sexta-feira, 31 de julho de 2020

Uma luta de 22 anos

"Uma das maiores alegrias dos últimos tempos foi-me proporcionada pela Casa do Benfica em Faro. A sua equipa de atletismo subiu à  dos s Divisão. Ao fim de 22 anos de trabalho intenso e abnegado, os seus dirigentes, técnicos e atletas atingiram o grande sonho. É um justo prémio para 100 atletas e 10 treinadores. Só um espírito colectivo forte, uma união ímpar e uma dedicação exemplar permitiram este resultado. Claro que há responsáveis por este feito que merecem uma referência. Desde logo, António Fernandes, presidente da Casa durante 16 anos e 23 anos de direcção. O Toy disse-me sempre que um dia atingiriam o seu sonho. Acompanho há anos a forma apaixonada e o entusiasmo com que ele sempre falou dos seus atletas e dos seus treinadores. Quando recebi a notícia, confesso que rejubilei. A primeira reacção foi felicitá-lo. E como é se timbre, alcançado que foi o objectivo, outro surgiu - uma grande classificação. São homens como o Toy que nos fazem acreditar que, se lutarmos até à última gota de suor, o êxito acontece. Para quem não sabe, fora já 12 os atletas que a Casa forneceu ao Benfica. Nada disto seria possível sem o apoio da Câmara Municipal de Faro, sobretudo dos seus presidentes o vice-presidentes, Rogério Bacalhau e Paulo Santos. Destaco ainda o papel da União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), e do seu presidente, Bruno Lage. Tal como enalteço o patrocínio de três empresas de Castro Verde: Idelberto & Filhos, José Dias Faustino e Transportes de Carga Alfandanga. Finalmente, Nuno Gomes, o incansável presidente da Casa, que com uma equipa directiva forte atingiu este feito."

Pedro Guerra, in O Benfica

Queremos ser melhores!

"Quando há dez anos começamos o projecto Para ti Se não faltares!, no dia zero, o sonho dos alunos era jogar à bola à mistura com uma miragem de resultados que pareciam inalcançáveis a quem sistematicamente faltava no dia a dia e enfrentava, de tempos a tempos, um nó apertado na garganta e um rubor na face que preanunciava, em cada teste, o descalabro. As famílias tantas vezes desapontadas com as negativas e os problemas disciplinares almejavam uma passagem de ano, à 'rasca que fosse', ou então que, pelo menos, começassem a atinar na escola sem os problemas de sempre. Os professores sonhavam com paz na sala de aula e no recreio e que chegasse o dia em que alguns alunos trocassem o telemóvel e o despeito por uma oportunidade de comunicarem consigo, e assim conseguirem ensinar-lhes algo para satisfação de ambos.
Poucos anos volvidos, todos perceberam que a bola e os prémios, não eram mais que um incentivo constante aos jovens e às famílias para que se focassem e acreditassem em si próprios, trabalhando o potencial que neles víamos e treinando a cada passo a sua capacidade de ser e de estar convertida nas aulas em oportunidades de aprendizagem e fortalecimento individual. Depois de as faltas baixarem, seguiu-se a atenção e o ambiente construtivo nas aulas, a comunicação com colegas e professores, e a cooperação em equipa, em suma, um ambiente verdadeiramente educativo, sem desvios nem reprimendas, capaz de transformar a aprendizagem em prazer e reconhecimento dos jovens pelos seus pares e de converter tudo isso em sucesso. Foi chegando, então, o tempo da superação e logo a seguir o da resiliência, da manutenção da performance e da consolidação dos resultados. Por esta altura, jovens, famílias, e professores estavam certos de que a receita havia funcionando e de que eles eram capazes. Disto e de muito mais. Por esta altura também, os jovens começaram a correr pelos resultados e não pelos prémios, pelos golos em cima da vitória e não atrás do prejuízo. Houve um tempo, há três ou quatro anos, em que comecei a perguntar nas reuniões de avaliação colectiva e premiação:
Agora, que conseguimos igualar a média dos resultados da vossa escola, o que é que queremos? Que objectivos nos propomos para o próximo ano? A resposta, já a adivinhou quem lê, foi a seguinte: 'Queremos ser melhores'.
Resposta extraordinária, cheia de ambição e segura de si, mas não surpreendente. Os jovens do Para ti Se não faltares! são, em cada ano, seleccionados pelo seu talento. Uma minoria, cerca de 10% são já os melhores da escola porque converteram o seu talento em sucesso. A maioria, cerca de 90%, são jovens a abarrotar de talento desperdiçado que querem acreditar em si mesmos e estão dispostos a trabalhar para isso. Fazem um contrato de desenvolvimento com a Fundação Benfica e comem a relva, depois o resultado vem, sempre e aos magotes! Tem sido assim aos milhares nestes onze anos, mais de quatro mil jovens para ser exacto, e este ano foi uma vez mais assim. Que orgulho!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Cadomblé do Vata (Taça)

"Um SL Benfica - FC Porto disputado em Agosto no Estádio Municipal de Coimbra tem o cheiro fétido das finais de Supertaça de má memória Gloriosa, da mesma forma que um Clássico em fins de Maio no Jamor recorda um papiro apinhado de derrotas em decisões da Taça de Portugal para os lados azuis e brancos. Podia-se até atribuir já a Taça de Portugal ao SLB e a Supertaça ao FCP, deixando 9 milhões de adeptos disponíveis para um apetitoso jantar familiar em vez de terem encontro marcado com os últimos 90 minutos de agonia desta longa temporada.
A final de amanhã não é a mais tardia da história. Penso que esse titulo ainda pertence ao ensaio para Estugarda de Carlos Manuel, quando uma birra de Pinto da Costa atirou a decisão da Prova Rainha para dia 21/08/1983 no Estádio das Antas. Então como agora, o futebol português ficou refém de um vírus, para o qual também ainda não há vacina. Não tendo nos primórdios da década de 80 idade para jogatanas, o mais tarde que vi o Benfica subir as escadas do Vale do Jamor, se a memória não me atraiçoa, foi no dia 10/06/1993 e por razões do acaso, foi a minha "final das finais".
Vi o decisivo SL Benfica - Boavista FC da temporada 92/93 num café da Rua Jornal do Fundão, onde me havia deslocado para o aniversário de uma tia, sem saber que eu é que receberia a prenda, com goleada a preceito e uma lista de grandes golos digna do Guiness, iniciada com uma brilhante jogada repartida entre Paneira, Águas e Paneira e culminada com a única exibição digna do seu talento de Paulo Futre pelo Glorioso. Para a historia ficaram 5 batatas na baliza de Lemajic, que não precisou esperar um ano para ser o espectador mais bem colocado nos 3-6 de Alvalade Às duas equipas que vão subir ao pelado de Coimbra amanhã não posso exigir o brilho deste. Se me derem 10% daquilo,já fico "sastfêto"."

Vergonha...

"Artur Super Dragão (ASD) é o árbitro da Final da Taça. No fundo, já toda a gente sabia. O controlo da arbitragem pelo Calor da Noite é total e avassalador!
Na sua carreira, Artur Super Dragão apitou 41 jogos do Calor da Noite, com apenas 3 derrotas dos mesmos. A última delas foi há mais de 4 anos num jogo com o Cashball, que por acaso já nada interessava ao Calor da Noite porque a classificação já estava decidida.
Nos últimos 5 clássicos apitados pelo pasteleiro Artur Super Dragão aconteceram 4 vitórias e 1 empate para o Calor da Noite.
O Conselho de Arbitragem liderado por Fontelas Gomes e comandado por Pinto da Costa tem passado um verdadeiro atestado de incompetência a todas as associações de futebol deste país, ao nomear invariavelmente árbitros da AF Porto, para apitar os jogos Calor da Noite-Benfica ou Benfica-Calor da Noite. Parece até que os árbitros da AF Porto possuem um qualquer dom que os torna singulares para apitar estes jogos. 14 dos últimos 16 clássicos foram apitados por árbitros da AF Porto. Isto É Uma Verdadeira Vergonha! Como é possível Luis Filipe Vieira nunca se ter pronunciado publicamente contra este atentado à verdade desportiva? Como é possível nunca ninguém do Benfica ter referido estes factos? Contado, ninguém acredita!
Poupem na gasolina e nem se desloquem a Coimbra. A nomeação de Artur Super Dragão mais uma vez deveria ter esta reacção da nossa parte. É altura de dizer basta! É altura de tomar uma atitude! Chega! Tudo tem limites."

