quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Doumbia e Lourency

"O tal segundo cartão amarelo devia manter-se, mesmo não havendo penálti

Vamos falar do lance que envolveu Doumbia e Lourency, na recta final da partida entre Gil Vicente e Sporting. Como recordarão os mais atentos, o médio costa-marfinense - colocado no interior da sua área - usou o braço/cotovelo esquerdo para atingir o seu adversário, causando-lhe lesão (visível) no rosto.
Primeiro os factos:
1 - O árbitro entendeu não ter havido qualquer infracção, razão pela qual tomou a decisão de deixar prosseguir o jogo;
2 - O videoárbitro, atento, fez e bem o seu trabalho: alertou Hugo Miguel que tinha ocorrido uma situação eventualmente passível de castigo máximo. Mas fez mais (e melhor): disse-lhe que, no início da fase de ataque que levou a essa infracção, um jogador da equipa atacante - no caso, Kraev - estava em posição irregular e tomara parte activa no jogo. Bruno Esteves (VAR) acertou em tudo: o lance seria mesmo passível de pontapé de penálti mas esse nunca podia ser assinalado por existir fora de jogo (de 5cm) anterior. Perfeito;
3 - O internacional lisboeta fez então, igualmente bem, o que lhe competia: foi ver as imagens no écran junto ao relvado e validou a informação do colega. O alegado penálti não foi sancionado e, em seu lugar, foi dada indicação para que a partida recomeçasse com pontapé livre indirecto, a punir o adiantamento do jogador gilista. Tecnicamente tudo perfeito. Mais uma vez;
4 - Mas Hugo Miguel fez mais: entendeu que, disciplinarmente, a atitude individual de Doumbia sobre Lourency (que o lesionou de forma feia) tinha sido negligente (ou seja, passível de cartão amarelo) e, por isso, advertiu-o. Por ser a segunda vez no mesmo jogo, deu-lhe a respectiva ordem de expulsão;
5 - A parte incompreensível (e a única aqui claramente errada) veio depois: o árbitro, motivado por possível bloqueio momentâneo, voltou atrás na decisão e pediu a Doumbia que regressasse ao terreno de jogo, anulando o amarelo que lhe tinha mostrado. O jogador estaria já a caminho dos baleneários quando foi chamado.
Agora a nossa análise técnica: quando um lance é tecnicamente invalidado (como este, por intervenção do VAR), podem acontecer uma de duas situações, no que diz respeito a cartões entretanto exibidos: ou são anulados ou mantêm-se.
O que o protocolo (que agora está integrado nas leis de jogo) diz é que devem ser revertidos todos os cartões que foram exibidos por anularem ataques prometedores ou claras oportunidades de golo. Ou seja, apagam-se os cartões mostrados não pela dureza da infracção/entrada em si, mas pelo enquadramento da jogada. Os tácticos.
Todos os outros - nomeadamente os que resultem de impacto físico negligente, grosseiro, violento ou de acções antidesportivos - devem manter-se sempre e sem qualquer situação.
Doumbia, que na nossa opinião tinha até que ter visto o cartão vermelho directo, nunca podia ter regressado ao relvado porque a sua atitude foi, no mínimo, muito negligente. O tal segundo amarelo devia manter-se, mesmo não havendo penálti (tal como se manteria, por exemplo, um cartão amarelo mostrado a um jogador atacante por simulação na área, em lance que o árbitro fosse chamado a analisar um potencial penálti).
Essa foi a única falha, num jogo difícil, emotivo e, até então, muito bem arbitrado. Foi pena, porque Hugo Miguel tinha estado mesmo em excelente nível."

Duarte Gomes, in A Bola

A crise dos jornais e dos reguladores

"O Sindicato dos Jornalistas promoveu nestes dois dias (ontem e hoje) um amplo debate sobre o papel do Estado no financiamento dos jornais. O tema, que tem vindo a ser abordado, desde há mais de um ano, pelo Presidente da República, que manifestou repetidas preocupações com a dramática crise dos jornais e do jornalismo em Portugal, ligando-o com reais perigos para o futuro da democracia, tem-se mostrando complexo e sensível.
É verdade que, em diversos países europeus, há muito que o Estado apoia financeiramente os jornais, quer através de apoios à distribuição, quer em apoio directo à leitura, em especial, da faixa etária dos estudantes. Em Portugal, porém, talvez pela memória da estatização dos diários, no pós 25 de Abril, há quem levante dúvidas sobre as questões da independência do jornalismo e da liberdade dos jornalistas.
Não me parece ser, esse, um problema maior do que o da falta de independência e de liberdade dos jornais e dos jornalistas num tempo de sobrevivência, às vezes, mesmo, próximo de um salve-se quem puder.
O financiamento do Estado ao bem público deve ser criterioso e feito com o maior rigor, sobretudo quando se trata do universo privado dos media, mas é decididamente necessário, sobretudo em países de maior iliteracia e de menor número de habitantes.
Dito isto, não é menos importantes a mudança radical da atitude imobilista e não raras vezes hipócrita das entidades reguladoras do sector, que consentem e, não raras vezes, pactuam com todo o tipo de concorrência desleal, na defesa de interesses particulares, em relação aos quais são, mais do que submissos, subservientes."

Vítor Serpa, in A Bola

As chicotadas psicológicas e a incompatibilidade de ideias

"A última pausa no campeonato para as datas FIFA ficaria marcada por três mudanças de treinador na Primeira Liga. O Vitória FC e o CD Aves já tinham despedido os seus respectivos treinadores, Sandro Mendes e Augusto Inácio, sendo interinamente orientados por, respectivamente.
Para além destes, o CS Marítimo também anunciou a saída de Nuno Manta Santos, após o emblema madeirense ter realizado um dos piores arranques de campeonato dos últimos anos, sendo substituído por José Gomes, que havia deixado recentemente os ingleses do Reading FC.
Seria já na pausa do mês de Novembro que os sucessores efectivos de Sandro Mendes e Augusto Inácio seriam anunciados. Nuno Manta Santos não ficaria muito tempo no desemprego, ao ser anunciado como o novo treinador do CD Aves poucos dias após ter sido despedido do clube insular. Já do lado do Vitória FC, acabaria por anunciar a contratação do espanhol Julio Velásquez, que já tinha tido uma passagem pelo CF “Os Belenenses” no ano de 2016.
Aqui, não está em causa a qualidade e a competência dos treinadores em questão. Nuno Manta Santos fez uma época de estreia na Primeira Liga notável, onde lutou arduamente contra uma direcção que insistia que ele fizesse omeletes sem ovos. Julio Velásquez tentou implementar um futebol positivo num contexto que não era favorável e José Gomes viu serem-lhe abertas as portas do futebol inglês após uma curta, mas bem sucedida passagem pelo Rio Ave FC.
O principal ponto em comum que relaciona estes três casos é que ambos os clubes contrataram treinadores cujo perfil e modelo de jogo, pouco ou nada tem a ver com o dos seus respectivos antecessores.
Os três clubes mudaram de treinador com o pretexto de procurar melhorar os resultados da equipa e conseguir subir na tabela classificativa. Até aqui não há nada de errado, mas quando um clube substitui um treinador por outro com uma filosofia diferente no decorrer da época, isso demonstra uma clara falha de planeamento por parte da estrutura do clube. Ainda para mais, quando os contextos onde estes treinadores estão inseridos não são favoráveis a um processo de transição que permita uma adaptação mais tranquila destes.
O CS Marítimo é um clube que me habituei a ver a lutar pelo acesso às competições europeias, mas que nos últimos anos tem vindo a cair exponencialmente na hierarquia do futebol português, sendo que após o jogo da última jornada contra o SL Benfica, José Gomes assumiu que apresentou uma proposta de jogo completamente diferente da do seu antecessor e que iria levar tempo a ser assimilada por parte dos jogadores.
O CD Aves sofreu uma revolução no plantel no último mercado, tendo perdido dez jogadores titulares da última época, o que faz com que Nuno Manta Santos chegue a uma equipa que ainda esteja em construção e que agora terá de assimilar nova ideias e novos processos de jogo, diferentes daqueles implementados por Augusto Inácio.
Já o Vitória FC, é um clube que não tem qualquer linha estrutural, onde parece que é cada um por si. E num contexto ainda mais desfavorável ao que encontrou em Belém, Julio Velásquez corre sérios riscos de ser vítima do preconceito que atinge os treinadores estrangeiros.
Para além de falta de planeamento, este tipo de mudanças de treinador em cima do joelho demonstra a falta de capacidade dos clubes em pensar fora da caixa, recorrendo ao primeiro treinador que aparece na lista em vez de apostar em alguém com o mesmo perfil, mesmo que tenha menos renome."

Abrindo a cortina do passado

"Por raiva, Ary Barroso esculhambou Jair Rosa Pinto; por paixão, Percy e Olinda Bolsonaro acabaram por fazer o mesmo

