terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O maior problema do FC Porto não é o atraso para o Benfica

"Dia 9 de Outubro de 2015.
A convite do FC Porto, fui em representação do Maisfutebol à apresentação do Relatório e Contas relativo ao exercício de 2014/15. Tive a oportunidade de ouvir a exposição genérica apresentada pelo dr. Fernando Gomes, responsável pela área financeira da SAD, e coloquei-lhe duas questões: uma sobre a ausência de um main sponsor nas camisolas e outra em relação ao impacto positivo que um nome como Iker Casillas poderia dar ao clube.
O tom não podia ser mais optimista. Fernando Gomes falava em «saúde financeira invejável» e acrescentava que o clube era até capaz de «viver sem patrocinador principal».
«O main sponsor deixou de ser imperioso. Ou arranjamos um bom patrocinador ou não vale a pena. Não vale a pena fazer cedências por pouco».
Em traços largos, a SAD apresentou um passivo global de 276 milhões de euros, compensado com um resultado líquido positivo (19,3 milhões) e capitais próprios bastante satisfatórios (83 milhões). 
Um ano mais tarde, no mesmo tipo de evento, o administrador mostrava-se mais preocupado e comprometia-se a baixar a massa salarial para os exercícios seguintes.
«Inflacionámos os salários para além do razoável. Em 2013/14 os salários do plantel eram de cerca de 40 milhões de euros e hoje são de 75 milhões de euros. Entendemos que devemos conter e reduzir». 
Fernando Gomes anunciou um ambicioso plano de redução salarial: em três anos, até ao exercício a apresentar em Outubro de 2019, os 75 milhões de euros da massa salarial teriam de baixar até, pelo menos, um valor a rondar os 55 milhões.
O que sucedeu? O FC Porto teve na época 2018/19 a folha salarial Mais Alta De Sempre.
Os dados são oficiais e verificáveis nos Relatórios e Contas.

Dia 10 de Outubro de 2019.
Todos os dados financeiros relevantes da SAD do FC Porto pioraram. Em quatro anos, o passivo global passou de 276 milhões para 409 milhões; os capitais próprios da SAD baixaram dos 83 milhões para impensáveis 34,8 milhões negativos; o resultado líquido global desceu de 19,3 milhões para 9,4 milhões.
Só isto chegaria para assustar um portista lúcido, mas há mais: dos 457 milhões conseguidos no contrato com a Altice, a SAD já antecipara nessa altura o recebimento de 130 milhões, verba que permitiu camuflar algumas fragilidades; o custo com o pessoal, esse monstro que Fernando Gomes pretendia esmagar, subiu de 78,9 para 91,6 milhões de euros apenas num ano.
Creio que já perceberam a minha conclusão, mas dou ainda mais três dados para reflexão: 
1. Fernando Gomes assumiu que o FC Porto precisa de fazer 65 milhões em mais valias nas vendas até Junho de 2020
2. O clube falhou a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões e um encaixe (mínimo) de 44 milhões de euros
3. Pinto da Costa e a sua administração receberam 1,3 milhões de euros só em prémios relativos à época 2018/19. Não entram nestes números os salários dos dirigentes.

Conclusão:
O clássico do dia 8 de Fevereiro contra o Benfica é fundamental para o FC Porto? Com certeza. Deixaria os dragões a apenas quatro pontos e ainda perfeitamente ligados no combate pelo título. 
Esse jogo e o atraso pontual para as águias são o maior problema do clube? Não. Esse está reservado para o dia 28 de Fevereiro (mais dia, menos dia) e para a divulgação do Relatório e Contas relativo ao primeiro semestre da temporada 2019/20."

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