se rápido e atacando com intensidade nos passes e nos movimentos dos jogadores. As diagonais de Darwin arrastavam gente para longe das relvas onde Pedrinho e Everton tinham receções mais ao centro do campo, para depois tocarem no médio marroquino que foi feito para tabelar e se associar com passes curtos.
O Benfica entrava de rompante no jogo, transitava-se bem, chegava muitas vezes à área belga e a rapidez com que queria atacar, ousando e saindo-se bem nas progressões com muitos passes verticais também porque o Standard pressionava alto, logo nos centrais. A intenção era mútua, só que os belgas, além de apertarem com uma manta cheia de rasgões, erravam bem ao construírem coisas de forma curta, a começar na própria área.
Erros lá atrás, perdas de bola na primeira pressão tentada ou passes falhados sem um homem perto, a dar cobertura, eram quase moda quando os belgas tentavam atacar com mais calma. E o Benfica teve quase uma dezena de bolas para contra-atacar e até era muito amigo do critério no primeiro passe feito após recuperar a bola, mas, perto da área, falhava quase sempre - quase sempre, alguém decidia mal e executava pior quando, em contra-ataque, só restava um passe para se poder rematar apenas com o guarda-redes a fazer figura.
O empate do Benfica aos 16’ surge em ataque pausado, com quase toda a equipa na metade belga do campo, quando Pedrinho se ligou com Taarabt e o marroquino acelerou área dentro para cruzar e Everton cabecear. O resto que produziu até ao intervalo fez-se em modo velocista, para a frente ia-se rápido e a acelerar, mas só houve produto final nos remates de Waldschmidt e Darwin que as mãos de Arnaud Bodart pararam.
Essa moda durou 45 minutos. A loucura de uma conversa de jogo falada em vaivéns constantes foi acabando, em grande parte, por mudanças no Standard Liège, que já não montava a sua pressão alta e diminuía o número de vezes em que escolhia chatear os centrais do Benfica. Recuou um pouco as linhas, os médios tornaram-se mais guardiões das entrelinhas e obrigaram a uma mudança.
O Benfica teve de atacar mais vezes com mais adversários atrás da linha da bola. Teve menos aberturas para rasgar passes verticais e embalar jogadores na profundidade. Tinha de usar a bola em circunstâncias que lhe pediam outras coisas - paciência, criatividade, rapidez no passe para fazer mexer a organização alheia, movimentações que arrastassem atenções.
E os problemas recentes de falta de ideias e de letargia em atacar desta tal forma ressurgiram, mesclados com erros individuais, como o passe lateral e manso de Taarabt e a passividade de João Ferreira ao esperar que lhe chegasse, destaparam outro berbicacho, este mais reincidente: a transição defensiva da equipa.
Essa bola foi cortada por um adversário que, depois, correu 50 metros de campo até o Standard chegar à área com quatro jogadores frente a quatro do Benfica. Os restantes estavam foram do plano, a recuar a passo (só Nuno Tavares sprintou para trás), cada um mal colocado como estava toda uma equipa nos segundos em que Taarabt arriscou esse passe e não se via um jogador como opção no meio do campo, atrás da linha da bola. Depois, também ninguém saiu a Abdoul Tapsoba, que rematou o 2-1 à entrada da área.
Tem sido moda no Benfica esta época.
Jorge Jesus, comentador não comentando do alegado episódio de racismo no PSG-Basaksehir, mas que insistiu em comentar que “hoje está muito na moda isso do racismo”, colocou Rafa e Pizzi, logo na primeira jogada em que participaram forçaram uma jogada com toques rápidos que gerou um penálti para o habitual batedor saltitar antes de rematar o 2-2.
Outra verdade fica escrita no remate de Darwin que encontrou o poste, no que Everton se individualizou para disparar a 25 metros da baliza e no de Rafa, mesmo acabar, contra a barra, após domesticar um passe de Gabriel na área. Foram três oportunidades das grandes para o Benfica terminar com mais golos, mas foi pouco, muito pouco para a bola que a equipa teve. E para o quão leviano foi o comportamento defensivo pós-perda.
O Benfica fabricou quase 10 chances flagrantes para marcar golo, é bastante, é sintoma de capacidade de produzir coisas a atacar rapidamente e com espaço. Mas, mudado o contexto, o jogo mostrou coisas que hoje parecem ser moda porque, factualmente, se vão repetindo na equipa de Jorge Jesus."

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