Sobre o Rio de Janeiro o céu estava claro e límpido como os olhos da Michelle Pfeiffer. Ary Barroso conduzia o seu Buick brilhante em direcção a Jacarepaguá. No lugar do morto seguia José Lins do Rego. Hoje, estão ambos no lugar dos mortos.
«Ah! Abre a cortina do passado/Tira a mãe preta do cerrado/Bota o rei congo no congado...», talvez ouvissem no rádio do automóvel luxuoso. Ary tinha tanto orgulho nele como em Aqurela do Brasil. Era doente pelo Flamengo, conhecia treinadores e jogadores, decidira levar José Lins com ele até à concentração da equipa que jogaria, nessa tarde, frente ao Vasco da Gama, em São Januário. O episódio data de 22 de Agosto de 1949. Nessa altura, Ary já era uma figura por demais popular no Brasil e fazia de tudo um pouco, até de narrador de encontros de futebol na rádio, acompanhando os relatos com a sua inseparável cachacinha. Se o Flamengo estava em causa, borrifava-se para a requisitada imparcialidade e largava tiradas de arrepiar rinocerontes: «Meu Deus! Agora é a vez dos inimigos atacarem. Vou rezar! E não quero nem ver!».
Já o autor de Menino de Engenho era mais cordato, mas não menos fanático pelo Mengão, tal como se pode confirmar pelas crónicas que deixou escritas em O Globo e no Jornal dos Esportes. Aliás, chegou mesmo a ter cargos na direcção do clube. Por isso, apanhando o ar fresco de Copacabana, no rodar macio do Buik, os amigos já iam fazendo apostas sobre o resultado do jogo. Ary não tinha dúvidas: «Zé Lins, hoje é dia! O clube comemora 51 anos, vamos dar uma lição nesses vascaínos. Estou louco para falar com Zizinho e Jair e sentir o que estão achando. Vou meter um dinheirinho por eles».
Jair era Jair Rosa Pinto. O meia-esquerda que gostava de passarinhos. Dedicava-lhes todo o tempo livre da sua vida. Tinha muitos em gaiolas e muito mais ainda soltos, por toda a cidade. Principalmente na Praça Saénz Peña, no Bairro da Tijuca, onde depois de morrer deram o seu nome a uma esquina. Formou, no Madureira, um trio conhecido como Os Três Patetas - Jair, Lelé e Isaías -, entrou no Expresso da Vitória, um Vasco da Gama poderoso, jogou no Santos com Pagão, Pelé e Pepe, e foi titular da selecção brasileira de 1950, a que perdeu a final do Maracanã face ao Uruguai. Tinha um pontapé devastador. Havia quem lhe chamasse o Jajá de Barra Mansa.
No Flamengo não foi feliz. E, na manhã em que Ary Barroso e José Lins do Rego o encontraram na concentração da equipa, plenos de confiança, Jair parecia deprimido. Quando soube que Ary ia meter uns cobres na vitória do Fla, encolheu os ombros: «Se fosse você, gastava dinheiro em algo melhor...» Os dois amigos ficaram boquiabertos. Jajá explicou-se: era o treinador, o Kanela, e as suas tácticas. Deixava os jogadores confusos. A equipa vivia no meio da confusão. Não augurava nada de bom.
Aqui chegados, lembrei-me de uma figuras dos velhos Olivais Sul: Eduardo Neves Barroso, o Dadinho. Jogador trapaalhão nas peladas do Maracangalha e do Vale do Silêncio, desculpava-se: «Eu sou bom é no basquete!» Kanela era bom era no basquete. Mas sem desculpas amarradas. Togo Renan Soares, que era tio do gordo Jô Soares, Kanela de alcunha, acumulou por vezes as carreiras de treinador de futebol e de basquete, como nesse ano de 1949, levou o Flamengo a dez vitórias consecutivas no campeonato brasileiro do jogo do cesto e a selecção do Brasil à conquista de cinco Campeonatos Sul Americano, dois Campeonatos do Mundo e à medalha de bronze dos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. Não é de admirar que Jair desabafasse: «Kanela é bom é no basquete!» Era mesmo.
O Vasco da Gama ganhou por 5-2. Ary Barroso perdeu dinheiro, a despeito do conselho de Jajá. Mas não atirou a sua raiva de perdedor para cima de Kanela, peferiu esculhambar Jair de tudo e mais alguma coisa, derrotista, pouco profissional, elemento pernicioso para a moral do grupo, um escafandro. O povo era sensível às suas diatribes radiofónicas. Os adeptos do Flamengo tomaram Rosa Pinto de ponta e reuniram-se em frente ao estádio da Gávea para queimarem. simbolicamente, a sua camisola nº 10. Seria o fim de Jair no Flamengo.
«Deixa cantar de novo o trovador/A merencória luz da lua/Toda canção do meu amor...» O trovador Jajá continuou a cantar sobre os relvados até aos 42 anos. Percy Geraldo e Olinda Bonturi, resolveram esculhambá-lo mais uma vez dando o seu nome ao filho de ambos: Jair Messias Bolsonaro. Vale que Jair da Rosa Pinto nunca teve medo de fumaça. Continuou matando a sua sede nas fontes murmurantes de Ary..."

Taça Davis de Piqué preserva a paixão

"À Taça Davis faltavam grandes estrelas. A nova versão trouxe Rafa Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray!

As Finais da Taça Davis não foram nem tão más quanto os saudosistas prognosticavam, nem tão deslumbrantes quanto proclamavam os criadores desta nova versão, o futebolista Gerard Piqué, presidente da empresa Kosmos, e David Haggerty, o presidente da Federação Internacional de Ténis (ITF).
A competição desportiva entre selecções nacionais mais antiga do Mundo (119 anos) tinha de mudar. 
Custou-me o cinismo de alguns dos melhores jogadores do Mundo a criticarem a mudança, quando foram eles os principais culpados, ao deixarem de jogar a competição.
Era preciso salvar a Taça Davis e foi preciso coragem. Teria sido mais fácil deixá-la definhar lentamente e diluir responsabilidades.
Sendo eu um fã da história do ténis, não gostei das alterações e, após esta primeira edição, não estou convencido de que seja este o caminho, mas houve aspectos positivos e há que dar tempo para consolidar o projecto.
À Taça Davis faltavam grandes estrelas. A nova versão trouxe Rafa Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray!
A prova estava a perder patrocínios e a Kosmos injectou prémios de 20 milhões de euros.
A versão antiga perdia mediatismo e havia anos em que só os media dos dois países envolvidos na final se interessavam. Neste autêntico Mundial houve mais jornalistas credenciados em Madrid e mais interesse diversificado em termos de países.
Em contrapartida, os direitos de televisão não atingiram os valores desejados, houve países que não aderiram às transmissões televisivas e algumas das nações tradicionais da Taça Davis, como Estados Unidos e França, tiveram audiências fracas.
Por outro lado, a cobertura e as audiências na internet (sobretudo nas redes sociais) foram as melhores de sempre e tendem a crescer. Encontros à melhor de três sets em vez de à melhor de cinco? Eu era contra, mas admito que o espectáculo não perdeu qualidade nem emoção. Os pares como último encontro de cada ronda? Gerou alguns problemas na primeira fase mas valorizou a variante.
O público não foi tanto quanto desejado (os preços não eram baratos), mas também não foi tão pouco quanto se previu. Claro que Espanha, a jogar em casa, enchia, mas houve confrontos às moscas. Há já planos para melhorar a situação.
Houve alguns problemas com o servidor das aplicações digitais, faltas de electricidade, a Caixa Mágica necessita de mais um campo e é inaceitável encontros terminarem de madrugada. Mas esses são detalhes facilmente resolúveis.
O mais importante para mim foram as lágrimas de dor e alegria dos jogadores. A paixão pela Taça Davis manteve-se inalterável."

Quem 'matou' a mudança? Suspeito 20 - Resistir à eficácia (parte 3)

