quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Sob o signo da solidariedade

"Confiança, determinação e ambição: são estes os sentimentos de todos nós para o jogo desta noite, no regresso da Champions ao Estádio da Luz para o Benfica–Lyon com início marcado para as 20h00.
Tudo está em aberto no grupo considerado mais equilibrado da Liga dos Campeões e o apoio à nossa equipa será fundamental, face ao elevado nível de um adversário que desde 2016 não perde um jogo fora de portas na fase de grupos da Champions.
Mas o dia será também marcado por algo que extravasa o mero domínio da competição desportiva e que nos remete para valores fundamentais da nossa vida em sociedade, os quais o Benfica estimula e promove e que muito importa destacar.
Inseridas no âmbito da campanha #EqualGame, da UEFA, concebida para promover a inclusão, diversidade e acessibilidade, decorrerão hoje várias actividades no nosso Estádio, cuja finalidade prioritária se resume na mensagem de que, em campo, somos todos iguais.
O Benfica fez questão de se associar a esta campanha e equipas de reportagem da própria UEFA estarão hoje a cobrir as diversas iniciativas que programámos para a campanha internacional deste projecto.
O Sport Lisboa e Benfica tem consciência do papel que exerce neste domínio enquanto instituição de referência desportiva em Portugal, no resto da Europa e mundo, e não enjeita essa responsabilidade. Pelo contrário, assume-a e coloca essa vertente no centro da sua acção, como aliás é sobejamente conhecido por todos, através dos projectos implementados pela Fundação Benfica.
Luís Filipe Vieira foi esclarecedor quando ao posicionamento do Sport Lisboa e Benfica nestas matérias: "Estamos sintonizados com o espírito e os objectivos da campanha #EqualGame da UEFA porque somos parte desse combate, porque somos todos iguais!" Uma posição reflectida nestas palavras e, sobretudo, nos já vários anos que a Fundação Benfica se tem dedicado a estas causas, no seguimento, aliás, da prática no Clube desde que foi fundado em 1904, em que a inclusão, a igualdade de género, a luta contra a discriminação e a abertura incondicional à sociedade sempre imperaram.
Assim, entre as várias actividades que acontecerão hoje, destaque para a que decorrerá às 18 horas no piso sintético do complexo desportivo do Sport Lisboa e Benfica com a participação de muitas crianças e, a apadrinharem o evento, de Luisão e Nuno Gomes. E também para a entrega de 2560 convites a instituições de solidariedade para assistir ao Benfica–Lyon.
É com orgulho, satisfação e enorme sentido de responsabilidade que o Sport Lisboa e Benfica se associa a estas causas.
Somos todos iguais!"

O maior crime de sempre em Portugal - Parte IV

"Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais, muito mais coisas assustadoras!
'Cantarei até que a voz me doa
Ao meu país, à minha terra, à minha gente
À saudade, à tristeza que magoa
Ao amor de que ama e morre ausente'

'290. Com efeito, no dia 12 de Dezembro de 2017, pelas 22:13:56h, o arguido Rui Pinto, fazendo uso do IP 128.31.0.13 através de formas de anonimização, criou o blogue mercadobenficapolvo.wordpress.com, acessível, à data, através do URL https://mercado-benficapolvo.wordpress.com no domínio Wordpress.
291. Aquando do registo indicou como nome de utilizador 'mercadobenficapolvo' e, como endereço electrónico, 'ose-mails-dopredroguerra@tutanota.com', tendo dinamizado o conteúdo do blogue desde a sua criação, com publicações alusivas ao mundo futebolístico, como correio para efeitos de contacto'.
Dúvidas então não existem de que foi Rui Pinto que publicou as caixas de correio electrónico de todas as pessoas do Benfica que por isso foram afectadas e todas e quaisquer pessoas que trocaram e-mails com todos estes benfiquistas, eu incluído!
Todos, mas mesmo todos, são lesados pela conduta de Rui Pinto.
Outra coisa bem diferente é a quem foram entregues estas caixas de e-mails? Quem tem a informação toda dos e-mails destas pessoas?

