quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Doumbia e Lourency

"O tal segundo cartão amarelo devia manter-se, mesmo não havendo penálti

Vamos falar do lance que envolveu Doumbia e Lourency, na recta final da partida entre Gil Vicente e Sporting. Como recordarão os mais atentos, o médio costa-marfinense - colocado no interior da sua área - usou o braço/cotovelo esquerdo para atingir o seu adversário, causando-lhe lesão (visível) no rosto.
Primeiro os factos:
1 - O árbitro entendeu não ter havido qualquer infracção, razão pela qual tomou a decisão de deixar prosseguir o jogo;
2 - O videoárbitro, atento, fez e bem o seu trabalho: alertou Hugo Miguel que tinha ocorrido uma situação eventualmente passível de castigo máximo. Mas fez mais (e melhor): disse-lhe que, no início da fase de ataque que levou a essa infracção, um jogador da equipa atacante - no caso, Kraev - estava em posição irregular e tomara parte activa no jogo. Bruno Esteves (VAR) acertou em tudo: o lance seria mesmo passível de pontapé de penálti mas esse nunca podia ser assinalado por existir fora de jogo (de 5cm) anterior. Perfeito;
3 - O internacional lisboeta fez então, igualmente bem, o que lhe competia: foi ver as imagens no écran junto ao relvado e validou a informação do colega. O alegado penálti não foi sancionado e, em seu lugar, foi dada indicação para que a partida recomeçasse com pontapé livre indirecto, a punir o adiantamento do jogador gilista. Tecnicamente tudo perfeito. Mais uma vez;
4 - Mas Hugo Miguel fez mais: entendeu que, disciplinarmente, a atitude individual de Doumbia sobre Lourency (que o lesionou de forma feia) tinha sido negligente (ou seja, passível de cartão amarelo) e, por isso, advertiu-o. Por ser a segunda vez no mesmo jogo, deu-lhe a respectiva ordem de expulsão;
5 - A parte incompreensível (e a única aqui claramente errada) veio depois: o árbitro, motivado por possível bloqueio momentâneo, voltou atrás na decisão e pediu a Doumbia que regressasse ao terreno de jogo, anulando o amarelo que lhe tinha mostrado. O jogador estaria já a caminho dos baleneários quando foi chamado.
Agora a nossa análise técnica: quando um lance é tecnicamente invalidado (como este, por intervenção do VAR), podem acontecer uma de duas situações, no que diz respeito a cartões entretanto exibidos: ou são anulados ou mantêm-se.
O que o protocolo (que agora está integrado nas leis de jogo) diz é que devem ser revertidos todos os cartões que foram exibidos por anularem ataques prometedores ou claras oportunidades de golo. Ou seja, apagam-se os cartões mostrados não pela dureza da infracção/entrada em si, mas pelo enquadramento da jogada. Os tácticos.
Todos os outros - nomeadamente os que resultem de impacto físico negligente, grosseiro, violento ou de acções antidesportivos - devem manter-se sempre e sem qualquer situação.
Doumbia, que na nossa opinião tinha até que ter visto o cartão vermelho directo, nunca podia ter regressado ao relvado porque a sua atitude foi, no mínimo, muito negligente. O tal segundo amarelo devia manter-se, mesmo não havendo penálti (tal como se manteria, por exemplo, um cartão amarelo mostrado a um jogador atacante por simulação na área, em lance que o árbitro fosse chamado a analisar um potencial penálti).
Essa foi a única falha, num jogo difícil, emotivo e, até então, muito bem arbitrado. Foi pena, porque Hugo Miguel tinha estado mesmo em excelente nível."

Duarte Gomes, in A Bola

1 comentário:

  1. "Pena" Deu arte Gomes?!? Pena tem galinha!! O Hugo "Macron" Miguel tem é uma marca para defender, isso sim!

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