quarta-feira, 10 de julho de 2019

Muito obrigado, Jonas: foi um prazer

"O futebol mundial, mas sobretudo o futebol português, fica mais pobre

Quarta-feira, dia 10 de Julho de 2019.
Hoje o futebol mundial, mas sobretudo o futebol português, fica mais pobre. Jonas oficializa que fecha a porta para sempre. Para a história ficam as memórias de quem teve a felicidade de o ver jogar. Sobretudo no Benfica, clube no qual, acredito, Jonas atingiu a excelência do talento.
Já disse isto uma vez, mas vale a pena repeti-lo hoje.
Ao longo de quatro década de vida vi jogar grandes craques. Madjer, por exemplo. Pablo Aimar. Balakov. Lucho González e Falcao. Hulk. Liedson e Leandro. Jardel e Drulovic.
Tive o prazer de testemunhar a magia de muitos talentos, mas Jonas é para mim o melhor estrangeiro que vi jogar em Portugal.
Nele tudo era talento, inteligência e elegância.
A forma como não estava sempre em jogo, mas sabia aparecer no momento certo para ser decisivo, era sublime. Podia ser um golo, uma assistência, um passe de cinquenta metros, uma abertura.
Jonas era um daqueles prodígios que tinha todas as qualidades muito bem arrumadinhas em doses verdadeiramente irrazoáveis. Um génio.
Jonas marcou 137 vezes ao longo de cinco épocas na Luz, mas o retrato que eu guardo dele para sempre não é um golo: é uma assistência.
A 19 de Agosto de 2017, na goleada sobre o Belenenses, o brasileiro aproveitou uma bola a meio-campo que não parecia ser uma ameaça iminente para, de costas para a baliza adversária e para Seferovic, perceber o movimento do companheiro e, com um pequeno toque com a nuca, isolá-lo na cara do golo: o suíço correu trinta metros e fez um golo simples.
Brilhante, sem dúvida. 
Jonas era muito isto: inteligência, visão, rapidez de pensamento e talento.
Muito obrigado por tudo. Foi um prazer."

Bons acasos e boas tradições

"Naquele dia juntei tudo: a minha família, bom tempo, árvores frondosas e a exaltação memorial e a universalidade intemporal do meu clube

O intervalo entre as competições nacionais é a oportunidade para falar menos na imposição da actualidade e ter tempo e espaço para digressões por outros horizontes.
Há poucos meses estive na capital da Eslovénia, a belíssima cidade de Ljubljana, a menos eslava e a mais austríaca dos antigos Estados da ex-Jugoslávia.
Já lá tinha estado em 1996. Constatei agora que, mantendo o seu perfil de cidade «humanamente mais gerível» e de uma urbe que sabe manter o seu património arquitectónico, evoluiu muito depois da inclusão na União Europeia. Para mim, uma cidade onde me sinto bem, sem os atropelos de um turismo demasiadamente invasivo, mas com a nobreza de uma cidade que sabe acolher.
Um acaso feliz fez-me ligar a serena Ljubljana ao meu Benfica, muito pouco tempo antes da Reconquista do título nacional. Tinha acabado de estacionar numa via junto do rio Ljubljana que atravessa a capital eslovena, quando um dos meus genros e a minha neta Joana, ambos indefectíveis benfiquistas, ao olhar para a vedação que nos separava do rio, viram, imediatamente, algo de surpreendente. Tratava-se de um cromo de colecção de jogadores, perfeitamente conservado, de um jogador do Benfica. Só isso já era para nós uma agradável coincidência, logo no momento em que iniciávamos a visita à cidade. Mas era mais do que isso: tratava-se de um relíquia a mais de 2000 quilómetros do Estádio da Luz. O jogador era António Simões, campeão europeu e um dos mais lídimos representantes da glória do clube. Fiquei emocionado. Uma ilustração de outros e saudosos tempos, ali colada tão longe, à nossa beira! Não sei há quanto tempo lá foi fixada, mas o seu estado era impecável, não tendo sido objecto de nenhum assédio destrutivo. Por momentos, lembrei-me do que, por cá, se constata virulentamente a este nível, em paredes, muros e até instalações de clubes. Ali, aproveitei para contar às minhas netas o que é o Benfica dos anos 60 e 70 e lembrei os títulos nacionais e europeus alcançados. E dizer-lhes que, nesses tempos, os jogadores não passavam apenas pelos clubes, antes lá ficavam grande parte do seu trajecto profissional. Este singular cromo de caderneta (com a curiosidade de ter escrito «made of Benfica»!...) também simboliza a perenidade feita memória e exprime a mais profunda relação de pertença: do atleta ao clube e do adepto à memória do atleta no clube. Por vezes, dou comigo a dizer sem pestanejar as equipas do Benfica (e até de outros clubes) de anos do século passado. Agora, se tiver de dizer a equipa de há meia dúzia de anos, tenho muito mais dificuldades e recorro aos Cadernos de A Bola ou à Internet. Bem sei que hoje a ideia da e das mudanças está inculcada na nova maneira de olhar para o futebol e para o mundo em geral. Como já profetizara Luís de Camões,

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Toda o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades

