quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Que Campeonato em Portugal!

"Que os pequenos se agigantam com os grandes, já o sabemos. Que os outsiders desafiam o favoritismo, é inegável. Que a tendência é para que a balança se equilibre quando o «nada a perder» afronta o «cumprir a obrigação», também não sobram dúvidas. Porém, esta jornada de Taça, que viu o seu mediatismo ser repartido com os feitos de Jorge Jesus (impressionante performance e justíssimos os pergaminhos que se lhe dedicaram), merece uma forte referência para os que encontraram nela a oportunidade de mostrar o futebol no seu esplendor máximo.
Podia ser esta uma alusão ao Alverca, que, depois do recital de sobriedade que deu contra o poderoso Sporting, num aparente escândalo pela diferença de forças, deixou em alerta um Rio Ave que se contentou com a margem mínima.
Podia estar a falar de uma Sanjoanense que, indiferente ao golo sofrido cedo em Paços, foi lúcido a condicionar o adversário para depois tentar surpreender nas idas à frente. Acabou o jogo com uma bola tirada em cima da linha de golo e, mais tarde, com Pepa a admitir sem problemas que merecia o prolongamento. Quando isto acontece... Podia ainda estar a referir-me ao soberbo comportamento do Vizela contra o Benfica. Quantos manteriam a serenidade, mesmo em vantagem, ao verem um jogador expulso tão cedo? Quantos resistiriam à tentação de recuar linhas e baixar o bloco? Quantos tremeriam com a bola nos pés perante a noção de que algo histórico disso dependeria? Há, realmente, algo a retirar do comportamento dos vizelenses e da sua organização, até por clubes da Liga NOS que teimam em ceder previamente aos estatutos e às dimensões.
Ou da personalidade do Marinhense. Ou da perseverança do Canelas. Ou da persistência do Sp. Espinho.
Mas estou sobretudo a falar do impressionante feito do Sertanense. Se não bastasse a diferença entre uma equipa profissional (Farense), líder do segundo escalão e a fazer uma época muito boa, e uma equipa que não o é e que está no quarto lugar da série C, essa diferença ainda se acentuou na desvantagem no marcador aos 31 minutos e nas duas expulsões na segunda parte. Chegariam ao empate com nove e levariam o jogo para prolongamento com oito, o que, por si só, já mereceria uma menção honrosa.
Não chegava. Num relvado longe de estar em boas condições, a dimensão emocional dos destemidos da Sertã protagonizou um conto de fadas, uma daquelas histórias que, se não houvesse registo escrito, online e vídeo, daqui a uns anos poderia soar a um valente exagero quando contado pelos protagonistas. O que feito do Sertanense sucede, para já, à mágica campanha do Caldas há duas épocas e a muitos outros contos históricos que esta competição alberga com uma vertente de mística distinta. À atenção da FPF, fica a sugestão de, nas próximas edições das Quinas de Ouro, criar também um prémio para desempenhos hercúleos no futebol português, sobretudo agora que o canal 11 torna ainda mais visível muitas potenciais estórias.
«Já não há jogos fáceis», costumam dizer. Discordo. Há jogos com todo o potencial para o serem, desde que a seriedade seja visível desde o primeiro apito. Mas bem longe estarão aqueles que pensam ver a diferença teórica fazer naturalmente a diferença. Bem longe... ou em casa, a ver pela televisão. Este Campeonato de Portugal está atestado de boas histórias e de muitos gritos por outros palcos."

Perdeu-se a magia... perdeu-se o 10!

