terça-feira, 15 de outubro de 2019

O maior crime de sempre em Portugal - Parte III

"Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais, muito mais coisas assustadoras!
'290. Com efeito, no dia 12 de Dezembro de 2017, pelas 22:13:56h, o arguido Rui Pinto, fazendo uso do IP 128.31.0.13 através de formas de anonimização, criou o blogue mercadobenficapolvo.wordpress.com, acessível, à data, através do URL https://mercado-benficapolvo.wordpress.com no domínio Wordpress.
291. Aquando do registo indicou como nome de utilizador 'mercadobenficapolvo' e, como endereço electrónico, 'ose-mails-dopredroguerra@tutanota.com', tendo dinamizado o conteúdo do blogue desde a sua criação, com publicações alusivas ao mundo futebolístico, como correio para efeitos de contacto'.
Dúvidas então não existem de que foi Rui Pinto que publicou as caixas de correio electrónico de todas as pessoas do Benfica que por isso foram afectadas e todas e quaisquer pessoas que trocaram e-mails com todos estes benfiquistas, eu incluído! Todos, mas mesmo todos, são lesados pela conduta de Rui Pinto.
Outra coisa bem diferente é a quem foram entregues estas caixas de e-mails? Quem tem a informação toda dos e-mails destas pessoas?