A Mão de Vata (emblema)

"O meu pai, com o seu ensino primário mal amanhado sempre foi e é um apaixonado por história. Na mesa de jantar incutiu-me o bichinho do passado enquanto herança que devemos estudar, transportar e entregar com carinho aos nossos filhos. Mesmo não sendo ele aficcionado por futebol, foi o primeiro a falar-me das epopeias europeias do Benfica e claro, de Sua Alteza Real Eusébio da Silva Ferreira, que com o exagero próprio da emoção, colocava a atirar guarda redes para dentro da baliza, quando não as mandava abaixo com os seus potentes remates. Não me fiz Benfiquista por influência do meu pai, (apesar de, para um filho de Francisco com 5 ou 6 aos, ser importante apoiar um clube onde jogava um Chiquinho), mas cimentei esta Gloriosa Paixão betonado pelas estórias por ele contadas.
A questão do emblema monocromático nos novos equipamentos cola-se aos insultos às Lendas do Benfica que por aqui li. Se hoje a minha geração é Benfiquista, deve-o aos que no passado trabalharam arduamente para nos entregarem Isto nas mãos. Aceitar um emblema monocromático não tem a ver com estética ou estatutos. É dizer sim a tudo o que nos metem na frente. É pedir um bife à portuguesa e não reclamar quando o empregado nos entrega um bife de perú.
Perdoem-me os rivais, mas o emblema do Sport Lisboa e Benfica é dos mais lindos do Mundo. Tem lá a águia que nos guia a altos vôos, pousada nas cores da bandeira do mais antigo país da Europa. Tem o escudo com as nossas cores: vermelho e branco (permitam-me que sublinhe o branco), enfaixado pelas inicias do magnânimo Sport Lisboa e Benfica. A bola da modalidade que conduziu a fundação d'O Clube e a eterna e sempre presente roda de bicicleta, testemunha do meio usado para, em tempos sem televisão, levar o Manto Sagrado a calcorrear o país, transformando uma associação lisboeta numa instituição portuguesa.
Há 10 anos o SL Benfica apresentou-se durante uma temporada com um rectângulo azul de patrocínio na frente da camisola. À data, os protestos foram muitos e na temporada seguinte, LFV negociou com o mecenas de então e a aberração desapareceu. Protestar não é estar contra a direcção. É ajudá-la a melhorar. Os sócios e adeptos têm que pedir a alteração do emblema no novo equipamento. Porque um verdadeiro adepto de futebol chinês, não vai ser Benfiquista porque o emblema tem poucas cores. Vai ser porque o que nós lhe vamos entregar é um legado histórico de fazer tremelgar os olhos."

Vencer a Taça

"Todo o foco e atenção estão direccionados para a final da Taça de Portugal, a ser disputada amanhã, entre Benfica e FC Porto, às 20h45, em Coimbra. Conforme afirmou, ontem, o máximo goleador da temporada, Pizzi, "estamos focados apenas numa coisa, que é a vitória e levantar a Taça de Portugal".
A nossa equipa tem trabalhado arduamente para cumprir um dos objectivos desta época, aproveitando da melhor forma o miniestágio realizado em Óbidos nos últimos dias. Todos temos consciência de que não foi conseguido o título mais desejado, mas a disputa de uma final de uma competição é sempre independente do percurso nas restantes.
Veríssimo salientou isso mesmo: "Vamos entrar com o espírito de tentar ganhar esse troféu." E confessou que encara a final com "espírito de missão", afinal o que se deseja de qualquer profissional que tenha a honra e a responsabilidade de servir o Benfica.
Um triunfo na final significará a 27.ª conquista na prova desde que, em 1938/39, foi denominada "Taça de Portugal". Ser o clube com melhor palmarés na competição (mais conquistas, mais finais, mais vitórias) representa uma responsabilidade acrescida, com a qual o nosso plantel está bem familiarizado, trabalhando sempre com o objectivo de vencer, independentemente das circunstâncias, em cada partida.
E as circunstâncias em que esta final será disputada são inéditas: sem público e noutro local que não o Jamor (só aconteceu cinco vezes desde a longínqua temporada 1945/46).
O Presidente Luís Filipe Vieira, acerca da final de amanhã, afirmou na revista da FPF de promoção deste evento que "quase tudo é diferente na Taça deste ano", referindo-se à ausência da "envolvente popular, das deslocações de adeptos de todo o país, dos convívios e tradições antes, durante e depois do jogo" e salientando que "deixamos o palco de eleição no Jamor, que tradicionalmente acolhe uma festa popular e desportiva com um espírito único".
Não obstante esta envolvente inusitada, porém inevitável na mesma medida, o Presidente reafirmou ainda "a ambição de proporcionar um bom espectáculo desportivo, de entrar para ganhar e ganhar". 
Mesmo à distância, estamos sempre com a nossa equipa, nos últimos tempos obrigados a apoiá-la de longe, mas sempre juntos na perseguição dos nossos objectivos!
#PeloBenfica"

8 a 1: Superioridade encarnada nos clássicos SL Benfica x FC Porto na Taça

"A rivalidade azul e vermelha, antípoda relacionada com vários confrontos titânicos da cultura ocidental, representa em Portugal muito mais que a oposição de duas instituições futebolísticas. Das disparidades entre o norte industrial e o sul centro de decisões, FC Porto e SL Benfica tornaram-se símbolos dessa dicotomia da geopolítica portuguesa.
Este Sábado defrontam-se mais uma vez em decisão pela prova rainha, naquela que será a 10ª vez que disputam o troféu no jogo final e o balanço favorece largamente as águias, com oito vitórias. Registo fulminante e que traduz o domínio arrasador visível na Taça de Portugal, onde a superioridade dos encarnados é acentuado: no total de 35 jogos, o SL Benfica venceu 21 e empatou 5, relegando os portistas para papel secundário na contagem de conquistas, 26 contra 16.
O histórico começa no final da época 1952-53, estávamos no 28º dia do mês de Junho, e o calor abrasador não impedia a enchente no Jamor para assistir a um dos jogos mais aguardados do ano.
Em campo mediam forças o FC Porto de Cândido de Oliveira, que ali procurava a glória perdida num quarto posto final no campeonato; no outro banco sentava-se o seu grande amigo e companheiro na fundação de A Bola, António Ribeiro dos Reis, que o SL Benfica tinha procurado a meio da época em missão de salvamento, dada a fraca produção ante um Sporting dos Violinos.
Um jogo onde havia muito a ganhar e onde até se oferecia relógio de ouro a quem inaugurasse o placard – Rogério Pipi não se viu por meias medidas, fez o que gostava de fazer na sua prova preferida e meteu o primeiro aos 35 minutos, abrindo caminho a uns estonteantes 5-0 com a assinatura especial de Arsénio, com hattrick.
Quanto ao acessório valiosíssimo, Rogério ofereceu-o à direcção do clube para financiar as obras do futuro Estádio da Luz – e foi neste clima de entre-ajuda e companheirismo que o plantel jantou alegremente perto de Alvalade e festejou noite dentro na Feira Popular, onde estava montado pavilhão benfiquista.
Cinco anos volvidos, primeira e única vitória portista no Jamor frente aos lisboetas. O 1-0 construído por Hernâni – que Pedroto considerava o «melhor avançado de sempre do futebol português» – foi o culminar de uma época conturbada para a barricada azul, em polvorosa estava com a guerra interna entre o craque e Dorival Yustrich, o histórico técnico brasileiro que comandou o Porto à primeira dobradinha, em 1955-56.
No Verão de 1956, armou barraca numa digressão à Venezuela, ameaçou funcionários e presidente, foi despedido e recuperado poucos meses depois com a vitória de outro candidato nas eleições do clube. As feridas, no entanto, nunca sararam e o choque entre a personalidade implacável e controversa do técnico e do herói dessa partida ditou fim precoce do segundo compromisso, em Março de 1958.
Nessa final do Jamor já era confronto de Ottos, já que foi Otto Bumbel o sucessor e levou a melhor sobre o benfiquista Glória. Acerca do jogo fica o frango de Bastos, apesar de defendido pelo autor do golo – «Bastos não foi culpado, a bola partiu com efeito, aquele efeito a que os brasileiros chamam folha seca» – e as queixas do timoneiro do Benfica em relação á arbitragem, no seu estilo inconfundível de palavra desmedida: «Arbitragem? Não houve… Um moço apitando, um moço que se vestiu de árbitro e mais nada…»
Vingança houve no ano seguinte. 1958-59 marca a chegada de Bélla Gutmann a Portugal, com estadia inicial no Norte. Seria vencido pelo comandante derrotado do ano anterior, com golo único de Cavém a dar o recíproco 1-0. Quites ficaram.
Próximo encontro: 1963-64. O SL Benfica, já bicampeão europeu e com ressaca do inglório 1-2 frente ao Milan na terceira final consecutiva, viria a tirar a barriga de misérias com um 6-2 ao FC Porto comandado por… Otto Glória. Que mais uma vez foi figura por declarações que deixaram legado no futebol português, após derrocada disciplinar nas quatro-linhas.
Jaime, jogador azul, comete entrada ríspida à volta da meia-hora, falta para penalty e para expulsão, mas a decisão do juiz foi polémica e motivou comportamento impróprio da trupe nortenha. Com a avalanche emocional do lado azul-e-branco, a goleada consumou-se naturalmente com a presença do quarteto fantástico composto por José Augusto, Eusébio, Torres e Simões, todos autores de golos. Seu Otto, sem maneira de mudar o rumo da partida, perdido em mil fúrias, deixou sair frase que patrocinou todo um paradigma duas décadas depois: «O árbitro anulou o esforço de toda uma região…»
E aí chegamos. Benfica e Porto só se voltam a encontrar em 1979-80, exactamente no auge do Verão Quente portista e da inultrapassável postura da dupla Pinto da Costa-Pedroto na luta contra a centralização do nosso futebol.
No Jamor houve Santa Aliança, com os adeptos sportinguistas a reunirem com os benfiquistas no apoio à equipa. Tornou-se famoso o slogan «Campeonato p’o Sporting, Taça p’o Benfica», consumado com vitória magra encarnada, 1-0, com o brasileiro César a marcar o primeiro golo estrangeiro de sempre do clube em finais.
Mário Wilson era um treinador feliz e pouca atenção deve ter dado ao facto de Pedroto, que o tinha como ódio de estimação, ter decidido descarregar nele a frustração da derrota ao afirmar, sem filtros, que «Mário Wilson, como de costume, utilizou a velha rábula do palhaço. Com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping», contextualizando as insinuações da seguinte forma: «Gostaria, contudo, que me explicassem o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel, que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida».
No ano seguinte, reencontro com mais golos. Desta vez quatro tentos benfiquistas, um deles na própria baliza, traduzindo em 3-1 final marcado pelo hattrick de Néné. Mas não foi jogo de fácil resolução, nem tampouco de fácil concretização: o FC Porto ameaçou a não comparência no jogo e só alterou ideias quando a Federação lhes garantiu todas as condições de segurança, num processo conduzido por Teles Roxo, director do departamento de futebol profissional dos portistas.
E, não conseguida a falta de comparência, conseguiu-se o deslocamento da entrega do troféu para as Antas. Em 1982-83 houve desassombro do Conselho de Disciplina da Federação no súbito abandono do Jamor. O Benfica recorreu da decisão, mandou os jogadores de férias, mas preparados foram para regresso a qualquer instante, que só aconteceu no início da temporada seguinte, com o jogo a realizar-se em Agosto. Eriksson não estava preocupado e muito menos ficou quando Carlos Manuel descobriu o caminho das redes adversárias a 30 metros, num remate ao seu estilo.
O técnico sueco saiu em 1984. Sentiu que a equipa não lhe possibilitava o assalto à Taça dos Campeões Europeus, depois da capotagem frente ao Liverpool de Dalglish e Ian Rush. A equipa tinha sido espremida na totalidade, não havia volta a dar e o interesse da Roma – sua vítima na caminhada rumo à final da UEFA, em 83 – lançava-lhe cantigas de amor, que não demoraram a seduzi-lo. Era o Calcio, centro futebolístico da Europa.
Sai e deixa o lugar para Pal Csernai, técnico reputado que tinha levado o Bayern a duas Bundesligas. Cá chegou arrogante na abordagem e intransigente nos métodos, cavando fosso profundo entre si e o plantel. A final da Taça foi vista como bóia de salvação de uma época penosa e, chegados à final, foram os jogadores que fizeram o onze. Explicou Bento, no momento da celebração: «Nao foi Csernai quem fez a linha para a final, por isso ganhámos, Carlos Manuel e Pietra é que lhe abriram os olhos», declarações que justificam a forma comprometida com que os jogadores encararam e despacharam o rival por claros 3-1.
O nono e último encontro dos dois gigantes em matéria de decisões de Taça ocorreu já no século XXI, estava quase completa a temporada 2003-04. Vivia-se intensamente em Portugal o fenómeno Mourinho. Uma semana antes de Gelsenkirchen e da vitória frente ao Mónaco, o FC Porto foi incapaz de se superiorizar a um SL Benfica inspirado pelas ganas de José António Camacho e pela responsabilidade em honrar a memória de Miklos Féher, falecido meses antes. Foi jogo rasgadinho, duro – dez amarelos e um vermelho – onde a chapelada de aba larga de Simão, já no prolongamento, marcou o renascimento do Benfica competitivo, com uma equipa que constituiria a base da campeã do ano a seguir."