"O futebol mudou...
Longe vão os tempos dos 10, dos mágicos, dos organizadores de jogo que viviam num território só deles, entre um meio campo de combate e um ataque profícuo.
E, foram tantos na história... nas fotografias aparecem quatro, talvez os que me tenham marcado mais. Mas, porque não colocar Francescoli, Ronaldinho, Michael Laudrup, Deco, Zico, Riquelme, Rivaldo, Baggio?
Deixo, contudo, alguns de fora... propositadamente! Desde logo, Messi...talvez o extraterrestre, que nos faz lembrar, que, num passado, existiu esse modelo de jogador, irreverente, capaz de tornar a equipa numa dúplice dimensão: onde ele vive e a terrena onde coabita com os demais companheiros de equipa! Depois Pelé... Pelé, talvez, tenha sido o maior atleta do mundo! Uma simbiose de força e de técnica, num momento em que a maioria dos jogadores apostava numa só qualidade! Porém, verdade seja dita...Talvez, tenha sido o primeiro 9,5 da história, sendo o maior símbolo disso o Brasil de 70! O Brasil, que como alguém ousou dizer, jogava bem porque jogava com 4 dez: Pelé, Rivelino, Tostão e Jairzinho... mas Pelé, talvez, fosse menos de que pelo menos Rivelino e Tostão...apesar do número ser seu...por decreto!
Essa feliz expressão do 9,5, uma vez trazida ao mundo por Platini, quase a deixar antever o futuro... a fantasia do 10 ir-se-ia extinguir e o próprio francês, apesar de usar o mágico dorsal nas costas, era o segundo avançado de uma Juventus que tinha em Boniek o seu "bomber".
Os tempos avançaram, como dissemos...vivemos mais depressa, com maior avidez! São os tempos do digital, do pragmatismo...a criatividade deve sempre ser usada em função de um bem maior! O dez, na maioria das equipas, morreu!
Analisemos as portuguesas! Lembremos as dificuldades de Rui Vitória na temporada passada em colocar João Félix na equipa titular do Benfica! A jogar numa ala! Viria Bruno Lage... Félix nunca seria 10, seria mais um filho do 9,5! Marcaria golos, daria a marcar, mereceria uma transferência milionária, mas alguma vez foi 10? E agora, o que vemos? Dois médios posicionais, dois avançados, um a jogar mais recuado que outro! Como é possível que um peso pesado consiga fazer o que a "ginga" de corpo e de mente de um talento fazia?
Bruno Fernandes, igual... apesar de ser um faz tudo, terá Bruno os predicados do playmaker? Terá Bruno a souplesse de um xadrezista capaz de antecipar os movimentos dos demais? Não! Bruno é alma...é voracidade...deem-lhe três campos para correr, ele correrá quatro! Peçam-lhe para se resguardar para tarefas criativas, ele será o primeiro a pressionar! Atenção, não é mau, é, simplesmente, genético.
No Porto temos a dimensão física do jogo. A voracidade de Marega, o choque de Soares. Otávio, que poderia ser um pouco o dez que falamos, parte de uma ala. No meio campo, um trinco (Danilo) e aposta em dois oito, capazes de dar equilíbrio à equipa, sejam eles quais forem. Já foram Matheus Uribe, Sérgio Oliveira, até Romário Baró que, ainda há meses, dizia querer imitar Zidane e que mereceu a expressão de um comentador de "estar muito penteado tacticamente", tais as amarras que o amordaçavam às obrigações do jogo!
Mas não serão só esses... o SC Braga, fruto do modelo de jogo, aboliu a posição! No Vitória SC, vemos Lucas Evangelista na posição 8 e, um dos mais promissores da sua geração para a função, João Carlos Teixeira, a partir de uma ala... amordaçados à voracidade feroz que Ivo Vieira quer no jogo, sem espaço para quem "pare, tome um café, tire uma fotografia e, sim...depois passe a bola"!
O mundo mudou...andamos mais depressa, nem temos tempo para a contemplação, para meditar... Mas, será que haveria necessidade de abolir a fantasia, como se tivéssemos caído do céu num universo que não é o nosso?"

Lesões? Para que te quero?

"Lesões, lesões e mais lesões… Ainda vale a pena continuar a lutar pelo que mais gosto?
Este sub-título vai tentar ilustrar tudo aquilo que vou escrever. Ou seja, a importância que um momento mais negativo tem na nossa vida e nos torna ainda mais fortes do que por vezes imaginamos, que nos torna, sobretudo, pessoas com maior capacidade para lidar com as adversidades. Irei dar ênfase aos atletas mais novos, onde há uma margem de progressão maior e onde o sonho de se tornarem jogadores profissionais se vai alimentando com maior frequência. Irei, ainda, dar um exemplo de um caso de um jovem de 15 anos, com o qual realizei um trabalho enquanto psicólogo do desporto, em fases distintas da sua recuperação. Ou seja, durante a reabilitação, quando se começa a fazer o “transfer” para o campo e no pós, quando o atleta começa a treinar com os companheiros.

