segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O advogado do diabo Lage

"Em Outubro há já uma espécie de campanha contra Bruno Lage. O clássico provocou dúvidas na equipa campeã, a Europa acentuou as de dirigentes e adeptos, e os nomes de Samaris, Cervi e Zivkovic dão tom mais pesado à acusação. Lage não é diferente e carrega os vícios da profissão. Acredita na ideia e no trabalho que o fará vingar. A virtude, que é ao mesmo tempo defeito profissional, leva-o a aceitar termos sem pensar duas vezes, facilitando a vida dos dirigentes, que adoram percorrer caminhos em que nunca sejam responsabilizados.
O espírito crítico faz com que dê sempre o benefício da dúvida ao treinador. O do Benfica terá achado que não precisava de um novo Félix, mas curiosamente defendeu que Vlachodimos beneficiaria de alguém que com ele competisse pela baliza. Se isto continuar a fazer sentido então acreditamos que há capacidade de contratar para Portugal jogadores desta qualidade. Ou então é apenas demasiado fácil fazer saber que Lage não quis.
Tudo isto, em Outubro, é tremendamente absurdo. Uma aberração.
O plantel está montado apenas para consumo interno e, da última época para cá, perdeu dos melhores a jogar entre linhas como Félix, sofreu com as lesões de Gabriel e Florentino, e passou a sentir mais dificuldades em chegar ao golo, com a pior versão de Seferovic. E há ainda que esperar que a poeira assente. A inexplicável má forma de Samaris parece confirmar que a última época foi excepção e não regra, e Cervi luta muito para proteger Grimaldo, mas não dá profundidade com bola. Já Zivkovic ainda há muito a tentar convencer treinadores sem sucesso e talvez já tenha desistido de tentar. Só quem vê os treinos saberá.
Os que já não querem Lage sonharão com Jesus, que até teve plantéis bem mais ricos que o actual, e que ganhou mas também perdeu. Tudo isto, em Outubro, é tremendamente precipitado. Uma aberração."

Luís Mateus, in A Bola

A insustentável leveza da presidência

"No pós-João Rocha, sete (!!!) presidentes do Sporting não concluíram os mandatos. Uma forma de estar autofágica, que ameaça repetir-se

Os sinais que chegam de Alvalade apontam a forte possibilidade de haver eleições antecipadas, num clube que está partido a meio e não encontra forma de sararas feridas. Neste momento, com inimigos irredutíveis, vindos do brunismo e das claques, e com os seus votantes a vacilarem na militância, Frederico Varandas depende demasiado dos resultados da equipa de Jorge Silas, o que configura uma situação de extrema volatilidade. É evidente que a escassa vocação mediática do presidente também não ajuda a causa, e o desnorte visto na última assembleia geral, com beijos a voar para as bancadas, pinta bem o quadro de um clube à beira de um ataque de nervos. Mas, sejamos claros: há uma reestruturação financeira tornada pública (independentemente das queixas à CMVM...) e não valerá muito a pena persistir na identificação dos erros associados à construção da equipa de futebol, o que está feito, está feito. Acima de tudo, o Sporting precisa de estabilidade que decorrer do normal cumprimento das legislaturas. E, se a memória não me falha, no pós-João Rocha, Jorge Gonçalves, Pedro Santana Lopes, José Roquette, Dias da Cunha, José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno Carvalho não concluíram os mandatos e o clube foi para eleições antecipadas. É essa situação, tão presente na vida dos leões, que agora volta a perfilar-se, com os danos que avanços e recuos sempre causam, especialmente numa conjuntura tão periclitante como o que é vivida em Alvalade.

Portugal, joga hoje, na Ucrânia e tem a possibilidade de carimbar já o passaporte para a fase final do Euro-2020, o que representará a sétima participação seguida das nossas cores neste certame, onde são contabilizados, neste período, dois terceiros lugares (2000 e 2012), um segundo (2004) e um primeiro (2016). Depois de uma arbitragem desastrada (a falta que o VAR fez...) no encontro com os luxemburgueses, que terá impedido Cristiano Ronaldo de atingir a marca extraterrestre de 700 golos em jogos oficiais de seniores, em Kiev volta a abrir-se uma janela para que tal feito seja alcançado com a camisola das quinas vestida. Sem que nada me mova contra a Juventus, era mais bonito assim...

PS - Rui Patrício voltou a Alvalade, um regresso de bom filho...

Ás
Ricardo Leite Pinto
Vice-chanceler da U. Lusíada, Mestre em Direito e Doutor em História, Ricardo Leite Pinto descobriu, na Torre do Tombo, numa pesquisa para uma tese sobre as publicações infantojuvenis no Estado Novo, um projecto, de 1952, de A Bola Infantil, que não chegou a ver a luz do dia. Grande contributo para a história do jornalismo...

Ás
Arthur Nory Mariano
O nível médio do desporto brasileiro subiu bastante, após a implementação do programa olímpico que culminou com os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Ontem, em Estugarda, o atleta brasileiro Arthur Nory Mariano sagrou-se campeão do mundo de barra fixa, exemplificando a nova realidade canarinha pós Rio-2016.

Duque
Tite
Depois de conquistar a Copa América (7 de Julho de 2019) a selecção brasileira disputou quatro jogos, perdeu um (Peru) e empatou os restantes três (Colômbia, Senegal e Nigéria). Entretanto, Tite, que tirou o escrete da crise, dá sinais de desagrado pela política em torno da equipa e perdeu o estado de graça junto aos media.

Que mal fez José Alvalade ao Sporting?
«(Estádio Cristiano Ronaldo) é uma hipótese que não deixamos de lado e da qual obviamente teríamos muito orgulho»
Frederico Varandas, presidente do Sporting
José Alfredo Holtreman Roquette, neto do Visconde de Alvalade e conhecido como José Alvalade, foi fundador e primeiro sócio do Sporting Clube de Portugal. Em 1956, os leões homenagearam esta figura ímpar, dando o seu nome ao estádio que tinham acabado de inaugurar; em 2003, foi decidido manter a designação para o novo anfiteatro. Mudar agora de nome?

'Squadra azzurra' com pressa de qualificação
Quatro vezes campeã do mundo, também vencedora de um Europeu, a Itália foi a ausência mais notada do último Mundial, disputado na Rússia. Mas, com três jornadas de avanço, a squadra azzurra já marcou presença no Euro-2020 e os tiffosi suspiraram de alívio. A primeira missão de Roberto Mancini está cumprida...

O Homem da Maratona
O queniano Eliud Kipchoge, de 34 anos, correu a maratona de Viena em menos de duas horas (1.59.40h), quebrando assim uma barreira que parecia para lá dos limites humanos. É certo que teve um percurso escolhido a dedo, o apoio de 41 lebres, uns ténis futuristas e o ritmo marcado por tecnologia laser, pelo que a IAAF não homologou a marca como recorde do mundo. Porém, ficou a saber-se que a missão não é impossível e, mais ano, menos ano, numa maratona convencional, alguém dobrará este cabo das tormentas. A INEOS, um gigante da petroquímica, associada, no desporto, à vela e ao ciclismo, e a Nike, investiram neste projecto, de matriz Red Bull, 25 milhões de euros, uma ninharia quando comparados com o retorno mediático planetário que trouxe para as marcas."

