"Futebol à porta fechada: tem pairado no ar essa possibilidade nos últimos dias. O momento é de grande incerteza e engloba todas as áreas da sociedade. O futebol não foge à regra e em Portugal, como por toda a Europa, tudo se encontra em suspenso, à espera que a tempestade passe.
Com a confirmação do adiamento do Campeonato Europeu de Futebol para 2021, abre-se uma janela para se poderem disputar as restantes dez jornadas da Primeira Liga, que Pedro Proença, presidente da Liga de Clubes, admite realizar, ainda que à porta fechada. Contudo, estará sempre dependente do que decretarem as instâncias governamentais sobre a matéria.
Para já, a hipótese em cima da mesa é terminar a temporada a 30 de Junho, pelo que é nesta janela de três meses que tudo tem que acontecer. Na óptica de Pedro Proença é fundamental que se termine a época desportiva, de modo a serem apurados os campeões da liga e perceber-se quem sobe e quem desce, para que depois a temporada de 2020/2021 possa decorrer dentro da normalidade.
Actualmente apenas um ponto separa FC Porto e SL Benfica na classificação, com os dragões no comando da liga. Mais abaixo, SC Braga e Sporting CP disputam o último lugar do pódio, separados por quatro pontos, lugar que dá acesso directo à Liga Europa. Na luta europeia encontram-se ainda Rio Ave SC, Vitória SC e FC Famalicão. Abaixo da linha d’água estão CD Aves e Portimonense SC, que há muito fazem contas à vida,e que são nesta altura os principais candidatos à descida. E agora?
O campeonato está parado há mais de três semanas e as equipas impedidas de treinar, pois também estão sujeitas às medidas de isolamento social, pelo que a preparação física dos jogadores é sobretudo de cariz individual. São por isso levantadas algumas questões quanto à condição em que aparecerão os atletas, que dificilmente terão margem para uma espécie de pré-época, uma vez que o calendário será seguramente apertado.
Na jornada 25, o campeão nacional Benfica recebe o CD Tondela no Estádio da Luz. Com uma média de 52 479 espectadores por jogo, as águias são líderes do ranking de assistências na liga. O chamado “Inferno da Luz” costuma ser arma importante para empurrar a equipa para a vitória, um ambiente efervescente e por mais que uma vez elogiado tanto pelos próprios jogadores, como por adversários. Os restantes oponentes do Benfica em jogos em casa são: Santa Clara, Boavista, Vitória SC e Sporting. O dérbi que marca o fim do campeonato e que pode ser decisivo no desfecho final será também jogado sem público, o que em jogos desta natureza pode muito bem ser decisivo.
Com 35 625 espectadores em média por jogo, o Porto segue no segundo lugar do ranking de assistências e conta receber no Estádio do Dragão: CS Marítimo, Boavista FC, Belenenses SAD, Sporting CP e Moreirense FC. Em 12 jogos disputados em casa, o Porto apenas perdeu contra o Braga, na altura orientado pelo agora treinador dos leões Rúben Amorim, o que demonstra bem a força dos azuis no seu território. Com as bancadas despidas de público será interessante ver se mantêm a mesma consistência, com especial destaque para a jornada 32, um clássico à porta fechada.
O Braga é apenas sexto no ranking de assistências, com uma média de 10 587 espectadores por jogo, no entanto é um clube muito acarinhado pela sua massa associativa. Há duas jornadas que podem ser decisivas para as contas finais do campeonato, a 28 e a 34, com Vitória SC e Porto como respectivos adversários. A rivalidade entre os de Braga e Guimarães é sobejamente conhecida e representam por norma jogos escaldantes, com a atmosfera criada pelo público a transferir-se para o rectângulo de jogo. Também aqui será interessante perceber o comportamento de ambas as equipas em resposta ao silêncio nas bancadas.
O Sporting, terceiro deste ranking, com uma média de 30 234 espectadores por jogo, poderá ser o clube que, no plano teórico, retira maior vantagem da situação. Para além das supramencionadas deslocações às casas dos dois maiores rivais, a próxima jornada ditou a visita a Guimarães, com os leões frente a frente à turma de Ivo Vieira, equipa que com uma assistência média de 16 910 espectadores se posiciona como quarta classificada no ranking, sendo o Berço tradicionalmente um terreno difícil para as equipas adversárias.
Este cenário é, claro, hipotético e está dependente dos mais diversos factores. A acontecer, colocará todos os adeptos agarrados às televisões, em suas casas, sozinhos ou com as suas famílias. Terá de ser assim, pela segurança de todos. Há ainda a questão das receitas de dia de jogo, que sem adeptos é inexistente, mas os prejuízos de não se terminar a temporada serão seguramente maiores do que haver futebol à porta fechada.
Com o prolongamento do estado de emergência, as pessoas continuam limitadas no que podem fazer e a possibilidade de ter futebol seria uma boa forma de se manterem entretidas. É um tema que certamente continuará a marcar a actualidade desportiva e em breve deveremos saber mais novidades sobre o assunto."
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