É importante salientar que uma lesão faz parte da vida de um atleta.
Saber gerir essa lesão é que é uma das maiores superações do atleta.
Quando falamos em lesões, as quais obrigam a uma intervenção cirúrgica e a uma paragem prolongada da actividade desportiva, ou mesmo só esta última, sem recorrência à cirurgia, idealizamos maioritariamente a parte mais negativa. Questionamo-nos acerca da recuperação do atleta e surgem perguntas como:
“Ei, aquele miúdo ainda tão novo e já foi operado 3 vezes ao joelho. Ainda vale a pena continuar a insistir?”. “Coitado, logo agora que estava numa fase tão boa acontece esta rotura de ligamentos”. “Com esta lesão vai ser mais complicado chegar lá cima, pois ele já tem 18 anos, não é verdade?”.
Os discursos internos, muitas das vezes, são de carácter negativo face ao tema. Olhamos para a lesão como dor, frustração, indignação, problemática (…). E, muitas das vezes, olhamos essa mesma lesão como influenciadora negativa do nosso sonho (ser jogador profissional).
Agora questiono: faz sentido ter este tipo de pensamentos? Claro que sim! O atleta quer ser melhor. O atleta fica chateado por não praticar o que mais gosta. O jovem de 18 anos começa a perceber que a sua mudança para sénior se pode complicar. Como este, existem tantos outros tipos de pensamento que pode surgir face a esta problemática. É importante, também, salientar, que cada caso é um caso! 
Irei agora focar-me mais numa fase de formação do atleta (podendo, também, identificar jogadores com maior experiência, ou seja, seniores). Será que não estamos a desenvolver competências de extrema positividade através das dores, angústias, frustrações, noites mal dormidas (…) provocadas pela lesão? Sim, Estamos! Poderemos não estar a desenvolver o aspecto físico, o aspecto técnico e tão pouco o táctico. Mas podemos ser muito mais fortes em termos mentais.
O jovem de 15 anos, o qual identifiquei anteriormente, é jogador de futebol. Ele alimenta-se de um dia ser profissional do desporto-Rei. Sonha viver deste jogo, de ser reconhecido e trabalhar no que mais ama. Este menino (e reforço que para além de um atleta HÁ um ser humano ainda bastante jovem) estava numa fase em que era sub-15 (Iniciados), mas já treinava e jogava com os sub-17 (Juvenis).
Encontrávamo-nos na fase de apuramento de campeão e o rapaz era uma esperança para o clube, sendo um dos principais referenciados para chegar à equipa principal. No primeiro jogo da fase identificada, o jovem tinha feito 2 golos e a sua equipa ganhava por 3-1. Eis que chega o minuto 60 e o atleta é alvo de uma falta por parte de um adversário e sofre uma lesão muito grave.
A bancada, nos momentos após a falta, encontrava-se em choque. Família, amigos, agente desportivo, colegas (…), tudo estava apreensivo. O atleta, dias depois, diz-me que vai ter que parar cerca de meio ano. Ou seja, isto implica não jogar o resto da fase de campeão de Juvenis, onde não se poderá mostrar/vender no terreno de jogo e ter os holofotes sobre si, e também, não fazer a pré-época seguinte e início da mesma.
As primeiras mensagens por parte do jovem foram as seguintes: “Acho que vou desistir do futebol, isto foi muito mau e acho que o sonho termina aqui”. Mensagens de indignação, raiva, frustração (…), onde o papel do psicólogo, nesta fase, passa pela Empatia (e não simpatia). Sentir-me na posição do outro.
Coloquei-me à prova e incuti para mim mesmo. “Não vou deixar que este miúdo desista do seu sonho”. Fui fazendo o acompanhamento natural do processo e num breve resumo, trabalhou-se a formulação de objectivos, ajustamento de expectativas e o seu controlo de pensamentos, ajustando-se estes ao seu melhor discurso interno positivo.
O miúdo não queria mais jogar, não queria saber mais do futebol, mesmo ainda estando numa fase precoce da sua lesão. Mas sendo psicólogo, agente, pai (…), temos que ser sempre o suporte destes futuros craques e não os podemos “deixar cair”.
Por vezes, e os atletas ainda sendo jovens, não percebem o quanto enriquecem por passar por uma situação tão dolorosa. Têm noção do quão resilientes vocês se estão a tornar? Têm noção do quão superantes se estão a tornar? E a longo prazo? Se a vida de um atleta é feita destas “partidas”, será que não irão estar muito mais preparados caso aconteça novamente?
Não haverá um melhor ajustamento de expectativas face aos objectivos (neste caso do jovem de 15 anos, ao seu sonho)? Com ideias mais claras e mensuráveis. Com as metas mais bem delineadas (…).