José Manuel Delgado, in A Bola

No pasa nada: o desporto português à lei da bala

"Acordou, levantou-se e logo pisou aquela peça de LEGO, cujas arestas confluem no vértice que perfura o pé calejado do desporto em Portugal.
O comum adepto pouco percebe de acórdãos, jurisdições e enquadramentos penais. Percebe de golos, fintas e foras-de-jogo. Se calhar, da última nem tanto, por VARiadíssimas razões.
Incluo-me no cada vez menos abrangente lote de adeptos comuns. A vós me confesso leigo no que refere a matérias que envolvam togas e leis. Sem prejuízo dos meus parcos conhecimentos do poder legislativo e judicial, não preciso de empunhar uma balança na mão esquerda ou dos olhos vendados para descortinar o bem do mal.
Uma plataforma digital, de passarinho branco em fundo azul, trouxe-me a notícia de que o Tribunal da Relação de Lisboa defende que “comportamentos reveladores de baixeza moral são de alguma forma tolerados na cena futebolística”, descriminalizando o insulto e as ofensas; deste modo, o enquadramento penal de injúrias não será tido nem achado, porque falamos de um jogo de futebol, andebol ou pólo aquático.
Entrando em considerações existencialistas, porque gosto de escrever sobre o que domino, parece-me que esta decisão dos juízes da 9ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa é o perpetuar de um legado de sentenças que afastam dos recintos quem se comporta condignamente.
Por experiência – enquanto atleta federado durante um par de anos – e por constituir parte interessada e atenta ao fenómeno, noto que a educação está de forma constante em off-side nas bancadas. Se no campo a história é outra, fora dele são cada vez mais comuns os laivos de raiva e os assombros de frustração que descem em forma de sinapses do córtex para as extremidades do corpo e da língua. 
Quem resolveu vir a terreiro foi José Manuel Constantino, através da sua página pessoal de Facebook. Numa intervenção em que recorreu aos recursos estilísticos para estabelecer um paralelismo entre um recinto desportivo e um off-shore, o Presidente do Comité Olímpico de Portugal pareceu mais preocupado em deixar uma bicada política na ressaca das legislativas do que em contrariar este acórdão.
O desporto é, inequivocamente, um monopólio de emoções e deve ser encarado com rivalidade e competitividade. No entanto, o extrapolar de comportamentos aceitáveis, aliado à permissividade latente das leis que tratam da saúde desportiva portuguesa, não auguram um futuro auspicioso.
Cabe a quem gosta do jogo pelo jogo tentar mudar comportamentos e mentalidades, começando pela forma como olhamos e tratamos o outro fora dos estádios e pavilhões.
Não sou pai, nem sequer tenho muitos medos físicos. Mas sou filho, irmão, amigo e colega. No fundo, sou um comum adepto de futebol que deseja, apenas, sentir-se inseguro quando o adversário ataca a sua baliza."

O Acórdão

"Afinal, insultos entre agentes do futebol até podem ser "toleráveis". Por mais estranho que pareça há tribunais que veem os recintos desportivos como uma excepção na sociedade.
A revelação foi feita pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, e é demonstrativa de que algo não bate certo na forma como a Justiça encara o que se passa no mundo do futebol.
Em síntese, durante um jogo, um delegado insultou - em termos que nem vale a pena reproduzir - um treinador. O técnico entendeu que aquilo tinha passado todos os limites e avançou para os tribunais alegando "crimes de injúria e ofensa à honra".
Repare-se que não estamos a falar de uma reacção intempestiva de um jogador para com outro no chamado calor do jogo. Seria sempre reprovável, mas pode ser relativizado em função do "duelo" desportivo que decorre. Aqui, o cenário é muito diferente, pois tratou-se de um delegado no exercício da sua função - cujas responsabilidades são muito maiores do que as de um treinador ou jogador e que nem sequer é actor no relvado - que se achou no direito de dizer a um treinador aquilo que de mais ofensivo lhe passou pela cabeça.
A primeira instância deliberou que o caso não deveria ir a julgamento e o Tribunal da Relação de Lisboa também. Fizeram o seu trabalho, é para decidirem estas coisas que eles existem. Ora, não havendo necessidade de julgamento (que podia dar condenação ou absolvição, obviamente), aquilo que se espera nestes casos é que o acórdão tenha argumentos inquestionáveis de forma a que a sociedade perceba que aquela era mesmo a opção correta.
Simplesmente, a surpresa está exactamente neste ponto. Socorrendo-me da transcrição feita pelo Jornal de Notícias, verifica-se que os juízes entenderam que, enquadrando as expressões no mundo do futebol "em particular", não podem ter a mesma leitura ou interpretação que em qualquer outra área da sociedade.
Sim, "traduzem um comportamento revelador de falta de educação e de baixeza moral e contra as regras da ética desportiva", mas não vem daí grande mal porque tal comportamento (atente-se) "mesmo socialmente desconsiderado, é também ele, de alguma forma, tolerado nos bastidores da cena futebolística".
Aliás, o TRL até arruma o assunto acrescentando que o comportamento do individuo em questão pode "ser eventualmente sancionado disciplinarmente", mas não "penalmente". Dito de outra forma, aquilo que pode ser crime fora do futebol, de certeza que não o é dentro do futebol. Bem pode José Manuel Constantino contrapor que "os recintos desportivos não podem ser um offshore onde se pode praticar o que no exterior é criminalizado".
Bem podem os pais, os professores, alguns dirigentes (como a campanha promovida pela Federação Portuguesa de Futebol) tentarem explicar às crianças e aos jovens que estes comportamentos são socialmente inaceitáveis no contexto desportivo. E - ainda pior - também de nada serve qualquer actuação da justiça desportiva, porque não faz o menor sentido punir algo que os tribunais consideram ser tolerável no meio em causa.
É de lamentar que um tribunal faça esta separação entre o futebol e o resto, como se estivéssemos a falar de estados diferentes. Ainda por cima porque o futebol tem-se posto a jeito para ser encarado como um mundo à margem, tentando passar a ideia de que a sociedade "tem" de aceitá-lo obrigatoriamente tal como ele é. Ora, esta deliberação não ajuda nada a combater o conceito. Pelo contrário, deixa a porta (tranquilamente) aberta para se aproveitar a onda.
É verdade que, no futebol português, há coisas bastante mais graves do que os insultos, algumas delas à espera de resoluções na Justiça. Além de que a aplicação da própria justiça desportiva, sobretudo no futebol profissional, é um poço sem fundo de polémicas, com regulamentos, no mínimo, muitíssimo discutíveis.
Só que, pela primeira vez (que se saiba), um tribunal assume que o universo da bola é naturalmente tolerante em relação a certas práticas e, por isso, o melhor é deixar tudo como está.
Esta semana estreou uma série no Discovery, intitulada "Why We Hate", produzida por Steven Spielberg, que certos juízes deviam ver. Talvez percebam que há pequenas coisinhas que, deixadas passar em claro, podem gerar problemas de grande dimensão. Até inimagináveis face à forma como começaram."