Ataque à PLMJ
255. O arguido Rui Pinto teve conhecimento deste comunicado (comunicado de quem iria representar o Benfica no processo E-Toupeira) e, em virtude do mesmo, decidiu aceder ao sistema informático e de correio electrónico da PLMJ.
256. Primeiramente, criou um procedimento capaz de obter credenciais de acesso ao sistema informático visado, sem provocar qualquer tipo de alerta para o utilizador.
257. Para o efeito, procedeu à construção de um website manipulado, em tudo semelhante a uma plataforma de download da Sapo Transfer, que, após ser activada pelo utilizador que a recepcionasse, procedia ao encaminhamento, para uma nova janela com a aparência de acesso ao e-mail via Microsoft Webmail.
258. Essa janela exigia a introdução das credenciais de acesso ao e-mail/computador por parte dos utilizadores, que, caso não notassem que a janela não era fidedigna, as introduziriam.
259. Após introdução dessas credenciais, essa informação era guardada e canalizada em formato de ficheiro para um website correspondente a http://www.jeromeismaae.com/demo/maestro135753423al423513806.html, ao qual o arguido Rui Pinto acedia através do TOR Browswe1.
260. Em execução desse plano, e por forma não concretamente apurada, o arguido Rui Pinto obteve a informação sobre o endereço de correio electrónico da colaboradora e advogada da PLMJ...
261. No dia 26 de Outubro de 2018, pelas 04:42:55h, remeteu, para o referido endereço, um e-mail do qual se extraía que o remetente era a dflisbod-lird@gov.pt com o texto incluso dizendo: 'Olá, dflisboa-dlird@-at.gov.pt enviou-lhe um ficheiro usando o SAPO Transfer' e com uma janela com a identificação de que o ficheiro iria estar disponível até 1.11.2018.
262. Nessa janela, era igualmente visível um botão denominado 'Download', que fazia crer que, através do mesmo, ficaria acessível o ficheiro que a 'dflisboa' queria disponibilizar.
266. O colaborador... identificado como externosl04, assumiu a recepção do pedido de assistência, efectuado pela advogada, e, por razões que se desconhecem, concluiu o processo de introdução das suas credenciais na janela que se abriu com o aspecto gráfico do Outlook Web - BenficaOl## -, que foram capturadas pelo arguido Rui Pinto.
267. No dia 26 de Outubro de 2018, na posse das credenciais de externosl04 e por acesso remoto, o arguido Rui Pinto entrou no sistema informático da PLMJ, com o propósito de retirar a informação e a documentação que lhe interessavam.
268. Para além disso, nesse mesmo dia 26 de Outubro de 2018, e após aceder ao sistema informático da PLMJ com as credenciais de externosl04, o arguido Rui Pinto decidiu alcançar toda a estrutura do Microsoft Office e visualizar caixas de correio dos colaboradores.
270. Nessas caixas de correio, todos os seus utilizadores continham documentos internos da Sociedade de Advogados PLMJ, sujeitos a confidencialidade, quer por se tratar de documentos/informações trocadas entre advogados e entre estes e seus clientes (no caso de utilizadores advogados), bem como documentos relativos à rede e infraestrutura informática da PLMJ (no caso de utilizadores do Departamento de Tecnologias de Informação), ou documentos contendo informação sobre clientes da sociedade, com a inclusão de elementos como o nome, número de cartão de cidadão, telefone e número de identificação fiscal (a serem tratados no âmbito do secretariado).
273. Pelas 03:11:08h do dia 27 de Outubro de 2018, o arguido Rui Pinto criou o perfil de VPN da PLMJ (Virtual Private Network) 2, com recurso ao programa Check_Point_Endpoint_Connect_R73_HFA1_For_Windows_8350000024_PLMJ.msi, sua máquina virtual, por via do qual passou a ter acesso remoto a toda a infraestrutura da rede da PLMJ de forma anonimizada, incluindo pastas partilhadas em servidores internos e websites internos com conteúdo institucional.
274. Em seguida, procedeu ao mapeamento e inventário de todos os serviços e dispositivos disponíveis na rede da PLMJ, por meio da utilização do programa Zenmap, o que lhe permitiu efectuar um reconhecimento com grau definido de profundidade da infraestrutura de rede, bem como de todos os equipamentos conectados e vulnerabilidades.
275. Em concreto, no dia 27 de Outubro de 2018, pelas 03:56:25h, o arguido Rui Pinto accionou o programa Zenmap, após ter entrado no sistema informático da PLMJ através das credenciais de externosl04, com o qual mapeou toda a range do IP 10.40.2.0 do porto 3389, do protocolo Remote Desktop Protocol (RDP).
277. Daí em diante e até ás 21:28:43h do dia 23 de Dezembro de 2018, o arguido Rui Pinto passou a conectar-se, via VPN, ao servidor LXAD032 da PLMJ.
278. Servidor este que funcionou como máquina intermediária para alcançar remotamente 119 computadores, de entre os quais computadores de colaboradores e servidores.(...)
286. Até 16 de Janeiro de 2019, o arguido Rui Pinto guardou no seu disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, 1369 ficheiros, incluindo os formatos 'doc.', 'docx.', 'xis.', 'pdf', 'video e audio', ficheiros comprimidos e '.csv', exfiltrados das pastas dos colaboradores da PLMJ.
288. No disco rígido da marca Western Digital (Elements) com o S/N WX51E944XR33, que se encontrava na residência do arguido Rui Pinto a 16 de Janeiro de 2019, concretamente no ficheiro de texto 'W.rtf', o arguido dispunha de anotações por si redigidas referentes a palavras-chave de acesso a um e-mail com domínio da PLMJ - biblioteca@plmj.pt.
289. Na posse do acesso aos elementos contidos nos computadores, dispositivos associados e correio electrónico dos advogados colaboradores da PLMJ, o arguido Rui Pinto decidiu publicar informações às quais acedeu sem qualquer autorização, no blogue mercadodebenficapolvo-wordpress.com, que havia criado.
294. Em dia anterior a 5 de Novembro de 2018, o arguido Rui Pinto acedeu ao conteúdo dos computadores dos assistentes João Medeiros, Rui Costa Pereira e Inês Almeida Costa e, de entre eles, retirou elementos relativos ao processo conhecido por 'E-Touperia': a digitalização dos autos principais, o apenso de buscas do domicílio e viaturas de Paulo Gonçalves, o apenso de buscas ao domicilio e viaturas de José Augusto Silva, o apenso de busca ao gabinete de Paulo Gonçalves, o apenso de buscas ao Estádio da Luz, o apenso de vigilâncias e a gravação dos áudios de inquirição das testemunhas Rui Pereira, Ana Zagalo, Nuno Gago e Paulo Figueiredo e o áudio do primeiro interrogatório judicial.
Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais coisas assustadoras!"