"“Qual é a terceira resistência à eficácia, nas organizações?” – perguntava o Presidente Mark Angie, perante os olhares atentos do “quartel-general” do F.C. os Galácticos (Robert West Director Geral, Brad Wooden Treinador Principal e Anthony Smith Coordenador da Academia).
As duas últimas reuniões entre o Presidente Mark Angie e o Detective Colombo tinham sido muito produtivas e, por isso, o Presidente pediu aos elementos chave do Clube para estarem presentes, naquela reunião. Todos se conheciam bem e o clima era de respeito mútuo e de muita curiosidade.
O Detective Colombo respirou fundo, recordou uma série de situações, que tinha presenciado no Clube e perguntou – “alguma vez protelaram alguma coisa que desejavam fazer?”. Enquanto os olhares se cruzavam, o Presidente lembrou-se dos anos que antecederam o primeiro telefonema para a “brigada dos homicídios empresariais” (link) e disse – “durante muito tempo, sentia que o Clube não estava no rumo certo, queria mudar as coisas, mas em vez de fazer alguma coisa, fui adiando a situação”.
“Qual foi o resultado desse adiamento?” – perguntou o Detective Colombo. Nesse momento, os olhares voltaram-se ligeiramente para o chão. O ambiente da sala parecia indiciar algum arrependimento e, para desanuviar o ar, o Detective Colombo disse – “protelar algumas situações é normal” – e de repente o Director Geral Robert West respondeu – “estivemos a gerir o clube reactivamente, fomos agindo ao sabor do vento, atiramos no escuro, tipo roleta russa, a ver se acertávamos no alvo.”
“Construindo a partir das nossas últimas conversas, o que poderá ter estado na base desse tipo de gestão?” – perguntou o Detective Colombo. As últimas conversas entre o Presidente Angie e o Detective Colombo já tinham sido partilhadas com todos os presentes e o Treinador Brad Wooden adiantou-se dizendo – “a falta de algum conhecimento e de competências concretas levou ao protelamento de situações importantes, por não nos sentirmos capazes e confiantes”.
Quando todos estavam a pensar num eventual comentário de repreensão, o Detective Colombo surpreendeu dizendo – “protelar não é totalmente negativo”. “Como assim?” – perguntou o proactivo Coordenador Anthony Smith. “O problema não está em protelar, mas nas razões pelas quais protelamos e o que fazemos durante esse tempo de adiamento” – devolveu o Detective Colombo.
O Presidente Angie contorceu-se, rodando o tronco para a direita, elevando o ombro esquerdo e encolhendo o direito, parecia estar inquieto e perguntou – “Detective pode concretizar?”. “Claro” – começou por responder o Detective Colombo e continuou – “podemos distinguir dois tipos de protelamento” – e enquanto todos estavam curiosos por saber quais eram, como denunciava o avançar de ombros, de todos, o Detective esclareceu – “o protelamento reactivo e o protelamento estratégico”.
Fez silêncio. O Director Geral Robert West colocou o cotovelo esquerdo sobre a mesa, o queixo sobre o polegar esquerdo, olhou ligeiramente para cima, parecia estar a olhar para o infinito e perguntou – “o que os diferencia?”. “Há uma diferença entre protelar porque não estamos preparados, não temos o conhecimento e as competências, não nos sentimos confiantes em agir, nem fazemos nada, o protelamento reactivo, e entre adiar a acção porque não estamos igualmente preparados, mas utilizamos esse tempo para nos prepararmos e treinarmos com conhecimentos e competências, o protelamento estratégico, em vez de agir reactivamente” – respondeu Detective Colombo.
“Parece que estou a perceber que que está a dizer” – começou o Treinador Brad Wooden e continuou – “quando comecei a Treinar, não tinha conhecimentos para treinar a parte física dos jogadores. No início, adiei a integração do treino físico, porque não fazia a mínima ideia do que fazer, o que o detective chamou de protelamento reactivo. Depois, embora ainda não fizesse treino físico com os jogadores, fui fazer formação para ganhar conhecimentos e estratégias para treinar a parte física dos jogadores. Nesse momento, embora não estivesse a treinar a parte física dos jogadores, estava a preparar-me para o fazer, estava a fazer o protelamento estratégico, certo Detective?”.
“Obrigado por me ajudar a passar a imagem” – respondeu o Detective Colombo e, aproveitando o exemplo, perguntou – “o que é que fez quando se sentiu preparado, quando passou a ter o conhecimento e as competências e quando se sentiu confiante para integrar a parte física no treino?”. A expressão facial do Treinador Brad Wooden mudou, parecia estar a recordar uma experiência agradável e disse - “integrei o treino físico no treino, atrevi-me a tentar e passei a agir, treinando a parte física dos jogadores” – respondeu o Treinador Brad Wooden.
“Nesse momento” - começou por dizer o detective Colombo e prosseguiu – “o Treinador Brad Wooden colocou em prática os conhecimentos e competências e passou a aplicar, a agir, a executar a concretizar estrategicamente. É que se pode designar de concretização ou execução estratégica, que é diferente de agir atirando no escuro, certo?”
“É curioso” – começou por dizer o Director Geral Robert West e continuou – “tive a mesma experiência na gestão financeira do clube. No início, apagava fogos. Depois de ganhar conhecimentos e competências, mudei completamente a forma de gestão e, nessa altura, eu sabia para onde queria ir, tinha conhecimentos, sentia-me competente e valorizei esses conhecimentos e estratégias ao aplicá-los na gestão do clube.” Enquanto todos pareciam estar a reflectir, o Presidente Angie disse – “agora compreendo a expressão saber e não fazer é não saber, porque se não aplicarmos o conhecimento, nem utilizarmos as competências adquiridas, então não valorizamos os conhecimentos nem as competências e executámos como se nada soubéssemos”.
Voltando a lembrar-se do que tinha acontecido consigo, no que ao treino físico diz respeito, o treinador Brad Wooden disse – “regressando ao exemplo da integração do treino físico, houve um momento em que treinei esta componente sem quaisquer conhecimentos ou competências” – todos estavam atentos ao que estava a dizer e prosseguiu – “e agi, em vez de adiar, mas com resultados catastróficos. Recordo uma situação em que, na véspera de um jogo importante, treinei resistência anaeróbica láctica e no dia seguinte perdemos um jogo em casa, com uma equipa que tínhamos vencido por 3-0, na primeira volta e a jogar fora. Hoje, fruto dos conhecimentos e competências que tenho, repetir esta situação é impensável, por conhecer os tempos de recuperação deste tipo de carga. Agora percebo a diferença entre executar reactivamente, por exemplo treinar resistência anaeróbica láctica na véspera de um jogo, e executar estrategicamente treinando esta componente dois ou três dias antes do jogo. A propósito, vou pedir para alterar a frase que está pintada no balneário da equipa – practice makes perfect – para – strategic practice makes perfect. Isto é, não chega executar, necessitamos de executar estrategicamente, para sermos eficazes.”
Todos pareciam ter assimilado a diferença entre adiar reactivamente e protelar estrategicamente e entre concretizar reactivamente e concretizar estrategicamente, que ao protelarmos estrategicamente, aproveitamos esse tempo para ganhar conhecimentos e competências e as treinarmos, e que concretizar estrategicamente vai para além da acção, do esforço do trabalho intenso e isso mesmo foi perceptível na intervenção do Coordenador Anthony Smith – “agora entendo perfeitamente a diferença entre working harder e working smarter. Em ambos os casos há esforço, acção, execução, concretização, mas a segunda acrescenta a acção estratégica, com conhecimento e competências, o que faz toda a diferença, como nos apercebemos pelo exemplo dado pelo Treinador Brad Wooden”
“Parece que descobrimos mais um responsável por estar a “matar” a mudança no Clube resistindo à eficácia: o protelamento e a concretização reactivos, mas como operacionalizar a concretização ou execução estratégica?” – averiguou o Coordenador Anthony Smith.
“Há uma ideia a desenvolver, antes de responder a essa questão, a da concretização estratégica ter duas componentes que são como unha e carne” – estava a dizer o Detective Colombo, quando foi interrompido pelo Presidente Mark Angie – “quais?”.
“A componente estratégica e a componente táctica da concretização ou execução estratégica” – começou por responder a Detective Colombo e prosseguiu – “ a primeira tem a ver com o caminho, o longo-prazo, com as formas como se alcançam os objectivos, ou seja, com o plano estratégico e a componente táctica refere-se ao passo-a-passo, ao curto-prazo, às acções para concretizar a estratégia”.
“Como concretizar, agir, executar estratégica e tacticamente?” – perguntou o Director Geral Robert West.
“Este tipo de acção envolve alguns desafios, nomeadamente: como executar valores e estratégias coerentemente, sem depender do líder, para manter todos no rumo certo e que sistemas permitem executar o plano estratégico, enquanto perseguimos a visão e vivemos os valores partilhados” – estava a dizer o Detective Colombo, quando o Treinador Brad Wooden o interrompe dizendo – “pode trocar isso por miúdos?”. “Concretizar, agir e executar estratégica e tacticamente exige criar e alinhar estruturas, leia-se sistemas e processos, que sejam coerentes e capacitem as pessoas a executar as prioridades principais, em vez de serem um obstáculo” – respondeu o Detective Colombo.
“Está a dizer que os sistemas e processos de um Clube podem criar obstáculos às pessoas que executam as prioridades do Clube?” – perguntou o Presidente Angie.
“O que estamos a abordar é importantíssimo” - começou por dizer o Detective Colombo – “porque 90% dos problemas organizacionais, seja de um Clube, de uma Empresa, de uma Escola, de um Hospital, (…), são gerados por estruturas (sistemas e processos) que são incoerentes com o que se apregoa e/ou criam obstáculos à concretização estratégica das pessoas”.
“Noventa por cento dos problemas organizacionais são estruturais” – pareciam estar todos a pensar, dado o silêncio e a expressão de cada um. Os presentes pareciam estar a incorporar a magnitude da responsabilidade de criar e alinhar as estruturas, para que a acção de todos, desde o corta-relva ao presidente, fosse coerente com a visão, valores e plano estratégico e simultaneamente libertasse e capacitasse as pessoas para executar as prioridades estratégicas. “Estamos a falar concretamente de que estruturas?” – perguntou o Coordenador Anthony Smith.
“Quando nos referimos a estruturas que apoiam a execução estratégica, referimo-nos aos sistemas e processos que orientam a acção das pessoas” – começou por dizer o detective Colombo e continuou dizendo – “deixem-me dar um exemplo: o sistema de comunicação. Poderemos dizer que a partilha de informação é importante, dentro do Clube, mas se ela só se fizer num sentido, descendente, da direcção para baixo, então a execução da comunicação não só é incoerente, como cria obstáculos às pessoas fora da direcção fazerem chegar as suas preocupações à direcção. Contudo, se o sistema de comunicação se fizer nos dois sentidos, descendente e ascendente, então ela estará alinhada com o valor de partilhar a informação e consequentemente será coerente e libertará, capacitará as pessoas de expressarem as suas preocupações”.
“Estou a compreender” – começou por dizer o treinador Brad Wooden e continuou – “o mesmo acontece com o sistema de feedback. Se apregoarmos que o feedback é importante, mas depois o manipularmos em função dos resultados que nos são positivos, criamos problemas. Contudo, se construirmos um quadro de indicadores mobilizador, partilhado e alinhado com a visão, os valores e o plano estratégico, então o sistema de feedback será coerente e libertador”.
“Começou a ficar tudo claro, se definirmos a competência como importante, mas depois recrutarmos pessoal em função das cunhas, dos compadrios e dos lobbies, o sistema de recrutamento criará problemas estruturais à organização” - acrescentou o Director Geral Robert West.
“Parece que temos mais um problema estrutural, ao nível do sistema de recompensas” – começou por dizer o Presidente Angie e desenvolveu a ideia – “defendemos a valor equipa, mas depois recompensamos apenas o esforço e os desempenhos individuais e, ao fazê-lo, estamos a criar um problema estrutural, a comprometer a mudança e o sucesso do Clube. Porém, se recompensarmos as pessoas apenas quando todos alcançarem os resultados desejados, então o sistema de recompensa estará alinhado com o valor trabalho de equipa”. “Estou a ver que captaram a ideia central da concretização ou execução estratégica: a de criar estruturas (sistemas e processos) que sejam coerentes com a visão, valores e plano estratégico e que libertem e capacitem as pessoas para executar as prioridades principais, porque são coerentes e reforçam a visão, os valores e o plano estratégico, em vez dessas estruturas e processos serem armadilhas que comprometem a eficácia” – rematou o Coordenador Anthony Smith.
“A concretização estratégica é realmente importante. Imaginem duas flores. A uma dizemos cresce, mas não a regamos e por isso não cresce. À outra, dizemos cresce e regámo-la com água e consequentemente ela cresce. Ou seja, a concretização ou execução estratégia é como regar a flor que queremos que cresça, é a que faz florescer o que desejamos que aconteça (a nossa visão, os nossos valores e o nosso plano estratégico). Não o fazer é envenenar o Clube, por executar incoerentemente e por criar problemas estruturais. Não o fazer é contribuir para aquela parte dos 90% dos problemas das organizações, é “matar” a mudança no Clube ou em qualquer outra organização".
Enquanto o Presidente Angie pensava na descoberta de mais um responsável por estar a “matar” a mudança no Clube, por resistir à eficácia, concretamente: protelar reactivamente e concretizar ou executar reactivamente, com sistemas e processos incoerentes e limitadores, começou a resumir algumas ideias chave: a concretização estratégica se apoia no planeamento estratégico (visão, valores e plano estratégico); que há 3 C’s que alavancam a eficácia, nomeadamente o Conhecimento (link), a Competência (link) e a Concretização. Repentinamente, surgiu-lhe uma questão e colocou-a ao Detective Colombo – “o que é que torna as organizações grandiosas?”
O adiantar da hora e a necessidade de processar e integrar a muita informação partilhada aconselharam o Detective Colombo a dizer – “podemos protelar estrategicamente esta questão?” 
Seguiu-se um sorriso e um ligeiro acenar com a cabeça de todos, como que a dizer simultaneamente sim e que esse protelamento fosse breve."