Uma crónica para os heróis esquecidos

"Coco Gauff é uma tenista norte-americana. Tem apenas quinze anos e ontem conquistou o primeiro título da carreira, em Linz, na Áustria. É a mais nova campeã num torneio do WTA desde Nicole Vaidisova, que em 2004 ganhou em Vancouver, e a mais jovem norte-americana desde que Jennifer Capriati conquistou um torneio em 1991. É também a mais jovem a entrar no top-100 desde 2005, quando a búlgara Sesil Karatantcheva integrou a elite. Um feito é um feito e eu confesso o meu vício por estatísticas, mas o que me chamou a atenção ao ler a notícia do triunfo da jovem Coco Gauff (e digam lá que não há nomes que já são uma certeza de glória) foram aqueles nomes, agora esquecidos, das suas antecessoras.
Nicole Vaidisiova? Nunca ouvi falar. Sesil Karatantcheva? Ainda menos. Caso um pouco diferente foi o de Capriati que, mesmo assim, ainda teve de descer ao inferno antes de reaparecer e concretizar o muito que tinha prometido na adolescência. E lembrei-me também da “nossa” Michelle Larcher de Brito. Lembram-se? Há uns anos era a grande esperança do ténis feminino em Portugal. Semana sim, semana não, lá vinha uma reportagem ou uma notícia sobre Michelle, a academia de ténis de Nick Bolletieri, os gritinhos no court. Entretanto, Michelle desapareceu e ainda não passou o tempo suficiente, o período de nojo da fama efémera, que justifique um trabalho jornalístico do género “O que é feito de si?” Bem, para vos satisfazer a curiosidade posso adiantar que Michelle Larcher de Brito abandonou os courts e é agora treinadora. Até que surja um novo fenómeno, continuará a ser a melhor tenista portuguesa de sempre.
O que eu queria dizer é que na voragem das notícias e do último resultado cometem-se grandes injustiças. Nelson Évora, por exemplo. É, sem qualquer dúvida, um dos nossos mais extraordinários atletas de sempre com resultados que lhe garantem um lugar cimeiro na história do desporto português. Para mim, quase tão inacreditável como a medalha de ouro em Pequim foi a medalha de bronze nos mundiais há dois anos ou a medalha de ouro nos europeus de 2018 depois do calvário das lesões, provas de um estofo competitivo raríssimo. Porém, bastou um resultado mediano nestes últimos mundiais – a idade começa a pesar e a meta mágica dos 18 metros provavelmente nunca será alcançada – para que Nelson Évora desaparecesse das manchetes e fosse arrumado na categoria a que os ingleses chamam “has been”, aqueles que foram grandes, mas já não são.
Acontece que Nelson Évora será sempre grande, enorme, e vê-lo a competir aos 35 anos entre os melhores não devia servir como lembrete da sua decadência, mas como sinal inequívoco e raro da sua grandeza, da sua excelência. Se isto acontece a um dos nossos raros campeões olímpicos, imagine-se o que espera os outros. Há dias, numa daquelas declarações de populismo inócuo em que costuma incorrer, o Presidente da República disse que Rosa Mota era mais importante que todos os governos. Descontando o exagero presidencial, marcelático, sabe bem ver reconhecida a excelência desportiva de uma atleta como Rosa Mota, cujo currículo poderá parecer aos mais jovens uma página de ficção científica de pendor nacionalista saída de um daqueles livrinhos de propaganda patriótica destinados a transformar o mínimo feito numa gesta incomparável.
A verdade é que aquela mulher foi campeã olímpica, mundial, europeia, venceu por três vezes a maratona de Boston e muitos de nós tivemos a sorte de sermos seus contemporâneos e de termos testemunhado, ao vivo ou na televisão, quase todos esses feitos. Que sorte a minha, que sorte a nossa, de ter visto a Rosa da Foz a acelerar pelas ruas de Roma em 87 ou a arreganhar os dentes para a sua última grande conquista internacional nos Europeus de Split, em 1990. Mas se Rosa Mota é, pela dimensão mundial dos seus feitos, indiscutível e uma presença viva na nossa memória colectiva, há muitos outros que, mesmo tendo alcançado resultados de grande valia, foram atropelados pelo tempo, atirados para as estantes escondidas. Falo de Domingos Castro e da sua medalha de prata naqueles mundiais de Roma, de Mário Silva e da inesperada medalha de bronze conquistada em Split ou do nosso super-homem Mário Aníbal, hoje num regresso lateral à ribalta graças à fotogenia da filha actriz.
Falo de mulheres campeãs do mundo como Manuela Machado ou Carla Sacramento, que podem não valer todos os governos de Portugal, mas certamente valem umas valentes dúzias de ministros. Falo de Albertina Machado e de Conceição Ferreira. Falo de Carlos Calado, que abriu as portas das medalhas nas disciplinas técnicas. Falo também de muitos que não conseguiram medalhas e que, apesar disso, me enchiam de orgulho sempre que os via em pista nas grandes competições: Lucrécia Jardim, o meu vizinho Edivaldo Monteiro, o esforçado varista Nuno Fernandes, e tantos, tantos outros que têm um lugar reservado no meu modesto panteão pessoal.
Talvez a conquista de Coco Gauff seja o início de uma carreira brilhante, talvez daqui a uns anos esteja ao nível de uma Serena Williams ou, a exemplo de Simone Biles, que também este fim-de-semana voltou a fazer história na ginástica, alcance resultados que inscrevam o seu nome na galeria dos maiores. Ou talvez nunca venha a atingir as alturas que o seu talento precoce promete. Talvez se reforme antes dos 25 anos e se dedique a treinar novos talentos. Porém, é nosso dever, enquanto adeptos de desporto e admiradores dos exemplos de excelência que estes atletas nos oferecem, reafirmar que nem tudo se perde na tal voragem mediática em que só parece contar o último resultado. É que na nossa memória nem tudo o que reluz é ouro. Às vezes é apenas prata, como a de Carla Sacramento em Budapeste, ou bronze, como o bronze tardio agora outorgado a Naide Gomes. Às vezes nem sequer é nenhum metal. É apenas a recordação do suor e do esforço, mas também ela rebrilha."

