terça-feira, 12 de maio de 2020

Taarabt à frente de todos

"Pelo rendimento e pela estatística Corona, Teles, Pizzi e Vinícius eram os que mais cintilavam quando a Liga parou. Mas o marroquino tem dons raros e contrariou até o rótulo de craque arruinado

Taarabt nasceu há 30 anos e 'está a jogar o melhor futebol da sua vida', como se podia ler, há três meses, no 'The Guardian'. Quando, há uns anos, Redknapp o acusou de ter os sobrepeso correspondente a 'três pedras', o marroquino respondeu que não era jogador para andar a fazer 'tackles'. Mas no Benfica tem mostrado uma combatividade contagiante e os dados da GoalPoint dizem que é dos que mais colabora defensivamente, apresentando um dos valores mais altos nas recuperações de posse (8-1). Os números confirmam que raramente perde a bola e a fiabilidade no drible. Mostram também que não pára um minuto e que joga num raio de acção muito vasto. Por vezes, parece perder a posição, mas isso será mais um problema colectivo do que uma falha individual. Com a contratação de Weigl e a recuperação de Gabriel, vai ser muito interessante perceber como Lage vai montar o miolo...

Quando a Liga portuguesa foi descontinuada, no início de Março, Corona, Alex Teles, Pizzi e Vinícius eram, provavelmente, os principais candidatos a serem escolhidos como os melhores da época, até porque Bruno Fernandes já emigrara para Manchester. Pelo rendimento médio elevado e/ou pela proeminência dos números estatísticos, qualquer um seria uma escolha atinada e sábia, provavelmente com vantagem para o polivalente mexicano portista. Mas, sendo esta triagem relativamente consensual, devo reconhecer que o jogador que mais me vinha impressionando era Adel Taarabt.
Desde logo por ser o mais prodigioso. O marroquino, é ninguém duvide, uma daquelas raridades que jamais irão abdicar de cultivar a bola como uma orquídea de luxo (e terá sido essa casta de excelência que terá levado Rui Costa a impor a sua contratação em 2015). Mas também por ser um jogador raro, até na forma com, aos 30 anos, contrariou o rótulo de craque prematuramente arruinados e irrecuperável.
Noutras tertúlias ocupacionais, lembro-me de ter comentado com Hélder Postiga e Rui Malheiro que 'este marroquino tem algo de Zidane'. Não fosse a analogia soar demasiado descomedida, recordo-me de ter tido o cuidado de acrescentar que Taarabt era bem mais rústico e não tinha a simetria e a lindeza de movimentos que ajudaram Zidane a tornar-se um dos maiores de sempre.
Mas a adenda talvez nem se justificasse, porque a leitura 'de escritos antigos sobre Taarabt mostraram-me, entretanto, que não havia sido nada original na comparação. De facto, Taarabt, já havia sido assemelhado a Zidane quando se revelou no Lens e foi chamado às selecções francesas de sub-17 e sub-19. E o mesmo aconteceu após ter assinado pelo Tottenham em 2006, designadamente num comentário posterior do centro-campista inglês Jermain Jenas, que fazia parte do plantel: 'Acreditávamos que havíamos contratado o novo Zidane. Vi Taarabt fazer as coisas mais inverosímeis que vi num campo de futebol'. E, já após a regeneração que o marroquino conseguiu na Luz, o jornal 'Marca' dedicou-lhe, em Fevereiro, um artigo que tinha como título 'De novo Zidane a tardar 1694 dias a marcar pelo Benfica'.
Aquele texto foi um muitos que escreveram sobre a forma como Taarabt andou demasiado tempo a delapidar o seu talento. Relembram-se os episódios de indisciplina e falta de profissionalismo, a vida nocturna, os problemas de excesso de peso até uma conhecida frase de Harry Redknapp, quando o técnico inglês disse que Taarabt (que conhecera no QPR) 'era o pior profissional' que havia visto na carreira. De resto, até o marroquino assumiu as suas responsabilidades à 'Four Four Two': 'Não gosto de falar assim de mim, mas quando era jovem muita gente me disse que poderia jogar no Real Madrid ou no Barcelona. Até Luka Modric me disse isso. Não foi culpa dos outros: foi minha'.
À revista inglesa, Taarabt explicou como é que conseguiu impor-se num Benfica onde o presidente Luís Filipe Vieira garantira que ele nunca jogaria: 'Sempre fui bom rapaz, mas às vezes estive um pouco perdido. Acreditava que tinha sempre razão, mas fizeram-me perceber que estava equivocado e mudei em todos os sentidos: como pessoa e jogador'. Esta consciencialização foi mais determinante do que ter emagrecido mais de de 10 quilos, até porque esse adelgaçar já acontecera na Premier League e na Séria A, onde, no Génova, deu os primeiros sinais de que queria reabilitar-se.
É conhecido o papel que Bruno Lage teve na regeneração de Taarabt, iniciada quando se cruzaram na equipa B. 'Podes ser tudo o que quiseres no futebol', ter-lhe-á dito o treinador no início de 2019, ainda antes de o convencer a tornar-se num médio-centro laborioso. Mas a verdade é que o marroquino ultrapassou os próprios anseios. 'Não sabia que o meu corpo poderia responder tão bem aos esforços. Não me sinto com 30 anos... senti-me fresco. A transformação foi incrível. Estou chocado por correr 12/13 quilómetros por jogo', disse recentemente a um jornalsita do 'beIN Sports'.
(...)"

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