Mehdi Taremi – O (Pouco) Conhecido


"Os milhões de seguidores na rede social Instagram podiam ser a razão mais provável para que o Rio Ave Futebol Clube avançasse para a contratação do Iraniano de, 28 anos, no entanto, finalizado o campeonato podemos perceber que foi claramente um grande trabalho realizado pela estrutura do clube.

“Não é surpresa, esperávamos mais ou menos isto desde o início”
Carlos Carvalhal (Conferência de Imprensa, 30/06/2020)

Pois é, segundo Carlos Carvalhal não é surpresa nenhuma desde o início… Isso só prova de que ninguém, melhor do que o Treinador, que trabalha diariamente com os seus jogadores para perceber de forma clara aquilo que eles podem fazer para trazer valor à sua ideia, de forma a criar condições aos seus jogadores para que os mesmos se possam expressar dentro de uma ideia coletiva. É neste sentido que acredito que se é verdade que o valor de Taremi é inequívoco, também para mim é verdade que o valor de Taremi foi realçado graças ao contexto promovido pelo Carlos Carvalhal (subentenda-se sempre “e respectiva Equipa Técnica”) para que ele se evidenciasse dentro daquela que foi a ideia de jogo mais positiva e regular do campeonato (esta é a minha opinião, como é evidente).
Posto isto, falar de Mehdi Taremi (2019/2020) é falar da sua presença em 37 jogos (88% dos jogos da Equipa), cerca de 2870 minutos, 21 golos e uma assistência, fazendo com que tivesse uma influência de 40% nos golos do Rio Ave F.C. no que à Primeira Liga diz respeito. Dos seus 21 golos, 7 foram através do pontapé de grande penalidade, não falhando em nenhuma ocasião, o que demonstra que também é um jogador capaz de ter a confiança do seu Treinador pelos seus elevados índices de concentração e qualidade na decisão. Foi um dos jogadores (faltam-me dados que comprovem se foi o jogador) que conquistou mais faltas que originaram lances de perigo ou de clara oportunidade de golo, inclusive ganhou 8 grandes penalidades. Ficou no pódio dos melhores marcadores da Primeira Liga, não sendo o melhor porque Carlos Vinicius fez o mesmo número de golos com menos minutos jogados.
Mas é claro, que eu defendo que um jogador será tão bom quanto melhor for o contexto em que se insere e para além de um grande e digno trabalho realizado pelo Carlos Carvalhal e sua Equipa Técnica, urge salientar toda a qualidade individual que rodeou Mehdi Taremi, sobretudo, dentro de campo.
Ao longo do vídeo vão conseguir visualizar algumas particularidades do Avançado Rioavista, tais como: orientação dos apoios para a profundidade, constantes movimentos pelo lado “cego” dos Defesas adversários, agressividade ofensiva tal como defensiva, qualidade na decisão, capacidade de manter intensidade no seu jogo (e com intensidade quero dizer que se trata de um jogador que é capaz de manter a sua postura inicial em todos os comportamentos durante praticamente todo o jogo, por isso, subentenda-se que para mim, é um jogador bem preparado em todas as dimensões do jogo: Física, Técnica, Tática e Mental), rápida chegada à área e ocupação eficaz dos espaços livres na mesma, mobilidade, qualidade técnica, inteligência tática, entre outras que não são tão evidentes neste curto vídeo… No entanto, fica claro para mim, que quem adquirir Mehdi Taremi adquire um Pack Completo naquilo que diz respeito ao bem saber executar a posição de Ponta de Lança.
Hoje não coloquei áudio porque penso que escrevi tudo o que pensava acerca de Taremi, por isso, vejam com olhos de quem analisa um jogador por toda a sua compleição e deliciem-se se for o caso. Para mim foi, no entanto, estou aberto às vossas opiniões como sempre."

Falar a várias vozes

"O espaço mediático é, nos tempos que correm, mais do que um lugar onde se comunica. É lugar de encontro de vários poderes. Pelo que o modo como ele é ocupado ajuda ou prejudica as dinâmicas de trabalho das organizações, os seus propósitos e o sucesso na prossecução dos intentos que as mobilizam a intervir nesse espaço.
No desporto, o espaço mediático é ocupado por vários protagonistas com origem no movimento desportivo: atletas, treinadores, árbitros e juízes, empresários e dirigentes, individualmente ou através das respectivas organizações. Pode dizer-se que o desporto “fala” a várias vozes. É um dado objectivo, incontornável e sem retorno. Entendemos isso como positivo.
O acesso ao espaço mediático para a generalidade das modalidades desportivas é sempre um caminho difícil e estreito, dependente de muitas variáveis, a começar no calibre da mensagem e na notoriedade dos protagonistas, pelo que aproveitar as oportunidades que existem é um princípio do mais elementar bom senso. Nesse sentido, é perfeitamente natural, e desejável, que os vários actores desportivos, com acesso ao espaço mediático, se pronunciem sobre os diferentes aspectos da vida desportiva nacional.
O mesmo princípio é válido para as organizações desportivas de topo. As que têm representação orgânica e aquelas que o não tendo se juntam para, por força das circunstâncias, defenderem problemas comuns. Se existem é porque representam interesses distintos. Que naturalmente carecem de ter voz própria e autónoma.
Comité Olímpico de Portugal, Comité Paralímpico de Portugal e Confederação do Desporto de Portugal têm um histórico com missões e atribuições distintas. Circunstâncias próprias fizeram emergir a Plataforma do Desporto Federado e o Movimento das Federações Desportivas com modalidades colectivas de pavilhão que enriqueceram o espectro associativo nacional e sobretudo a reflexão sobre os problemas do desporto.
Estas dinâmicas são positivas e revelam um tecido associativo em movimento e em mutação. Mais do que tentar travar esta pluralidade orgânica devemos adaptar-nos a essa nova realidade no sentido destas dinâmicas acrescentarem valor à representação desportiva nacional, complementando-a e reforçando-a. A vida democrática é, ela própria, a abertura ao pluralismo de opiniões. Fomentar e estimular esse pluralismo é reforçar a vida democrática. O princípio é válido para todos, incluindo para as organizações representativas.
Questão distinta, e que carece de um outro tipo de abordagem, é o da representação institucional. Cabe ao movimento desportivo, designadamente às federações desportivas, definir os termos da sua representação institucional e respectivos territórios de intervenção: quem representa quem, mas sobretudo em que domínios e para que políticas. São conhecidas as dificuldades que, neste domínio, pontualmente se levantam, em boa parte suscitadas pela indefinição de competências ou pela sua duplicação.
Neste domínio a “fala” a várias vozes dos mesmos representados - as federações desportivas - comporta um risco: o do desporto não “falar” numa mesma direcção, fragilizando um sentido de “corpo” e de “pertença”, vital para consolidar a mensagem a difundir, esclarecer as suas posições e alcançar aquilo que pretende para todos.
O evitar desta situação só é possível através de um reforço das relações de cooperação bilateral, aumentando a troca de informações e pareceres para que se possam construir consensos em torno dos aspectos que são comuns.
A Cimeira das Federações Desportivas recentemente realizada demonstra que a construção de um caminho comum é possível, se cada uma das organizações de topo estiver animada de um propósito de convergência e se esforçar para que isso ocorra.
O primeiro passo desse caminho, com um apoio unânime do movimento federado, está dado e é inequívoca a mensagem transmitida ao país na moção estratégica aprovada."