Pragal Colaço, in O Benfica

Ciclo intenso

"Na sequência da paragem para os compromissos internacionais das selecções, avizinha-se agora um novo ciclo intenso das competições futebolísticas até nova interrupção devida ao calendário FIFA, em que a nossa equipa disputará sete partidas em 23 dias. 
O primeiro destes sete jogos será já na sexta-feira, às 20h45, na Cova da Piedade, frente à equipa local, da LigaPro, englobado na 3.ª ronda da Taça de Portugal. À semelhança das restantes competições nacionais, esta é uma prova em que o Benfica se apresenta para ganhar.
O primeiro objectivo da temporada – vencer a Supertaça – foi cumprido brilhantemente e importa recordar que o Benfica é mesmo o único, entre os habituais candidatos ao título, que já tem um objectivo cumprido, sem que tenha falhado algum com perda de receitas de milhões.
No Campeonato, a nossa equipa leva seis vitórias em sete jornadas e está a apenas um ponto do líder Famalicão. O próximo jogo será em Tondela e, como sempre, lutará para somar mais três pontos. Se os actuais campeões nacionais conseguirem a 13.ª vitória consecutiva fora de portas no Campeonato, registarão a terceira melhor marca na história do Benfica. E, nesse caso, Bruno Lage chegará às 25 vitórias no Campeonato em 27 jogos, o que se constituiria como um recorde (Fernando Riera é quem tem o melhor registo, alcançando as 25 vitórias em 28 jogos).
Mas antes dessa partida em Tondela haverá ainda, no dia 23 às 20 horas, a recepção ao Lyon na 3.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões e é nessa data que a cadência de jogos se intensificará, com cinco em somente 14 dias. No dia 26, às 15 horas, será a já referida visita a Tondela. Depois, na quarta-feira, dia 30, às 20h15, será a vez de o Portimonense se deslocar à Luz e, passados três dias, sábado, dia 2 de Novembro, às 18 horas, Benfica–Rio Ave. Dia 5, às 20 horas, haverá um Lyon–Benfica. Finalmente, dia 9, às 18 horas, o sétimo e último jogo deste ciclo, o Santa Clara–Benfica.
Que venha então este ciclo de jogos para que possamos ver, apoiar e vibrar com a nossa equipa! #PeloBenfica"

E a Pantera Negra gelava ao frio da montanha

"No dia 18 de Dezembro de 1960, Eusébio, acabado de chegar ao calor de Lourenço Marques, acompanhou a equipa do Benfica, mesmo sem estar autorizado a jogar. Béla Guttmann queria que ele se fosse habituando à equipa. 'Nunca pensei que pudesse haver temperaturas tão baixas', contou-me uma vez