Fórmula Netflix

"Este ano estive em Imola, precisamente na zona em que Ayrton Senna perdeu a vida em 1994, onde existe há uma pequena de estátua de bronze do tricampeão do mundo. O caminho entre a estação de comboio e o parque onde está o autódromo é longo e aborrecido, mas Senna foi o maior e quis lá ir. Itália é muita coisa e também um destino muito especial para a Fórmula 1, Maranello é ali perto, Modena também.
No local, pendurados na rede que separa o autódromo do parque há dezenas de bandeiras, t-shirts, cartões e diversas mensagens tocantes de fãs de todos os países imagináveis. Em silêncio, pensei em Senna, um campeão que também foi um salvador para os brasileiros nos difíceis anos 80 e 90. As imagens do seu cortejo fúnebre que existem no You Tube são qualquer coisa de extraordinário.
Para o meu filho, que é louco por Fórmula 1, sabe tudo, acompanha tudo e vê tudo, o impacto de visitar o local da morte de Senna, em plena competição, esteve longe de ser o mesmo. Para ele, Senna é um dos campeões do passado, como Fangio, Prost ou Schumacher, para falar de gerações completamente diferentes. Também por isso, a conversa do “desde que o Senna morreu que não vejo uma corrida”, que oiço tantas vezes quando me esquivo a almoços de domingo porque quero ver corridas, não faz sentido nas novas gerações.
A série documental da Netflix, Drive To Survive, está a ajudar a mudar a base de fãs da Fórmula 1. Segundo esse barómetro sempre tão certeiro que são as pessoas que nos são próximas, o meu filho tem-me dito que vários colegas dele adolescentes têm aderido em força à Fórmula 1 desde que viram a série. Lançada no princípio deste 2019, esta produção apresentou o circo a uma nova geração que não faz ideia quem era Senna ou Prost, quanto mais Piquet, Mansell, Vettel ou Raikkonen.
Ajuda que em 2018 tenham surgido novos protagonistas, em especial esse futuro campeão Ferrari que é Charles Leclerc (que brilha na série) e ajuda que muitos dos novos pilotos da Fórmula, como Lando Norris ou George Russell tenham contas nas redes sociais criativas, de partilha e comunicação com os fãs e não meras reproduções de uma vida artificial ou comercial. O espantoso é que a primeira temporada nem sequer conta com as equipas de ponta, mas mesmo assim milhares e milhares de miúdos em todo o mundo passaram a seguir o circo.
Há uma segunda iteração a ser produzida, já com Ferrari e Mercedes, e é provável que esta decisão dos detentores da F1 e das equipas, a de abrirem as portas à televisão, tenha sido uma das melhores decisões de sempre numa modalidade desportiva que completou mil corridas na China, em Abril.
Na conquista de novos públicos para este desporto, acresce que alguns destes novos pilotos desenvolveram-se literalmente através dos simuladores, seja em Playstation, seja em ambiente PC, em jogos que qualquer um pode jogar em casa. Lando Norris ou Max Verstappen costumam correr entre eles, em simulador, muitas vezes a seguir às corridas, e partilham as corridas com os fãs, em vídeos no YouTube, como milhões de outros miúdos e graúdos por todo o mundo.
Talvez porque os deuses também estejam fartos da conversa “desde que o Senna morreu que não vejo uma corrida”, a época de 2019, em especial a partir do primeiro terço da temporada, tem sido magnífica, com corridas emocionantes, intensas e imprevisíveis, de não se conseguir ficar sentado, com competição a sério da primeira à última volta. A Mercedes voltou a vencer o Mundial, pela sexta vez seguida, mas é porque é a melhor e faz por ser a melhor. E porque a F1 sempre, insisto sempre, viveu de hegemonias.
Durante décadas, a F1 pertenceu a Bernie Ecclestone que achava ótimo que a idade média do espectador das corridas fosse acima dos 50 anos e ignorava por completo a internet e a chamada social media. Há uns anos, Bernie vendeu a F1 à Liberty que, por ser americana, foi recebida com desconfiança por fãs, equipas e comentadores. É de lembrar que a F1 é uma modalidade de raiz europeia, assente numa linhagem nobre dos garagistes, de Enzo Ferrari a Frank Williams, cujas equipas eram constituídas por meia dúzia de mecânicos sempre de cara mascavada de óleo, que corriam à maluca, com vários pilotos a morrer todos os anos, em desastres horrendos.
Hoje, a F1 é uma indústria de ponta, muito complexa, onde a segurança é fundamental . E não, não se transformou numa americanice cheia de extravagâncias. Pelo contrário, mantém um certo verniz próprio dos gentlemen que a Liberty está a saber aproveitar. A F1 é elite, continua a ser a categoria número um do desporto automóvel, uma marca global, com cada vez mais provas (no próximo teremos 22 corridas) e agora tem direito a série Netflix e pode ser seguida pela internet de inúmeras formas.
Do ponto de vista do que é como categoria, os Fórmula 1 continuam a ser “single seaters” (ou seja, os carros só têm o lugar do piloto) com “open wheels” (ou seja, a carroçaria nunca cobre os pneus), onde todos os carros são diferentes, ainda que possam partilhar a unidade de potência e há quatro, Renault, Mercedes, Honda e Ferrari.
Esta frase, todos os carros são diferentes, é o fundamento da F1. Literalmente, a meses de se começar a época, todas as equipas recebem um livro de regras que têm de cumprir, que incluiu pormenores tão específicos como o tamanho dos espelhos retrovisores e a que distância do habitáculo do piloto podem estar montados, e a partir daí fabricam um carro novo, onde montam a unidade motriz correspondente, que mistura combustão com baterias carregadas em corrida. Vivemos, desde 2014, a era híbrida, os carros têm motores V6 turbo, com sistemas de recuperação de energia e combustível limitado a cerca de 100 quilos, numa decisão que teve muito de mensagem ambientalista e que faz com alguns fãs clássicos ainda rosnem pelos V8 e pelos V12.
O que é espantoso é que dentro dessas regras, os fabricantes de motores vão lançando actualizações e os engenheiros e as equipas fazem evoluir os carros de corrida a corrida, o que torna a F1 num campeonato imprevisível. Antes da pausa de verão, em agosto, a Ferrari não vencera ainda um grande prémio e já se apostava que não conseguiria e eis que quando regressa o Mundial, a marca italiana ganha três de seguida, incluindo em Monza.
Em rigor, as equipas nunca sabem porque é que os seus adversários são mais rápidos, e falamos de diferenças de décimos de segundo, e tentam adivinhar. Erros cometidos no desenho do carro pagam-se caro, como tem acontecido na Williams, que é a última do pelotão apesar de ter o melhor motor. Estará a Williams melhor em 2020? Ninguém sabe e esse é um dos fascínios desta modalidade.
A acusação que são sempre os mesmos a ganhar é confirmada pelos factos, mas usar essa medida para desdenhar a F1 é a mesma coisa que não ficar empolgado com eleições porque vencem sempre os mesmos partidos ou não ver a Champions porque no fim ganham sempre os mais ou menos mesmos. Além disso, na Fórmula 1 sempre ganharam os mesmos, sempre houve domínio, mesmo nas épocas mitificadas de Lauda, Piquet, Senna, Prost, para não falar de Schumacher. Agora domina a Mercedes, como antes dominava a Red Bull e antes disso a Ferrari. E já dominaram a Mclaren e a Williams.
A principal razão por que as pessoas acham que não gostam de Fórmula 1 é porque perderam o hábito. Antigamente era ritual em canal aberto na hora de almoço de domingo de muitas famílias, também porque só havia dois canais. Hoje, as corridas são muito mais bem filmadas, temos acesso a muito mais informação, incluindo as comunicações dos pilotos com as suas equipas e gráficos de todo o tipo e até há uma app da própria Fórmula 1 onde se podem ver as corridas todas.
Na nova F1, um dos desportos que melhor está a encaixar no ritmo que as redes sociais vieram impor ao mundo, há todo um ecossistema incrível em redor da Fórmula 1. Quase tão bom como ver as corridas é poder ouvir balanços e reviews nos imensos podcasts e até as declarações honestas, directas e explicativas dos protagonistas. Alguns destes podcasts, como Missed Appex ou Beyond The Grid, são escutados por milhões de pessoas, existindo um genuíno gosto construtivo na partilha entre os fãs e adeptos. De há dois ou três anos, não há um dia que não converse com o meu filho sobre Fórmula 1 ou não partilhemos mensagens sobre incidências, novidades, questões técnicas ou de pilotos e deixámos de o fazer sobre futebol.
No próximo ano haverá 22 corridas pela primeira vez e em 2021 voltam a mudar os regulamentos, numa tentativa de nivelar todos os competidores. É de supor que a nova temporada da série da Netflix, que sairá em Fevereiro, contribua para atrair ainda mais público jovem. Se a fórmula resultou, não há razões para não continuar com a fórmula."