Esta dor até pode ser assustadora e ser mais problemática do que se pensa, mas agora sei que tenho mais recursos para enfrentar o que vier!
A antecipação de acontecimentos ajuda o atleta a preparar-se mais eficazmente. E para além da dor, é importante salientar, que estamos a otimizar outro tipo de competências. O jovem não desistiu. A responsabilidade foi dada ao atleta, pois ninguém conhece melhor o próprio corpo que o mesmo. O Ter Uma Boa Base De Suporte Familiar foi fundamental para devolver a confiança durante o processo de recuperação e ajudar o jovem a focar-se no seu objectivo, mesmo tendo aquela situação menos positiva.
As pressões externas não podem existir. Por vezes, há situações que não dependem de nós, que nós próprios não conseguimos controlar. Algumas lesões são parte disso. A boa alimentação e o dormir bem também foram cruciais na recuperação.
Quando existe o “transfer” para o campo, após uma recuperação feita de muita superação, o atleta tem que estar focado e perceber que não consegue estar ao mesmo ritmo que o colega. É neste ajustamento de expectativas que pais, psicólogos, treinadores, agentes (…) são fundamentais. O processo terá que ser cuidado e de forma bem estruturada, ou seja, sempre “passo a passo”. Preferível devagar e bem, do que depressa e mal!
Poderia escrever muito acerca da influência mental deste tema das lesões. Mas acho que o importante a reter é o seguinte:
A lesão fará sempre parte da vida de um atleta. Independentemente de não estar a competir no aspecto técnico, táctico e físico, e haver mais atletas para o “substituir”, é importante salientar que o atleta está a ser mentalmente muito mais forte do que era.
“Não é como começa, mas sim como acaba”"

Jorge Jesus e a regra das 10000 horas de 'expertise'

"O sucesso agrega.
Por estes dias, Jesus reuniu consensos e admirações, recebeu o reconhecimento de Portugal, dos Portugueses e de uma enormidade de Brasileiros (adeptos da sua equipa e não só), ao conseguir, em pouco mais de 6 meses, elevar os níveis de desempenho da sua equipa para patamares há muito não observados.
Da forte contestação inicialmente manifesta, num país onde ser treinador e estrangeiro não revela ser a “combinação” mais apetecível, Jesus conseguiu calar as vozes da crítica e obter inclusive pedidos de desculpa públicos, por parte de algumas figuras de vincada notoriedade.
Criticado por muitos acerca da sua forma de estar e ser, acerca da sua impetuosidade e entrega desmedidas, o reconhecimento da sua capacidade em optimizar atletas, tornando-os activos valiosos para os clubes, de alguma forma, não é algo de novo – este é, aliás, o principal denominador comum que encontramos no discurso dos atletas que com ele “nasceram” (ou “renasceram”) e que a ele dedicam a sua gratidão.
Fê-lo agora com uma equipa inteira – e num brevíssimo espaço de tempo – e, isto sim, é “novo”. 
Naturalmente que o sucesso não se pode (nem deve) explicar exclusivamente pela vontade de um indivíduo, afinal ele será sempre produto das acções individuais e das suas circunstâncias.
O sucesso alcançado no Flamengo resultará necessariamente da conjectura de uma equipa e de um clube, da visão de alguém que, dadas as dinâmicas internas que se encontravam instituídas, soube identificar um dado perfil de treinador que poderia catapultar a expressão de um futebol mais incisivo e eficiente.
Mas resulta, também, de um homem que, em boa verdade, se preparou para o sucesso.