Velhos hábitos do nosso futebol

"Em Portugal há uma garantia absoluta: um Benfica - FC Porto, seja em que prova for, terá sempre um árbitro do Porto a dirigir a partida.

Acabou o campeonato nacional? Nada disso. Em Portugal há sempre mais futebol fora que dentro das quatro linhas. Nem com o País infectado se desinfectam os nossos hábitos.
Na luta pelo terceiro lugar a derrota do FC Porto em SC Braga e a vitória do Benfica sobre o Sporting deram aos arsenalistas um lugar de destaque. Diria em defesa de Rùben Amorim, que conseguiu o terceiro lugar para o SC Braga e evitou que o Sporting fosse pior que quarto.
Não sabemos quem desceu porque será decidido fora do relvado. Mesmo o Aves, que sabemos que foi despromovido, não sabemos para onde desce e até onde vai.
Em Inglaterra sabemos que a final da Taça é em Wembley; em Portugal temos que saber quem joga a final para saber onde é a final. Vamos para Coimbra com a ilusão de a poder disputar de forma leal e séria.
A única garantia é que um Benfica - FC Porto, seja onde for, para que competição for, terá um árbitro do Porto a dirigir a partida. Essa é uma verdade que o International Board por lapso não passou a escrito.
Outra realidade patusca do nosso futebol é a de terminarem campeonatos e minutos depois se saber que os treinadores que eram, já não eram. Daniel Ramos, afinal, já não era do Boavista; João Henriques já não era do Santa Clara; Carlos Carvalhal já não era do Rio Ave; Ivo Vieira já não era do V. Guimarães; José Gomes já não era do Marítimo; Artur Jorge já não era do SC Braga; Vítor Oliveira já não era do Gil Vicente, etc, etc... No final da Taça de Portugal vamos continuar a ver quem era ou se já não era ninguém.
Em Portugal tanto faz correr bem, como correr mal, que, como para Tomaso di Lampedusa, é preciso que alguma coisa mude para que tudo continue igual. O Benfica somou a Bola de Prata, o melhor marcador da Liga foi Vinícius mesmo sem ser o escolhido para marcar os penáltis pelo Benfica.
Muito bem o Benfica em focar a semana na competição que falta. Interessa pouco o folclore noticiosos porque os verdadeiros objectivos são apenas os desportivos. Para a semana começa o mais pequeno defeso da história do nosso futebol, que por isso mesmo promete ser intenso e animado. Por agora apenas a disputa da Taça de Portugal nos interessa, tudo o resto é ruído."

Sílvio Cervan, in A Bola

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Prestigiar o país

"Nos últimos anos, o Benfica consolidou a sua presença no topo dos mais diversos rankings europeus e mundiais, sejam desportivos, patrimoniais ou financeiros, além dos relativos à afirmação da marca.  
Ainda ontem foram publicadas notícias acerca de dois estudos divulgados recentemente. Um coloca o nosso Estádio entre os mais valiosos do mundo – e recordamos que acolherá, em Agosto, a final da Liga dos Campeões pela segunda vez –; o outro inclui a marca Benfica, a única portuguesa, nas 50 mais fortes do futebol mundial.
Também na Formação e na qualidade do centro de estágio e treino do Seixal, o Benfica tem sido premiado, referenciado e elogiado.
Já por duas vezes o Benfica Campus foi considerado a melhor academia do mundo e tornou-se comum ouvir jogadores, ao retirarem-se ou ao optarem por prosseguir a carreira noutro clube, elogiarem as infraestruturas e todos os serviços de apoio. Uma das consequências mais visíveis está relacionada com a contratação de atletas, ao saberem que, no Benfica, terão todas as condições para atingirem o seu potencial máximo, mesmo não estando o Benfica integrado numa das ligas mais ricas.
A área da comunicação é outra que tem aparecido sistematicamente em posições elevadas de rankings.
Nas redes digitais, a aposta ainda recente já deu frutos, com o Benfica a passar a figurar entre os clubes mais reconhecidos nesse domínio. Acrescente-se-lhe a BTV, o único canal de clube do mundo a transmitir os jogos da sua equipa de futebol; o jornal, que antes da pandemia, e em claro contraciclo do sector, vinha aumentando as vendas; ou o BPlay, mais um exemplo paradigmático da inovação que se busca permanentemente no Clube.
Muito mais poderíamos mencionar, desde logo o magnífico Museu Benfica – Cosme Damião, uma das ofertas culturais mais procuradas em Lisboa, tornando-se já evidente o notável percurso que prestigia o Sport Lisboa e Benfica e reforça a sua marca.
Bom seria que outros sectores de actividade contribuíssem, na mesma medida, para a promoção do País e para o reforço da ligação às suas comunidades. Se há sector que o faz muito bem é o do desporto, e em particular o do futebol, através dos seus maiores clubes e da nossa Selecção.
A qualidade da formação de atletas, a reputação dos treinadores e a noção generalizada do muito que se faz, em Portugal, com o pouco que se dispõe comparativamente a outros países, deixa uma marca indelével da nossa competência, o que deveria motivar outros sectores a reconhecerem-na e a utilizarem-na como referência de melhores práticas para que também progredissem e atingissem excelência, reconhecimento e relevância."

Leo Pereira, o canhoto que sabe tratar a “menina”


"Com dois lugares em aberto para a posição de defesa central no plantel da próxima temporada, cogita-se o nome de Leo Pereira como um dos possíveis reforços do Benfica. Mas, quem é Leo Pereira?
Canhoto, capaz de assumir a construção com uma qualidade ímpar, dominante defensivamente pelos seus traços físicos, Leo Pereira o internacional jovem que Jesus resgatou no Athletico Paranaense é uma das boas promessas do futebol brasileiro. Actuando pelo lado esquerdo do centro da defesa, poderá preencher uma das lacunas mais evidentes do actual plantel. Com Jorge Jesus cresceu no aspecto táctico e tendo as condições técnicas, morfológicas e físicas para a função, o potencial para ser aprimorado pelo treinador encarnado é elevadíssimo. Mas, não é o melhor defesa central do futebol brasileiro."

Cadomblé do Vata (esclarecimentos)

"Interlúdio sério porque os comentários estão demasiado repetitivos e eu não quero que o pessoal venha aqui enganado.
1. O autor da página A Mão de Vata não faz nem nunca fará parte de listas concorrentes à presidência do Sport Lisboa e Benfica e não apoia nem nunca apoiará listas concorrentes à presidência do Sport Lisboa e Benfica, não se negando contudo a opinar sobre elas.
2. O autor da página A Mão de Vata acredita que o ciclo presidencial de Luís Filipe Vieira está terminado por ter falhado consecutivamente a definitiva hegemonia futebolistica nacional e a afirmação europeia do nosso clube e pior, por estar a contribuir de forma directa e decisiva para o atropelamento de valores e princípios fundamentais do Benfiquismo.
3. O autor da página A Mão de Vata não aceita que se faça "terra queimada" da totalidade do trabalho de Luís Filipe Vieira ao leme do Sport Lisboa e Benfica. O SLB não foi refundado algures no ano 2000 ou 2001 nem era as pedras da calçada, mas temos que ter bem presente como estávamos nessa altura e como estamos hoje.
4. O autor da página A Mão de Vata não aceita que se negue aos sócios e adeptos do Sport Lisboa e Benfica a pluralidade democrática e de opinião que são trave mestra de 116 anos de Gloriosa História.
5. O autor da página A Mão de Vata lamenta profundamente o texto publicado sobre o (não) apoio dos campeões europeus à lista de Noronha Lopes, por o mesmo não corresponder à verdade e por através da caixa de comentários ter contribuído indirectamente para o enxovalho e desrespeito por Lendas que fizeram bem mais pelo Sport Lisboa e Benfica do que a larga maioria dos que os vilipendiam."

O melhor 'jogador' em campo!!!

"Fácil. Fontelas tinha mesmo o ás de trunfo guardado para o fim. Artur Soares Dias na Final da Taça. No fundo, a confirmação do que todos já sabíamos.
Desde o início, Artur Soares Dias arbitrou 41 jogos do #PortoaoColo, tendo o 3 (!) derrotas. A última delas foi há mais de 4 anos (!) num jogo com o Sporting que já nada interessava ao #PortoaoColo. A derrota anterior aconteceu em Janeiro de 2014 (!) no famoso "jogo dos Eusébios", onde apesar de todo o seu esforço, o Benfica tinha mesmo de vencer em homenagem ao Rei.
Nos últimos 5 clássicos arbitrados pelo pasteleiro foram 4 vitórias e 1 empate para o #PortoaoColo. 
Tudo isto foram razões mais o que suficientes para Fontelas Gomes o nomear para mais este jogo decisivo.
Parabéns ao #PortoaoColo pela Dobradinha!"