Provas indestrutíveis
Quer Rui Pinto venha a argumentar que o saco 35 e 36 onde se guardaram vários discos rígidos, ou o saco 14 onde se guardou a pen drive XPTO, são provas nulas, porque o saco não foi fechado com cola-tudo, mas com cola UHU, ou que o saco se abriu na viagem até Portugal devido às zonas de turbulência do avião, ou ainda que os sacos de plástico vão ser proibidos, a verdade é que nada de nada retirará a realidade dos factos. E essa é só uma, com saco ou sem saco de plástico!
Vamos elencar de seguida aquilo que nos tempos remotos de juventude se designava por 'apanhado com a mão na massa!'
'46. ... os acessos às caixas de correio electrónico dos membros da Sporting Clube de Portugal - Futebol SAD foram realizados, pelo arguido Rui Pinto, a partir dos IP 89.133.142.32 e 89.134.153.113, localizados em Szovetseg Utca 28/B 2.º 13.1074, 07.º Bairro, Budapeste, Hungria, onde o arguido Rui Pinto, à data residia.
47. Bem como a partir do IP 193.137.39.11, correspondente à Universidade do Porto, ao qual o arguido Rui Pinto lograva acesso.
79. A 16 de Janeiro de 2019, o arguido dispunha, guardados no disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, dos seguintes documentos que havia retirado da caixa de correio de membros/funcionários da Sporting Clube de Portugal - Futebol SAD.
215. No disco rígido da marca Western Digital (Elements), com o S/N WX51E944XR33, que se encontrava na residência do arguido, a 16 de Janeiro de 2019, mais concretamente no ficheiro de texto '0422127E-23B4-4F85-A85F-3DD8C6C54EAE.txt', o arguido Rui Pinto dispunha de anotações por si redigidas referentes à Doyen, com credenciais de acesso, plataforma de gestão de conteúdos, redes sociais, repositórios e partilha de ficheiros.
216. A 16 de Janeiro de 2019, o arguido dispunha, guardados no disco rígido da marca Western Digital (Elelments) com o S/N WX51E944XR33, dos seguintes documentos que havia retirado do sistema informático da Doyen Sports Investments Limited.
225. Com efeito, entendeu o arguido Rui Pinto como relevante guardar os seguintes ficheiros no seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, designadamente.
238. No seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, que se encontrava na residência do arguido a 16 de Janeiro de 2019, concretamente no ficheiro de texto 'F488C171-62B1-4C20-B906-8A4C995E1095.txt', o arguido dispunha de anotações por si redigidas referentes a FPF, desde endereços de correio electrónico e respectivas palavras-chave a plataformas de ficheiros.
286. Até 16 de Janeiro de 2019, o arguido Rui Pinto guardou no seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, 1369 ficheiros, incluindo os formatos '.doc', '.docx', '.xls', '.pdf', 'video e audio', ficheiros comprimidos e '.csv', exfiltrados das pastas dos colaboradores da PLMJ.
288. No disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, que se encontrava na residência do arguido Rui Pinto a 16 de Janeiro de 2019, concretamente no ficheiro 'W.rtf', o arguido dispunha de anotações por si redigidas referentes a palavras-chave de acesso a um e-mail com domínio da PLMJ - biblioteca@plmj.pt
383. Com efeito, entendeu o arguido Rui Pinto como relevante os seguintes ficheiros, no seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, designadamente:
Extraídos da pasta do Conselho Superior do Ministério Público.
387. Tal actuação permitiu ao arguido Rui Pinto recolher diversos documentos, da caixa de correio do então director do DCIAP, que guardou no seu disco externo da marca WD, modelo WD Elements e com o N/S WXH1AC5CKXZF, desgnidamente.
394. No seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) co o S/N WX51E944XR33, que se encontrava na residência do arguido Rui Pinto a 16 de Janeiro de 2019, concretamente no ficheiro de texto '0422127E-23B4-4F85-A85F-3DD8C6C54EAE.txt', o arguido dispunha de diversas anotações por si redigidas referentes à 'PGR', desde endereços de correio electrónico e respectivas palavras-chave, números de mecanográficos, páginas de acesso a plataformas de ficheiros, páginas de exfiltração de informação e páginas de phishing.
395. Em 16 de Janeiro de 2019, em momento em que ainda não tinha sido constituído arguido nos presentes autos, o arguido Rui Pinto tinha guardado, no seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XE33, os seguintes elementos referentes ao presente processo.
396. No dia 16 de Janeiro de 2019, o arguido Rui Pinto detinha na sua moradia sita em 1072 Budapest, VII, District, Vorosmarty utca 6. II. 15, o seguinte material informático:
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXH1AC5CKXZF;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXM1AC718NXU;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXJ1EA3KKZU8;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXJ1A967D0AL;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXB1E6543CH6;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXW1A7897K1C;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXJ1A48JK61E;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51EC64PVP7;
- 1 (um) Ml Box, da marca Xiaomi, com o S/N 13878/580285961;
- 1 (um) card da marca Sandisk com 512 MB de capacidade;
- 1 (um) disco SSD (solid Stade Drive) da marca Samsung, com o S/N S2Z6NY1HB84107 e com 128 GB de capacidade;
- 1 (um) cartão micro SD da marca Kingston com o S/N N0579-005.A00LF e com 16 GB da capacidade;
- 1 (um) cartao micro SD da marca Samsung com o S/N ICYH179GA136 e com 4 GB de capacidade;
- 1 (uma) pen USB da marca Kingston (DTSE9), com o S/N 0557S-312.A00LF KF 6644177 com 16 GB de capacidade;
- 1 (uma) pen USB da marca Sandisk (CruiserForce), com o S/N BL160325376D, com 16 GB de capacidade;
- 1 (uma) pen USB da marca Sandisk(CruiseSwitch), com o S/N BL170425486B, com 16 GB de capacidade;
- 1 (um) disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WXP1EC4E9JES;
- 1 (um) disco rígido da marca LACIE com o S/N NL360SQW;
- 1 (um) disco rígido da marca LACIE com o S/N NL360SR1;
- 1 (um) Macbook Pro (A1502) com o S/N C02T96R2FVH3'