As 10000 Horas de 'Expertise'
Adoptada por personalidades tão distintas como Bill Gates, Elon Musk, Warren Buffett e Mark Zuckerberg, a “regra das dez mil horas” emerge de um estudo de Gladwell (traduzido no seu livro “Outliers. The story of success”, acerca do desempenho dos “fora de série”), onde o autor defende que o desempenho de excelência dos “fora de série” se encontra justificado pelo número de horas de prática que coleccionam e que, na realidade, podem transformar qualquer indivíduo num top performer, a saber: 10.000 horas.
Em boa verdade, estejamos a falar de treinadores, atletas ou outros “fora de série”, se observados em pormenor, a sua quase “inumana” capacidade em desenvolver esforço e trabalho, com elevados níveis de resistência à frustração e por um período indeterminado de tempo, acaba por destacá-los dos demais.
Jesus frequentemente assinala isso no seu discurso quando refere que não teria aceite o convite sem ter estudado muito bem a situação.
O que, de uma forma geral, as pessoas não adivinham é que este “estudar muito bem” implica, desde logo, horas sem fim de análise de todo o plantel, clube e realidade organizacional/cultural, bem como a produção antecipada de um conjunto de critérios de sucesso e/ou soluções que garantam o nível de sucesso desejado (que não precisa, necessariamente, ser o mesmo que o publico em geral imagina) – tudo isto, mesmo antes de firmar qualquer contrato.
Contudo, como em muitas outras áreas, o discurso do sucesso resultante de um número infindável de horas de trabalho não é, como sempre, minimamente “sedutor” para ser valorizado pelos “media” ou retido pelos adeptos e sociedade em geral.

“Se Não Consegue Explicar Algo de Forma Simples, É Porque Não o Entende Suficientemente Bem"-  - Albert Einstein
A fórmula de sucesso de Jesus passará, certamente, por um grande conjunto de variáveis - entre muitas que poderíamos inventariar, o saber-se rodear pela equipa técnica “certa” onde, para além do conhecimento científico agregado, denota o reconhecimento claro dos “perfis de personalidade” que pretende blindar na sua equipa de confiança – de onde vale a pena destacar ainda:
saber traduzir o conhecimento em acções concretas.
Dizem-nos os estudos científicos que os atletas de elevada performance evidenciam, quase sempre, igualmente elevados níveis de coachability – entenda-se, uma elevada capacidade em traduzir os feedbacks em acções concretas.
Podemos, assim, estar perante um (não muito comum) fenómeno onde, a uma equipa com elevados níveis de coachability se juntou um treinador com uma enorme capacidade em dar feedbacks precisos, assentes em soluções concretas, resultantes de uma análise minuciosa do desempenho da equipa e dos adversários, facilmente operacionalizadas através das acções dos atletas.
A esta capacidade única de tornar o complexo em algo simples, temperado com uma enorme crença na capacidade própria em optimizar pessoas e processos, os atletas reconhecem Liderança."

Parabéns, João Félix

"É com enorme orgulho e satisfação que o Sport Lisboa e Benfica felicita João Félix por ter ganhado o conceituado prémio Golden Boy 2019.
Um reconhecimento que muito prestigia o seu talento, mas também contribui para o reforço do prestígio e trabalho feito na nossa famosa escola de formação Benfica Campus, do Seixal, que, depois de em 2016 ver Renato Sanches ganhar este prémio, vê de novo um nosso jovem jogador ser escolhido como o melhor do mundo pelo mais reputado prémio internacional deste escalão."

Em torno da OPA parcial sobre a Benfica SAD

"Não me lembro de, alguma vez, em Portugal, uma OPA oferecer um tão elevado prémio sobre a cotação no momento do seu anúncio