Três motivos, três alíneas e duas adendas sobre a toxicidade dos programas de TV

"O fim anunciado dos programas que colocam, frente a frente, adeptos dos três grandes, tem sido um dos temas mais falados da semana. Entre opiniões favoráveis e discordantes, não deixa de ser interessante olhar para isto de uma forma mais distante e abrangente.
Mas comecemos pelo princípio. Porque é que faz sentido terminar com este tipo de formatos?
1. Porque incorrem, desde sempre, numa enorme injustiça, que apenas acentua o fosso existente entre grandes e pequenos.
Só FC Porto, SL Benfica e Sporting CP veem as suas cores representadas naqueles palcos. Não têm o contraditório de adeptos das restantes equipas. A grandeza desportiva, os pergaminhos e o mediatismo desses emblemas não estão em causa, mas todos os outros também têm a sua história, dignidade e objectivos. Todos têm adeptos.
A imprensa deve assumir o seu papel no equilíbrio de forças, promovendo igualdade de oportunidades em antena, ainda que isso implique, a espaços, trocar valor por valores. Não é para quem quer, é só para quem pode.
2. Porque há excessos de linguagem e um nível de agressividade inadmissíveis em programas desportivos.
A televisão é perigosa para a liberdade de expressão de quem tem dificuldade em controlar as suas emoções. Não faltam exemplos disso. Quando a razão se perde, o debate e a troca salutar de ideias dão lugar a outra coisa qualquer. É aí que emerge o lado negro de cada um, mais descontrolado, insultuoso e ofensivo. Para quem está cá fora, essa conduta é péssima. Se é péssima, não pode nem deve ter tempo de antena.
3. Porque há a ideia enraizada que alguns dos "adeptos-comentadores" mais não são do que meros porta-vozes dos seus emblemas.
Uma espécie de extensão dos seus departamentos de comunicação, que aproveitam o espaço e mediatismo que dispõem para difundir as suas mensagens.
A questão, em si, não choca: é perfeitamente normal o alinhamento de ideias entre um conhecido adepto e a equipa do seu coração. O que incomoda é quando é notória a intenção de passar mensagens estratégicas e conflituosas, semear confusão, lançar suspeitas ou mascarar insucessos desportivos apontando o dedo a terceiros. Isso é outro nível e uma estação de televisão independente não o deve permitir.
Dito isto, importa agora referir o seguinte:
A - Estes formatos não começaram hoje nem ontem. Existem há décadas, como sabemos. E existem porque funcionam bem, que é como quem diz, produzem resultados (leia-se "audiências").
Ora, sob o ponto de vista empresarial, de quem oferece o produto, a opção é legítima e inatacável. A minha sugestão é que se reflicta sobre o outro lado, o de quem o consome. Porquê é que as mesmas pessoas que tanto o criticam são, no fundo, as que lhe dão audiências? O que é que isso diz sobre elas, sobre a sua cultura desportiva? Sobre a forma como estão no futebol e no desporto?
O mal está em quem descobre um formato vencedor ou em quem o mantém vivo, vendo-o todas as semanas? Acham mesmo que existirião programas destes se ninguém os visse?
Nota - As audiências já não são o que eram. Nota-se alguma saturação nas pessoas, o que não deixa de ser um bom sinal. Digo eu.
B - O fim de alguns programas desportivos com adeptos não será o fim do ambiente tóxico no futebol, embora já se tenha percebido que ajudará a despoluir a atmosfera.
A verdade é que há outros formatos desportivos, com comentadores alegadamente independentes, que parecem não ser mais do que meras caixas de ressonância de outros interesses. Essa perda de independência, porventura até subconsciente, alimenta suspeitas de ligações cinzentas que o desporto bem dispensa.
Isso é notório não apenas em televisão, como também em toda a restante imprensa. E é notório não apenas em analistas televisivos, como em alguns jornalistas. Não sou eu que digo, é o mundo que o vê e sente há demasiado tempo. Eu apenas concordo.
C - É injusta a acusação populista que, em televisão, não se fala de jogo jogado mas apenas de assuntos negativos e tóxicos. E é injusta por dois motivos:
I - O primeiro é que não são nem os jornalistas nem os comentadores que inventam notícias escabrosas: é o futebol que insiste em oferecê-las.
As guerrilhas entre clubes assumiram proporções épicas, porque há agora mais meios para difundir mensagens de ódio; há novidades constantes no que diz respeito a processos em tribunal, mau comportamento de claques, buscas em empresas e domicílios, críticas à gestão de clubes, constituição de arguidos em processos na justiça, deterioração de relações entre clubes e SAD's, etc, etc.
Há, na verdade, uma lista crescente de assuntos infelizes que teima em surgir, ora sustentada em fundamentos palpáveis, ora apenas baseada em rumores.
A imprensa não pode sonegar essa avalanche de informação, apenas para difundir conteúdos simpáticos e positivos. Todos gostamos da magia do futebol e todos sabemos bem o que queremos e devemos valorizar, mas o jornalismo de qualidade tem o dever de informar com qualidade e verdade. 
II - Falta de conteúdos. Porventura o mais sensível dos temas aqui em causa.
As televisões - aliás, a imprensa em geral - não dispõem de "material" para fazer mais e melhor. Para mostrar o outro lado, o lado bom, das coisas boas, que o adepto tanto gosta de ver.
Falta-lhes o mais importante: autorização e acesso.
Autorização para entrevistar jogadores, treinadores e árbitros no ativo. Acesso para fazer reportagens fantásticas nos bastidores, no relvado, nos estádios, nos treinos ou no dia-a-dia dos protagonistas. 
Falta-lhes matéria-prima para fazerem mais e melhor. Os melhores conteúdos são vedados a jornalistas, rádios, televisões e jornais. Essa é uma porta que está fechada em permanência, desde sempre. Porquê? A quem serve?
Há muita reflexão para fazer, de facto.
Terminar com (alguns) programas que incentivam mais ao ruído do que à pacificação é um pequeno passo, sem dúvida, mas falta tudo o resto... e o resto é muito."

Cadomblé do Vata (bitaites...)

"1. As queixas do SC Braga e do Slovan Bratislava pela falta de pagamento de Rúben Amorim e Sporar vieram mostrar a utilidade do VAR... se este não tivesse validado o golo do Vinícius, o Sporting CP teria empatado na Luz e garantido o 3° lugar, conduzido por um treinador que não pagou e com um golo de um avançado que está a dever.
2. O Sporting CP votou contra as alterações na Taça da Liga que contemplam uma prova com 8 equipas, sendo apuradas as 2 primeiras da II Liga e as 6 do topo da I Liga no final da última jornada de Novembro... costuma-se dizer que "quem tem cú tem.medo", ou em bom sportinguês "quem hoje acaba em 4°, sabe-se lá em que parte baixa da tabela estará em Novembro".
3. O Porto Canal que passou 2 anos a ler, descontextualizar e truncar emails do SL Benfica em directo, queixa-se que a imprensa não dá destaque ao título portista e só fala do Benfica... é uma vergonha haver páginas do Glorioso e escrever pontos sobre o canal do FC Porto.
4. Depois de contratar JJ, o SLB parece continuar interessado na contratação do Cavani, falando-se em valores entre os 25 e os 35 milhões de euros... foi pena não ter havido eleições logo a seguir à conquista do Tetra...
5. Em preparação para a final da Taça de Portugal, o plantel do Maior do Mundo mudou-se de armas e bagagens para Óbidos... na busca dos culpados para esta horrível temporada, primeiro despediu-se o treinador, agora dispensa-se o Benfica Campus... perspectiva-se assim que na próxima semana devem começar a sair jogadores e com sorte, em Outubro salta dali o presidente."

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Desmentido oficial

"O Sport Lisboa e Benfica repudia e desmente as várias notícias falsas veiculadas por diversos órgãos de comunicação social que publicitam o interesse do Clube pela aquisição de vários jogadores, sem qualquer tipo de fundamento.
De entre elas, destacamos particularmente a notícia que dava conta de um suposto directo envolvimento do Presidente Luís Filipe Vieira, que teria chamado a si a condução do eventual processo de aquisição do jogador internacional uruguaio, Edinson Cavani.
Essa notícia é totalmente falsa, aproveitando o Clube para esclarecer que eventuais contactos institucionais com vista ao reforço do plantel para a próxima época só terão lugar após a realização da final da Taça de Portugal, do próximo sábado, que assinala o término da presente época, desmentindo qualquer envolvimento do Presidente no processo atrás citado ou em quaisquer outros noticiados."

«O SL Benfica está demasiadas vezes em tribunal e a ser enxovalhado»

"«Foi como um puxar do tapete». É assim que José Soares descreve o resultado do polémico e marcante Campomaiorense-FC Porto, em que fez marcação cerrada e agressiva a Mário Jardel. Ao Bola na Rede, o antigo defesa falou ainda sobre a instabilidade do SL Benfica – o clube do coração – nos tempos de Vale e Azevedo, a aventura pelo Médio Oriente, os vários empregos após pendurar as chuteiras e ainda houve tempo para falar sobre a actualidade encarnada, onde revela que «nem nos piores sonhos» acreditava que as águias não seriam campeãs nacionais esta época.

