"A súbita deriva iconoclasta a que temos assistido nos últimos dias, com as estátuas no epicentro da discórdia, dá azo a idiotices, exageros e injustiças da mais variada ordem, não obstante a validade de muitos dos argumentos utilizados e até justeza numa ou noutra situação. De igual modo, tornou-se num manancial para os humoristas, José Pina, dilecto humorista para alguns, adepto sectário para todos, perguntou pela estátua de Eusébio devido a uma fotografia deste com Salazar.
Terá sido, certamente, uma piada em jeito provocatório, mas, quando a Pina, conhecendo-se-lhe inúmeras alarvidades, atoardas e difamações versando o Benfica é legítimo duvidar dos seus propósitos. Inclino-me no entanto, para mais um produto da sua reconhecida veia humorística.
Até porque, se a estátua de Eusébio estivesse mesmo em causa devido a uma fotografia do melhor jogador português de sempre com Salazar, o Sporting, dada a proliferação de figuras proeminentes do Estado Novo nos seus órgãos sociais durante a ditadura, teria de ser extinto.
Basta constatar o currículo dos presidentes dos clubes para se perceber quem teria mais influência nesse período nefasto de Portugal. Com funções relevantes no aparelho fascista houve, pelo menos, Góis Mota, Cazal Ribeiro, Salazar Carreira, Viana Rebelo, Ribeiro Ferreira, Oliveira Duarte e Brás Medeiros no Sporting, e Urgel Horta, Ângelo César, Augusto Pires de Lima, Cesário Bonito e Júlio Ribeiro Campos no FC Porto.
No Benfica, houve Mário Madeira, presidente durante pouco mais de três anos, e com uma diferença significativa em relação aos mencionados acima: foi eleito livre e democraticamente pelos seus consócios, e não por uma assembleia de delegados..."
João Tomaz, in O Benfica
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