Benfica e Sporting da Covilhã voltarão, finalmente, a reencontrar-se. Já houve muitos jogos importantes entre os dois.
Até uma final da Taça de Portugal, favorável aos encarnados por 3-1.
E uma derrota de terríveis consequências, lá na Covilhã, que custaria um campeonato.
Posso lembrar-me de vários desafios, mas primeiro veio-me um à memória.
Eusébio tinha chegado há pouco a Lisboa.
Uma vez na Tia Matilde, do grande Ti' Emílio, queixou-se: 'Sabes lá. Nunca tinha sentido tanto frio na minha vida. Nem queria acreditar. Pensei que estava metido em grandes sarilhos se todos os jogos em Portugal fossem assim. Que não iria aguentar'.
E nem jogou.
Eusébio viera há tão pouco do calor de Lourenço Marques. Estava frio em Lisboa, mas viu-se metido num frio ainda maior. Béla Guttmann quis que o jovem recém-chegado acompanhasse a equipa na deslocação do Benfica para a 12.ª jornada do campeonato nacional, e Eusébio foi com os outros jogadores até à Covilhã. Pela primeira vez entrou no Portugal profundo e, como ele próprio conta, sentiu-se a morrer de frio.
Aí viu os seus companheiros derrotarem o Sporting da Covilhã na Estádio Santos Pinto (3-1), com golos de Águas (2) e Santana, para o Benfica, e Martinho, para o Sporting da Covilhã. Era o dia 18 de Dezembro de 1960, e Eusébio, por via das complicações burocráticas que se seguiram, só voltaria a acompanhar a equipa, mesmo sem poder ainda jogar, em Março do ano seguinte, a Évora e à Dinamarca, para defrontar o Aahrus.

O Covilhã outra vez
Os meses foram passando. Tão, tão devagar para Eusébio. Tão, tão depressa para o Benfica metido naquela azáfama da Taça dos Campeões Europeus.
De repente, ponto final nos processo, nos acórdãos, nos recursos, nos comunicados, nas exposições, nas interrupções. A transferência de Eusébio do Sporting de Lourenço Marques para o Benfica demoraria precisamente um ano a resolver-se.
Era um Maio quente, em Lisboa. O termómetro mostrava o mercúrio bem acima dos 30ºC. Eusébio não terá, no entanto, deixado de sentir o alívio próprio de uma brisa fresca. O acordo entre o Benfica e o Sporting de Lourenço Marques, definido pelo dr. Martins da Cruz e pelo dr. Campos Figueira, em representação dos clubes, era claro: através do Banco Nacional Ultramarino, o Benfica remetia à Direcção do Sporting de Lourenço Marques a quantia de 400.000$00, o clube moçambicano enviava por via aérea para Lisboa a carta de desobrigação do jogador. Datava de 10 de Maio.
Dois dias bastaram: a transferência bancária concluiu-se na quinta-feira, dia 11 de Maio; a carta de desobrigação de Eusébio chegou no sábado, dia 13.
Apesar de todos os esforços, Eusébio não jogaria a final de Berna, contra o Barcelona. Determinava a UEFA que, para poder representar um clube num encontro da Taça dos Campeões, um jogador deveria estar inscrito por esse clube num prazo de três meses antes da data de realização do encontro.
O Benfica - Barcelona seria no dia 31 de Maio.
A burocracia do 'caso Eusébio' entrava no seu estertor de morte. Cabia ao Benfica enviar ao jogador para a Federação Portuguesa de Futebol, que, através da Associação de Futebol de Lisboa, autorizaria a sua inscrição. 72 horas depois, já Eusébio poderia vestir a camisola encarnada.
E eis que o Sporting da Covilhã volta à vida de Eusébio.
José Augusto abre os braços desconsolado; está só de calções, descalço e em tronco nu nas escadas que levam ao balneário do Estádio da Luz. Não se sente bem naquela figura. Data 14 de Maio de 1961.
Germano e Neto, também em tronco nu, estão em primeiro plano. Correm sorridentes. Em segundo plano uma multidão avança das bancadas do Estádio da Luz para o relvado. Parece uma onda ameaçadora.
Benfica 8 - 0 Sporting de Covilhã.
Golos de Águas (2), José Augusto (3), Santana (2) e Coluna. Benfica campeão nacional da época 1960-61. Faltava uma jornada para terminar o campeonato.
Eusébio assiste ao jogo na bancada, na companhia de outros colegas. Este título não é seu, mas a alegria está-lhe estampada no rosto, como está estampada no rosto das pessoas que se espalham pelo átrio de entrada do estádio, à porta das cabinas, junto ao autocarro do clube. A sua apresentação ao público já tem data: dia 23 de Maio, num jogo frente ao Atlético inserido no Festival de Despedida Rumo a Berna.
Eusébio já esqueceu o frio terrível que sofrera na serra.
Um mundo de sol abre-se na sua frente..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Golos para maiores de 18