– De Elvas para a Luz –
“As negociações com o FC Porto estavam muito mais avançadas que com o SL Benfica, só que o meu benfiquismo falou mais alto”

Costuma-se dizer que filho de peixe sabe nadar e esta expressão parece aplicar-se na perfeição ao José Soares. Como foi crescer com um pai futebolista?
Foi muito bom. Nasci a ver o meu pai a jogar futebol e estava sempre à espera que fosse fim-de-semana para ir vê-lo jogar aos sábados ou domingos. Já nasci com esse bichinho por causa do meu pai jogar e de ter uma família de futebolistas. A sensação foi óptima e consegui realizar um sonho de criança – que nem sempre é fácil concretizar – foi fantástico. Parece que foi há dois ou três anos que via o meu pai a jogar nos pelados e no meu caso, do meu irmão e dos meus sobrinhos, aplica-se perfeitamente essa expressão.

Ele também era defesa?
Não, não. O meu pai não tem nada a ver, as características dele são as opostas das minhas. O meu pai era canhoto, jogava nas linhas – a extremo ou médio esquerdo – era muito habilidoso, coisa que eu não era [risos].

E é por causa dele que acabas por ir para o O Elvas…
Sim. Em Elvas existem dois clubes: o O Elvas e Os Elvenses. O meu pai representou os dois clubes e eu, quando era miúdo, comecei a representar o O Elvas.

Que condições tinhas?
O Elvas sempre foi um clube com boas condições. Era pequeno, regional, mas tinha condições e a nós nunca faltou nada. É uma cidade que vive muito o futebol e os empresários na altura ajudavam bastante o clube. Lembro-me perfeitamente do sr. Hernâni Santana, o sr. Manuel Mendão, entre outros ajudavam sempre o clube e quando pararam de ajudar, veio por aí abaixo, mas agora está a tentar levantar-se de novo.

Depois de quatro anos no O Elvas, como é que acabas por chegar ao Benfica?
Aconteceu algo que não era muito natural – talvez agora seja, mas não estou muito dentro do futebol jovem – que foi um senhor chamado Fernando Casaca, antigo jogador profissional do Vitória FC, foi treinar os juniores do O Elvas e iam começar a jogar o campeonato nacional. Ele viu-me jogar nos iniciados, com 12 ou 13 anos, e achou que tinha «arcaboiço» para jogar nos juniores, que se podia fazer mas tinha primeiro de ir fazer um teste a Lisboa, à Cidade Universitária, para ver se tinha estrutura óssea que permitisse jogar cinco anos acima. Levaram-me a Lisboa, fiz os exames médicos necessários e comecei a jogar no campeonato nacional de juniores, mas na altura era miúdo ainda, só com 13 anos. As coisas correram bastante bem e há sempre alguém que vai dizer que há um miúdo, então numa equipa conhecida como era o O Elvas, que joga nos juniores só com 13 anos e foi aí que surgiu o interesse do Benfica e do FC Porto. Curiosamente, as negociações com o FC Porto estavam muito mais avançadas que com o Benfica, só que o meu benfiquismo falou mais alto.

Foi difícil trocar o Alentejo pela capital?
Sim, sim, foi muito complicado. Eu era miúdo, sempre vivi em Elvas, perto dos meus pais, os meus irmãos, os meus amigos e estava completamente identificado com a minha cidade. De repente, de um momento para o outro, estou a viver numa cidade com esta dimensão, longe dos meus pais, e foi muito complicado ao início. Mas depois o meu amor pelo clube, estar com os meus colegas e os treinadores tratarem-me bem, acabou por ser um processo normal, apesar da idade que tinha.

Então acabou por não te afectar dentro de campo…
Não, isso nunca. Eu consigo separar uma coisa da outra. O Benfica tinha umas condições excelentes no centro de estágio, estavam lá 24 colegas e foi muito bom. Sempre com muitas saudades da família, mas já se sabia que é mesmo assim e apoiávamo-nos uns aos outros, com o Benfica a dar todo o apoio possível também e foi assim que tudo começou.

De quem eras mais próximo lá?
Eu sempre tive muitos amigos. No futebol jovem tinha o pessoal que vivia comigo no centro de estágio e outros colegas como o João Peixe, o Bruno Caires, o Filipe Correia, o Gil que, na altura, já era júnior mas ajudáva-nos bastante. Tinha o Edgar Pacheco que também vivia connosco e o meu irmão que, curiosamente, foi no mesmo ano que eu para o Benfica. Havia muito colega, boas pessoas que ainda hoje somos amigos, que na altura já eram muito próximos de mim e continuámos com esta amizade para a vida toda.

O que se destaca no teu percurso pelas camadas jovens foram as idas à selecção nacional no Euro sub-18 e no Mundial sub-20. De que te lembras destas competições?
Lembro-me bastante bem, porque selecção é inesquecível, vai para o resto da vida. O que nós fizemos na selecção, essa geração, é muito mais positivo que negativo. Ganhámos o Europeu de sub-18, que é muito complicado, com grandes que havia na altura, e no ano a seguir podíamos ter ganho o Mundial porque, não só tínhamos muita qualidade individual, como um colectivo muito forte. O nosso lema era sempre dar tudo pela equipa, independentemente do jogo ser bonito ou não. Tínhamos material humano para jogar em várias vertentes, podíamos jogar com muita qualidade, mas o espírito de sacrifício e entreajuda estava sempre presente. Depois, nem sempre dá para jogar sempre bem, apesar de termos grandes individualidades: Dani, Nuno Gomes, Bruno Caires, Ramires, jogadores de grande qualidade, mas acima de tudo tínhamos grande espírito de equipa, neste caso de selecção, em que todos remávamos para o mesmo lado. Por isso tivemos esse sucesso todo, mas infelizmente não fomos campeões do Mundo por detalhes.

Que tipo de detalhes?
Lembro-me que no jogo com o Brasil merecíamos ganhar. Tínhamos o Dani doente, o jogo não nos correu bem e podíamos perfeitamente ter ganho. Nesse ano o campeão do Mundo foi a Argentina mas, na fase de grupos, fomos muito melhores no jogo contra eles. Estou convencido que, com um pouco mais de sorte e mais uma ou outra coisa, tínhamos sido campeões do Mundo nesse ano.

- De empréstimo em empréstimo até ao duelo com Mário Jardel –
“Devido às características do Jardel, o Carlos Manuel pediu-me para estar mais em cima dele e exagerei um bocadinho”

O teu percurso pelas selecções ficou-se por aí, mas a tua carreira sénior tinha acabado de começar com um empréstimo ao Famalicão. Como foi para começar?
Não foi fácil, mas quem escolhe esta profissão sabe que hoje pode viver em Lisboa ou em Elvas e no dia a seguir está em Famalicão, como foi o meu caso. Fui para lá porque era o ano do Mundial [sub-20] e precisava de jogar num clube que me acolhesse bem e não fosse um choque muito grande, que desse para aprender também. Fui muito bem tratado em Famalicão, joguei alguns jogos mas também tinha muitos estágios de selecção e muitas vezes não estava no clube. Mas foi muito importante, as pessoas de Famalicão são excelentes, vivi na vila e foi muito acolhedor mas também é difícil estar habituado a Lisboa e depois ir para tão longe, mas não fiquei arrependido porque as pessoas trataram-me muito bem e foi uma boa experiência para mim.

Mesmo com apenas oito jogos feitos?
Sim, sim. Porque, como disse, tínhamos muitos estágios. Eu fui mais tarde, não fui logo no início do campeonato e depois tínhamos muitos torneios – de Las Palmas, de Toulon, em todo o lado – e muitas vezes faltava e não podia jogar.

Então a tua passagem pela selecção limitou o teu primeiro ano de sénior…
Sim porque, para teres uma ideia, terminámos o campeonato da Europa no verão, em Espanha, depois fomos um mês para o Japão e logo aí prejudicou o início do campeonato, porque tivemos férias. Começámos muito mais tarde por causa disso e não foi benéfico, mas o nosso percurso de selecções, apesar de durar muito tempo, foi muito bem planeado, as gerações eram muito fortes mentalmente e estávamos muito identificados com a selecção que representávamos desde miúdos. A qualidade era enorme, as equipas eram muito equilibradas.

No ano seguinte, mais um empréstimo e agora ao Alverca, onde ficaste quatro anos. Não ficaste chateado por não ter uma oportunidade no Benfica?
Fiquei um pouco chateado por ir para o Alverca – que era um clube com muita estabilidade – porque na altura pensei: «até me correu bem o Mundial, se calhar vou ficar no Benfica» e fiquei um bocado desiludido, mas pronto. Ainda bem que fui para o Alverca porque ensinou-me muito, trataram-me muito bem e era um clube que estava muito ligado ao Benfica e ainda havia de estar mais. As coisas correram bem, porque jogava sempre e isso é importante naquela idade.

Tiveste quatro anos emprestado e só no final da terceira época é que tiveste uma oportunidade na equipa principal do Benfica, com o Greame Souness…
Tive uma antes, mas acabei por não jogar. Fui convocado pelo Manuel José para um jogo em Braga onde era para ser titular mas depois o mister achou que não devia de ser. Devia haver aquela transição entre equipa B e andar a rodar, mas não foi assim.