Balanço positvo

"Esta tem sido uma temporada pródiga para as nossas cores no que diz respeito à conquista de Supertaças, em que quase atingimos o pleno dos troféus para os quais garantíramos, na época passada, o direito de disputar (seis considerando futebol e modalidades de pavilhão).
Ganhámos cinco (masculinos: futebol e voleibol; femininos: futebol, futsal e hóquei em patins). Os restantes vencedores foram, nos masculinos, FC Porto (andebol, basquetebol, hóquei em patins) e Sporting (futsal) e, nos femininos, Colégio de Gaia (andebol), Olivais Coimbra (basquetebol) e Academia José Moreira/FC Porto (voleibol). No cômputo geral, Benfica 5 (entre as quais se destaca, naturalmente, a de futebol), FC Porto 4 e os restantes uma cada.
A mais recente conquista coube à nossa equipa de voleibol, que venceu brilhantemente, por 3-0 (25-14; 25-18; 25-22), a Fonte do Bastardo na Supertaça. Foi o oitavo troféu da Supertaça ganho nas últimas nove temporadas. A este juntam-se cinco campeonatos em sete épocas e seis Taças de Portugal em nove anos. Estes números são inequívocos quanto ao domínio benfiquista da modalidade na última década.
O treinador Marcel Matz afirmou, no final da partida: “A competência dos jogadores é muito grande, eles têm muita experiência, conhecem o jogo, são inteligentes e quando temos de nos organizar, normalmente eles respondem muito bem.” E concluiu com a manifestação natural e ambiciosa de quem comanda uma equipa do Benfica: “Queremos ganhar tudo.”
No vólei, além deste troféu da Supertaça que já tem lugar reservado no Museu Benfica – Cosme Damião, há ainda a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional, ambas também ganhas na época passada. É com vista a novo triplete que a nossa equipa trabalha arduamente, assim como à melhor participação europeia possível, que iniciará com a pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, a prova mais importante do quadro competitivo europeu ao nível dos clubes.

P.S. Hoje, às 19h45, a Selecção Nacional de futebol disputará uma partida importante na Ucrânia frente ao líder do grupo, que poderá determinar o apuramento para o Euro 2020. Desejamos boa sorte à “equipa de todos nós” e confiamos que conseguirá obter um bom resultado esta noite."

Cadomblé do Vata (homenagens!)

"1. Frederico Varandas não exclui a hipótese de alterar o nome do Estádio de Alvalade, substituindo o nome de um fundador do clube pelo de um atleta que marcou 5 golos em 31 jogos com a camisola verde e branca... se isto faz escola, não se admirem se daqui a uns anos o SL Benfica jogue na condição de visitado, no Estádio Azar Karadas que em 36 jogos de águia ao peito, facturou 6 golos. 
2. O perdão de 100 milhões da banca ao Sporting CP já caiu no esquecimento dos comentadores de futebol nacional... uns porque sendo adeptos do clube não lhe interessa falar no caso, outros como a Dra. Ana Gomes porque possivelmente estarão à espera de algum perdão da dívida do operador de internet, para comentarem a situação.
3. O seleccionador de Marrocos disse que Taarabt foi para a selecção, contrariando as indicações do Benfica... é por isto que Adel diz que o Benfica foi a melhor coisa que lhe aconteceu... por mais que esteja em falta com o clube, logo aparece alguém a desculpá-lo.
4. A 13 jornadas do final do Brasileirão, o Flamengo de Jorge Jesus segue com 8 pontos de vantagem e em Portugal já todos dão o amadorense como campeão... eu sei que já vi isto em qualquer lado, mas onde... onde?
5. Hoje nas redes sociais não faltam adeptos do Benfica a parabenizar Toni pelo seu aniversário... irritam-me estas pessoas que acham que os Imortais fazem anos."

Dimensão europeia do Benfica: possibilidade ou utopia?