O início do sonho europeu

"Na semana passada foi escrita mais uma página dourada na história do Sport Lisboa e Benfica. A equipa de voleibol conseguiu a tão ambicionada qualificação para a Fase de Grupos da CEV Champions League.
É apenas a terceira vez na história que o voleibol do Benfica irá participar na maior competição de clubes na modalidade, sendo que a última das quais, já foi na longínqua época de 1991/1992.
No formato actual, o Vitória SC foi o único clube português a marcar presença na Fase de Grupos da Champions, tendo na altura conseguido chegar aos oitavos-de-final da competição. No entanto, o verdadeiro desafio irá iniciar agora. Agora, o Benfica estará na mais alta roda do voleibol europeu. Por isso, irei fazer aqui um balanço do desempenho da equipa de Marcel Matz nas pré-eliminatórias, bem como falar um pouco das equipas que irão defrontar o Benfica na Fase de Grupos.
Quando aqui fiz a antevisão da época da equipa de voleibol, mostrei-me bastante optimista quanto às possibilidades do Benfica vir a alcançar a fase de grupos, visto que tinha conseguido evitar o Vojvodina Novi Sad nas pré-eliminatórias. A equipa sérvia que nos derrotou na final da Taça Challenge em 2014/15 era de longe, a equipa mais forte a competir nas pré-eliminatórias, acabando por conseguir sem surpresa, a restante vaga na Fase de Grupos.
Já o Benfica, teve um percurso praticamente irrepreensível nas pré-eliminatórias, ganhando os seus jogos e perdendo apenas dois sets em toda a fase. Para tal desempenho, muito contribuíram a capacidade concretizadora de jogadores como Hugo Gaspar, Rapha, Japa, Wohlfi e Honoré, que marcaram respectivamente, 64, 63, 49, 47 e 45 pontos nas pré-eliminatórias. Mas Rapha, foi o jogador mais decisivo na marcação de pontos, visto que jogou em apenas quatro dos seis jogos disputados.
No serviço, que é um gesto técnico ao qual Marcel Matz dá muita importância, a equipa também teve um desempenho de realçar, com Wohlfi, Rapha e Japa a fazerem 7, 6 e 5 "áses" (pontos no serviço), respectivamente. No bloco, a equipa também teve um ótimo desempenho. Marc Honoré foi o segundo melhor bloqueador nas pré-eliminatórias com 14 pontos de bloco em seis jogos. Peter Wohlfi fez 10 pontos de bloco e Hugo Gaspar fez sete.
Mas o voleibol não é apenas um jogo de concretização. É um jogo com muita criação e elaboração de jogadas, no qual se exige um verdadeiro trabalho de equipa, no qual, uma má recepção ou um mau passe pode ser suficiente para estragar uma jogada. No capítilo da recepção, Ivo Casas e Japa tiveram um desempenho exemplar, enquanto na distribuição, Tiago Violas foi o jogador nas pré-eliminatórias com maior eficácia de passe, com 58,94% dos seus passes a resultarem em finalização por parte dos atacantes.
Os desempenhos da equipa encarnada mostraram que esta equipa está pronta para os desafios que se avizinham. Agora, segue-se uma pequena descrição das equipas que iremos ter pela frente na Fase de Grupos.

Sir Sicoma Perugia
Será a equipa que irá apadrinhar a estreia do Benfica na Champions. Este clube italiano conta no seu palmarés com um campeonato conquistado e é actualmente, uma das equipas mais poderosas da Europa, tendo sido vice-campeão europeu em 16/17 e ficado em terceiro lugar na competição em 17/18.
No seu plantel contam com aquele que é para muitos, o melhor jogador do mundo: o ponta Wilfredo León. Este jogador cubano naturalizado polaco é um autêntico "ás" em todos os aspectos do jogo, sendo exímio no serviço, recepção, remate e bloco.
Para além de León, a equipa de Perugia conta com um vasto leque de jogadores de craveira mundial, tendo vários internacionais italianos tais como os líberos Massimo Colaci e Alessandro Piccinelli, o ponta Fillippo Lanza e os centrais Roberto Russo e Fabio Ricci. Conta ainda com o distribuidor internacional argentino Luciano de Cecco e os internacionais sérvios Aleksandar Atanasijevic (oposto) e Marko Podrascanin (central). Ambos sagraram-se campeões europeus pela selecção sérvia neste ano. São treinados pelo belga Vital Heynen, treinador que se sagrou campeão mundial pela selecção polaca.

Tours VB
O clube onde já actuou o nosso jogador Nuno Pinheiro foi campeão europeu em 2005 e é o actual dominador do voleibol francês. Bicampeão francês e vencedor da Taça CEV em 16/17 conta no seu plantel com vários jogadores franceses, tais como o líbero internacional francês Nicolas Rossard e vários internacionais pelas camadas jovens.
Conta ainda com vários atletas estrangeiros de craveira internacional como os checos Adam Bartos (zona 4) e Matyas Démar (distribuidor), o camaronês Nathan Woune (zona 4), o norte-americano Price Jarman (central) e o ucraniano Dmytro Teryomenko (central).

Verva Warszawa
O clube vice-campeão polaco e actual segundo classificado da Plusliga é mais um clube a actual num campeonato de topo na modalidade, sendo orientado por Andrea Anastasi, ex-seleccionador belga. O clube da capital polaca ganhou uma Taça Challenge em 2012 e tal como o Benfica, vai estrear-se na prova.
Este clube conta com vários jogadores internacionais pela selecção polaca, tais como o central Piotr Nowakowski e o zona 4 Bartosz Kwolek. Nowakowski esteve presente na conquista dos campeonatos do mundo em 2014 e 2018, tendo no último dos quais sido integrado na equipa ideal da prova. Kwolek é considerado uma das maiores promessa da modalidade, sendo que para além de ter conquistado o Mundial no ano passado, também se sagrou campeão europeu de sub-20 em 2016 e campeão mundial de sub-21 no ano seguinte.
O plantel ainda dispõe de dois internacionais franceses: o distribuidor Antoine Brizard e o ponta Kévin Tillie; e conta ainda com o internacional belga Igor Grobelny (ponta) e o oposto internacional bielorrusso Artur Udrys.

A prova irá ter início amanha com a equipa de Marcel Matz a jogar no reduto do Perugia. A segunda e a terceira jornada irão ser disputadas no pavilhão da Luz, nos dias 10 e 17 de Dezembro. Posteriormente, a prova só retoma mais de um mês depois, no dia 29 de Janeiro. Sendo realista, a hipotese de nos qualificarmos para a fase seguinte é muito remota. Esta participação servirá para ganhar tarimba competitiva, para aprender e viver a experiência ao máximo. E, acima de tudo, para fazer aquilo a que nos têm habituado: para darem o seu melhor e dignificarem o símbolo que carregam no peito."

Curtas do Benfica na Taça da Liga

"Na Serra um jogo de nível baixo até à entrada de Pizzi e Taarabt – As dificuldades encarnadas foram evidentes em zonas de criação e apenas o aumentar do ritmo da partida, o cansaço natural de um opositor menos habituado a este tipo de jogo e a participação ofensiva de Taarabt que trouxe rotas novas ao ataque do Benfica, permitiram resgatar o ponto que poderá manter as aspirações vivas. 
- Jardel a um nível muito alto nas abordagens defensivas – Sempre forte no 1×1 sem bola, a ficar invariavelmente com esta em cada abordagem – É hoje o oposto de Ferro nas virtudes e nos defeitos – Quer com bola quer sem esta;
- Samaris a voltar a um jogo com inúmeras perdas de bola que foram sempre cortando a fluidez ofensiva do jogo – Quando se somam erros técnicos fica impossível ligar quatro / cinco passes que possam desorganizar o adversário;
- RDT com um lance genial que por não coroado com golo, acabou por o penalizar em termos de confiança também. Em tudo o mais, continua um jogador complicativo e que demora demasiado nas suas decisões;
- Gedson sempre com dificuldades para criar – Recupera bem, vence duelos e tem chegada de área a área. Contudo, quando o espaço diminui ofensivamente acrescenta pouco em todas as fases. Também Zivkovic a um nível baixo – Complicativo e sem tomar as melhores decisões, continua sem retirar proveito da sua qualidade técnica;
- Adriano Castanheira provou ser jogador para outros patamares – Qualidade técnica e Tomada de Decisão ao nível dos melhores executantes em campo;
- Há evidente falta de qualidade individual para resolver os lances em espaços curtos o que obrigou a criação exterior – Que também não encontra na grande área finalizadores de excelência no ar; 
- Dependendo do resultado do Vitória de Setúbal x Vitória de Guimarães, poderá o Benfica ter deixado cair na Serra mais uma competição."

Cadomblé do Vata

"1. Apesar das críticas, penso que foi um jogo muito bem conseguido dos jogadores do Benfica... conseguiram irritar, conseguiram enervar, conseguiram desiludir e por fim, conseguiram envergonhar.
2. Com a eliminação na antiga Taça dos Campeões Europeus, as más exibições na Taça de Portugal e os 2 empates na Taça da Liga, o Benfica mostra que tarda em encarrilhar nas taças... se continuamos assim, vamos fazer a dobradinha juntando o campeonato à Taça das Equipas Com Menos Jeito Para Disputar Taças.
3. Não havendo um único inocente na estrutura de futebol do Benfica, a verdade é que pelo menos, neste jogo viu-se que Bruno Lage afinal tem razão... Samaris e Zivkovic não estão a cumprir os requisitos mínimos para jogarem pelo Benfica, quanto mais serem titulares.
4. Equipa do Benfica B que em 27/10/2018 (pouco mais de 13 meses) venceu em casa o Sp. Covilhã por 3-2 com Bruno Lage no comando: Zlobin; Alex Pinto, Kalaica, Ferro, Nuno Tavares; Florentino, Keaton, Benny, Willock; Santos e Daniel Anjos, com Tomás Tavares no banco e Jota na bancada... ou aplaudimos a coragem ou assobiamos a estupidez, esperar milagres é que não.
5. Com 2 empates, deixamos de depender de nós e temos que esperar um empate no jogo entre o Vitória e o Vitória ou então que o Vitória ganhe ao Vitória... sim, isto parece confuso, mas sempre é mais fácil de entender do que os passes longos do Samaris."

