"O futebol mudou...
Longe vão os tempos dos 10, dos mágicos, dos organizadores de jogo que viviam num território só deles, entre um meio campo de combate e um ataque profícuo.
E, foram tantos na história... nas fotografias aparecem quatro, talvez os que me tenham marcado mais. Mas, porque não colocar Francescoli, Ronaldinho, Michael Laudrup, Deco, Zico, Riquelme, Rivaldo, Baggio?
Deixo, contudo, alguns de fora... propositadamente! Desde logo, Messi...talvez o extraterrestre, que nos faz lembrar, que, num passado, existiu esse modelo de jogador, irreverente, capaz de tornar a equipa numa dúplice dimensão: onde ele vive e a terrena onde coabita com os demais companheiros de equipa!
Depois Pelé... Pelé, talvez, tenha sido o maior atleta do mundo! Uma simbiose de força e de técnica, num momento em que a maioria dos jogadores apostava numa só qualidade! Porém, verdade seja dita...Talvez, tenha sido o primeiro 9,5 da história, sendo o maior símbolo disso o Brasil de 70! O Brasil, que como alguém ousou dizer, jogava bem porque jogava com 4 dez: Pelé, Rivelino, Tostão e Jairzinho... mas Pelé, talvez, fosse menos de que pelo menos Rivelino e Tostão...apesar do número ser seu...por decreto!
Essa feliz expressão do 9,5, uma vez trazida ao mundo por Platini, quase a deixar antever o futuro... a fantasia do 10 ir-se-ia extinguir e o próprio francês, apesar de usar o mágico dorsal nas costas, era o segundo avançado de uma Juventus que tinha em Boniek o seu "bomber".
Os tempos avançaram, como dissemos...vivemos mais depressa, com maior avidez! São os tempos do digital, do pragmatismo...a criatividade deve sempre ser usada em função de um bem maior! O dez, na maioria das equipas, morreu!
Analisemos as portuguesas! Lembremos as dificuldades de Rui Vitória na temporada passada em colocar João Félix na equipa titular do Benfica! A jogar numa ala! Viria Bruno Lage... Félix nunca seria 10, seria mais um filho do 9,5! Marcaria golos, daria a marcar, mereceria uma transferência milionária, mas alguma vez foi 10? E agora, o que vemos? Dois médios posicionais, dois avançados, um a jogar mais recuado que outro! Como é possível que um peso pesado consiga fazer o que a "ginga" de corpo e de mente de um talento fazia?
Bruno Fernandes, igual... apesar de ser um faz tudo, terá Bruno os predicados do playmaker? Terá Bruno a souplesse de um xadrezista capaz de antecipar os movimentos dos demais? Não! Bruno é alma...é voracidade...deem-lhe três campos para correr, ele correrá quatro! Peçam-lhe para se resguardar para tarefas criativas, ele será o primeiro a pressionar! Atenção, não é mau, é, simplesmente, genético.
No Porto temos a dimensão física do jogo. A voracidade de Marega, o choque de Soares. Otávio, que poderia ser um pouco o dez que falamos, parte de uma ala. No meio campo, um trinco (Danilo) e aposta em dois oito, capazes de dar equilíbrio à equipa, sejam eles quais forem. Já foram Matheus Uribe, Sérgio Oliveira, até Romário Baró que, ainda há meses, dizia querer imitar Zidane e que mereceu a expressão de um comentador de "estar muito penteado tacticamente", tais as amarras que o amordaçavam às obrigações do jogo!
Mas não serão só esses... o SC Braga, fruto do modelo de jogo, aboliu a posição! No Vitória SC, vemos Lucas Evangelista na posição 8 e, um dos mais promissores da sua geração para a função, João Carlos Teixeira, a partir de uma ala... amordaçados à voracidade feroz que Ivo Vieira quer no jogo, sem espaço para quem "pare, tome um café, tire uma fotografia e, sim...depois passe a bola"!
O mundo mudou...andamos mais depressa, nem temos tempo para a contemplação, para meditar... Mas, será que haveria necessidade de abolir a fantasia, como se tivéssemos caído do céu num universo que não é o nosso?"
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