Sei ver o lado bem positivo desta profunda alteração no reino do futebol. Mas também reconheço o lado mais descartável, efémero, fugaz, ilusório, às vezes quase virtual, em que cada dia, cada semana, cada mês são engolidos na ânsia de se viver apenas o presente. Neste frenesim de uma nova escala dos tempos, a memória dentro das pessoas perdeu relevância ou, pelo menos, tornou-se mais frágil e solúvel. E, todavia, a memória é a presença na ausência, e passado é a memória da presença, que, por vezes, nos troca as voltas. Assim é que há factos recentes que nos parecem perdidos no infinito do tempo e acontecimentos e vivências de há muitos anos que estão bem perto de nós, no tempo de agora.
O passeio por Ljubljana prosseguiu. Uns minutos mais tarde do encontro com Simões, deparámos com outro cromo coleccionado, mais moderno na forma, e menos antigo no jogador que lá estava representado: Diamantino Miranda, em pose dos anos 80. Outro jogador de quem tenho saudades e que também me ofereceu momentos de magia. Numa cidade que, ao que sei, tem um clube modesto e quase ignoto no mapa do futebol europeu, o Olimpika (sendo que o mais conhecido, o Maribor, é de outra parte da Eslovénia), havia fragância e alma benfiquistas. As fotografias que aqui partilho atestam a razão por que se já gostava desta cidade, a passei a considerar uma cidade com Luz e papoilas saltitantes.
Em suma: naquele dia, juntei tudo: a minha família, uma terra em que me sinto bem, bom tempo, frondosas e bem tratadas árvores, a exaltação memorial e a universalidade intemporal do meu clube, a confluência de gerações de Benfica e de benfiquistas, a redistribuição saborosa com as minhas netas de momentos gloriosos da história do clube. Por isso, obrigado a António Simões e a Diamantino Miranda, por via de cromos que continuam imaculados. Ah, não escondo que isto se passou numa segunda-feira, o dia seguinte a mais uma vitória do SLB rumo ao depois alcançado 37!

A tradição no seu melhor
Sempre gostei de acompanhar o Tour. Desde os tempos de Jaques Anquetil até agora. Recordo, com entusiasmo, o então quase impensável 10.º lugar de Alves Barbosa em 1956 e os notáveis feitos de Joaquim Agostinho. Na altura, socorria-me das muitas páginas que A Bola dedicava ao Tour. As míticas montanhas dos Alpes e Pirenéus eram mais produto da minha imaginação que da imagem visionada, que ainda não chegava cá.
É certamente um dos mais belos espectáculos aquele que nos é proporcionado pelas transmissões televisivas de La Grande Boucle. Superiormente realizadas, com pormenores deliciosos sobre a vivência no pelotão, com imagens soberbas sobre a heterogeneidade de uma natureza pródiga em beleza e do encontro com a história e o património gaulês. E com excelentes comentadores portugueses.
Vou acompanhar com prazer esta 106.ª edição do Tour, desta vez iniciado na Bélgica, assim honrando o ciclista que, para mim, foi o número 1 de todos os tempos: Eddy Merckx.
Nos arredores de Londres, está também a decorrer o mais estético, puro e aliciante torneio de ténis, que se repete deste 187! O que todos querem ganhar, mais do que os Opens de Roland Garros, dos Estados Unidos ou da Austrália. No Grand Slam é o que mais transporta a aliança incomparável - que os britânicos sempre protagonizam - entre o respeito pela tradição e o fascínio sereno da modernidade. A fidelidade da conjugação do obrigatório branco dos equipamentos e das imutáveis cores do torneio (o verde e o roxo inimitável) com os courts de relva aprimorados  dão um ar de solenidade e frescura que nenhum outro torneio consegue igualar. Este ano presenteado com um notável percurso de João Sousa.
Wimbledon e Tour são a prova de que há mais (e belo) desporto para além do futebol.

Mundial de hóquei
Continuando nas (boas) memórias, são elas que ainda me fornecem o entusiasmo pelas competições internacionais de hóquei em patins. Lembro-me como vibrei com os anos áureos desta modalidade, outrora quase apenas em versão radiofónica. Se tivesse de eleger a equipa nacional que mais me encantou escolheria a dos anos sessenta, quase toda a vinda de Moçambique: Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Velasco e Bouços. E, evidentemente, jamais esquecendo esse génio do hóquei prematuramente desaparecido, António Livramento. Ainda hoje me recordo também das equipas de então protagonizadas pela Espanha, Itália e outros países.
Quase sem se dar por isso e num ambiente pouco entusiasmante, começou no sábado passado o Mundial, desta vez na capital deste desporto, Barcelona. Felizmente a RTP faz aqui serviço público, transmitindo os jogos da nossa selecção. Países há que desapareceram da competição principal, como a Holanda (que chegou a ser uma boa escola e até foi uma vez vice-campeã), a Alemanha, a Bélgica, o Brasil, os EUA e o Uruguai. Entraram nas competições países antes ligados ao nosso hóquei: Angola, Moçambique e até Macau. Mas o entusiasmo arrefeceu e as competições só o são verdadeiramente no jogo final, invariavelmente jogado por Portugal, Espanha, ou Argentina e, vá lá, Itália. O nosso campeonato de hóquei, sem dúvida o mais interessante do mundo, é cada vez mais jogado por hoquistas argentinos, espanhóis e de outros países. É essa uma das razões porque, na minha opinião, ao nível da selecção já não somos campeões do mundo há quase vinte anos. Temos selecções boas, mas sem fulgor que desequilibre."

