sexta-feira, 12 de junho de 2020

Porque é que os governos investem no desporto de alto rendimento?


"Porque é que os governos de muitos países apostam uma boa parte das receitas dos impostos dos cidadãos e das empresas ao desporto de alto rendimento? Tendo por missão gerir o bem comum, o que ganham os governos, e o que beneficia a comunidade com as prestações desportivas dos melhores atletas de um país?
Várias reflexões têm ocupado vários pensadores sociais e investigadores da área da gestão do desporto. Efectivamente, o que se sabe é que os benefícios colectivos para o bem comum são superiores aos custos que os países se sujeitam com esses investimentos aplicados no sector do alto rendimento desportivo.
Porém, o que se requisita é uma clareza do racional das decisões que afectam milhões de euros anuais à preparação e à participação de atletas de alto rendimento nas maiores competições desportivas: campeonatos da Europa, do mundo e Jogos Olímpicos. Jonathan Grix professor na Universidade de Birmingham deu um contributo para compreender o racional. A filosofia que está por trás deste modelo de investimento sério - de muitos países desenvolvidos - no desporto de alto rendimento é o designado “ciclo virtuoso” do desporto. A lógica do "ciclo virtuoso" do desporto é suportada pelo seguinte racional: o sucesso do desporto de alto rendimento, 1) traz prestígio internacional ao país, 2) reforça a identidade nacional, 3) constitui um factor de sentimento positivo e bem-estar na população, 4) promove o aumento da participação desportiva da população em geral, a qual, por sua vez; 5) conduz a ganhos no sector da saúde e ao fornecimento de talentos para o desporto de alto rendimento; e isso conduz novamente ao sucesso de desporto de alto rendimento, conforme figura seguinte. 
Várias políticas públicas e numerosas investigações publicadas têm demonstrado a robustez do "ciclo virtuoso" do desporto: as políticas públicas relacionadas com a promoção da participação desportiva da população em geral:
a) A Organização Mundial da Saúde dedicou o relatório Europeu à definição do caminho para o bem-estar;
b) A União Europeia lançou o EU Physical Activity Guidelines;
c) Em Portugal, o Governo, através do Instituto Português do Desporto e Juventude e da Direcção-Geral de Saúde, lançou a Estratégia Nacional para a Promoção da Actividade Física, da Saúde e do Bem-Estar.
A investigação em gestão do desporto tem mostrado que o desempenho do desporto de elite de um país é considerado i) um dos principais veículos para melhorar o prestígio internacional e a reputação de uma nação; ii) ajuda a população desse país a construir e manter uma ideia de unidade e aumenta o orgulho nacional, e; iii) nos desportos com maior tradição de um país eleva a sensação de bem-estar subjectivo da população, através do factor “sentir-se bem” (feelgood factor), argumento que foi utilizado após a gorada prestação nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996: 36.º país medalhado, entre 71, para sugerir ao governo de Inglaterra um maior investimento no desporto de elite, particularmente nos desportos que mais interessam à população.
Em síntese, o investimento no desporto de alto rendimento, como é bom de ver, é pois um investimento muito produtivo, gera largos benefícios para a comunidade, e o que é bom para a comunidade é porque tem valor para o bem comum e para os membros da comunidade."

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