1. Foi tornado público o anúncio do lançamento de oferta pública de aquisição (OPA) voluntária e parcial sobre acções ordinárias emitidas pela Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD (que detém em 100% a Benfica Estádio e a BTV), sendo que o oferente é a holding Sport Lisboa e Benfica SGPS, SA.
Sendo um assunto muito relevante na vida e no futuro do SLB, despertou muito menos gula mediática do que os gémeos do Seferovic ou os 10% sintéticos do novo relvado. Percebe-se porquê. Trata-se de um assunto tecnicamente complexo, e que não suscita, nem excita paixões de circunstância.
O que está em cima da mesa e a possibilidade de o SLB passar de detentor de 63,3% do capital da SLB Futebol, SAD para uma percentagem de até 91,7%. Assim, esta OPA incidirá sobre cerca de 28% do capital, sendo de 5 euros o valor de cada acção a pagar em numerário.
Como sócio benfiquista (registo de interesses: não tenho acções em meu nome ou de familiar, e sou detentor de obrigações por ela emitidas), deixo aqui algumas reflexões sobre esta operação. Ressalvo o facto de a informação ser escassa, não tendo havido mais nada para além do comunicado oficial. E tenho em consideração a prudência operativa e estratégica que os responsáveis do Benfica devem observar.
Se esta operação for levada ao limite da oferta, o Benfica, através da sua SGPS, desembolsará, a breve trecho, cerca de 32,277 milhões de euros (6.455.434 acções a €5 cada). Certamente, haverá quem logo se questione: gastar 32 milhões para deter mais capital em vez de se adquirir o passe de um craque que garanta maior possibilidade de sucesso desportivo? Percebo esta tentação alternativa, mas a contabilidade comparativa não se pode, nem deve fazer apenas no plano imediato, sendo necessário ver as suas possíveis consequências estratégicas e a prazo.
Nesta operação está subjacente um ponto muito positivo: a boa situação financeira do clube, pois que, de outro modo, uma operação desta natureza e envergadura nunca seria possível. Por outro lado, é legítima a preocupação da Direcção do clube em acautelar situações de OPA não desejáveis ou mesmo hostis que, embora minoritárias, poderiam constituir uma espécie de cavalo de Tróia com efeitos potencialmente adversos. O Benfica, dada a sua presente situação e a de um previsível futuro, tem de estar atento a predadores financeiros neste mercado global que não olha a meios, a passados e a estados de alma. O custo de quase totalizar a parte do capital detido pelo clube Benfica e pela Benfica SGPS tem a vantagem de imunizar investidas indesejadas e danosas, sobretudo em tempos mais apetecíveis para o mercado. Risco que não existiria se a sociedade estivesse debilitada ou em situação de pura sobrevivência imediata.

2. Algumas questões devem ser analisadas. A primeira é a de que a legítima cautela de ter os mecanismos necessários para impedir investidas indesejáveis poderá estar já salvaguardada nos estatutos da Sociedade, senão na totalidade, pelo menos em parte significativa. Por exemplo, no seu artigo 13.º, se preceitua que é necessária a unanimidade dos votos estatutariamente correspondentes às acções da categoria. A (40% do capital, exclusivamente detido pelo Benfica) para serem aprovadas deliberações da Assembleia Geral sobre «a aquisição, directa ou indirecta, de acções representativas de mais de 2% do capital social da Sociedade por uma entidade concorrente, devendo um eventual posterior reforço da posição accionista, de forma directa ou indirecta, ser sujeito ao mesmo processo de aprovação caso as acções a adquirir representem mais de 2% do capital social da Sociedade». Os Estatutos definem, entre outros aspectos, uma entidade concorrente como «qualquer entidade, independentemente da sua forma ou natureza, que desenvolva, no todo ou em parte, actividade que consista na participação em competições profissionais de futebol, na promoção e organização de espectáculos desportivos ou no fomento ou desenvolvimento, ainda que indirectamente, de actividades relacionadas com a prática desportiva profissionalizada da modalidade de futebol em Portugal ou no estrangeiro». Acrescentando-se que «a realidade de entidade concorrente pode existir em momento prévio à aquisição da participação ou ser adquirida em momento posterior».
Tendo isto em consideração, procurei - especulativamente é certo - alcançar uma razão que justifique uma operação desta envergadura financeira. Vejo que com o aumento da percentagem de capital detido, aumentarão as condições para, a prazo, o Benfica poder alienar uma parte (minoritária) a um ou mais investidores estrategicamente considerados bem-vindos. É crível admitir que haja entidades com as quais se possa edificar uma parceria estratégica que potencie sinergias, inovação, antecipação, expansão internacional, troca de know-how, oportunidade de negócio, etc.