SC Covilhã 1-1 SL Benfica: Frio serrano congela aspirações benfiquistas

"Em partida referente à 2ª jornada da Taça da Liga (Allianz Cup), tanto o Sporting da Covilhã como o Benfica, apresentaram algumas alterações em relação aos seus onzes “base”. A necessidade de vencer e de marcar golos (no caso do Benfica), num grupo com todas as equipas empatadas a um ponto, era objetivo comum para ambos os conjuntos.
Os “Leões da Serra” foram os primeiros a causar algum frisson junto das balizas. Adriano Castanheira aproveitou um ressalto na área encarnada e rematou para defesa de Zlobin (5’). Após um início com algum ascendente dos homens da casa, foi o Benfica a ficar mais perto de marcar, com um cabeceamento de Gedson à trave, na sequência de um livre batido por Jota (11’).
O Covilhã aparentou entrar no jogo algo nervoso (fruto da emoção normal de enfrentar um dito “grande”), mas com o passar dos minutos, o nervosismo foi desvanecendo e Bonani rematou para nova defesa do guarda-redes russo do Benfica (20’).
À passagem do minuto 25, um contra-ataque do Sporting da Covilhã, gelou (ainda mais) a maioria benfiquista no Estádio José Santos Pinto. Indefinição entre Tomás Tavares e Zivkovic numa zona proibida levou a um ataque rápido protagonizado por Daffé e concluído por Adriano. Boa defesa de Zlobin (25’).
Jogo de parada e resposta. Raúl de Tomás, no seguimento de boa jogada construída a partir de trás, recebeu de costas, conseguiu virar e rematou forte para defesa de Bruno (30’). E após um interregno sem perigo junto das balizas, o jogador mais perigoso do Sporting da Covilhã, Adriano atirou de longe a rasar a barra. Se a bola fosse à baliza, Zlobin estaria “batido” (40’).
Uma primeira parte dividida, bem disputada e sem qualquer superioridade que se tenha feito notar entre estas duas equipas. O frio que se fez sentir no estádio, acabou por gelar os jogadores e afastar a emoção dos golos. Um Covilhã naturalmente mais retraído mas sem entregar a bola ao Benfica. Do outro lado, os encarnados ainda não tinham conseguido demonstrar em campo o favoritismo inicial.
A cabeça dos jogadores do Benfica ainda estava no balneário e o Sporting da Covilhã fez o golo. À entrada do minuto 46, Bonani interceptou o esférico após desentendimento entre Jardel e Samaris, não tremeu perante o gigante russo e atirou a contar.
Hora de jogo volvida e um jogo na mesma toada, mas para além do golo, com menos balizas do que no primeiro tempo. Jogo frio e sem ideias por parte do campeão nacional. Uma equipa desinspirada e das mais vulneráveis que os serranos tiveram pela frente esta época.
Foram precisos apenas dois minutos em campo para Taraabt mostrar toda a classe que o caracteriza. Desenvencilhou-se de dois adversários com um toque para a frente e causou desequilíbrio. A melhor jogada do Benfica em toda a partida. Pouco depois, levou a equipa para a frente, Nuno Tavares cruzou e Vinícius cabeceou ao lado (66’).
Uma palavra de apreço para a defesa, ou para as transições defensivas da equipa covilhanense. Poucas ou nenhumas veleidades tinha oferecido ao Benfica. Centrais poderosos e seguros, atrás de um meio campo coeso.
Perante um Benfica adormecido, mais uma vez, o homem do costume, Adriano Castanheira fez o que quis da defesa encarnada e rematou para canto (80’). Na sequência de um canto marcado por Pizzi, a bola ressaltou na defesa e Jota aproveitou para atirar para o golo (82’).
Empate a uma bola entre estas duas equipas, certamente com ambições diferentes. Do lado do Sporting da Covilhã, pode-se dizer que merecia mais. Partida controlada pelo serranos até pouco depois da hora de jogo. Setores muito próximos, consistentes e guerreiros. Disputaram cada lance como se fosse o último e chegaram ao golo (com mérito).
No Benfica, Pizzi e Taraabt agitaram o jogo e desnivelaram o terreno. Jogo fraco, com pouca história. Deixaram muito a desejar. Jardel lento, já não serve. Samaris e Zivkovic não renderam. Raúl de Tomás continua infeliz e Gedson não promete mais. Em suma, esperava-se melhor dos encarnados, nesta visita à serra.

Onzes Iniciais e Substituições:
SC Covilhã: Bruno, Jaime, Zarabi, Joel, Gilberto, Brendon, Jean (Miranda, 81’), Mica, Adriano, Bonani (Daniel Martins, 73’), Daffé (Kukula, 85’).
SL Benfica: Zlobin, Tomás Tavares, Rúben Dias, Jardel, Nuno Tavares, Florentino (Vinícius, 46’), Samaris (Taraabt, 61’), Gedson, Zivkovic (Pizzi, 61’), Jota e Raúl de Tomás.

A Figura
JotaDo melhor que se viu esta noite na Covilhã. Repetiu a boa exibição que protagonizou em Vizela. É daqueles que dá “safanões” no jogo e é capaz de o resolver em pouco espaço. Cervi que não descanse sobre a posição. O argentino só é melhor que o português no processo defensivo. Mas se calhar é isso que Lage procura do lado esquerdo. De resto, dá vinte a zero em qualidade ao “chuky”. Além disso, culminou a sua exibição com um golo.

O Fora de Jogo
Bruno Lage Não se questionam as escolhas em campo, devido à acumulação de jogos, mas sim, a dinâmica posta em campo. Processos lentos, previsíveis, sem vontade aparentemente nenhuma. Apenas Taraabt, Pizzi e Jota foram exceções. Não se questiona também a sua continuidade ao leme do Benfica, mas algo terá certamente que mudar.

BnR na Conferência
SC Covilhã
Bola na Rede: Apresentou um onze com algumas alterações em relação ao onze inicial habitual, como explica essas alterações?
Ricardo Soares: Aproveito para agradecer essa pergunta, porque acho que é uma pergunta excelente para ser respondida e para elucidar outros orgãos de comunicação social. Eu tenho um plantel curto, 20 jogadores, por opção minha e encaixa nos valores do clube. Nós contamos com todos neste processo, ninguém fica de fora. Na minha equipa todos os jogadores já jogaram a titulares, tenho um grupo de profissionais que se dedicam e empenham sempre em busca da superação.
SL Benfica
O BnR não teve direito a pergunta ao treinador Bruno Lage."

A Serra de Jota

"O Benfica foi à Serra da Estrela reutilizar Zivkovic, 128 dias depois, abusar dos cruzamentos, reagir mal às perdas de bola, produzir pouco e só evitar uma derrota (1-1) com o Sporting da Covilhã a oito minutos do fim. Um remate de Jota, na ressaca de um canto, manteve a equipa com hipóteses de se qualificar para a final four da Taça da Liga na última jornada da fase de grupos

Qual será a sensação de alguém que, a 1 de Julho, se apresenta no trabalho, retorna à cíclica vida de cedo acordar, sair de casa, treinar, comer, descansar, às vezes até treinar de novo, e nunca é tido como feitor de coisas suficientes durante a semana para, ao sábado ou domingo, executar a função para a qual lhe pagam um salário, que é jogar futebol?
Seja qual for, Andrija Zivkovic sentiu-a durante 128 dias. Terminada a pré-época, desapareceu nos meandros do Seixal, foi aparecendo e treinando, sem mazelas publicamente conhecidas a pararem-lhe o corpo, usando o sedoso pé esquerdo para se relacionar com uma bola e não convencer, sequer uma vez, o treinador a convocá-lo, até reaparecer na Covilhã.
Está frio, o campo é estreito, encurta espaços a quem pisa mais perto das linhas, joga-se uns 800 metros acima do nível do mar e o sérvio dos 84 jogos nas três épocas anteriores, do nada, volta a um Benfica que não se compunha assim, tão descomposto, quando ele era o velho Zivkovic, das recepções de corpo aberto à direita do ataque, cada controlo a querer associá-lo a companheiros, mais um extremo de jogo tabelado do que de arranque, finta, corrida e cruzamento.
O Benfica que Bruno Lage monta para quinto classificado da segunda divisão é fragmentado por jogadores, salvo Rúben Dias, com poucos minutos de equipa e menos ainda de convivência com quem têm a jogar ao lado, na Covilhã. A equipa não liga os médios com os extremos e avançados, há muito passe directo a sair dos centrais, demasiada pobreza de Florentino em recuar tanto na saída de bola para tão pouco jogo filtrar pela relva e estatismo da parte de quem espera para receber um passe.
A equipa onde Zivkovic, massudo nas coxas, generoso no perímetro abdominal e pesado nas acções, simplifica as ações e faz por colocar outros a mexer, joga a um ritmo lento, não mostra movimentos ligados nas muitas jogadas de organização ofensiva que tem (ao intervalo, 65% da bola é do Benfica) e ameaça, apenas, duas vezes.
Um livre cruzado para a área é desviado por Rúben Dias, de cabeça, para Gedson rematar à barra. E, num passe longo de Tomás Tavares para a área, Raúl de Tomás tira um central das suas costas com uma recepção orientada, vira-se e remata de pé esquerdo para o guarda-redes Bruno defender.
Mas, do outro lado, a baliza de Zlobin era atacada mais vezes, mais rápido e com mais remates, porque o Sporting da Covilhã terá visto os jogos do adversário, pressionou-o na saída de bola e, quando a recuperou, fez por usá-la de forma directa, vertical, rasteira e com poucos passes até alguém a ter, a menos de 30 metros do alvo, em posição de rematar.
Adriano Castanheira, um canhoto bom de bola por bem a usar com poucos toques, decidir quase sempre bem e valente por correr na Serra de manga curta, rematou uma vez para Zlobin defender e outra para a barra quase o substituir. Depois, esteve em contra-ataques frenéticos que quase sempre eram cruzados ou finalizados perto da área, perto de uma defesa desassistida por um resto de equipa desorganizada na reacção às perdas de bola.
E perto de sofrer o que sofreu logo aos 19 segundos da segunda parte, fruto de um cocktail de apatia, azar de três ressaltos e de uma equipa que fugiu ao banal chutão após retomar o jogo na grande lua. Os serranos tentaram pela relva, furaram um passe para o meio do bloco do Benfica e uma carambola deixou João Bonani só com Zlobin à frente para o 1-0.
O Benfica já tinha Carlos Vinicíus em campo, abdicando do abuso de passe lateral de Florentino, mas, até à hora de jogo, quando Nuno Tavares cruzou uma bola que bateu no poste e Zivkovic, escorrendo suor, saiu para Pizzi dar uso à seu amor por tabelas, toca-e-vai e acelerações no ritmo da troca de bola, a equipa não reagiu.
Quando o começou a fazer, forçou o Sporting da Covilhã a encolher, ainda mais, as linhas que já encostara à própria área. Com os jogadores tão juntos e os adversários pressionantes e avançados, os serranos já não conseguiam contar segundos com bola para respirar. O Benfica tinha mais jogadores de frente, com bola, nos últimos 40 metros, abusando, porém, dos cruzamentos dos laterais Tavares. 
Apenas um foi utilizável na cabeça de Vinicíus, cuja cabeça fez uma bola rasar o poste, e a tendência de atacar por fora e cruzar, aconteça o que acontecer, só era contrariada por Taarabt e o seu critério marroquino em tentar passes verticais e rasteiros, que batessem linhas e encontrassem recepções de um dos avançados.
O golo da equipa que encostou a outra às cordas, mesmo que nunca a desorganizando ao centro, apareceu num canto: o primeiro homem da defesa à zona do Sporting da Covilhã desviou a bola para a entrada da área e Jota, de primeiro, rematou de pé direito.
Nos oito minutos restantes, o Benfica continuou a acasalar com cruzamentos e a multiplicar-se em mais do mesmo. A ressaca de outro canto, à entrada da área, ainda deixou Jota quase curar o mal de um empate, o segundo na Taça da Liga, que obriga a equipa a ganhar na última jornada e a jogar mais - ou, por outras palavras, a variar o jogo atacante, não depender tanto da inspiração de quem tem a bola e ligar mais movimentos colectivos que desorganizem o adversário.
Porque nem sempre haverá uma bola parada que pára a ordem do jogo e cria um jogo à parte onde não importa quem está por cima ou por baixo. Nem aparecerá uma certa letra do abecedário a rematar no meio dessa desordem."