Agora imaginem quando forem analisados estes 11 discos que ainda faltam analisar, pens, suportes informáticos, o que não virá ainda.
Temos trabalho aqui para 10 anos!

Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais, muito mais coisas assustadoras!"

Pragal Colaço, in O Benfica

Taça e traça

"Até é preciso algum esforço de memória (ou consulta) para nos lembrarmos do ponto actual do campeonato.

1. Tenho saudades do tempo da Taça de Portugal - já lá vão muitos anos - quando, terminado o campeonato, era disputada de enfiada. Bem sei que agora não há condições para que assim seja. Mas continuo a pensar que, entre o que já não pode ser e o que agora é, vai uma distância enorme. Hoje é tudo ao molho e fé em... sorteios. Se tivesse se escolher o melhor modelo, diria que a época deveria começar por esta competição, deixando apenas para depois do campeonato as meias-finais e a final. Seria um troféu mais dinâmico e competitivo. Dava mais corpo à ideia de ser a competição mais democrática. Teria como vantagem a consequente não interrupção do campeonato, a não ser por razões de jogos obrigatórios de Portugal. Evitaria até a batota de castigos limpos numa competição diferente. Se a isto, juntássemos a obrigatoriedade de, em todas as eliminatórias (e não apenas na agora realizada terceira eliminatória), os clubes primodivisionários jogarem na qualidade de visitantes quando defrontassem equipas de escalões diferentes, seria uma prova mais entusiasmante e vertebrada.
E o que temos agora? Uma versão engasgada em regime de conta-gotas. Além de equipas eliminadas, que, em magote, são repescadas (21, no total de 55), a datas previstas já com a presença das principais equipas, são 20 de Outubro (3.ª eliminatória), 22 de Novembro (4.ª eliminatória), 18 de Dezembro (oitavos-de-final), 15 de Janeiro (quartos-de-final), as duas primeiras semanas de Fevereiro (meias-finais). Vá lá que aqui acabou-se com as duas mãos para os semifinalistas que chegaram a ser intervaladas por dois meses...
Por tabela, temos o campeonato nacional numa versão de trapézio escaleno. A continuidade da competição é significativamente quebrada. A primeira volta decorre 11 de Agosto e 19 de Janeiro, ou seja durante 5 meses e 1 semana(!). Já a segunda volta é concentrada em 3 meses e 3 semanas (desde 26 de Janeiro e 17 de Maio). Em 9 semanas de Outubro e de Novembro, apenas se disputam 4 jornadas! Até é preciso algum esforço de memória (ou consulta) para nos lembrarmos do ponto actual do campeonato...

