domingo, 30 de agosto de 2020

Notas sobre a pré-época do Benfica




"Vinte e sete dias já passaram desde a final da Taça de Portugal, onde um Benfica em superioridade numérica desde os 38 minutos foi capaz de perder para um FC Porto com uma garra, intensidade e querer que não foi igualado e nem uma palavra fomos capaz de ouvir da "estrutura" sobre tamanho desastre. É que não se tratou de um acidente de percurso, mas sim da cereja no topo do bolo de um descalabro, de um Titanic a afundar-se. Recordo: nos últimos 20 jogos o Benfica venceu 7, empatou 7 e perdeu 6. Um registo digno de uma equipa de meio da tabela.
E no entanto não houve uma justificação, uma palavra, um mea culpa. No dia seguinte a newsletter do clube saiu-se com um "é tempo de virar a página", que é como quem diz "é tempo de fazer de conta que nada aconteceu". Mas por mais camiões de areias chamados Jesus e Cavanis que nos atirem para os olhos, continua por explicar como um Benfica a respirar aparente saúde financeira foi capaz de perder 2 campeonatos em 3 para um FC Porto intervencionado pela UEFA. Se não dizem eles, digo eu: incompetência. Complacência. Arrogância. E mais algo que se terá passado nas quatro paredes daquele balneário que algum dia venhamos a saber.
Mas viremos então a página. Jorge Jesus, de quem LFV dizia em 2016 que com ele "não era possível preparar o futuro" está agora de volta e jogadores como Vertonghen de 33 anos chegam à Luz. Isto apesar do mesmo LFV dizer há 4 anos que "vamos passar a comprar muito menos e o Benfica de agora não vai investir no Aimar e no Saviola como fez no passado" O que mudou então? Muitos dirão: o petróleo que o Benfica aparentemente agora encontrou está relacionado com as eleições em Outubro. Até porque em 2018 podia-se ter conquistado um inédito Penta, mas aí a ordem foi vender e nada gastar. Recordemos então mais uma vez palavras de LFV, desta vez em Setembro de 2019: "Se estivesse aqui um demagogo qualquer, queria era investir para apresentar uma super equipa, mas imaginem que aquilo não resultava? A queda era grande." Sorte então a do Benfica que não tem um demagogo...
Cavani foi uma paixão de verão que parece ter terminado em divórcio. Nisto não critico ninguém. Não foi possível, mas gosto de ver o Benfica atrás deste tipo de jogadores. Antes isto que contratações que ninguém entende como Cádiz ou Yony González. De qualquer maneira, Vertonghen, Everton e Waldschmidt parecem ser excelentes reforços e Jorge Jesus é a garantia de qualidade, intensidade e exigência. Tudo aquilo que o Benfica precisava. Sinto-me entusiasmado para a temporada 20/21. Independentemente das razões e do timing, o Benfica parece estar a mexer-se bem este ano. Mas precisa de se mexer mais.
O FC Porto escreveu um tweet muito infeliz a gozar com a derrota Benfiquista na UEFA Youth League. Nem os miúdos se safam desta rivalidade atroz que os dois clubes vivem. É uma rivalidade feia e o Benfica também não está isento de culpas. Ainda hoje não sei o que me envergonha mais, se o FC Porto ter sido campeão na Luz em 2011 ou o que se seguiu, com as luzes apagadas e o sistema de rega ligado. O clube nortenho vive desta gasolina do "contra tudo e contra todos" e faz do Benfica o seu sol, mas o maior clube Português tem que ter outra matriz e responder de maneira diferente. Como? Dou um exemplo do passado: Em 1988 Pinto da Costa "roubou" Rui Águas e Dito da Luz e gozou o prato dizendo que o próximo treinador do Benfica seria o Papa, porque os do Benfica eram uns anjinhos. João Santos respondeu contratando Ricardo Gomes, Valdo, Vítor Paneira e Vata e o Benfica acabou campeão com 7 pontos de avanço (com a pontuação de hoje seria algo como 13 pontos), para um FC Porto que nada venceu esse ano. É assim que o Benfica tem que voltar a responder: não nos tweets, não nas newsletters, não nas capas de jornais, mas no campo. Ao longo do campeonato e no confronto directo. Investindo tudo o que tem aí. Sendo superior porque tem melhores jogadores e porque, ao contrário de Coimbra, iguala ou superioriza no querer, na garra e na intensidade um rival que será sempre fortíssimo e duríssimo. Isso sim, é responder à Benfica."

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