Bagão Félix, in A Bola

O problema continua a existir e tem nome: chama-se racismo. E de repente lembrei-me do Abel Xavier, do Daúto e do José Morais

"O tema não é novo mas continua a ser tratado com paninhos quentes. Percebe-se. Falar publicamente de questões relacionadas com a "cor da pele" é sempre um risco, mas convenhamos... maior é o risco de não dizermos nada quando dizer alguma coisa parece ser a única opção. A opção certa.
A verdade é que a questão da desigualdade racial no desporto (e no futebol em particular) ainda se coloca. E coloca-se porque, de fora para dentro e de dentro para fora, há manifestações expressas e tácitas que sublinham a necessidade aparente de se continuar a traçar algumas "fronteiras" entre uns e outros.
Fronteiras que, nos dias que correm, são mais grotescas, obtusas e ofensivas do que aquela que o senhor que mora na Casa Branca quer erguer, para separar Estados Unidos do México.
Ao que interessa: dizem estimativas recentes que o futebol - de longe, o desporto mais popular do planeta - tem quase trezentos milhões de praticantes à escala mundial.
É muita gente, não é?
Nesta "aldeia global" cabem todo o tipo de pessoas: rapazes e raparigas, miúdos e graúdos, novos e velhos. Cabem ocidentais e orientais, muçulmanos e cristãos, gays e heterossexuais. Cabe gente que nasceu, cresceu e viveu aqui e ali, nos quatro cantos do mundo. Gente de todas as idades e raças, credos e religiões.
Esta "multidisciplinaridade" é uma das grandes razões do seu sucesso, o que o torna numa verdadeira força da natureza. Uma ponte humana de igualdade, de esperança e integração. Pelo menos, aparentemente.
Há muito que a grande bandeira do futebol mundial - activamente assumida pela FIFA - é precisamente essa: a da luta permanente contra qualquer tipo de discriminação.
Bem. Muito bem.
Mas a prática parece evidenciar que as coisas não são bem assim e que essa ideia não passa de uma bem intencionada operação de cosmética, condenada a um sucesso residual. Vejamos alguns factos:
– Há um crescimento ameaçador de movimentos ideológicos que assentam na ideia de supremacia de uma raça sobre as restantes. Quer isto dizer que há cada vez mais racistas e xenófobos a representarem-se politicamente, o que é preocupante. Esta é uma constatação que deve levar muita gente do futebol a reflectir, porque colide de frente com os ideais de "Fairplay" que a indústria tanto defende;
– Há ainda muitas manifestações racistas por parte de adeptos em relação a atletas "não brancos": ainda se ouve, com frequência, o som de macacos vindo das bancadas e, não raras vezes, atiram-se bananas para dentro de recintos desportivos. Essas atitudes - dignas, isso sim, de verdadeiros primatas - tem sido combatida energicamente mas pelos vistos não o suficiente, porque continuam a acontecer um pouco por todo o lado. E se acontecem nos palcos mais visíveis, onde actuam os actores mais mediáticos, imaginem nos restantes...
– Mas o que realmente parece-me preocupante é outra realidade, que apresenta dados absolutamente irrefutáveis: poucas (raras até) são as pessoas de "cor de pele" diferente que ocupam lugares de decisão. Que desempenham funções executivas ou apenas de mera chefia no futebol ocidental.
Se tivermos, por exemplo, em linha de conta as principais ligas europeias (e aí até incluirmos a portuguesa), veremos que há uma quantidade enorme de jogadores a desfilar talento nos relvados, mas poucos (ou nenhum) treinadores de origem africana a comandarem nos bancos.
É como se, em pleno século 21, o "futebol evoluído", o tal que tanto defende a igualdade racial, dissesse sem dizer que o talento em campo - o do músculo e da execução, aquele que obedece - abunda e tem valor interminável, mas fica por aí. Não progride depois para o "talento pensante". Para aquele que treina, que dirige ou preside.
Após o final de carreira, a esmagadora maioria dos jogadores evolui para área do treino, da direção desportiva ou do dirigismo. Mas essa evolução tem-se revelado parcial, porque as paredes que rodeiam esse salto natural parecem ter outra resistência quando a pretensão é assumida por atletas "de cor".
Não sou eu que digo. São os números e, acreditem, são avassaladores.
Para que tenham uma ideia, há poucos anos, as chamadas "Big Five" tinham um treinador de raça negra. Um só.
Hoje em dia... bem, desafio-vos a contar. Depois digam qualquer coisa.
Já no que diz respeito a jogadores, a conversa é outra: o tal talento tremendo existe dentro de campo e aos pontapés. Literalmente.
Esta diferença gigante - entre quem executa e quem ordena - expõe a nu a (falsa) questão da igualdade racial. E expõe-na nesta gigantesca montra que é o futebol, enquanto reflexo do que, de facto, parece acontecer em toda a sociedade. Em muitas sociedades.
Por cá - como em quase tudo o mundo ocidental (e até no Brasil) - mais de 90% dos cargos executivos de médias e grandes empresas são ocupados por pessoas de raça branca, o que parece ser um paradoxo, tendo em conta o número de portugueses de origem africana a viver por cá (além das profundas ligações históricas que temos com África).
As nossas maiores empresas, que dizem "promover activamente a diversidade étnica olhando apenas para o currículo e competência", padecem do mesmo síndrome. Os números contrariam cada uma daquelas palavras.
O "problema" continua a existir e tem nome: chama-se racismo. Pode ser mais ou menos consciente, mais ou menos racional, mais ou menos voluntário. Mas está lá e à vista de quem tem coragem de olhar para ele de frente.
É importante reconhecê-lo para ultrapassá-lo rapidamente.
Portugal, país de bons costumes e de reconhecida tolerância, tem feito enormes (e elogiáveis) avanços no crescimento do futebol no género feminino: há mais mulheres a jogar, mais competições, mais talento e, consequentemente, mais oportunidades. Mais igualdade. Perfeito.
Por cá, como lá fora, falta o resto.