2. Entrementes, a actualidade com algum interesse escasseia. Os jornais desportivos diários têm de ter muita imaginação para dar corpo às muitas páginas que disponibilizam aos seus fiéis leitores. E eu, simples cronista semanal, confesso a minha dificuldade em escrever sobre assuntos que ainda não tenham sido já abastadamente comentados ou inventados.
Foi neste ínterim que resolvei fazer uma incursão, algo melancólica, sobre onde param (ou pairam) clubes que, na minha juventude ou mais recentemente, andaram na primeira divisão e depois desapareceram na descida às catacumbas de divisões secundárias.
Que me desculpem os leitores mais jovens, pois esta parte da crónica de hoje tem indesmentivelmente um sentido geracional mais estrito. Esta digressão é mais própria da minha geração, mas é desconhecida da grande maioria das seguintes.
O campeonato nacional deste ano assinala - ao que julgo, pela primeira vez - um marco insólito ao longo da sua história. É que entre a cidade de Lisboa e a cidade do Porto, na faixa litoral, não há nenhum clube a jogar na 1.ª divisão! Faltam, sobretudo, a Académica de Coimbra, um ou mais clubes do distrito de Aveiro, a União de Leiria e, mais perto de Lisboa, o Alverca ou o Torreense. Apenas encontramos o Tondela, mas já mais no interior, no distrito de Viseu.
Onde estão agora equipas cujo habitat mais comum foi do principal campeonato? Não falando das que agora militam no 2.º escalão, vejamos o que tem sucedido às outras.
No agora chamado Campeonato de Portugal (nome ambíguo, como se todos os outros fossem campeonatos que não de Portugal...) e, outrora e mais humildemente, 3.ª divisão moram: Vizela, Fafe, Recreio de Águeda, Sp. Espinho, Leça, Sanjoanense, Trofense, Caldas, Amora, que passaram mais ou menos esporadicamente pela 1.ª divisão. Lá se encontram também clubes que tiveram percursos mais assinaláveis, ainda que em tempos diversos: o Beira-Mar (27 presenças e uma Taça de Portugal, sendo o 11.º clube mais assíduo no campeonato principal numa lista completa de 71 equipas), agora a recuperar depois de ter quase desaparecido, a União de Leiria (18) que procura, igualmente, renascer das cinzas, o velhinho Lusitano de Évora (em bom rigor Lusitano Ginásio Clube), único representante do distrito a jogar na principal divisão em 14 temporadas, com jogadores que ficaram na boa memória do futebol, como Vital, José Pedro, Falé e Fialho, o Sporting de Espinho (11), o Oriental de Lisboa (7), o Torreense (6), bem como o Alverca (5) onde pontificou Mantorras. Mais recentemente, lá estão os antes primodivionários Arouca e Olhanense, depois de descerem dois degraus muito rapidamente.Por fim, assinala-se um clube de importante trajecto na Divisão maior, a CUF do Barreiro (23 vezes, alcançando um terceiro lugar e dois quartos), entretanto metamorfoseado no seu nome e agora chamado CD Fabril Barreiro e, ainda, o Olímpico do Montijo, descendente do antes Montijo que esteve 3 anos no principal escalão. O Felgueiras, que passou uma vez, no escalão principal (em 1995/1996, treinador então por Jorge Jesus) deu lugar ao FC Felgueiras 1932, a jogar também no 3.º escalão, tal como o União da Madeira que enfrenta um processo de insolvência.
Já em campeonatos distritais, há sete equipas, quase todas com uma boa história na 1.ª divisão: Barreirense (24 épocas), Atlético (24), Salgueiros (24), União de Tomar (6), único representante do distrito de Santarém, e Tirsense (8), a que se junta o Ginásio de Alcobaça que por lá passou em 1982/1983.
Clubes já que foram extintos e, entretanto, ressuscitaram. O Estrela da Amadora (16 presenças e uma Taça de Portugal), deu lugar ao agora Grupo Desportivo Estrela, a iniciar a sua longa caminhada na 3.ª divisão distrital. A Naval 1.ª de Maio (6 presenças), cujo futebol sénior foi suspenso, foi de algum modo também replicada através da Associação Naval 1893, a disputar os distritais. Também o velhinho União de Coimbra sucumbiu aos novos tempos, surgindo em versão 2.0, o agora chamado União 1919. O Elvas, clube que esteve 5 vezes na 1.ª divisão, e onde pontificou Patalino, deixou de ter equipa sénior em 2018. Também a última equipa alentejana a estar na 1.ª divisão, o Campomaiorense deixou de ter uma equipa sénior, tal como o Seixal que esteve lá em cima duas vezes. Por fim, o extinto GD Riopele jogou em 1977/1978 na 1.ª divisão.
Registe-se, ainda, a anomalia, por demais incompreensível, de o Clube de Futebol os Belenenses, uma vez campeão nacional e até há algumas décadas um dos quatro grandes, estar a disputar a 2.ª divisão distrital de Lisboa, enquanto a ainda estranhamente denominada Belenenses SAD está a jogar no campeonato principal. Este é o caso mais notório de divórcio clube/SAD, mas não se fica por aqui, com consequências também no Atlético Clube de Portugal, Lusitano de Évora, Torreense, Cova da Piedade, União de Leiria, Penafiel, Olhanense. Se as autoridades desportivas continuarem a ignorar olimpicamente esta questão, mais casos haverá no futuro na disputa entre a história, tradição e coração, de um lado, e o dinheiro de investidores de ocasião (onshore e sobretudo offshore), do outro.
Por fim, uma constatação curiosa: dos 18 clubes que esta temporada actuam na 2.ª divisão, só três nunca foram primodivisionários: Mafra, Vilafranquense e Cova da Piedade

