sexta-feira, 5 de junho de 2020

De perdas em perdas até perder o que há para perder

"«ele não perde a bola, e isso é muito importante para mim»
Pep Guardiola sobre Bernardo Silva

«É comumente aceite a negatividade da perda de bola, mas paralelamente sentimos que à mesma não é dada a importância que ela realmente tem, pela forma como afecta todo o jogo da equipa e a relação com o adversário. É constantemente desvalorizada em favor de outros comportamentos. Sendo a estatística hoje muito debatida, um dado geral, que depois carecerá de um contexto em relação à forma de jogar da equipa provavelmente à função ou espaço onde se encontra o jogador que perde a bola, sentimos que a perda de bola, poderá talvez ser, a seguir aos golos marcados e sofridos... o dado estatístico mais importante do jogo»
Retirado do “Saber Sobre o Saber Treinar”

Nenhuma equipa será verdadeiramente grande enquanto reunir um conjunto de jogadores que sistematicamente perdem a posse. Que a perdem porque não são suficientemente inteligentes ou porque não têm nível técnico ou motor o suficientemente eficiente para promover eficácia.
Por mais que ainda hoje se continue a valorizar jogadores que acertam apenas uma em cada dez, porque essa uma tem uma qualquer beleza estética, nenhuma grande equipa resiste sem que tenha na sua base jogadores capazes de terem regularidade na sua qualidade.
Ter Pizzi, Gabriel, por vezes até Rafa (embora com grande capacidade para criar, e de quem se pode sempre esperar mais – e não há outro assim) e Vinícius (não há melhor, é um facto) significa que se espera por momentos, mas que não se consegue na regularidade aproximar a equipa desses momentos – Afinal, são jogadores com erros sistemáticos. O oposto serão jogadores como Chiquinho, Weigl ou o próprio Tiago Dantas – Podem nem se fazer notar, mas porque não erram ajudam ao carrossel ofensivo, aproximam a equipa do último terço, são eficientes e ajudam a estrangular opositores que não conseguem roubar bolas e aproveitar para respirar.
Bruno Lage trouxe para o relvado na retoma do campeonato o mesmo conservadorismo nas escolhas com que atravessou a fase negra pré paragem. E curiosamente na temporada finda, foi quando trocou tais receios pelo lançamento dos jovens Felix e Florentino que fez o Benfica crescer.

«Já reparaste que nós muitas vezes substituímos um jogador e ele é que fica chateado connosco? Então mas eu estou a tirar um jogador do campo porque ele não está a render e ele é que se chateia comigo? Eu dizia-lhes: “Amigos, calma lá, vamos aqui perceber uma coisa: quem está lixado convosco sou eu. Não ponham as coisas ao contrário. Não vão por aí. A mim é que me apetece partir-vos todos, não são vocês a mim.»
Luís Castro

Surpreendente (analisando exclusivamente qualidades dos jogadores) a exclusão de Chiquinho e a persistência em Pizzi. Sim, o transmontano tem um registo estatístico que impressiona (número de golos), fruto de ser um jogador com grande capacidade para definir em Finalização. Contudo, é sempre um jogador a menos no processo defensivo, e sempre incapaz de ajudar sequer a equipa no processo de Criação. Para lá de que mais do que ser incapaz de criar, é uma fonte de problemas por perder sistematicamente bolas fáceis – É completamente ineficiente na forma como recebe a bola, e a sua velocidade de execução paupérrima é hoje um problema de dimensão gigantesca.
Sem surpresa é sempre o jogador encarnado com pior percentagem de passe (apenas superado pelo Avançado Centro), e uma fonte de perdas de bola. Não cria, não desequilibra ofensivamente, não defende e por isso torna toda a pressão colectiva insípida e limita-se a esperar que alguém o alimente para finalizar na grande área.
É curioso que muito dificilmente os melhores 10 goleadores do futebol mundial venceriam jogos se coabitassem todos o mesmo onze. É que sendo o golo o dado mais importante do jogo, para que alguém o possa marcar, é preciso haver quem construa e quem crie. Nos dias que correm ter Pizzi é ter alguém que o pode fazer, mas menos um para o criar, além do tempo que gastará à sua equipa – Afinal muitos dos ataques que passam por si passam a ser ataques do adversário. Embora neste particular ninguém na realidade clube grande em qualquer ponto do globo consiga bater Gabriel (tendo em conta o posicionamento sem pressão que ocupa).
A perda de qualidade individual do Benfica de ano para ano é uma evidência, e nenhum treinador no futebol mundial o esconderá – Embora alguns possam exigir outros “ovos”, e outros possam não compactar com quem tem mais estatuto que rendimento.

Taarabt tão adiantado parece um equivoco – Não tem habilidade motora e velocidade de movimentos corporais para definir em espaços tão curtos, e ainda mais se recordarmos que é de frente para a zona de criação que tem mais impacto pela forma como a alimenta. A saída de Weigl, único jogador de todo o onze capaz de valorizar a bola outro equivoco gritante, ainda para mais quando a opção passou por manter o melhor jogador do Tondela, pela quantidade de bolas que deu para os forasteiros atacarem – Gabriel Pires.
Se recordarmos que foi com Chiquinho que o Benfica cresceu na presente temporada, mais se percebe a importância de ter quem seja eficiente no seu gesto e nas suas decisões."

1 comentário:

  1. Opinião de um verdadeiro "expert" de futebol! Impressionante clarividência! Vejo futebol há 4 décadas e meias e perante tal sumidade, curvo-me humildemente. Deixo só uma pequena nota ao especialista da especialidade : Chiquinho, que tem qualidades, não o olvidemos, já teve várias oportunidades desperdiçadas, perante a sua quase total ausência do processo colectivo de jogo, face a Pizzi, chega a ser acintoso, como elemento comparativo. Dá vontade de rir, ou de chorar, consoante o estado de espirito.

    ResponderEliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!