PS - De repente, lembrei-me do José Morais, do Abel Xavier, do Daúto Faquirá (e de tantos, tantos outros). Gente competente, com provas dadas e talento comprovado, mas com mercado de trabalho quase fechado.
Porquê?"

O que aprendemos com Mundial Feminino: Elas sabem

"Terminou a sétima edição do Campeonato Mundial de Futebol Feminino. Na final, os EUA bateram a Holanda por 2-0 para levantar o troféu pela quarta vez na sua história. Mas, entre o momento em que se deu o pontapé de saída para o Mundial, no dia 7 de Junho, em pleno estádio Parc Des Princes, e o momento em que Megan Rapinoe, capitã americana, ergueu a taça, exactamente um mês depois, precisamente no mesmo palco, muita bola rolou e muita tinta correu.
Já falámos de alguns dos principais episódios da competição ao longo deste último mês, mas, naquela que foi uma belíssima celebração do desporto rei, resta ainda lembrar uma das maiores lições que este Mundial Feminino de 2019, na França, nos ensinou.
Inicialmente, o título deste artigo era “Elas também sabem”. Só depois foi alterado para “Elas sabem”. E a razão prende-se precisamente com o que temos visto ao longo dos últimos 30 dias de futebol.
Talvez até seria melhor jogar a cartada do politicamente correto e dizer que o Futebol Feminino está, em termos competitivos e qualitativos, no mesmo patamar que o Futebol Masculino. Infelizmente, dizer isso é incorrecto.
Ultrapassando até as diferenças biológicas que, naturalmente, permitem aos homens ter outro nível de intensidade física no seu jogo, a própria projecção do futebol é muito distinta em ambos os sexos. A história do Futebol Feminino profissionalizado ainda está na sua infância quando comparada com a do Futebol Masculino. Os apoios dados a um são quase amadores quando comparados com os apoios dados a outros. E um homem nunca será julgado, excluído ou estereotipado por escolher calçar um par de chuteiras. Mas isso ainda acontece no desporto rei das mulheres.
O que podemos dizer, sem dúvida, é que elas estão a melhorar. Não relativamente aos homens; relativamente a si próprias. O campo é o mesmo, o desporto é o mesmo e as regras são as mesmas. Mas não adianta comparar o incomparável. Para crescer, o Futebol Feminino tem de olhar para dentro. No mesmo jogo, há golos incríveis, jogadas geniais e defesas impressionantes, mas também há falhanços inexplicáveis, tácticas desorganizadas e frangos clamorosos (veja o resumo do Suécia – Inglaterra, jogo do 3º e 4º lugar do Mundial – para compreender melhor isto:



É impossível eliminar os erros humanos no futebol (nem nós assim o queríamos), mas é possível torná-los menos amadores. Isso passa pela profissionalização, pela formação, organização e pela mentalidade, que tem de partir de dentro para fora. Um Futebol Feminino saudável será um Futebol que se foca apenas e só no desporto, não no denominador de sexo que vem a seguir. Um Futebol preocupado em levar ao mundo o desporto rei, ciente das diferenças entre quem o pratica.
A equipa da Jamaica ensinou-nos isso, participando no seu primeiro Mundial após ter estado extinta há apenas três anos. A Inglaterra ensinou-nos isso, carregando consigo as esperanças de uma nação sedenta por sucesso. Alex Morgan, dos EUA, ensinou-nos isso com o seu fantástico futebol e ao não ter medo de realizar aquela infame celebração do chá, que tanto irritou os adeptos britânicos. Marta, do Brasil, ensinou-nos isso ao encarar o Brasil em directo na televisão e dizer às jovens do seu país: “está nas vossas mãos”.
Para elas, a tarefa é fácil: joguem o desporto que adoram, e que nós todos adoramos. Porque, quando aquela bola entra de forma perfeita no ângulo superior aos 90 minutos de jogo, lançando o país num frenesim e numa festa descontrolada, com a cerveja a voar por todos os lados e catalisando abraços a família, amigos ou àquele senhor (ou senhora) que se sentou ao nosso lado, será que o sexo de quem chutou o esférico é assim tão importante?
No final de contas, aprendemos que elas sabem. Sem mas nem “tambéns”. Elas sabem, e cada vez sabem mais."