Contraluz
- Tomba-Gigante: Há quem diga que foi o Alverca, depois de eliminar o Sporting. Foi mesmo?
- Simbolismo: Um minuto de silêncio, desta vez bem respeitado, no Cova da Piedade - Benfica pela morte do grande jogador Rui Jordão. Sessenta segundos em que apenas se ouviu o choro incontido de um bebé, algures no recinto. Comoveu-me esta junção entre o silêncio da tristeza diante da morte e as lágrimas da criança diante da vida.
- Escrutínio: Uma medida corajosa vai ser efectuada na Holanda no que se refere ao recurso ao VAR, pela qual os árbitros terão de revelar a suas decisões através dos ecrãs do estádio. Deste modo, os adeptos poderão conhecer as razões da intervenção e a explicação da decisão adoptada pelos árbitros que os levam, a recorrer ao VAR. Será sonhar que tal venha a acontecer por cá?"

Bagão Félix, in A Bola

Lage tem de ser um Mourinho

"O treinador da águia, que ouve notícias, lê jornais e gosta de andar informado, já se deu conta que o fantasma do costume volta atacar e, até ver, com mais força

Na semana em que regressam as competições europeias os jogadores das equipas portuguesas estão bem. Podem sentir-se enfastiados, por ausência prolongada de competição, entrecortada pelos jogos de selecções e apenas para os que tiveram esse privilégio, mas cansados, não, felizmente.
O Benfica, como único representante luso na Liga dos Campeões, é o primeiro a entrar em cena, amanhã, no seu estádio, diante de um Lyon às aranhas, actual 17.º classificado na Liga francesa, a quem está obrigado a ganhar, por respeito ao estatuto europeu da águia e, sobretudo, para manter viva a esperança de chegar aos oitavos de final, um dos objectivos desportivos proclamados por Luís Filipe Vieira e que, por excesso de ambição, dizem, tem sido gozado à tripla-forra por causa da sucessão de mais resultados, que se explicam pela discutível competência de jogadores com mais elevado estatuto e, talvez, pela vertiginosa ascensão de um treinador cujos méritos não se contestam, mas que, admito, ao chegar demasiado alto e depressa, se tornou imprudente ao ponto de admitir que, apesar de noviço na função, já terá crédito para errar e perder. Não tem, principalmente a este nível, porque os adeptos não vão esquecer nunca o vergonhoso legado de Rui Vitória que colocou o Benfica nas bocas do mundo pelos piores motivos, ser o último de entre os 32 clubes que participaram na edição de há dois anos: seis jogos, seis derrotas, um golo marcado e 14 sofridos. Na presente edição o quadro é menos deprimente, mas, muito cuidado, porque, neste altura, no universo dos oito grupos da Champions, com dois jogos e duas derrotas, além do Benfica, apenas se assinalam Atalanta, Leverkusen e Lille.