Elogio ao Gil Vicente (e a Vítor Oliveira)

"No papel, a equipa de Barcelos parecia a grande candidata a cair na II Liga. À 12ª jornada, já venceu o FC Porto e Sporting, travou Braga e Boavista, e está confortável longe da linha de água. Com heróis improváveis num plantel surpreendentemente bem estruturado.

Começo este texto com uma confissão: antes do arranque da época, em conversas informais com companheiros de profissão e alguns amigos, nunca hesitei em colocar o Gil Vicente como o «meu» principal candidato à descida. Os ingredientes pareciam estar todos lá: plantel construído do zero, poucos nomes com experiência na I Liga, salto do Campeonato de Portugal para o escalão máximo após um ano a jogar sem qualquer exigência competitiva... Cenário pouco animador para um clube de sobe e desce, que historicamente viaja entre o primeiro e o segundo escalão. Ainda vamos em dezembro, mas a equipa de Barcelos teima em contrariar a minha previsão. A vitória contra o Sporting foi só mais um capítulo desse trabalho surpreendente.
Vítor Oliveira não escondeu as dificuldades que tinha pela frente, e disse mesmo que este era o projecto «mais difícil» da carreira. Se tivermos em conta que o «Rei das Subidas» treina há mais de 30 anos, não é uma afirmação que passe despercebida. Aos poucos começaram a chegar jogadores, mais ou menos conhecidos, como os experientes Rúben Fernandes ou Claude Gonçalves, outros absolutamente anónimos, como Arthur Henrique ou Rodrigão.
A vitória sobre o FC Porto logo a abrir a época foi um primeiro sinal: Vítor Oliveira está em Barcelos para fazer das suas. Surpreendeu-me, não nego (e acho que o FCP não esperava um adversário tão competitivo). O empate com o Braga e a vitória sobre o Sporting confirmaram a tendência, e já ficou provado que o Gil não subiu à Primeira para ser saco de pancada, mas para fazer a vida negra a quem tiver de jogar em Barcelos. Estes resultados assentam num plantel que me parece pensado de forma cirúgica e a aproveitar a sabedoria do experiente Vítor Oliveira. A destacar:
Soares e Sandro Lima. Porquê? Têm sido peças muito importantes no esquema do Gil Vicente, e são claramente apostas pessoais de Vítor Oliveira. O técnico não teve medo em depositar confiança em dois jogadores com pouca rodagem de Primeira. Sandro Lima passou sem sucesso pelo Rio Ave, mas mostrou qualidade no Académico Viseu e Estoril. Salta com 29 anos para a Liga e já leva 7 golos em jogos oficiais. E Soares, 30 anos: o ano passado jogou no despromovido Arouca (!), vinha de dois anos no Cova da Piedade e parecia difícil ter novamente oportunidades no escalão máximo. Oliveira confiou e o brasileiro devolveu: é um dos mais utilizados. Penso que esta dupla personifica bem a perspicácia do Gil no mercado, a olhar (bem) para as divisões secundárias.
A estas apostas com dedo de Vítor Oliveira, junta-se um grupo interessante de jovens estrangeiros com fome de sucesso. Destaco João Afonso, médio bem interessante: jogou quase sempre na Série B do Brasil até viajar para Portugal. Ygor Nogueira, defesa-central, tinha tido poucos minutos no Fluminense, veio para Barcelos e parece estar a lançar a carreira. E claro, Kraev, o búlgaro emprestado pelo Midtjylland, um jogador muito dinâmico e com muita vontade de estar sempre em jogo. O Gil Vicente também acertou no guarda-redes: Denis, antigo titular do São Paulo, experiente e em bom plano. Na minha opinião, dos melhores do campeonato.
Podemos dizer que à 12ª jornada ainda está tudo em aberto. É evidente. Mas oito pontos de conforto para os lugares de descida são um sinal inequívoco de que a época pode ser muito tranquila, ao contrário do que seria teoricamente provável no início do ano. Aplauso para Vítor Oliveira, que reúne qualidades que aprecio muito nos treinadores: pragmatismo e organização absoluta. O Gil sabe o que tem de fazer em campo. Numa equipa sem estrelas, está a brilhar o colectivo… longe de uma descida quase anunciada. Contra mim falo."

A confusão e a demora em torno dos procedimentos do VAR

"Com o regresso da principal competição futebolística nacional, regressaram também os casos de jogo e alguns bastante interessantes sob o ponto de vista da análise da interpretação regulamentar e, em particular, do protocolo do videoárbitro (VAR).
No Gil Vicente-Sporting, já em tempo de compensação, tivemos mesmo o caso da jornada, que muita confusão originou após o árbitro consultar o monitor, por indicação do VAR, e ter expulsado, por acumulação de cartões amarelos, o médio Doumbia. A decisão inicial deveu-se a um penálti cometido pelo jogador do Sporting, mas, passados alguns segundos, o árbitro fez o costa-marfinense regressar ao jogo, anulando a advertência inicial.
O penálti, que passou despercebido ao árbitro, por uma cotovelada de Doumbia sobre Lourency, foi anulado porque, no momento de construção dessa jogada atacante dos gilistas, Kraev estava em fora-de-jogo. A dúvida que se instalou foi, em termos de protocolo, se ao anular a parte técnica (penálti), em virtude do fora-de-jogo, também se anulava a parte disciplinar (cartão amarelo).
Olhando em primeiro lugar para o protocolo, em termos gerais, sem falar especificamente deste lance, a resposta é simples: se o cartão (amarelo ou vermelho) resulta de um penálti em que o infractor é punido por cortar um ataque prometedor (jogada de perigo) ou uma clara oportunidade de golo, então, nestas circunstâncias, anula-se a parte disciplinar e retira-se o respectivo cartão. Mas se o infractor, ao fazer penálti, tiver uma entrada negligente (não tem em conta o perigo e as consequências do seu acto para com o adversário - amarelo) ou usar de força excessiva (colocando em perigo a segurança ou a integridade física de um adversário - vermelho) em ambas as situações anula-se o penálti, ou seja, a parte técnica da decisão, mas o respectivo cartão mantém-se.
Ora, quando olhamos para a acção de Doumbia sobre Lourency estamos, na minha opinião, perante um caso claro de uso excessivo de força, passível de cartão vermelho directo, pois a cotovelada na cara é deliberada e perigosa, quer no acto, quer na sua consequência. Mas mesmo que, com alguma “boa vontade”, se olhe para esta acção apenas como negligência, o penálti que foi bem revertido pelos 5 cm em fora-de-jogo de Kraev teria de ter sempre a acção disciplinar para com o jogador “leonino”.
Outra situação interessante desta jornada, e que tem sido também alvo de críticas, prende-se com o tempo considerado excessivo para a análise dos foras-de-jogo por parte do VAR. No Benfica-Marítimo, aquando do primeiro golo dos “encarnados”, o jogo esteve parado entre os 7m40s e os 10m41s (3m01s); e no Gil Vicente-Sporting, no primeiro golo dos gilistas, o jogo esteve interrompido entre os 17m08s e os 20m40s (3m32s).
Desde esta época que a equipa de VAR passou de três para quatro elementos, ou seja, para além do VAR, do AVAR (assistente) e do técnico de imagens, faz parte também o técnico da empresa que a federação contratou e certificou e que coloca as linhas do fora-de-jogo. Assim sendo, sempre que há um lance enquadrado no protocolo, como é o caso de um golo ou de um penálti, em que se tenha de rever a fase de ataque e transição ofensiva de uma equipa e verificar se alguma irregularidade ou infracção ocorreu, estando em causa um possível fora-de-jogo, é aqui que entra este novo técnico.
O tempo gasto para aplicar os respectivos procedimentos não é da responsabilidade do árbitro que está na Cidade do Futebol na qualidade e função de VAR, pois este limita-se a verificar se os procedimentos estão correctos e de acordo com a lei, ou seja, se as linhas estão a ser colocadas nos jogadores certos e nas partes do corpo passíveis de serem analisadas. O procedimento propriamente dito e a tecnologia, esses, são accionados, operados e executados pelo tal técnico, por isso, são injustas as críticas e os comentários depreciativos que estão a ser feitos sobre os árbitros e o sector de arbitragem.
É claro que estas paragens de três ou mais minutos são prejudiciais e quebram o ritmo de jogo. Nesse sentido, espera-se que todo este procedimento seja agilizado e acelerado, mas colar aos árbitros, uma vez mais, o rótulo de “culpados” não faz sentido, pois não se trata de tempo perdido com a decisão, mas sim de tempo gasto com os procedimentos. E, como expliquei, estes não dependem dos árbitros, mas sim dos técnicos e da respectiva tecnologia."

Se eu comer 12 passas vocês duram mais um ano?