Eleições para a Confederação do Desporto de Portugal: uma oportunidade perdida

"No dia 27 de Junho de 2019 realizaram-se eleições para a Confederação do Desporto de Portugal (CDP), onde pela primeira vez desde a alguns actos eleitorais teve a disputa de mais do que um candidato: Carlos Paula Cardoso (CPC) que assumiu a presidência da CDP em 2002, em substituição de José Manuel Constantino, atual presidente do Comité Olímpico, sendo eleito para o quinto mandato consecutivo e Daniel Monteiro (DM) candidato e actual presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU).
Estas eleições traduziam-se numa importância vital para o desporto em geral e organizações desportivas (OD’s) em particular, não pela importância actual da CDP, que é pouca no quadro da acção e representação desportivas, mas pela necessidade de, independentemente da reorganização estrutural e funcional necessária e indispensáveis ao sistema desportivo em Portugal (organizações, competências, funções delegadas e financiamento) ser premente e fundamental uma revitalização da CDP neste contexto particular.
Independentemente das funções definidas em estatutos com respectivo financiamento (quotas pagas pelas FD’s e contrato programa com o estado português), a realidade presente é que a inactividade e inutilidade funcionais, actual desta estrutura tornou-a perfeitamente cabível em qualquer uma das OD’s dotadas de utilidade pública desportiva (UPD), facto que levou algumas delas a discutir, em determinado momento, a necessidade da sua existência.
Mas, discutir a simples e mera extinção da CDP, enquanto organismo do desporto em Portugal não resolveria, contudo, o problema do desporto no nosso país, que carece de outra abordagem sistémica com implicações estruturais, funcionais e financeiras relevantes, para além da simples extinção de algumas organizações cúpula.
Mas se alguma vantagem houve, a pretexto desta discussão, foi ter-se iniciado o movimento da plataforma do desporto federado (PDF) de forma perfeitamente informal, com a presença assídua no arranque de 12 federações desportivas (FD’S) com utilidade pública desportiva (UPD). A este propósito, importa relembra algumas datas importantes:
1. As reuniões de 26 de Abril de 2017 e 27 Junho de 2017, onde se conseguiu gerar um consenso, recentrando a reflexão do desporto em temáticas que requeriam uma discussão alargada: afirmação social do desporto e do ecletismo em Portugal (2); representatividade das FD’s e respectiva credibilidade do movimento associativo (2); serviço público de televisão e visibilidade na imprensa (3); fiscalidade e financiamento das federações (4).
2. A reunião da PDF com a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude (SEDJ) no dia 19 de Julho 2017, sobre a necessidade de as FD’s se organizarem, convergirem e trabalharem em conjunto, criando sinergias construtivas e reivindicativas, assumindo a centralidade do sistema desportivo nacional.
3. Reunião da PDF em 18 maio de 2018 com 33 FD’s com UPD para reflectir, em conjunto, sobre os problemas, as potencialidades e os desafios do Desporto em Portugal.
4. Reunião da PDF com 55 FD’s com UPD, na cidade do futebol, com aprovação do manifesto PDF e do Congresso Desporto Federado.
Felizmente, após avanços e recuos, a decisão deste movimento corporizar uma candidatura à CDP que, não se esgotando nesta candidatura, assumisse os princípios fundamentais defendidos, com novos protagonistas, e uma nova visão e agendas, projectando o fenómeno desportivo junto dos principais órgãos de poder de Portugal, conferindo-lhe o reconhecimento e a valorização social e política que merece.
Não foi essa a opção das OD’s no sufrágio eleitoral de dia 27 Junho, que optaram pela manutenção do status quo.
Não obstante, há que dar os parabéns à lista vencedora (1) assim como às OD’s que acudiram em massa a um ato eleitoral com uma afluência (2) de quase 100% (46 em 47 OD’s dos cadernos eleitorais votaram), sendo que ficou evidente a clareza dos projectos pela votação verificada (23 votos lista de CPC e 22 votos na lista de DM).
A CPC há que dar o benefício da dúvida. A existência de concorrência fará com que, pelo menos, a inteligência colectiva mais activa e corporizada por acções individuais possa, nem que seja por osmose, perceber que as OD’s esperam uma mudança da CDP.
Que mudança se espera?
Que cumpra os desígnios definidos nos estatutos e se constitua como uma mais valia no desporto e no universo das OD’s, com um papel activo na definição da política desportiva nacional em estreita cooperação com as FD’s, procurado sinergias e partilha de recursos por forma a ajudar a reforçar o valor do desporto dotado de um quadro axiológico de referência para a sociedade, na defesa intransigente dos valores éticos de participação, combate à discriminação e exclusão sociais, antidopagem e a todas as formas de corrupção e violência associada ao desporto.
Que, enquanto parceiro social do Estado em matéria desportiva, se possa constituir como voz activa na representação das FD’s na defesa do desporto, procurando tornar o sector forte politicamente e respeitado, com poder e influente junto dos demais órgãos de decisão, nos vários domínios de intervenção, com relevo no eixo desportivo, político e social.