"Com o futebol a correr-lhe nas veias, o avançado só teve permissão para jogar futebol aos 18 anos

José Torres tinha o sonho de se tornar jogador de futebol, sentia 'pular em seu sangue o vírus de tão maravilhosa «doença»'. O pai, Francisco Torres, 'foi nos anos 30 um defesa valente do Carcavelinhos', e o tio, Carlos Torres, avançado do Benfica durante cinco épocas (1932/33 - 1936/37).
As intenções de Torres seriam defraudadas pelo seu pai. Francisco não permitia que o filho jogasse futebol, devido às consequências que lhe tinha trazido, 'partira as duas pernas e não falava com o seu irmão Carlos, justamente por causa da bola'. A resposta persistiu durante muito tempo. Francisco, habituado a travar duras batalhas com os avançados dentro de campo, conseguiu, de forma eficaz, dissuadir o aspirante a avançado. Contudo, Torres não desistia facilmente e a insistência viria a ter resultados. Aos 18 anos, o seu pai acabou por ceder, afirmando contrariado: 'perdi uma das maiores batalhas da minha vida... seja o que o destino quiser'.
Nas três épocas ao serviço do Desporto de Torres Novas, o avançado foi destaque nos juniores e, depois, na equipa principal. A sua qualidade fez com que Carlos acompanhasse mais de perto o percurso do sobrinho e o elogiasse a Silvério Gouveia, dirigente do Benfica. Após algumas observações, tornou-se jogador dos 'encarnados' a partir da temporada 1959/60.
Começou por disputar o Campeonato Distrital de Reservas. Na 2.ª jornada, apontou 10 golos e, na 4.ª jornada, marcou seis, motivos suficientes para merecer uma oportunidade na equipa de honra! Na sua estreia, o Benfica pressionava o Sporting da Covilhã, mas os 'leões da serra' mantinham a vantagem de 1-0, muito às custas da enorme exibição do guarda-redes. Perante o desespero de Torres, um defesa covilhanense espicaçou-o dizendo: 'tem paciência (...) no dia da minha estreia também perdi'. Todavia, o 'bom gigante' não era de se resignar. No segundo tempo, viria a empatar a partida e pouco depois Coluna garantiria o triunfo dos 'encarnados'. Esse mesmo defesa acabaria por desabafar com o avançado: 'pronto,«pá»! Lá me «roubaste» as minhas queridas coroas', fazendo referência ao prémio pela vitória. Foi o primeiro de 284 golos que marcaria ao serviço da equipa principal do Benfica em 347 jogos.
José Torres jogou de 'águia ao peito' durante 12 épocas e conquistou 16 títulos. Saiba mais sobre o trajecto deste esplêndido jogador na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

Banca perdoa dívidas ao Sporting e à clínica Maló. Perdão?

"Com tanta comissão cobrada aos clientes e perdões de dívida a empresas como o Sporting, os banqueiros ainda se admiram da reputação que têm. Comissão, perdão e reputação. Isto não é rima, é realidade.

Marcelo Rebelo de Sousa disse na sexta-feira, no encontro informal do Grupo de Arraiolos, que não está seguro de que os banqueiros tenham aprendido “as lições” da crise financeira. Não está seguro o Presidente da República, não estamos seguros nós e, aparentemente, nem estão seguros os próprios banqueiros.
Há duas semanas, numa conferência em Lisboa, Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos, afirmava que iria demorar uma década até que a banca fosse perdoada pelas “asneiras” que fez no passado e, nesse mesmo dia, Miguel Maia do BCP reconhecia que a banca tem “imensa responsabilidade” naquilo que é a sua reputação, ou falta dela.
Esta tentativa de expiar os pecados da banca e de procurar o perdão dos contribuintes que gastaram biliões a salvar bancos mal geridos esbarra de frente com notícias de perdões de milhões que a banca dá a clubes de futebol e a clínicas dentárias de luxo. Já para não falar das subidas desalmadas das comissões.