"Luís Filipe Vieira. Presidente do Sport Lisboa e Benfica desde 2003. Há praticamente 17 anos no cargo, Vieira conseguiu retirar o Benfica do abismo em que se encontrava, melhorando significativamente o clube em termos financeiros e a nível de infraestruturas, com a academia do Seixal à cabeça. A nível desportivo, recuperou a competitividade no futebol português e conseguiu, até, conquistar a hegemonia nacional, nos últimos anos.
A nível europeu a história é completamente diferente. Em 2003, o recém-eleito presidente encarnado afirmou que o Benfica tinha a espinha dorsal de um futuro campeão europeu. Em 2005, subiu de tom e previu um Benfica a integrar a elite a nível europeu e mundial até 2011. Em 2013, demonstrou a ambição de disputar a final da Liga dos Campeões, que nessa época foi disputada no Estádio da Luz. Recentemente, a ambição europeia e a conquista do estatuto europeu têm sido, cada vez mais, as “bandeiras” do discurso do dirigente encarnado.
Comparando as promessas aos resultados factuais, a ideia do ADN europeu do Benfica parece completamente fora da realidade. Na era Luís Filipe Vieira, o Benfica tem 40 derrotas em 88 jogos da Liga dos Campeões. Nos últimos 14 jogos o registo é ainda pior: duas vitórias (ambas frente ao AEK) e um empate. Estes números estão muito longe de ser números próprios de um clube de elite na Europa.
Mas, afinal, quem é o culpado pelas elevadas exigências dos adeptos encarnados a nível europeu? Luís Filipe Vieira. E quem é o responsável pelo falhanço do projecto europeu? Luís Filipe Vieira…. Parece algo contraproducente que a figura que promete e promove a ideia de um Benfica europeu, seja a mesma que dificulta (a já por si muito difícil) chegada à elite europeia. Mas a verdade é que as promessas do presidente das “águias” não parecem ser nada mais do que uma declaração de poder e de ambição, mas que não vai ao encontro das decisões de gestão desportiva do clube.
A gestão desportiva do presidente encarnado tem sido algo contraditória. A academia do Seixal, a grande jóia do Benfica, tem produzido atletas de qualidade em grandíssima quantidade e não parece estar a perder gás. A aposta na formação é a outra grande “bandeira” da direcção encarnada, e aparece muitas vezes associada à tal ambição europeia, sendo a potencial espinha dorsal dum Benfica campeão europeu. Esta ambição de ter uma equipa em 80/90% formada no Seixal é uma ideia absolutamente utópica.
Hoje é dia é completamente impossível ao Benfica competir financeiramente com os ditos “tubarões”, portanto está muito depende das receitas de transferências para a sua subsistência económica. Ainda que assim seja, a direção do Benfica pouco ou nenhum esforço faz para manter as suas pérolas do Seixal. Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro, Renato Sanches, André Gomes, Gonçalo Guedes. Todos saíram de forma precoce do Benfica, privando o clube encarnado dos seus melhores anos. Eu percebo perfeitamente a necessidade de liquidez no clube, mas esta necessidade e prioridade pelos encaixes financeiros não é, no entanto, compatível com um discurso de ambição a nível europeu.
Com o passar dos anos, os clubes do dito “Big Five” (Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Itália) vêm os seus orçamentos multiplicar-se, fruto dos incrementos nos acordos de patrocínios, prémios das competições europeias (o impacto financeiro que a não ida à Liga dos Campeões tem tido no Sporting CP é absolutamente brutal, por exemplo), acordos de direitos televisivos e mesmo a influência de investimentos externos. Com estas diferenças astronómicas a nível financeiro, e estando inseridos numa competição feita de forma a “facilitar” a vida a grandes potências (Liga dos Campeões), o Benfica e os demais clubes portugueses vão ficando, irremediavelmente, para trás face à elite da Europa, havendo já um grande fosso entre o Big Five e os restantes campeonatos. O Benfica continuara a ser sem dúvida nenhuma uma das equipas mais dominadoras a nível nacional, mas a nível europeu sentirá cada vez mais dificuldades em aproximar-se dos “tubarões” tendo de existir um “alinhamento de estrelas” perfeito para que os encarnados façam uma grande prestação na Liga dos Campeões.
Mudando agora completamente de perspectiva. Do optimismo absoluto para um pessimismo e uma descrença clara. Recentemente o ex-jornalista, e agora comentador desportivo, José Marinho, declarou à BTV não compreender a origem desta “exigência tola” dos adeptos, a nível europeu. Complementou a perspectiva dizendo que, olhando para os resultados do Benfica, desde os anos 60, é completamente impossível acreditar num Benfica conquistador na Europa.
Primeiramente, a origem desta exigência vem obviamente das declarações do presidente, que vai repetindo a ideia em 90% das suas declarações públicas. Em segundo lugar, esta perspectiva de pessimismo e normalização dos maus resultados europeus não é nada positiva, nem pode ser adoptada pelos adeptos benfiquistas. É verdade que, como já referi, é impossível ao Benfica competir com os grandes clubes europeus por diversas razões, mas não é de todo normal ou aceitável que o Benfica apresente tão maus resultados na Europa.
Nos últimos anos, o Benfica ganhou ao Atlético de Madrid na capital espanhola, eliminou a Juventus FC (que ano seguinte estaria na final da Champions), deu muitíssima luta a um Bayern de Munique fortíssimo, venceu o Borussia Dortmund na Luz, eliminou o Zenit duas vezes nos oitavos da Champions e perdeu no limite com o Chelsea FC de Di Mateo (que viria a ser campeão europeu). É normal que haja uma exigência comedida por parte dos adeptos encarnados, mas é muito injusto – e passível de provocar problemas cardíacos – pedir à equipa que esteja na primeira linha para conquistar um título europeu.
Num ano em que o Benfica vive, supostamente, o melhor momento financeiro da sua história, Luís Filipe Vieira não conseguiu construir um plantel melhor que o da época transacta, mais uma vez contradizendo o seu discurso, o que torna compreensível certas críticas dos adeptos. Mas também não podemos cair na tendência de normalizar os maus resultados europeus. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Tem que existir necessariamente uma exigência ao nível da grandeza do clube, mas essa exigência tem que ser comedida e adaptada ao panorama no qual o clube está inserido."

Reforço fora de época

"O Sport Lisboa e Benfica assegurou mais um reforço para o plantel, ainda que não seja de efeito imediato. O jovem internacional português nos escalões mais jovens Diogo Almeida assinou contrato pelos encarnados por cinco temporadas, até 2024. O SL Benfica pagou, ao FC Paços de Ferreira, a cláusula de rescisão do jovem atleta no valor de 500 mil euros.
Diogo Almeida, de apenas 19 anos, é visto como uma das promessas do futebol português. Na época transacta, o jogador marcou 19 golos em 27 partidas realizadas pelos juniores dos “castores”. Na presente temporada, tem vindo a jogar pela equipa A pacense, tendo já realizado cinco jogos, sem apontar qualquer tento. Ainda que a época não lhe esteja a correr de feição, uma vez que se está a adaptar ao principal escalão do futebol lusitano, o talento foi reconhecido por Filipe Ramos, que o convocou para a selecção nacional sub-20.
Ainda não é certo quando é que o ponta de lança chegará ao Seixal, uma vez que o Benfica ainda não revelou os contornos oficiais do negócio, mas espera-se que chegue apenas no final da temporada. 
Ainda que seja jovem, Diogo Almeida já conta com passagens por vários emblemas nacionais e, até mesmo, uma passagem num clube italiano. Deu os primeiros passos no mundo do futebol na formação do Pinguinzinho, tendo depois rumado ao Lusitano de Vildemoinhos, Tondela, Espinho e Empoli (Itália). Chegou, por fim, à equipa da capital do móvel, onde se destacou e mereceu a oportunidade de se mostrar no plantel principal.
Uma vez no plantel encarnado, Diogo terá a concorrência directa de Haris Seferoviç, Carlos Vinícius e Raúl de Tomas na frente de ataque. Certamente que, nas escolhas de Bruno Lage, será última opção para a posição, e espera-se mesmo que rode na equipa B, ou até mesmo que seja emprestado para ganhar ritmo.
Esta é uma transferência que gera alguma discordância no seio dos adeptos benfiquistas (eu incluído), uma vez que para um Benfica europeu é preciso mais, muito mais. Ainda que reconheça qualidade ao avançado contratado, não creio que esta política de contratações seja o rumo a seguir. Diogo Almeida não é, na minha opinião, uma opção viável para a frente de ataque do glorioso, até porque existem outras soluções na estrutura benfiquista.
Diogo Almeida chegará, então, aos quadros encarnados brevemente e veremos que destino terá o jovem jogador no Sport Lisboa e Benfica."