Em termos desportivos, colocando a CDP ao serviço do desporto e das FD’s, oferecendo o suporte necessário ao seu funcionamento, modernização e profissionalização, disponibilizando recursos ao serviço das necessidades do movimento associativo desportivo, com programas concretos:
i) A nível de assessoria processual, jurídica, de comunicação, marketing, contabilística, financeira e partilha de serviços comuns;
ii) Da formação estruturada de RH, assumindo a transversalidade formativa comum ao universo dos agentes desportivos e em conformidade legal, assim como outras ideias, iniciativas empresariais ou de investigação, com o apoio de parceiros do sector privado.
iii) De liderança de um verdadeiro programa de promoção do exercício físico e desporto, como valor social transcendental, na prevenção de doenças, saúde e bem-estar das comunidades em geral, num plano que envolva a administração pública desportiva, as federações e associações, municípios, clubes, escolas e outras entidades.
Em termos políticos, assumindo a representação das FD’s de forma activa, baseada na sua utilidade pública, capaz de mobilizar e galvanizar o sector em torno de um projecto que reforce a influência e a voz do Desporto junto dos órgãos de poder, criando condições de participação e intervenção das OD’s na construção de políticas públicas de forma pró-activa e construtiva, sendo palco prioritário de discussão e reflexão das mais prementes questões para o desenvolvimento desportivo do país, nomeadamente:
i) Na reorganização estrutural e funcional do sistema desportivo e um novo modelo de financiamento às OD’s, num quadro plurianual, com mecanismos de controlo de resultados, devidamente avaliados e monitorados com a tutela;
ii) Na elaboração, juntamente com a tutela, de um plano estratégico para o Desporto nacional, preparado em parceria com a administração pública desportiva e os representantes dos agentes com participação no sector.
Em termos sociais, assumindo a necessidade de recentrar o papel do Desporto, tornando consensual que o investimento (in)existente seja significativo e de acordo com a sua real valia, valorizando em eventos específicos as referências vivas do nosso desporto:
· Afirmando o Desporto, promovendo e projectando uma marca potencialmente forte, baseada na promoção de valores, ética e Fair-Play e a valorização do papel de todos os agentes desportivos, combate à violência e a todas as formas de discriminação e exclusão social;
· Afirmando o desporto e a vertente de educação e formação desportiva nas escolas de forma a divulgar o ecletismo desportivo e a promover a experimentação de novas modalidades.
Algumas reflexões finais.
Esperemos que a CDP e CPC percebam, para bem do desporto, que já não é suficiente a CDP limitar-se a organizar a gala anual com atribuição de prémios num jantar anual no casino do Estoril e algumas iniciativas administrativas isoladas como a assunção dos seguros de acidentes pessoais/apólice desportiva necessários ao processo de filiação desportiva em sede de licenciamento no IPDJ de algumas federações desportivas, organizar iniciativas de formação dispersas e a missão para os Jogos da comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A existência de OD’s dotadas de UPD não pode nem deve consubstanciar a obrigatoriedade de o estado subsidiar actividades que fogem do âmbito de intervenção definido no quadro normativo da sua existência, mas também não pode deixá-las reféns da necessidade de financiamento que decorre da delegação de competências, não assumindo por isso as suas responsabilidades estatutárias.
A CDP para cumprir as suas funções delegadas e de representatividade política do movimento desportivo, não se circunscrevendo este ao universo das FD’s dotadas de UPD, sendo mais abrangente, deve ter a “liberdade” de assumir posições fracturantes com o estado, na defesa intransigente do desporto em Portugal e das OD’s que o suportam, com uma acção determinante no sistema desportivo português no quadro da representatividade e dos programas, desportivos, políticos e sociais que lhe são acometidos.
Não nos parece que atribuir à CDP a organização de missões desportivas, como no caso corrente os Jogos da CPLP, mesmo relevando o contributo do desporto para a promoção da lusofonia e da importância da língua portuguesa, seja um contributo que deve ser assumido pela CDP.
Assumindo que, directa ou indirectamente, a organização de missões desportivas, no quadro da delegação de competências do estado o seja numa óptica de justificar financeiramente a sustentabilidade da CDP haverá, neste contexto, de redefinir com as FD’s a sua participação e esforço financeiro no quadro das exigências do desporto e da sua representatividade, e com a tutela (SEDJ e IPDJ) a estrutura e modelo organizativos e de financiamento, no quadro estrito das suas competências estatutárias e num âmbito mais alargado de todas as organizações desportivas a nível nacional.
A não se verificarem estas mudanças e para bem do desporto, da sua organização estrutural e funcional e clarificação, a CDP não justifica, no quadro da delegação de competências, o financiamento com dinheiros públicos."