E como era a tua relação com os vários treinadores do Benfica na altura? Quem marcou-te mais ou desiludiu-te?
Os treinadores que apanhei na equipa principal… Por exemplo, quando era júnior, treinava muitas vezes na equipa principal com o mister Tony e o Jesualdo Ferreira e gostava imenso, tratavam-me muito bem e cheguei a fazer jogos particulares aos 17 anos com Boavista, Académica. Gostei dos treinos do mister Tony, gostei do Souness – houve coisas que não gostei, mas não é para aqui agora – porque deu-me uma oportunidade e eu aprendi com ele. O Manuel José deu-me a oportunidade de ser convocado um jogo, que era para jogar mas acabou por não dar… Com todos aprendi um bocado. Com o Jupp Heinckes, se calhar, foi com quem joguei mais, mas depois tive uma lesão algo grave no gémeo. Apanhei o mister Nelo Vingada que também gostei bastante, era o número 2 do Souness mas já tinha sido meu treinador muito tempo nas selecções. Não houve nenhum treinador do Benfica que eu dissesse que não aprendi, o que é muito importante. É muito negativo ter treinador com que não se aprende e dizia que o treinador tem de passar uma mensagem boa, positiva, e tem de te acrescentar… E no SL Benfica tive a sorte de encontrar sempre alguém que me acrescentou.

E o Mário Wilson, como era?
O Mário Wilson era o maior. Em termos de psicologia foi o melhor que apanhei. Não era grande treinador em termos de trabalho de campo e, com a idade que tinha, não podia ter essa função, mas em saber de futebol, em motivação de jogadores e outras coisas muito importantes para um profissional exercer a profissão com a cabeça limpa e motivado, ele foi o melhor de todos.

Ele que tinha um apreço especial pelo Valdo, não era?
[Risos] Pelo Valdo e os craques todos, ele protegia ao máximo. Tudo o que era grande jogador, com grande qualidade, ele super-protegia e, apesar de às vezes não ficarmos muito satisfeitos porque ficava bravo com uma entrada ou algo assim, mas depois pensávamos um bocadinho e dava vontade de rir. Ele era uma pessoa única, como nunca apanhei no futebol.

E só o apanhaste no Alverca ou também chegaste a tê-lo no Benfica?
Curiosamente, ele estava no Alverca comigo e o Benfica despediu o treinador e ele foi lá fazer dois, três, quatro ou cinco jogos na equipa principal para substituir o Paulo Autuori, e eu pensei que, como jogava sempre com ele e ele dizia que eu podia fazer alguma coisa no Benfica, quando ele até me chamou para treinar com a equipa principal pensei que se estava a encaixar tudo, porque ele gosta de mim, sabe a minha qualidade e é possível que ele me dê uma oportunidade. Assim que lá cheguei avisou-me logo que era para não dar porrada no João Pinto, senão punha-me fora do treino [risos].

Passaste seis temporadas vinculado ao Benfica enquanto sénior e com a quantidade de jogadores com qualidade mais duvidosa que passaram por lá, não te ficou a mágoa por não seres aposta?
Sim, mas a culpa não era deles, era de quem os ia buscar. É uma mágoa que vou ter durante a minha vida. Se o Benfica fosse estruturado como está neste momento, se calhar tinha jogado muito mais tempo, mas não estava e toda a gente sabe que presidente tínhamos na altura e sabemos que era um clube super desorganizado em que toda a gente fazia o que queria. O Benfica é o clube do povo, é um clube democrata, não é clube de uma pessoa ou outra, em que chegam lá e possam mandar em toda a gente. Não era o clube mais organizado para um miúdo da minha idade pegar de estaca e ficasse muitos anos a titular, era complicado. Havia sempre alguém de fora que tinha de jogar.

Depois de uma série de empréstimos ao Alverca, vais cedido para o Campomaiorense e ficas marcado pelo episódio com o Mário Jardel. O que se passou nesse jogo?
Nesse ano só fui em meados de Janeiro para o Campomaiorense porque as pessoas gostam de mim, sou amigo do presidente, do director também e as coisas correram bem. Nesse jogo, devido às características do Jardel, o Carlos Manuel pediu-me para estar mais em cima dele e exagerei um bocadinho. Faz parte do futebol, saí prejudicado do jogo, mas ganhámos e isso foi muito importante para a manutenção do Campomaiorense.

Achas que foi um episódio que te afectou negativamente a carreira?
Sim, completamente. Marcou-me pela negativa. São coisas que podem acontecer, mas na altura penso que as críticas não foram as mais corretas. O futebol é assim, não se pode mudar, mas fiquei muito triste na altura e não é algo que recorde com felicidade… Foi como um puxar do tapete.

E como foi a ida para o CD Aves, o teu último clube na Primeira Liga?
Foi mais ou menos porque não queria ir para o Aves, mas tive de ir. Era um clube muito instável e não foi uma época boa. Fiz alguns jogos, mas tive algumas lesões que me prejudicaram e a minha cabeça não estava na Vila das Aves e as coisas não correram bem.

Estavas a ser empurrado para fora do Benfica?
Não sei se estava a ser empurrado porque o Benfica não era o clube que é hoje. Não tinha a estrutura profissional que tem hoje e nós sabemos qual era o presidente que o Benfica tinha, o clube não estava entregue às melhores pessoas e passava a pior crise da vida dele. Só a partir do presidente Vilarinho é que as coisas começaram a dar uma volta.

– Da desilusão em França à aventura pelo Médio Oriente –
“Quando se leva muito pontapé no futebol, as portas começam-se a fechar e o amor… Não se perde, mas a motivação vai caindo cada vez mais”

Depois dessa época no Aves termina a tua ligação com o SL Benfica e começa uma série de viagens pelo mundo, que começa no Istres, da Segunda Liga francesa…
Sim, mas no Istres também não correu bem porque assinei contrato e depois recebi uma carta da Federação francesa a dizer que já tinham inscrito dois jogadores e eu não podia jogar… Fiquei o resto da época sem jogar.

Chegaste lá no final do mercado?
Sim, cheguei lá no fim do mercado de inverno, mas só depois é que repararam que já tinham inscrito dois jogadores. Não sabiam as leis… Foi um problema directivo e quem sofreu fui eu.

E acabaste num clube do terceiro escalão da Alemanha…
Sim… Tens de ser muito forte para aguentar isso. Depois lá parti o pé, mas recuperei e ainda voltei a jogar. Só depois é que fui para a Arábia Saudita.

Pensaste em acabar a carreira nessa altura, na Alemanha?
Sim, pensei. Não foi uma fase positiva da minha vida e, em termos desportivos, pensei em muita coisa, uma delas essa. Durante um ano as coisas correram horrivelmente mal, pensa-se tudo, mas o meu amor pelo futebol falou mais alto. Mas foi uma fase muito difícil desportivamente.

Como é que aparece a Arábia Saudita?
Foi através de um amigo meu empresário – o Faustino Gomes – que me perguntou se queria ir para a Arábia Saudita. E ainda bem que ele apareceu porque ajudou-me na altura e foi a decisão mais certa para mim. Não foi fácil entrar no país, porque estava habituado a Portugal, a Lisboa e aos nossos costumes, mas como eu sou tipo «cidadão do Mundo» habituei-me com alguma facilidade e pensei pouco, jogava muito, descansava muito e assim foi a minha vida lá. Fiquei um ano seguido e as coisas correram muito bem, joguei sempre, os jogos praticamente todos e readquiri confiança e a vontade de jogar e de reconstruir a minha carreira voltou com mais força ainda.

Como foi o choque de culturas?
Estava habituado a Portugal, à nossa cultura. Aquilo é uma cultura completamente diferente, não estou a dizer que é melhor ou pior, é diferente. Estamos habituados a ser mais abertos – somos europeus – e de repente entras num país mais fechado, que não é tão aberto ao turismo, que não é aberto em muita coisa. Custou-me um bocado ao início mas, como disse, sou um «cidadão do Mundo» e vou aprendendo. Naquele caso aprendi outra cultura, conheci outras pessoas, trataram-me bem, o que é importante… Estava a fazer o que gostava, recebia relativamente bem, não é o que se paga agora, mas relativamente bem. Fiz uma boa época na Arábia Saudita, joguei muito e voltei ao meu nível.

Acabaste por ir para o Qatar porquê?
Foi mais pelo lado financeiro, porque o futebol na Arábia Saudita era melhor, os sauditas são melhores jogadores que os qataris. Mas o futebol do Qatar tinha maior visibilidade na altura porque os estrangeiros que iam para lá – Guardiola, Batistuta… – davam muita visibilidade ao campeonato. Tinham lá grandes jogadores juntamente com os jogadores do Qatar, mas grandes jogadores mesmo, de nível mundial.

Qual foi a pior parte de estar nestes países mais conservadores?
A pior parte? Foi estar longe do Mundo do futebol, não viver aquela adrenalina do dia-a-dia, do calor das pessoas, o calor humano dos jogos na Europa, isso faz falta. Senti falta do calor do futebol, até um bocado das confusões porque, às vezes, estamos nesses países assim, com saudades de uma confusão por causa de futebol, que é o que acontece na Europa. Até o calor humano dos adeptos, dos jornais… Aquelas coisas que reclamamos aqui, mas quando vamos para países tão calmos sentimos muita falta dessas coisas.

Surpreendentemente, deixas o Qatar para vir para a III Divisão portuguesa, para o O Elvas. Tinhas saudades de casa?
Eu saí do Qatar e, mais uma vez, a decisão não foi certa porque eu achava que ia ter uma oportunidade na Primeira Divisão ou, no máximo dos máximos, na Liga de Honra. Pensava que podia mas, mais uma vez, as portas não se abriram. Tentei ir para outros países, mas não consegui. Então deixei praticamente de jogar e fiquei em casa.

