"Tenho 33 anos de vida e quase 12 de jornalismo. Contam-se pelos dedos de uma mão as fotografias que pedi para tirar com protagonistas da bola. Antes e depois de ser jornalista. Um desses dedos foi contado com Nuno Manta Santos, em Santa Maria da Feira, há coisa de três anos. Já era noite e o homem saía do Marcolino de Castro depois de um jogo do Feirense. Não resisti. Pedi-lhe, e ele aceitou.
Aquilo que Nuno Manta Santos fez na sexta-feira, na sala de imprensa do estádio da Luz, é genuíno. Porque conheço o país e a forma sui generis (para ser simpático) como tantas vezes se vê o mal onde ele não está, quero esclarecer isto. O treinador do Desportivo das Aves não cumprimentou os jornalistas, um a um, porque sabia que estava num palco maior, que talvez lhe desse a visibilidade que acabou por ter.
Não. Nuno Manta Santos cumprimentou os jornalistas, no final do jogo, porque sempre o fez, pelo menos desde que eu o sigo profissionalmente. Nuno Manta Santos não disse, e passo a citá-lo: «Mesmo perdendo, não vale a pena vir para aqui irritado e descarregar. Não muda nada», com uma agenda escondida, porque tinha acabado de perder de forma inglória frente ao campeão nacional.
Não. Nuno Manta Santos disse aquilo porque é assim que ele é. Cordial, respeitoso, elevado e profundamente genuíno. Aquilo que fez na sexta-feira já o tinha feito longe dos “holofotes” do estádio da Luz. Já me tinha cumprimentado, e a todos os meus colegas, na sala de imprensa do Marcolino de Castro depois desse Feirense x Nacional, algures em 2017. Na altura não o aplaudimos, mas devíamos.
Marcou-me. Simpatizei de imediato com o homem, muito para lá do treinador. Nuno Manta Santos fez – e tem feito – o seu caminho. De altos e baixos, de elogios e críticas, de promoções e despedimentos. Já teve dias em que a frustração lhe devia estar atravessada na garganta. Mas ao contrário de tantos outros, nunca se deixou dominar por esses sentimentos. E é isso que me cai bem. A coerência e a retidão, independentemente das circunstâncias.
Gostava de ver mais como ele. Gostava mesmo. Num país e num futebol em que passamos o tempo aos gritos, quase sempre histéricos e sem ponta por onde se lhe pegar, o equilíbrio e o lado humanista de Nuno Manta Santos são virtudes que não podem passar pelos pingos da chuva. Foi aplaudido, e muito bem."
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