Benfiquismo (MCCCXXII)

Um dos nossos, deixou-nos hoje...
De todos os excessos, o Benfica foi aquele que terá valido mesmo a pena...
A gritar pelo Glorioso, até que a voz nos deixa!

3 pontos...

Benfica 3 - 0 Sanjoanense

Estreia no campeonato, com uma vitória, num jogo onde marcámos os dois primeiros golos de 'bola parada', sem o Nícolia lesionado, numa pré-temporada onde o Ordoñez também esteve de 'fora'!!!

Com o Edu Lamas não tenho dúvidas que defensivamente estamos mais fortes, mas vamos ver como o processo ofensivo vai 'terminar'!!!

Destaque nesta 1.ª jornada, para os empate dos Corruptos, em casa, com a Juventude de Viana!!!

PS: Não é todos os dias, que um nadador português vai ao pódio numa prova da Taça do Mundo. Parabéns à Diana Durões, pelo Bronze nos 800m Livres...

De Kiev a Teerão

"Acredito que amanhã Cristiano Ronaldo marcará frente à forte equipa da Ucrânia e será determinante para uma vitória da nossa Selecção

1. Amanhã em Kiev acredito que Cristiano Ronaldo vai chegar ao solo setecentos da sua carreira de extraordinário jogador de futebol. Um dos maiores jogadores da história do futebol mundial e um monstro de centenas de relvados. No passado sábado os meus três netos acompanharam-me, e com o seu dedicado e querido Pai deliciaram-se com a vitória de Portugal e ficaram maravilhados com o chapéu de Cristiano Ronaldo que concretizou o segundo golo da selecção liderada, e bem, por Fernando Santos. A festa de muitas famílias - e de muita juventude universitária trajada a rigor - percorreu, numa alegria contagiante, as bancadas de um Estádio, o de Alvalade, que voltou a acolher a selecção de todos nós. Este espírito de selecção é uma conquista da Federação e da sua empenhada estrutura directiva. O seu marketing é dos melhores de Portugal. A sua comunicação motivante é uma referência em Portugal. E a sua estrutura, com profissionais de excelência, merece um prolongado aplauso. Acredito que amanhã, em Kiev, Cristiano Ronaldo marcará frente à forte equipa da Ucrânia e será determinante, uma vez mais, para uma vitória da nossa selecção. Três pontos que permitirão, estou convicto, que Portugal termine esta fase de grupos no primeiro lugar. O lugar devido à selecção campeã da Europa em título e vencedora da primeira edição da Liga das Nações. O que sabemos é que esta dupla jornada da fase de grupos já permitiu e permitirá conhecer muitas selecções - diria que muitas das habituais presenças - que marcarão presença nesse Europeu de  múltiplas sedes que será o Europeu de 2020. Pela minha parte direi que estive com a Família em Alvalade. E como os meus netos a abraçaram-me, em festa contagiante, três vezes. E, amanhã, com amigos do coração, do coração que já vibrou em Vilnius, estarei em Kiev. Com o sonho de ver Portugal vencer e a fé de assistir, ao vivo e a cores, ao golo 700 do capitão, que nos orgulha, da selecção de Portugal: Cristiano Ronaldo!

2. O futebol por vezes é revolucionário. Quarenta anos depois da Revolução Islâmica de 1979 quatro mil mulheres iranianas puderam assistir ao jogo, e à goleada,entre o Irão e o Camboja, encontro da fase de grupos asiática de acesso ao Mundial do Catar. Sabemos que foram quatro mil no meio de 74 mil. Como lemos que nos últimos anos muitas mulheres se disfarçaram de homens para terem acesso a diferentes estádios do Irão, realidade que o cineasta Jafar Panahi retrata num interessante filme com o sugestivo título Fora de Jogo. Na semana em que ficámos a saber os diferentes prémios Nobel - da Paz à Literatura, entre outros -, importa referenciar esta exigência - que, de verdade, foi, no caso de não se efectivar, uma ameaça de suspensão de participação em eventos internacionais - da FIFA. E a luta pelo acesso das mulheres iranianas aos estádios - e, aqui, por excelência ao emblemático Estádio Azadi - é, também, uma forma de luta das iranianas pela igualdade. Também aqui vale a teoria dos pequenos passos. Por ora quatro mil lugares esgotados em apenas uma hora. Por enquanto apenas em jogos internacionais para impedir sanções da FIFA, que teve a coragem, diria ousadia, de interferir na vida interna de um Estado. Já que para algumas poderosas vozes da Revolução Islâmica esta autorização leva ao pecado. Por isso na passada quinta feira Teerão viveu um dia revolucionário. Em razão do futebol e da tenacidade da sua organização cimeira, a FIFA!

3. Depois desta dupla jornada de selecções teremos finalmente, o regresso às competições internas. Com a consciência que só  domingo eleitoral perturbou o regular funcionamento do prévio calendário do futebol profissional. No mais está-se a cumprir tudo aquilo que todas as instâncias do futebol - todas! - acordaram. E acho estranho que alguns não se recordem determinados a criar todas as condições para a suspensão, temporária ou definitiva, da Taça da Liga. E, e para além do foguetório a que assistimos, vamos viver a primeira eliminatória da Taça de Portugal em que participam, em principio com o estatuto regulamentar de visitantes, os grandes nomes do futebol português. E, assim, a partir da próxima quinta-feira teremos dois jogos de Taça em canal aberto, o que evidência o desígnio federativo de potenciar o futebol para todos. E, assim, a prova rainha pode determinar, por razões televisivas - e, logo, por determinantes motivos financeiros que, no limite, pagam o orçamento de uma época (ou até mais) - que o estatuto de visitantes se transforme, num instante e por encanto, na situação de visitado. De jogar fora pelo sorteio passa-se a jogar em casa em razão da televisão. São boas notícias para todos. E, acredite-se se, que o espírito do regulamento não se viola. Adapta-se às circunstâncias. Dos tempos e dos estádios necessários. Para a transmissão que fera, aqui, milhares de euros! E certas audiências!

4. Permitam que referencie uma extraordinária entrevista do director geral do Liverpool, o campeão da Europa em título e o líder da Liga Inglesa: Peter Moore. Afirmou ele, em Madrid, que o êxito do Liverpool se baseia no «socialismo»! Sim escrevi bem! Não do socialismo político puro mas sim do socialismo no sentido da solidariedade. Tendo presente que Liverpool tem uma identidade própria, com uma forte tradição operária e com um porto que é uma das referências da abertura ao mundo! E o futebol da equipa de referência de uma cidade que a música, e um grupo extraordinário, levou a todo o mundo também se expressa, com a liderança de um socialista alemão - Jurgen Klopp - na ideia de trabalhar em conjunto, de passar a bola e movimentar-se, de assumir, tal como uma canção da década de sessenta do século passado, a poesia em movimento! A reflexão deste homem do marketing global - que regressou a Inglaterra após quarenta anos de êxitos nos EUA (da Sega à Microsoft, até à Electronic Arts) - merece ser lida por todos aqueles que querem construir, de verdade, projectos vencedores e que sabem que a indústria do futebol exige ousadia e criatividade e que não pode ignorar as exigências dos novos tempos e, logo, das novas gerações que têm de ser conquistadas para o futebol! Na certeza também que, sem esquecermos por vezes a palavra paciência, se «compares bons jogadores melhoras a equipa, se melhoras a equipa conquistas títulos e se conquistas títulos crescem as receitas»! Vale a pena ler Peter Moore neste tempo de pausa do futebol doméstico! Sem esquecermos essa viagem, de tons diferentes, entre Kiev e Teerão!"