"Três, dois, um... Feliz ano novo!
Daqui a uns meses será assim. Uns com passas (ainda hoje acho que isto foi um negócio inventado pelo lobby das passas) na mão, outros em cima de cadeiras e outros com um grau de embriaguez tão alto que não sabem bem qual o ano que acabou de começar. Depois há o meu caso. O meu e o de outros.
2020. Mais um ano que chega, mais um que passou. Futebol. Pode ser estranho para muitos pensar neste desporto numa noite de reveillon que por norma ainda tem muitas horas de histórias para recordar (ou esquecer) nos meses seguintes, mas desta vez é diferente.
Se a perda de cabelo me preocupa, não posso deixar de a associar ao stress do que o futuro nos reserva. Sim, o ambiente, a crise de valores que vamos vendo pelo mundo fora é terrível, mas há mais dois motivos para inquietação, com 11 Bolas de Ouro a explicar aquilo que sinto.
Um ano que chega, um que passou e o fim cada vez mais perto. Messi, aquele pé esquerdo de um pequeno demónio que viajou até nós de uma nave espacial que se diz vir da Argentina. Cristiano Ronaldo, um miúdo com sotaque madeirense que pelos vistos andava pelo McDonald's a cravar cheeseburguers e que mostrou que a fast food pode trazer benefícios.
Se naqueles tempos ainda poucos tinham ouvido falar de Messi e os dentes de Ronaldo não eram tão perfeitos, ao entrar em 2020 daríamos tudo para voltar a ver os dentes do português naquele estado enquanto aquele pequeno argentino pisava o relvado do Estádio do Dragão com apenas 17 anos. Seria o começo de uma era e não o fim.
Corrijo, este vai ser o começo de uma nova era. Estão cá Mbappé, Jadon Sancho, Alexander-Arnold, João Félix e tantos outros, mas o futebol nunca mais será o mesmo. É o começo de uma era sem os dois maiores de sempre.
As discussões nas redes sociais vão diminuir, é certo, e isso até pode ser o único ponto positivo de toda esta história que se aproxima do fim. Depois de vermos, ano após ano, episódios memoráveis de duas figuras que na entrada para 2030 quase vão parecer mitológicas, não haverá discussões.
Vamos simplesmente falar com os míudos tal como os nossos pais falaram connosco sobre outras lendas do futebol. Maradona, Pelé, Eusébio, Cruyff. Outros tempos. Tempos que já passaram. 
Cristiano e Messi estão prestes a chegar ao Olimpo. O português nunca se poupou tanto em toda a carreira, o argentino já fala no fim. Não dá mesmo para prolongar este mês de dezembro? Era capaz de comer 12 passas para ver esse desejo concretizado.
Ok, talvez não fosse tão longe."

Já conta com 33 anos a Academia Olímpica Portuguesa (de Portugal)