O que o Sporting tem em comum com as clínicas Maló?
As clínicas Maló passaram anos a fazer branqueamentos dentários a políticos e estrelas de televisão e agora deixaram os credores com um sorriso amarelo e sem 40 milhões de euros. O Sporting não tem dado muitas alegrias futebolísticas aos seus adeptos, mas os acionistas da SAD andam com um sorriso de orelha a orelha por terem conseguido um perdão de dívida de 94,5 milhões de euros por parte do BCP e do Novo Banco.
Mas, afinal, o que têm em comum o Sporting e as clínicas Maló? Aparentemente nada. A única relação que encontramos é esta notícia do Correio da Manhã que escreveu, no ano passado, que o Sporting terá pago a conta de tratamentos dentários de alguns familiares do então presidente Bruno de Carvalho, precisamente nessa clínica Maló. Bruno de Carvalho foi precisamente o presidente do Sporting que negociou com a banca este perdão monumental de dívida, acordo esse que ficou fechado na semana passada.
Depois de ter chegado a uma situação de insolvência, e no âmbito de um Processo Especial de Revitalização (PER), o Jornal de Negócios noticiou que o Novo Banco aceitou perdoar 25 milhões de euros dos 51 milhões da dívida da clínica Maló à instituição bancária. Até aqui, o que esta história nos conta é que quem deu o crédito não acautelou as garantias necessárias e que a atual gestão está a seguir aquela máxima do “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, ou seja, mais vale perdoar 25 milhões do que perder a totalidade dos 51 milhões emprestados.
Custa esta decisão, mas aceita-se do ponto de vista da racionalidade económica. O que não se aceita é a justificação que a instituição bancária deu: “o Novo Banco tenta apoiar, quando possível, soluções que preservem os postos de trabalho e a atividade de empresas em processo de recuperação”.
A função dos bancos, sobretudo a do Novo Banco, não é a de preservar postos de trabalho noutras empresas mas sim a de preservar o seu património com decisões de créditos ou de reestruturação de créditos racionais. Não é filantropia empresarial. Isto ainda é mais verdade para bancos como o Novo Banco que está, ele próprio, a ser alvo de ajudas públicas por parte do Estado e de outros bancos: já recebeu 4,9 mil milhões de ajuda em capital e está em vias de receber outros 3,89 mil milhões de garantias públicas para limpar os créditos problemáticos que tem no balanço. Com dinheiro dos outros é fácil ser-se generoso e mãos largas a perdoar aos devedores.