A despedida de Jonas: Obrigado, Pistolas!

"Não há melhor forma de lembrar Jonas do que em dois momentos capitais na sua estadia no SL Benfica. O primeiro, literalmente o primeiro, delineou toda a sua carreira na Luz e avisou a todos os que lá estavam presentes (que sortudos!) o que aí vinha: 5 de Outubro de 2014. Numa tarde soalheira, a Luz enganala-se ainda não sabe para receber bem o quê. O Benfica ressacava de um tareão a meio da semana em Leverkusen e toda a gente queria ver uma resposta forte, servindo-se do Arouca como vítima. Não começou bem o certame e o sol que cobria as bancadas fazia os seus esforços para aquecer o ambiente preocupado que um jogo frio insistia em arrefecer. O espectáculo era de má qualidade, os assobios tímidos começavam a surgir e Jorge Jesus, se já fazia contas debaixo da cabeleira branca, ficou com ainda mais trabalho quando vê Lima a ir ao chão pouco antes do intervalo. Era obrigado a mexer, a mexer-se, a solucionar mais um problema que não esperava ter. 
Seguiu a lógica e mete o recém-chegado Jonas Gonçalves Oliveira no gramado. O brasileiro veste o blazer, mete o chapéu de coco e faz a Luz desligar-se quando, ao primeiro toque na bola, sossega uma carambola a meio-campo, faz a bola passar sobre a cabeça de um inocente arouquense e distribui, elegantemente, para a esquerda. O foco estava todo naquela meia-figura, todos os presentes deixaram cair os queixos e, atonitamente em uníssono, deixam soltar um estupefacto “Ohhh”. Sem que percebessem, testemunharam o nascimento de uma figura mítica da recente história do Benfica e, junto a Simão e Cardozo, uma das referências máximas do século XXI.
Já como estrela principal por mérito próprio, um ano depois, Jonas e o Benfica visitavam o Bessa para mais uma final na emocionante temporada 2015-2016. O marcador (0-0) foi-se mantendo apesar das investidas encarnadas e o tempo começava a esgotar-se. Eliseu, perto do final, decide despejar uma bola na área e Carcela desvia de cabeça: as luzes apagam-se, novamente.
Um foco ilumina apenas Jonas e, naquele microssegundo em que a bola surge na sua frente, ele é o homem mais feliz do mundo. Um sorrisão, que só não é gargalhada porque não havia tempo para isso, atravessa a cara do brasileiro. Naquele microssegundo, trocaram-se carinhos, houve paixão intensa, Jonas e a bola tornaram-se tão cúmplices e enamorados que não restava mais nada que ela, ela mesmo, despedir-se do pé esquerdo do par e arrumar-se nas redes brancas, qual véu de noiva. Jonas era assim, elegante e galanteador como ninguém: só tinha olhos para ela, a bola. Jurou e prometeu ser-lhe fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias com a camisola do Benfica, num matrimónio que fez de todos nós os mais orgulhosos filhos.
Em 5 anos, Jonas, como Néné, nunca precisou de se sujar para conquistar a Luz. O fato de macaco deixou-o para outros e, de fato e gravata, comandou o Benfica na recuperação da hegemonia do futebol português: 137 golos, 42 assistências, quatro campeonatos, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga, duas Supertaças, duas Bolas de Prata e duas vezes Melhor Jogador do Ano. Sempre conseguiu associar a eficácia a um ideal sem precedentes pela beleza do espectáculo. Jonas foi, na história do Benfica, dos melhores a juntar competência ao divertimento, o compromisso à alegria.
Os problemas físicos que o impediram de terminar com ainda melhores números foram uma batalha longa e a prova da resiliência incrível de Jonas: depois de um 2016-2017 intermitente e de sucessivas recaídas, em 2017-2018 o brasileiro pulveriza recordes pessoais e do clube, com 34 golos em 30 jogos apenas para a Liga. Foi este espírito de sacrifício que foi sempre visível no carácter de Jonas e que também ajudou á construção do seu estatuto no balneário, numa postura que era (e é) exemplo para todos. No fundo, Jonas decidiu fazer felizes todos os que o rodearam, sem pedir nada em troca. Jonas Gonçalves Oliveira decidiu, como prova de gratidão, devolver o Benfica ao topo do futebol português e, como se isso não bastasse, ainda nos agradece em lágrimas.
Obrigado nós, Pistoleiro."

O que se diz a alguém como Jonas? Obrigado? Amo-te? Não sei o que dizer, mas vou tentar