duas semanas escrevi neste espaço que, sendo Pizzi e Rafa Silva as principais referências da equipa encarnada e segundas ou terceiras escolhas da Selecção, alguma defeituosa avaliação prejudicou construção de um colectivo que se queria forte e que, afinal, se tem revelado mais vulgar do que o anterior.
A derrota sofrida com o FC Porto, ainda por cima na Luz, estragou tudo, ao colidir com o que se agradável o Benfica produziu na pré-temporada (vitória na International Champions Cup) se prolongou por Agosto, com triunfo na Supertaça e estreia empolgante na Liga (duas vezes 5-0, ao Sporting e ao Paços de Ferreira). O desfecho daquele clássico, porém, encolheu drasticamente a margem de tolerância, porque é assim que se vive o futebol, e Bruno Lage sentiu-se obrigado a reinventar a filosofia de jogo da equipa, com o mesmo plantel, sim, mas com novas ideias, e não através de experiências repetidas e adaptações gastas que só podem conduzir ao fracasso: foi assim com o Leipzig e, mais cruel, com o Zenit, por isso o presidente confessou a sua vergonha. Além de, como Lage compreenderá, a eliminatória com o Eintracht Frankfurt, na época passada, tal como aconteceu, ter provocado desconforto atroz, principalmente pela ligeireza, não há outro termo, com que foi abordada a segunda mão.

No jogo com o Lyon o Benfica tem de ser competente, mostrar capacidade de sofrimento, espírito de luta e de entreajuda e, de uma vez por todas, deve haver coragem na identificação e responsabilização de jogadores que, sendo fortes com os fracos e se amedrontam com os fortes, não justificam o que recebem, que é muito, nem as mordomias com que são tratados, ao nível do que melhor se pratica.
Em todas as circunstâncias, deve ser máxima a exigência do treinador, contratado para corresponder aos anseios da massa adepta, com vitórias e títulos, e não para receber elogios dos jogadores, razão pela qual me pareceu um inopinado exagero classificar de tremenda a atitude que tiveram no jogo com o Cova da Piedade.
De atitude tremenda precisa o Benfica amanhã, verdadeiramente tremenda, porque se for idêntica à que se viu na Piedade, diante de um oponente menor, não é previsível que o Estádio da Luz volte a reviver o ambiente das grandes noites europeias. Tantas na sua história, embora cada vez menos...
Por outro lado, o treinador da águia, pessoa culta, que ouve notícias, lê jornais e gosta de andar informado, com certeza que já se deu conta que o fantasma do costume volta a atacar e, até ver, com mais força. A única forma de o afastar é ganhar mais. O que nem é difícil. Bruno Lage até está em vantagem, mas não chega. Para consumo interno, já dizia Mário Wilson, qualquer treinador se arrisca a ser campeão no Benfica. O segredo estará em descobrir um Mourinho que aceite o desafio de lhe devolver o dimensão europeia que durante três décadas exibiu com reconhecido mérito e o tornou um emblema ainda hoje respeitado e admirado em tudo o mundo.

Na quinta-feira há Liga Europa. Acredito que FC Porto, Sporting e SC Braga vão passar à fase de eliminatórias. Ao Vitória de Guimarães tocou-lhe a fava, mas a visita ao Arsenal deve ser festejada. Prestigia o clube e os seus jogadores vão adorar exibi-se no relvado do Estádio Emirates."

Fernando Guerra, in A Bola