Fernando Seara, in A Bola

Do Bernardo

"Eu sei que dizê-lo assim (ainda) pode parecer heresia mas, a cada semana que passa, Bernardo Silva vai-me causando (por outras vias e outros modos) o mesmo encanto que Cristiano Ronaldo á muito me causa - um encanto divino, um irresistível fascínio.
Causa-me esse encanto, esse fascínio, porque o Bernardo nunca joga encalhado em imperfeições, atrofiado e fastidioso. E assim parece sempre capaz de, num drible, num passe ou num remate, transformar uma pedra numa espada para atacar o paraíso - sem se perder por labirintos ou becos sem saída.
Causa-me esse encanto, esse fascínio, porque o joga preso a dúvidas ou a destrambelhos que lhe entortem os pés onde tem a cabeça em flor. E assim, parece sempre capaz de romper, sagaz, com o jogo rotineiro e chato, torto e desleixado, em que a sua equipa possa estar a cair, a arrastar-se.
Causa-me esse encanto, esse fascínio, porque o Bernardo nunca joga com as chuteiras em mendigar de brilhos ou fulgores. E assim parece sempre capaz de resolver complicações em seu redor, usando a bola com esmero, pondo, travesso, os adversários em desalinhos.
Causa-me esse encanto, esse fascínio, porque o Bernardo nunca joga com o corpo em vertigens como um acrobata bêbado a cair do seu trapézio. E assim parece sempre capaz de se distinguir sem nunca se extinga - ou sem nunca perder a tentação de procurar, esperto, a baliza alheia (para a alvejar por si ou, sobretudo, para a dar a alvejar a outro).
Causa-me esse encanto, esse fascínio, porque o Bernardo nunca joga sem deixar de puxar a sua equipa do lugar onde ela estiver para um lugar melhor, usando a bola com destreza (e sem a desprezar) no desbaratar dos muros que se lhe vejam no caminho. E assim parece sempre capaz de, num instante sorrateiro, a afastar (à equipa) de fatalidades ou de desgraças que a ameacem - através dos milagres que se vão soltando, sublimes, desse seu jeito de jogar à Messi, de jogar cada vez melhor à Messi."

António Simões, in A Bola

Sobre falar antes de pensar

"Falar antes de pensar: sai ar da boca e produz linguagem antes de ser activado o funcionamento do cérebro

- Em que sítio deve estar a cabeça?
- Como?
- Em que sítio deve estar a cabeça de um sujeito?
- Por mim, em cima.
- Em cima. Onde? Aqui?
- Exacto.
- Acima do coração?
- É uma bela posição relativa, parece-me.
- Mas se vossa excelência fizer o pino...
- Sim?
- O coração fica acima da cabeça. Se continuarmos a considerar o solo como referência.
- Exactamente, pelas minhas contas é isso mesmo.
- Chão, cabeça, coração, tronco, pernas e pés.
- Pés lá em cima.
- Sim. Up.
- Portanto, não devemos fazer o pino...
- Não.
- ... se queremos manter a racionalidade.
- Isso.
- Por mim, não faço o pino por razões bem mais práticas: não me quero partir todo.
- Pois. Mas dizia: a cabeça sempre acima do coração. Uma questão de hierarquias, excelência.
- Podemos ter instintos e raiva, mas acima disso: o pensamento, a racionalidade. É isso?
- Isso mesmo.
- Porém há uma parte significativa dos humanos que parece andar com a cabeça e os pés trocados.
- Sim?! Porquê?
- Falam antes de pensar.
- Oh, mas isso...
- Falar antes de pensar: sai ar da boca e produz linguagem antes de ser activado o funcionamento do cérebro.
- Uuu, que horror. Parece a explicação do funcionamento de uma máquina.
- E é isso mesmo. O cérebro ainda está desligado e o sujeito já está a dizer uma quantidade enorme de frases.
- É como querer café antes de ligar a máquina que faz café.
- Exactamente, é isso mesmo, excelência.
- Falar antes de pensar.
- Querer café antes de ligar a máquina que faz café.
- Que síntese.
- Posso dar outro imagem?
- Pode, excelência.
- É como ter os pulmões, a máquina de produção do ar, acima da cabeça.
- Como? Explique lá isso, excelentíssimo.
- Repare, excelência, a linguagem oral não é mais do que ar que sai da boca numa forma mais ou menos organizada... alfabeticamente. Mas é ar.
- Ar, excelência, sem dúvida. Ar. Ar alfabetizado, mas ar.
- Ar, vapor, substâncias em estado gasoso.
- Isso.
- Portanto, excelência, falar antes de pensar é colocar o ar antes do raciocínio e é, no fundo, uma forma mental da fazer o pino.
- Uma forma mental de fazer o pino?
- Exacto. Vossa excelência, pode não fazer o pino fisicamente, mas se fala antes de pensar está a fazer psicologicamente o pino. Está a fazer intelectualmente o pino.
- Ou seja...
- Ou seja, vossa excelência está a pôr a sua cabeça quase ao nível dos pés dos outros.
- Uns centímetros acima do nível dos pés dos outros, mais exactamente.
- Isso mesmo.
- Há quem pense um metro e setenta, um metro e oitenta, acima do nível do solo. E há quem pense apenas uns centímetros acima do chão.
- Há o nível do mar como referência para as altitudes...
- ... E há o nível dos sapatos, como referência para a qualidade de um discurso.
- Abaixo e acima do nível do mar.
- Abaixo e acima do nível dos sapatos.
- Pois. Deixe-me pensar numa personagem...
- Pense, excelência.
- Numa personagem que sobe a uma alta monanha.
- Sim.
- Um enorme esforço para chegar até lá e depois, lá em cima, eis que o sujeito começa a falar e só diz banalidades.
- O corpo está mil metros acima do mar, mas o pensamento apenas dois centímetros acima dos sapatos. É isso, excelência.
- Exactamente.
- Não é uma questão de altitude exterior, mas de altitude interior.
- Um discurso rasteiro, portanto, é isto mesmo: um discurso ao nível dos sapatos do chão.
- Isso.
- Se querer subir o nível do discurso, não vale a pena subires a uma montanha, eis um conselho.
- Sim, não vale a pena um sujeito cansar-se."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola