sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Fazer a nossa parte


"1. Claro que dói. Evidentemente que dói. Mas 'isto' é o futebol, e precisamos de voltar à terra e ao cenário em que vivemos e reconhecer que a mais adequada atitude que podemos adoptar numa circunstância tão dura como a da derrota de terça-feira na Grécia não é senão a da serena análise que Jesus assumiu no fim do jogo.
2. Realmente, o que define o jogo do futebol são os golos, e nessa noite os nossos adversários marcaram mais um golo do que nós. Eles ganharam.
3. Ao fim de escassas cinco semanas de preparação, esse é o triste registo que fica do primeiro jogo oficial que disputámos nesta época, sendo que, se nós próprios deixássemos, a derrota poderia, infelizmente, deixar marca para toda a temporada. Ou mais ainda.
4. Desde logo, porque nos próximos tempos não podemos alimentar a legítima ilusão de cumprir o mesmo desígnio de, pelo menos, disputar pela décima primeira temporada consecutiva a fase de grupos da maior competição europeia.
5. Será então por isso que vamos ficar derrotados e de cabeça baixa para o resto da época? Evidentemente que não. Por isso, evidentemente que os Benfiquistas não alinham na conversa de chacha do jornalismo militante da Impresa, das comadrices da Cofina ou da informação já quase submersa da Global, que começaram logo com o mesmíssimo bota-abaixo dos que há décadas padecem das dores de cotovelo.
6. Como se viu, nem o contexto em que a pré-qualificação foi neste ano disputada (numa só mão; fora de casa, apesar da condição de 'cabeça de série' que inutilmente a UEFA nos atribuía; e também, por exemplo, sem que a conjuntura covid tivesse recomendado aos organizadores de Nyon a utilização de cinco substituições que irá manter-se nas suas competições ao longo dos meses...), a verdade é que nem a própria equipa já havia completado a assimilação dos processos técnico-tácticos e dos índices físicos que o Treinador naturalmente lhe quererá imprimir para os esplendores da alta competição.
7. No grande Futebol, nada, nunca, está ganho, como se viu. Essa lição serena igualmente nos chegou (e para mim, de certo modo, inesperadamente...) no apreciável registo de sensatez que Jorge Jesus soube imprimir às suas conclusões em Salonica, ao deixar implícito que, muitas vezes, é a partir das mais imprevisíveis derrotas que se preparam as mais saborosas vitórias.
8. A vida continua. E agora, a começar por nós, temos de continuar sem desânimo, a fazer a nossa parte para que os atletas sintam o nosso respeito e, sobretudo, a nossa confiança neles, já hoje, sexta-feira, em Famalicão - apenas cerca de setenta e duas horas depois da Grécia e com uma longa viagem pelo meio.
9. O resto - venha de onde vier -, para já, é só conversa mole. Pior: é a conversa de chacha do costume, dos mais rasteiros antibenfiquistas."

José Nuno Martins, in O Benfica

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