sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Novelas insondáveis


"1. Eu, por mim, não há maneira de me habituar a gabar, mesmo que fosse por dever de ofício, aqueles que, a jogar diante de adversários com notória menor capacidade e talento, lhes dão partes inteiras de avanço e, nos momentos decisivos, azar atrás de azar, acabam a perder ingloriamente os jogos das finais.
2. Bem decerto que nenhum Benfiquista pode deixar de abraçar os seus no momento de infortúnio. Isso é uma coisa. Outra, seria que a gente se deixasse envolver pelo desculposo manto de transigência doentia que, por exemplo, se tornou na cultura assumida em um dos nossos rivais.
3. Um tal sorumbático padrão da perda e do falhanço, que antigamente se chamavam as 'vitorias morais', é completamente insuportável no Benfica. E, claro, que não pode ir-se deixando tolerar indefinidamente, insinuante e perverso, nem como registo habitual dos jogos decisivos, nem, muito menos, como labéu dos jogos (apenas) importantes.
4. Para mim, não me consolam as lágrimas nem as pungentes tristezas afirmadas no final de um jogo (mal) perdido. Sobretudo, quando a derrota já soa a 'normalidade', evidentemente que não me satisfazem as desculpas da 'entrega' ou do azar, na elite ou na formação, da grande segunda parte, ou do orgulho que eu próprio sinto acerca de brilhantes projectos de jogadores que a seguir querem 'levantar a cabeça', ou de habilidosos seniores que também se vão abaixo nos momentos cruciais. Nunca gostei desses filmes.
5. Repito aqui que a cultura de exigência que o Benfica lhes oferece, a jogadores e treinadores, representa condições absolutamente inigualáveis de preparação, concentração, desempenho e até, de recuperação do esforço que - nos dois ou três escalões mais avançados - caracterizam a alta competição.
6. Em mais de doze décadas da história do Futebol em Portugal, nenhum outro clubes português (nem mesmo um Benfica anterior...), alguma vez pôde ousar proporcionar a jogadores e staffs, as mesmas condições de treino, de jogo e, enfim, de usufruto de vida pessoal e , que o Presidente Luís Filipe Vieira conseguiu montar para todos eles, no Benfica do Séx. XXI.
7. E é igualmente consabiada e reconhecida a justa cobiça que Benfica Campus alcançou internacionalmente junto das maiores sedes agremiativas do Futebol mundial.
8. Não há quem não admire por todo o mundo de Cristo e Maomé, tudo o que integra o nosso 'Seixal': a excepcional qualidade das infraestruturas transversais da Formação à Elite; as eficazes metodologias de acompanhamento do crescimento pessoal e do desempenho individual dos atletas; as extraordinárias condições de estudo e treinamento dos profissionais mais conceituados.
9. A cada ano que passa, no entanto, tudo traz acrescidas responsabilidades, em especial, à arquitectura competitiva dos jogos jogadores - pilar essencial para a sustentabilidade e o constante crescimento da incrível dimensão negocial do projecto que o Presidente idealizou e implantou para que o Benfica passasse a ganhar sempre.
10. Na alta competição ninguém continua a ganhar se se deixa vencer. E eu presumo que, no seu espírito visionário, Vieira se sinta triste e perplexo. Quem poderia imaginar que, naquele admirável cenário, se tenha insinuado uma tão estranha maleita a que, quanto antes, seja necessário cortar passo?
11. Vencer e perder é a vida de quem joga. Mas, de facto, dói ver que, precisamente nas ocasiões definitivas, vezes demais, de repente tanto talento individual, tanto amor próprio e tanta autoconfiança conjuntiva, afinal deslizem para insondáveis novelos de insegurança e azares de que se constroem as mais implacáveis derrotas."

José Nuno Martins, in O Benfica

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