"Parabéns Academia Olímpica de Portugal que hoje completa 33 anos de idade. E como nasceu a Academia Olímpica Portuguesa (de Portugal) no passado século?
Começamos por abordar o tema com os participantes portugueses na Academia Olímpica Internacional (AOI), até ao ano da fundação da Academia Olímpica Portuguesa (AOP) em 4 de Dezembro de 1986, precisamente no ano em que Portugal aderiu formalmente à então designada Comunidade Económica Europeia (CEE).
No ano de 1962, Aníbal Justiniano e Eduardo Trigo indicados pela Inspecção Nacional do Desporto Universitário (INDU) estiveram presentes na 2ª Sessão da AOI que se desenrolou de 9 a 21 de Julho na cidade de Olímpia na Grécia. No ano seguinte indicados pela INDU, contou com as presenças de Alexandre Pinto e António Simões, para em 1964, contar com as presenças de Mário Araújo e Silva e Marcos Barroco de Almeida.
Na 5ª Sessão estiveram Alberto Quádrio e César Pegado (INDU), para no ano seguinte estarem presentes, Alberto Trovão do Rosário e Manuel Ribeiro da Silva (INDU). No ano de 1967, Rui Duarte (INDU) esteve na 7ª Sessão e na sessão seguinte estiveram dois participantes, Lélio Ribeiro (conferencista) Manuel Santana e Fernando Ferreira indicados pelo Comité Olímpico Português (COP), este esteve também presente no ano seguinte, na 9ª Sessão. No ano de 1970 novamente esteve presente Lélio Ribeiro como conferencista.
Nos anos de 1971, 1972, 1973, 1974, 1975, 1977, não houve representação portuguesa (in João Marreiros, Jogos Olímpicos e Olimpismo, 1988, 1992)
Na 16ª Sessão (1976), marcaram presença em Olímpia, Francisco Carreira da Costa, indicado pela Direcção-Geral de Desportos e José Valarinho, indicado pelo COP.
Na 18ª Sessão teve três participantes, Maria Emília Azinhais, Maria Robalo Gouveia, indicadas pelo COP, Orlando Azinhais a seu pedido e sem encargos para o COP, passando em Olímpia a ser bolseiro do Comité Olímpico Internacional (COI), para na Sessão seguinte contar com Alfredo Dinis e Fernando Monteiro em concurso aberto pelo COP, tal como nos anos seguintes. A 20ª Sessão teve os participantes Francisco Teixeira Homem e José Gonçalves. No ano seguinte, 1981, não houve representação. Na 22ª Sessão (1982) teve a presença de Fernando de Freitas e no ano seguinte Virgílio Almeida José Manuel da Silva foram os representantes do COP. No ano de 1984, na 24ª Sessão estiveram três participantes, Maria José Lopes, Mário Martins e Mário Paiva; na Sessão seguinte Maria Teresa Sardoeira, José Manuel Dias e Francisco Ramos, foram os bolseiros em Olímpia. Na 26ª Sessão (1986) contou com a presença de quatro elementos, Ana Paula Seabra, Manuel Janeira, Paulo Azevedo e Vanda Cristina.
A Academia Olímpica Portuguesa, criada em 4 de Dezembro de 1986, tal como já mencionado anteriormente, esteve em preparação desde o ano de 1985. A par de Celorico Moreira e Vasco Lynce, que visitaram Olímpia nos anos de 1983 e 1984, respectivamente, na 4ª Sessão de Membros e Quadros dos Comités Nacionais, e na 6ª Sessão para Educadores, na qualidade de Presidente da Comissão de Atletas, indicado pelo COP.
Também Carlos Cardoso da Comissão Executiva do COP em 1985, esteve presente na 6ª Sessão de Membros e Quadros dos Comités Nacionais foi um dos principais responsáveis pela preparação do arranque da AOP, além de Fernando Machado, que sempre apoiou esta iniciativa, na altura membro da Comissão Executiva do COP.
Com o objectivo da criação da AOP, o COP dirigiu convite a todos os bolseiros que nos últimos 25 anos tinham passado por Olímpia, desejando reuni-los no Seminário integrado nas comemorações dos 10 anos de funcionamento do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) do Porto, hoje Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, depois de já ter tido o nome de Faculdade de Ciências do Desporto. Desenrolou-se o mesmo de 12 a 14 de Junho de 1986 organizado por aquela instituição universitária, com a colaboração do COP, sob o tema "Olimpismo Paz e Educação".
Assim o COP teve com eles uma sessão debate, que se realizou no dia 13 de Junho de 1986, pelas 14:30 horas, com o propósito de estudar a possibilidade da criação duma AOP. Foi criada uma Comissão Instaladora composta pelos seguintes seis elementos:
Aníbal Justiniano (Bolseiro em 1962 e da área do Porto); César Pegado (1965-Coimbra); Manuel Ribeiro da Silva (1966-Porto); Maria Emília Azinhais (1978-Lisboa); Fernando Freitas (1978-Lisboa) e Mário Martins (1984-Coimbra).
Esta Comissão foi presidida por Fernando Lima Bello, presidente do COP, que chegou a ser membro de Portugal no Comité Olímpico Internacional (1989-2009), sendo no ano de 2010 considerado membro honorário daquela Instituição.
Os seis antigos bolseiros de Olímpia, regionalmente repartidos pelas áreas do Porto, Coimbra e Lisboa, reuniram-se em 20 e 21 de Setembro de 1986, nas instalações da Casa Municipal de Desporto de Coimbra, com a participação do representante da Comissão Executiva do COP, Vasco Lynce, com o objectivo de analisarem a regulamentação estatutária previamente elaborada pelos elementos da já mencionada Comissão. Foi assim realizada a 1ª Reunião da Comissão Instaladora da AOP, cujo resumo da Ata-síntese foi o seguinte: Participantes (Membros da Comissão Instaladora) – Aníbal Justiniano e Ribeiro da Silva, só no dia 20; César Pegado, Mário Martins, Emília Azinhais e Fernando Freitas, presentes nos dois dias, tal como Vasco Lynce. Estiveram ainda presentes no dia 21, como observadores, Orlando Azinhais e Wanda Félix.
Foi deliberado que os trabalhos desta primeira reunião se centrariam na elaboração do Regulamento da AOP, cuja discussão do articulado baseou-se na análise do Regulamento Provisório da AOI de 1962 e do Regulamento Interno do COP de 1974. Durante os trabalhos redigiu-se o “borrão” de Regulamento da AOP.
Curiosamente nas conclusões desta primeira reunião ficou a questão em aberto sobre a designação da Academia: Academia Olímpica Portuguesa ou Academia Olímpica de Portugal? Só passados seis anos, em 1992 é que deixou de se designar por Academia Olímpica Portuguesa e passou a designar-se por Academia Olímpica de Portugal.
Também na alínea a) do Ponto 3 das Conclusões pode ler-se que poderão ser membros da AOP, todos os membros, antigos e actuais, da Comissão Executiva do COP. Com o pressuposto de uma integração na estrutura do COP em 21 de Setembro de 1986 foram delineados os primeiros objectivos da AOP.
Em 1 de Novembro de 1986, também na Lusa-Atena em Lisboa, realizou-se mais uma reunião com o objectivo da criação da AOP.
Esta Academia deveria desenvolver trabalhos de estudo, sobre temas tão variados, quer a nível interno, quer a nível externo, englobando os aspectos históricos, técnicos, jurídicos e artísticos do Desporto, que tinham ao longo desses anos servido de ligação cultural entre todos os que se dedicavam à divulgação do Olimpismo, como movimento em constante evolução.
Assim, em Assembleia Plenária do COP, realizado no dia 4 de Dezembro de 1986, foram aprovados por unanimidade, as alterações estatuárias propostas onde se incluía no ponto 1 (Serão Membros Ordinários), a alínea f) – A Academia Olímpica Portuguesa.
A partir daquela data, a AOP passou a estar legalmente constituída como um dos órgãos do COP, sendo assim o culminar de um impulso, duma vontade, dum interesse, dum empenho e esforço dos que andavam, e alguns ainda andam, ligados ao fenómeno do Olimpismo, e que desejavam há alguns anos. Deste modo sentiram-se orgulhosos por terem sido recompensados com a criação da Academia Olímpica Portuguesa no dia 4 de Dezembro de 1986, um marco histórico na história do Olimpismo em Portugal.
Posteriormente, em 22 de Dezembro de 1986, foi realizada mais uma reunião, desta feita no Porto. Quer esta reunião, quer a reunião do passado dia 1 de Novembro, tiveram como intuito o dar cumprimento, não só à solicitação do COP, mas também aos objectivos do trabalho que se propuseram levar a cabo, tendo sido apresentado um projecto de Regulamento e Estatuto da AOP, para poderem ser incluídos no Estatuto do COP. A Comissão composta pelos seis bolseiros e por nomeação do Comité Executivo do COP passou a Comissão Instaladora, integrada de mais dois elementos da Comissão Executiva, Miguel Nobre Ferreira e Vasco Lynce, cujo mandato cessou no final da Olimpíada, no ano de 1988.
Deste modo competiu à Comissão Instaladora elaborar um plano de trabalho a curto e médio prazo, no sentido de não só criar uma estrutura e regulamentos próprios, como programar e realizar um conjunto de ações ao longo do ano de 1987, no sentido de estudar, sensibilizar e difundir os Ideais Olímpicos.
A Comissão Instaladora solicitava a todos os antigos e actuais bolseiros da AOI, no sentido de estarem atentos e despertos para todas as formas de colaboração que lhes iriam ser solicitada, como sendo ainda poucos e precisando da ajuda de todos. Para tal a AOP tinha de ser um órgão actuante e influente no Olimpismo em Portugal. Solicitava ainda àquela Comissão para os elementos se manterem informados sobre o que estava a ser feito.
A criação da AOP vem assim proporcionar aos atletas, professores, dirigentes, estudiosos e amantes da Causa Olímpica em Portugal, a possibilidade, com melhores bases teóricas de promoverem a expansão dos seus ideais.
Em 15 de Fevereiro de 1987 teve lugar em Coimbra uma reunião preparatória da Comissão Instaladora, tendo posteriormente reunido nos dias 3 e 4 de Abril do mesmo ano em Lisboa, na sede do COP no seguimento da reunião do passado dia 15 de Fevereiro. Uma outra reunião foi realizada no dia 22 de Maio de 1987, também em Lisboa, no seguimento da reunião do passado dia 15 de Fevereiro. O objectivo destas reuniões era a elaboração do Projecto de Regulamento Geral da AOP e a aprovação do Regulamento Interno e do Programa de Actividades para o ano de 1987.
Em 7 de Julho de 1987, o COP convocou os seus membros para uma reunião da Assembleia Plenária a realizar no dia 16 de Julho na Sede Social na Rua Braamcamp nº 12 r/c direito em Lisboa. Curiosamente na ordem de trabalhos, mencionava a aprovação, de acordo com o Artº 39º do Estatuto do Regulamento Geral da AOP. Foi então aprovado nessa reunião o Regulamento da AOP, depois de já ter sido incluída nos Estatutos do COP.
E foi deste modo, que no dia 24 de Outubro de 1987, a Comissão Instaladora da AOP realizou a 1ª Reunião Olímpica, na Casa do Médico do Porto cuja Convocatória nº 1/87 para a 1ª Reunião Plenária, tinha o seguinte teor:
Na sequência dos trabalhos que a Comissão Instaladora da Academia Olímpica Portuguesa tem vindo a desenvolver, convoca-se Vª Ex.ª para a 1ª Reunião Plenária, que terá lugar nos próximos dias 12 e 13 de Dezembro, em Troia, com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1 – Informações;
2 – Ratificação da proposta da Comissão Executiva do Comité Olímpico Português, da passagem da Comissão Instaladora da Academia Olímpica Portuguesa, a Conselho Directivo Transitório;
3 – Apresentação, discussão e aprovação do Plano Anual de Actividades e Orçamento. Lisboa, 12 de Outubro de 1987. O Presidente do COP, Fernando Lima Bello.
Assim, aos 24 dias do mês de Outubro de 1987, nas instalações da Casa do Médico, no Porto, reuniu a Comissão Instaladora da AOP, com a presença dos seguintes membros: Lima Bello, Emília Azinhais, Ribeiro da Silva, Fernando Freitas, César Pegado, Vasco Lynce, Aníbal Justiniano e Mário Martins.
Analisadas diversas hipóteses quanto ao «arranque formal» da Academia, foi decidido solicitar à Comissão Executiva do COP a convocação de uma Reunião Plenária da AOP, para os dias 12 e 13 de Dezembro de 1987, em Troia, com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1 - Informações da Comissão Instaladora da AOP;
2 - Ratificação da proposta da Comissão Executiva do COP sobre a passagem da actual Comissão Instaladora da AOP a Conselho Directivo transitório, até às eleições a realizar conforme Regulamento Geral da AOP (em Abril de 1989);
3 - Discussão e aprovação do Plano Anual de Actividades e Orçamento da AOP;
4 - Discussão e aprovação de propostas para a admissão de novos membros da AOP.
Para cumprimento do ponto n.º 2, deliberou-se solicitar à Comissão Executiva do COP a apresentação da proposta referida, que garantisse o arranque das actividades da AOP em 1988, entrando a Academia na normalidade directiva a partir de 1989, ano em que, de acordo com o seu Regulamento Geral, se deveriam realizar eleições para o período de 1989 a 1993.
No que diz respeito ao Plano de Actividades para 1988, deliberou-se que os temas em discussão em Troia fossem os seguintes, sem prejuízo de outros que o plenário julgasse de interesse abordar: 
Sessão Anual da AOP; Bolsa de estudo para frequência da AOI; Comemorações do Dia Olímpico; Participação nas actividades da «Operação Juventude»; Actividades de divulgação da «ideia olímpica»; Reuniões de sensibilização dos membros da AOP. Para cada um destes aspectos, a Comissão Instaladora apresentaria ideias-base à Reunião Plenária. Entre elas, destacavam-se as que diziam respeito à Sessão Anual de 1988, sugerindo que a realização fosse na cidade de Lamego, de 5 a 9 de Abril, para um máximo de 25 indivíduos de idades compreendidas entre os 18 e 35 anos. 
Quanto às comemorações do Dia Olímpico em 1988, tentar-se-ia realizar um programa de actividade em Coimbra, em meados de Junho, aproveitando a oportunidade para a AOP se associar ao Centenário da Associação Académica de Coimbra. Sobre as Bolsas de Estudo para a AOI, decidiu-se que vigorasse o esquema tradicional ainda no próximo ano, de acordo com o regulamento do concurso de atribuição que tinha sido recentemente divulgado, para em 1989 a atribuição se processar de forma diferente, em princípio entre os participantes na Sessão Anual de 1988 da AOP, os quais serão convidados a candidatarem-se.
Foi ainda sugerida a hipótese da Direcção-Geral de Desportos reforçar o seu apoio ao envio de portugueses presentes anualmente em Olímpia.
O presidente da Comissão Instaladora da AOP agradeceu à Casa do Médico a colaboração dispensada, ao colocar à disposição as suas excelentes instalações, que foram atentamente visitadas por todos os participantes na reunião. Manifestou, ainda, a sua satisfação pelo bom ritmo dos trabalhos. Ficou marcada para o fim da tarde de 11 de Dezembro, em Lisboa uma nova reunião da Comissão Instaladora da AOP. 
Realizou-se assim, a 1ª Reunião Plenária da AOP realizou-se no fim-de-semana de 12 e 13 de Dezembro de 1987, em Troia. Com ela cessou o trabalho que a Comissão Instaladora se propôs levar a cabo, face à solicitação da Comissão Executiva do COP. O balanço dessa tarefa foi francamente positivo, pois foram atingidos todos os objectivos que haviam sido definidos e que num prazo de tempo que, de início, talvez não se pensasse conseguir. Para além da inclusão da AOP nos Estatutos do COP e da aprovação do Regulamento Geral, a realização desta reunião constituiu mais um marco histórico na vida da AOP. Ainda que o número de participantes (23) não tenha sido ainda o desejável o que, de certo modo, se compreende nem por isso aquela reunião deixou de construir um importante acontecimento, não só pelo interesse e nível das intervenções, como pelas decisões já tomadas relativamente ao futuro. Participaram nos trabalhos os seguintes elementos: Fernando Freitas, Mário Martins, César Pegado, Ribeiro da Silva, Vasco Lynce, Fernando Machado, David Sequerra, Alberto Quádrio, Lima Bello, Eduardo Trigo, Fernando Monteiro, Aníbal Justiniano, Sílvio Rafael, Teresa Sardoeira, Trovão do Rosário, Orlando Azinhais, Fernando Ferreira, Emília Azinhais, Vicente Moura, Ernesto Matos Soares, Miguel Nobre Ferreira, Paulo Silva Dias e Rui Duarte.
Pelo seu significado e importância, saliente-se a passagem da Comissão Instaladora a Conselho Diretivo, cuja composição ficou como se segue:
Presidente: Fernando Lima Bello; Deão, Fernando Freitas; Secretário, Mário Martins; Tesoureiro, Maria Emília Azinhais; Vogais, Aníbal Justiniano, César Pegado, Manuel Ribeiro da Silva, Vasco Lynce e Miguel Nobre Ferreira.
Quanto aos assuntos constantes da Ordem de Trabalhos, os participantes reuniram-se em pequenos grupos, tendo-se debruçado e apresentado propostas relativamente aos quatro pontos do Plano de Actividades para 1988. Esses pontos diziam respeito a:
1. Sessão Anual;
2. Regulamento de Bolsas de Estudo;
3. Comemorações do Dia Olímpico;
4. Divulgação e Promoção.
Todas estas propostas foram analisadas pelo Conselho Directivo que, para o efeito, reuniu em Coimbra no dia 23 de Janeiro de 1988. Dali saíram as linhas orientadoras da actividade da AOP para o ano de 1988.
De salientar também a aprovação pelo Plenário, por unanimidade e aclamação, da proposta do Conselho Directivo da AOP para a admissão, como membro, de Fernando Machado. A justiça de tal admissão, pelo esforço e empenho desenvolvidos ao longo de anos para que a AOP fosse uma realidade, dispensaram quaisquer justificações: «Sr. Fernando Machado! Seja bem-vindo. Desejamos continuar a contar consigo. A Academia Olímpica Portuguesa está-lhe agradecida e honra-se de o ter entre os seus membros.»
O encerramento dos trabalhos teve a participação do Subdiretor-geral dos Desportos, João Boaventura, bem como de David Sequerra, Secretário-geral do COP e Vicente Moura, membros da Comissão Executiva do COP.
Acrescentamos ainda o programa da 1ª Sessão Anual da AOP que, ao contrário do sugerido anteriormente para a cidade de Lamego realizou-se em Vila Real de 7 a 11 de Setembro de 1988 nas instalações da recém criada e reconhecida Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro: A Academia Olímpica Internacional e a Academia Olímpica Portuguesa; Olimpismo; História; Filosofia; Princípios; Ideologia; Administração; O Olimpismo ao longo do Século XX, Realidade actual e perspectiva futura; Os efeitos do esforço físico na infância e adolescência.
Desde 4 de Junho de 1992, que na Assembleia Plenária do COP, foi integrada a AOP como organismo autónomo, tendo por proposta de Carlos Cardoso, sido alterado o nome de Academia Olímpica Portuguesa para Academia Olímpica de Portugal, designação que se mantém até aos dias de hoje."