Desmoralizaste outra vez?
Desmoralizei porque pensava uma coisa: lutei tanto, voltei a ganhar forma, voltei a jogar com grandes jogadores estrangeiros que lá estão e vi que tinha possibilidade de voltar ao meu nível, mas mesmo assim não aconteceu porque as portas, mais uma vez, fecharam-se e acabei a carreira.

Acabaste mas sem primeiro passar pelo Badajoz…
Sim, mas foi mais por desporto. Depois perdi um bocado o amor, aquela adrenalina de jogar todos os fins-de-semana vai-se perdendo. Quando se leva muito pontapé no futebol, as portas começam-se a fechar e o amor… Não se perde, mas a motivação vai caindo cada vez mais.

– Dos holofotes do futebol para os flashes do mundo da moda –
“Por mim, tinha jogado a minha vida toda no Benfica, teria feito 20 anos lá”

Com tanto tempo para ponderar o final da carreira, o que pensavas fazer depois do futebol?
Eu gostava de ter ficado ligado ao futebol, mas não houve possibilidade. Estive ligado a várias áreas, trabalhei com um empresário espanhol, já estive ligado a exportação de vinhos e neste momento estou ligado ao imobiliário e sou personal trainer também. Temos de trabalhar… A vida continua. O amor pelo futebol não acabou, mas a vida continua. Terminamos a carreira relativamente novos para depois termos outra vida pela frente.

Ainda chegaste a trabalhar numa academia do Benfica, não foi? 
Sim, foi em Badajoz. Funcionou bem e acho que ainda hoje está aberta, mas voltei para Lisboa e tive de sair. Mas correu bem, não é uma academia em que haja muita qualidade, mas tem muitos miúdos e funciona bem.

E como é que acabas por ser modelo? É que há muito aquela ideia que o jogador pensa que é mais modelo que futebolista…
Isso foi depois porque, um dia, estava em Badajoz a passear e houve alguém de uma agência que falou comigo e me contactou. Entregou-me um folheto e disseram para ir ter com eles, era um casal. Eu disse que não tinha nada a ver com aquilo mas ele tanto insistiu que depois liguei e acabámos por fazer algumas coisas. De vez em quando, até aqui em Lisboa, quando me convidam vou fazendo. Mas não é nada de… Se me pagam sim, tudo bem. Se for de borla, é para esquecer. Para isso fico em casa e não me chateio.

Gostavas de regressar ao futebol?
Gostava, mas não sei bem. Treinador não, porque já tenho 44 anos e não é fácil ir agora tirar cursos durante 10 anos. É difícil ser treinador de futebol, por causa dos cursos e depois podes nem ser aceite. É tão complicado tirar quatro níveis que mais vale tirar um ou dois e estar mais ligado à parte do treino, sem ser treinador principal. Isso é algo que gostava.

De que te arrependes na carreira?
Arrependo-me de algumas decisões que tomei na altura. Por minha culpa, não devia ter feito algumas coisas. Sou um jogador à antiga: por mim, tinha jogado a minha vida toda no Benfica, teria feito 20 anos lá. Era algo que gostava de ter feito. Era mais fácil fazê-lo na minha altura que agora, mas era algo que ambicionava. Mas as coisas não correram, nem de longe, nem de perto, assim mas era o que eu ambicionava para a minha carreira.

– A actualidade do SL Benfica pelos olhos de José Soares –
“Nem nos meus piores sonhos eu pensava que o Benfica ia perder o campeonato este ano”

Como és um grande adepto do Benfica, como olhas para a actualidade encarnada com a saída de Lage e o regresso de Jorge Jesus?
Como deves calcular, não muito feliz. Nem nos meus piores sonhos eu pensava que o Benfica ia perder o campeonato este ano. Como terminou a época no ano passado, esta tinha de ser avassaladora na minha opinião, ou taco-a-taco com o FC Porto até ao fim… O Benfica ainda fez uma primeira volta boa, mas nunca convenceu as pessoas, é o que eu acho. Podem dizer que teve sete ou oito pontos à frente do FC Porto, mas não era convincente, víamos as exibições e, se o Benfica começasse a perder, tinha grandes dificuldades de dar a volta, porque sempre ganhou pelo talento e, no futebol de hoje em dia, se ganhas pelo talento vais ter dificuldades. Se sofres muitos golos mas ganhas os jogos, vais ter muitas dificuldades porque as equipas fazem-se a partir de trás. Não sou muito adepto do estilo «ah ganhámos por 5-4 ou 4-3», sofres muitos golos e no dia em que não marcares? Será que consegues defender bem e não sofrer três? Eu prefiro o 2-0, o 3-1, sofrer poucos golos sempre, porque isso dá uma solidez defensiva e quando se ganha 4-3 ou 5-4 é bom para o espectáculo, mas para a equipa não é bom porque sofres muitos golos e, no dia em que não consigas fazer os quatro ou cinco golos, não ganhas o jogo. Eu via o Benfica a marcar e a ganhar mas não via consistência suficiente para as pessoas não ficarem preocupadas e, infelizmente, foi o que aconteceu.

Tu que estiveste lá dentro, achas que a culpa é só do treinador ou também do plantel?
Não acredito que seja só culpa do treinador, é culpa de todos. O treinador é o líder, mas há mais 20 jogadores experientes que sabem perfeitamente o que têm de fazer. Se as coisas estão a correr mal, não pode ser só culpa de um treinador que, ainda por cima, não joga. Os jogadores eram os mesmos, a equipa era a mesma, por isso não acredito que seja só do treinador. Os jogadores têm culpa também. 

Acreditas que os jogadores tenham «feito a folha» ao Bruno Lage?
Não, não acredito. Acho que é mais desmotivação, não sei porquê, mas acho que é desmotivação, não estar bem psicologicamente, que outra coisa. Agora, não acredito que os jogadores tenham-lhe feito a folha. Isso não.

E como vês o regresso de Jorge Jesus?
Digo que não se deve voltar ao lugar onde foste feliz, mas no futebol tudo é possível. Na minha opinião, ele quando esteve no Benfica fez um enorme trabalho, foi dos melhores treinadores do SL Benfica porque sabe muito de futebol, os jogadores com ele vão correr muito, vão dar tudo sempre porque ele é muito chato. Às vezes até faz coisas que os jogadores não gostam, mas eles dão tudo quando têm treinadores que puxam por eles como ele faz. Teve sucesso no Benfica – para mim, fez coisas extraordinárias – agora, se é o momento ideal para ele voltar, não sei… Mas acho que os grandes treinadores são sempre bem-vindos às grandes equipas e o Benfica, que não tem treinador, só o Veríssimo que está a ocupar as funções, precisa de um grande treinador. Seja Jorge Jesus ou outro qualquer.

Achas que será o fim de linha para o projecto de Luís Filipe Vieira? É que ele está praticamente a voltar atrás…
Num clube com a grandeza do Benfica estamos sempre a prazo e o presidente também. Os sócios estão descontentes pelo que se tem passado, pelo que se passou esta época, as eleições são em Outubro… Não sei. Não sei quais são as alternativas também. Ele tem feito um bom trabalho, mas as coisas passam e o futebol é o presente. Os sócios do Benfica são muito exigentes e eles não querem saber se fez o estádio, se fez o Seixal… Querem é saber do presente. Este ano foi muito mau, muita confusão, o Benfica está muitas vezes em tribunal, é falado mal na imprensa por coisas judiciais, o que leva os sócios a pensar em muita coisa.

Como olhas para esta situação, já que ele foi teu presidente no Alverca?
Ele é um excelente presidente, eu tenho uma boa relação com ele, mas o Benfica está muitas vezes em tribunal. Eu também não gosto disso. Algo vai ter de mudar porque o clube está sempre a ser enxovalhado na praça pública com pessoas arguidas, o clube a fazer parte de processos por coisas más. Isso não é benéfico e alguém tem de fazer alguma coisa.

E achas que vai ser Jorge Jesus a conseguir essa mudança? É que parece que vai ser ele a tomar as rédeas de tudo…
Eu penso que sim. Ele também já tinha feito um bom trabalho no clube e agora vem moralizado pelo que fez no Flamengo e, de certeza, que vai ter grandes poderes. Os grandes treinadores têm sempre grandes poderes nos clubes e ele não vai fugir à regra, vai pôr em prática as suas ideias e o que será o melhor para o clube e fazer um excelente trabalho… E espero bem que o faça, porque este ano as coisas correram muito mal. Mas ainda há uma Taça de Portugal para ganhar e isso é muito importante.

Que motivação os jogadores vão ter para jogar essa final? É que parece que já estão a pensar no próximo ano…
Mas têm de ter. O que tu disseste é verdade, ainda hoje estava a pensar nisso, mas quando vestes aquela camisola tens de ter… A pressão é diária e só o facto de haver mais um jogo e representares aquele clube tens de saber que a época ainda não terminou.

Achas que o Veríssimo, que jogou contigo, consegue mantê-los em ordem?
Eu acho que sim. Foi adjunto do Lage por algum motivo. Ele é benfiquista, foi jogador da casa muitos anos portanto, até ao final da época, ele dará tudo. Mais que ninguém, porque foi profissional de futebol, ele sabe o que os jogadores precisam neste momento e tem de se preparar bem para honrar aquela camisola com muita dignidade."