3. Há, ainda, um ponto que me suscita dúvidas. Refiro-me ao preço oferecido por cada acção. Dir-se-á que se quer devolver agora o que os accionistas pagaram quando subscreveram títulos da Benfica SAD na primeira oferta pública (IPO) em 2001. Não tenho dados que me permitam saber qual a percentagem do capital adstrito à presente OPA que não teve qualquer movimento subsequente à IPO. Mas  haverá muitos accionistas que compraram os títulos no mercado secundário por preços bem inferiores aos agora oferecidos €5. Não me lembro de, alguma vez, em Portugal, uma OPA oferecer um tão elevado prémio sobre a cotação no momento do seu anúncio (81%, pois que a cotação andava pelos €2,76 por acção), mesmo tendo em consideração o tempo de capital empatado sem qualquer distribuição de dividendos. Se o propósito pode ser defensável pelo que atrás referi, o preço a pagar pode ser visto como exagerado. Pode dizer-se que tal prémio visa não prejudicar accionistas iniciais (correndo o risco, porém, de ser visto como uma formulação mais sofisticada de uma operação coração) o que tal preço é necessário para suster indesejáveis tentações oportunistas vindas do exterior. Não esqueçamos, porém, que o mercado de capitais é, por natureza, um mercado de muitos riscos, onde se investe numa sociedade anónima (neste caso, desportiva) e não numa hipotética Santa Casa.
Os grandes beneficiários do prémio oferecido serão quatro empresários que, juntos, detêm 21,1% dos 28% do capital sobre o qual incide a OPA, ou seja 75,4% da oferta (segundo o Relatório e Contas da Benfica SAD de 2018/19, estas participações qualificadas são: de António José dos Santos, 12,71%; José da Conceição Guilherme, 3,73%; Olivedesportos SGPS, SA, 2,66%; e Quinta de Jugais, Lda, 2%. Dos 32,3 milhões que a Benfica SGPS pagará se a OPA se efectuar integralmente, 24,2 milhões vão para estes accionistas. E se há, entre eles, quem tenha sido subscritor inicial pagando também 5 euros por cada acção ou se tenha atravessado em momentos particularmente difíceis da vida do Benfica, a maior daquelas quatro participações (António José dos Santos, Grupo Valouro) resultou de aquisições posteriores a preço bastante inferior (à Somague e ao Novo Banco, onde neste caso é conhecido o preço de €1,05 por acção). Estima-se que o seu encaixe no caso de venda na OPA atingirá cerca de 14,6 milhões de euros e que o ganho será acima dos 10 milhões de euros.
Acresce que ser accionista da SAD não significa ser necessariamente sócio, nem sequer benfiquista. Há, em suma, uma transferência que, à luz dos sócios que pagam honradamente as suas quotas e os seus lugares no estádio, pode ser encarada como excessiva e injustificada.

4. Um último ponto: com a possibilidade acrescida e consistente de lucros futuros, haverá maior pressão para a situação (inédita) de distribuição de dividendos. Caso isso alguma vez venha a suceder - do que duvido - há vantagem em ser o próprio Benfica a ficar com os mais de 90% dos dividendos distribuídos. Por fim, em termos de consolidação das contas do universo SLB, a situação patrimonial global fica mais consistente.

5. É isto que se me oferece escrever sobre esta iniciativa. Sei que não tenho, aqui e agora, a informação necessária e suficiente para, honestamente, ter uma posição indiscutível. O meu único propósito foi do contribuir construtivamente para a análise de um assunto estratégico incontornável do Universo Benfica, que não pode jazer entre distracções de um jogo hoje e de outro amanhã.

Contraluz
- Minuto: Jorge Jesus mereceu a vertigem do minuto 90+2, finalmente em versão deliciosa. E também o Brasileirão. São vitórias notáveis do melhor treinador português, que sucede a Pedro Álvares Cabral na descoberta de um país que nem sempre nos respeita.
- Diminuto: um Benfica medíocre em Vizela. Houve jogadores cujo problema não foi terem jogado mal, antes o de terem corrido pouco.
- Absoluto: Fernando Chalana, a vida do génio, agora em livro de Luís Lapão.
- Devoluto: Gabigol, por cá. Lá, treinador por Jesus, com estatuto. Vá lá a gente entender..."

Bagão Félix, in A Bola