Um perdão de dívida de 70% não é um perdão, é caridade
Se o perdão de crédito à clínica dentária até pode ser compreendido do ponto de vista da racionalidade económica (o administrador de insolvência acredita que a empresa tem viabilidade financeira), o perdão à SAD do Sporting não se percebe, nem do ponto de vista económico, nem moral.
Ficou fechado na semana passada mais um acordo de reestruturação de dívida do Sporting ao Novo Banco e ao BCP e, dos 135 milhões de euros que a SAD devia à banca, apenas terá de desembolsar 40,5 milhões, ou seja, estamos a falar de um perdão de 94,5 milhões. Um perdão de dívida de 70% a troco de nada não é um perdão, é caridade.
No âmbito deste acordo, anuncia o Sporting à CMVM, a SAD conseguiu ainda que a banca baixasse a exigência do valor que o clube tem de colocar de parte sempre que vende passes de jogadores ou liberta cash flow (para pagar a dívida que ainda resta). Em troca do perdão e destas facilidades, a SAD terá regularizado as “obrigações pecuniárias vencidas” e que já estavam em incumprimento. Quanto? Ninguém diz. Provavelmente por vergonha.
Os VMOC (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis em capital) foram uma invenção da banca para empurrar com a barriga o problema da dívida do Sporting. Como já em 2010 a SAD não conseguia honrar os seus compromissos, a banca aceitou converter esse endividamento nos tais VMOC, que são instrumentos financeiros que podiam ser transformados em ações caso o Sporting falhasse o pagamento da dívida.
O primeiro VMOC foi feito em 2010, ainda no tempo de José Eduardo Bettencourt (no valor de 55 milhões) e o segundo em 2014, no âmbito de um novo acordo de reestruturação financeira (mais 80 milhões de euros). São estes VMOC que nunca foram pagos e que perfazem a dívida de 135 milhões que a banca aceitou agora perdoar em 70%.
Apesar dos VMOC permitirem à banca ficar com a maioria do capital do Sporting (que poderia depois vender, tal como fez com as clínicas Maló que foram alienadas a um fundo de ‘private equity’), o Novo Banco e o BCP nunca quiseram convertê-los em capital e preferiram antes perdoar a dívida do Sporting. E já foram vários os perdões:
a) em 2016 aceitaram alongar a maturidade desses VMOC em dez anos;
b) em 2014, como o Sporting não conseguiu encontrar o investidor privado que prometeu à banca para injetar 18 milhões de euros, foi a própria banca novamente a emprestar mais dinheiro;
c) e, finalmente, agora o Novo Banco e o BCP resolvem abdicar de receber 70% do dinheiro dos VMOC que o Sporting não pagou, sem sequer exigir em troca uma fatia do capital da SAD.

Perdão rima com comissão e reputação
O Estado, que detém 25% do capital do Novo Banco, devia exigir explicações sobre este negócio. Não faz muito sentido que os contribuintes andem a injectar milhões todos os anos no Novo Banco para depois o banco estar a dar perdões a clubes de futebol que são mal geridos e que não honram o serviço da dívida.
Para tapar os buracos que estes perdões deixam nos balanços, a banca tem pedido dinheiro público ou carrega nas comissões cobradas aos clientes. Se antes o negócio dos bancos era pedir emprestado e emprestar dinheiro, ganhando dinheiro com a diferença, ou seja, com a margem financeira, agora com os juros negativos o negócio mudou. A banca agora ganha dinheiro nas comissões que nos cobra para guardar o nosso dinheiro ou para que o possamos movimentar.
Ainda na semana passada o ECO noticiou que a CGD prepara-se para um novo aumento de comissões. Além de passar a cobrar pela utilização do MB Way, o banco público vai aumentar as comissões numa série de serviços: nas contas pacote mais baratas, nas actualizações das cadernetas nos balcões, no levantamento de dinheiro no balcão, no processamento da prestação da casa, na requisição de cheques e no aluguer de cofres.
Este aumento acontece depois de os portugueses terem injectado mais de 4 mil milhões de euros desde 2011 no banco público e numa altura em que a Caixa se prepara para apresentar lucros recorde (só nos primeiros seis meses do ano foram 417,5 milhões). Estamos a falar da Caixa onde as comissões ainda são das mais baratas. Imaginem-nas nos outros bancos.
Paulo Macedo disse que vai demorar uma década até a banca ser perdoada pelas “asneiras” que fez no passado. Com tantas comissões e perdões, se calhar os banqueiros vão ter de esperar mais do que uma década pelo perdão dos portugueses pelas asneiras que fizeram e que ainda estão a fazer. Com tantas comissões e perdões, admirem-se da reputação que têm. Ou melhor, que não têm. Isto não é rima, é a realidade.
Se é para ser filantropo não o sejam com as clínicas Maló ou com os Sportings desta vida. Sejam com os vossos clientes que estão a pagar comissões exorbitantes, nunca tiveram perdões de dívida, e muitas vezes nem sequer têm dinheiro para ir ver um jogo de futebol ou para ir fazer fazer um tratamento dentário."