"O que é que se diz a alguém que representou o nosso clube cento e oitenta e três vezes, marcou cento e trinta e sete golos e juntou a isso quarenta e duas assistências? Como retribuir a alguém que ajudou, de forma quase sempre decisiva, a conquistar 4 ligas, 1 Taça de Portugal, 2 Taças da Liga, 2 Supertaças, que por 2 vezes foi considerado o melhor jogador da liga e se sagrou melhor marcador em outras duas, e que fez tudo isto ao longo de cinco anos. O que é que se diz? Ajudem-me. Obrigado? Vamos sentir a tua falta? Dá-me a tua camisola? Joga só mais uma época? Amo-te?
Não acontece muitas vezes. Hoje supliquei por uns parágrafos que me permitissem dizer tudo. Até avisei o editor, Jonas. Exigi escrever, e será publicado. Disse-lhe, e passo a citar, "hoje quero caprichar, ele merece". E aqui estou. A grande verdade é que ainda não sei bem o que dizer a quem deu tanto aos benfiquistas, mas tenho uma ideia do que seria em jogo corrido. Quero ajeitar este parágrafo com a parte interior da bota direita, olhar em redor como quem observa o texto acima dos demais e escolher as palavras como se quisesse casar com elas. Quero utilizar as vírgulas como quem guarda a bola, adiando por momentos o prazer de milhões, parar no peito do ponto e vírgula, e fazer da próxima quebra de linha uma oportunidade, mais uma, para gritarmos a plenos pulmões pelo nosso amor, o grande, o enorme, o maior que todos Sport Lisboa e Benfica. Rematarei colocado ao ângulo e as bancadas alertarão a protecção civil. Um parágrafo-golo, sismo 19.04 na escala de Jonas. O problema é que mesmo assim dificilmente te farei justiça, meu caro.
Eu tento fugir da lamechice como tu te esquivas ao marcador directo, mas está complicado. Num futebol com tão poucos heróis, onde os estetas parecem sempre prometidos a quem faz a maior licitação, quero aproveitar as tuas últimas horas enquanto futebolista profissional para te dizer mais meia dúzia de coisas.
Se um dia chegar a avô, quero ser o tipo irritante que enuncia onzes do Benfica como fizeram tantos antes de mim e me ensinaram a grandeza do Benfica. Só uma paixão assim nos leva a decorar nomes de indivíduos e enunciá-los como poemas, ordenados religiosamente de acordo com a posição ocupada durante alguns milhares de minutos num rectângulo de 105 metros de comprimento por 68 de largura. Não sei se um dia chegarei a avô, mas, se a saúde o permitir, sei o que levarei inscrito na memória. Parece ridículo dizê-lo, mas não foram só os golos ou as assistências. Foi uma singular capacidade de elevação do futebol a hipérbole estética. Foi, em muitos momentos, uma absoluta e peremptória protagonização do jogo, como se mais ninguém soubesse tocar aquele instrumento. E os títulos, duas mãos cheias deles.
Chegámos ao fim satisfeitos, não apenas por temos ganho mas pelo modo como ganhámos. Foi, naquele instante felizmente repetível, tudo, exactamente como o futebol deve ser. Foi algo que adeptos como eu, em 38 anos de vida, poucas vezes terão visto e sentido de manto sagrado vestido. O futebol que trouxeste nos pés deu-nos muito mais do que golos e assistências. Deu mundos ao mundo de futebolistas que te passaram pela vista nestes quase cinco anos. Todos eles foram melhores contigo. Até nós, adeptos, fomos melhores contigo, porque é esse o nosso combustível. Por muito guturais que sejamos, estamos cheios de poesia quando damos na pá a mais um adversário. Se abrandarem a expressão de um adepto a gritar "Chuuuuupem" verão que é afinal um poema. Quanto a ti, pela capacidade de síntese, pelo pragmatismo adornado que sempre te caracterizou, pela ilusória simplicidade de processos, serias um haiku:
Eis que ele recebe
Mata no peito
E o inferno renasce
Não sei precisar o que é esse inferno da Luz, mas estou certo de que são jogadores como tu que fazem os nossos adversários passar pelo inferno. É nos olhos deles que reconhecemos o reflexo das chamas. Azar o deles. Sorte a nossa.
E pensar que em tempos te rotularam de pior jogador do mundo. Demonstraste que estavam todos enganados. Todos os futebolistas que chegam a uma encruzilhada na sua carreira têm, antes de mais, de provar a si mesmos que são capazes, que a sua promessa será cumprida. Acredito que o fizeste por ti, mas rapidamente se provou que o pior jogador do mundo era afinal um dos maiores equívocos da história do futebol e a história cresceu. O teu ressurgimento tornou-se o nosso, e assim avançámos rumo a um tetracampeonato que teria sido impossível sem ti. Portugal, esse Éden do envelhecimento activo que atrai gente de todo o mundo, trouxe este brasileiro para perto de nós. Juntos, envelhecemos e foram alguns dos melhores anos de que me lembro. No futebol jamais seremos felizes para sempre e essa finitude destrói um bocadinho em dias como o de hoje, mas o que não teremos em tempo para viver juntos, nós na bancada e tu no relvado, sobra-nos em gratidão por termos vivido tantas alegrias. 
Os teus pés, o cérebro que os guiou em cada momento, e o coração que os fez caminhar até aqui, tiveram mais um mérito que passou despercebido. No meio do pântano em que o futebol português se transformou, foi muitas vezes a forma contundente como o teu talento e inteligência se manifestavam no relvado que obrigou muitos a falar de futebol, porque pouco mais haveria para dizer. Foi talvez por isso que o meu filho Tomás, hoje com 5 anos, traquina de uma memória prodigiosa, me perguntou em boa hora quem era aquele senhor que marcava tantos golos e eu expliquei: é o Jonas, o jogador favorito do pai.
Meu querido Jonas, não sei se ajeitei estes parágrafos como era minha intenção, mas a fasquia estava muito elevada. Falemos por isso do que interessa: posso dizer-te que o Tomás decorou o nome e até hoje permaneces o jogador favorito dele. Ainda não consegui explicar-lhe que daqui a umas horas teremos que nos despedir de ti e que o vamos fazer sem jeito nenhum para as despedidas, por entre lágrimas e gritos tribais, a desejar mais um toque na bola. Também não lhe consegui explicar que neste momento és, para mim, um dos últimos ídolos, e muito menos lhe consigo dizer aquilo que o meu romantismo pressente - que tão cedo não veremos outro igual a ti. Não lhe consigo explicar tudo isso, mas vou tentando explicar-lhe o Benfica, um clube maior do que a vida, que me deu algumas das maiores alegrias que levarei daqui. Não se explica, mas estes anos contigo em campo tornaram muito mais fácil compreender. É, afinal, isso que se quer dos que vestem o manto sagrado. Que beijem a bola, o emblema e os adeptos. Foram 90 minutos perfeitos, vezes sem conta. Inesquecíveis, hoje, e se um dia chegar a avô. Obrigado por todos, por tudo, do fundo do coração."

Pelo Benfica

"A News Benfica está de regresso num dia muito especial. Às 19h30 terá início a apresentação dos elementos do plantel da equipa A de futebol para a temporada 2019/20, seguindo-se a merecida homenagem a Jonas. A partida, frente ao Anderlecht, está marcada para as 20h30.
Os 137 golos em competições oficiais (13.º melhor de sempre do Benfica), as muitas assistências, a inteligência colocada ao serviço da equipa, o brilhantismo de muitas das suas acções, o empenho inexcedível e o contributo indelével para o forte espírito de grupo dos vários plantéis dos quais fez parte são alguns dos atributos de Jonas, que não só justificam, mas também exigem, a devida homenagem que lhe será prestada esta noite.
Ao longo de cinco temporadas, o avançado brasileiro foi preponderante na conquista de quatro Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga e duas Supertaças. Obteve, nas competições oficiais, a quarta melhor média de golos por temporada (27,4), só superado por Eusébio, Francisco Rodrigues e José Águas. No Campeonato Nacional, com 22 golos por época (110 no total), alcançou a segunda melhor média, a escassas 23 centésimas do líder deste ranking, o mítico José Águas. É ainda o segundo melhor marcador no actual estádio.
Mas celebrar o passado não impede a projecção do futuro. Será com o plantel definido para a nova temporada que o Benfica, com ambição renovada, empenhar-se-á em cumprir os objectivos a que se propõe: conquistar todas as provas nacionais e superar o desempenho da época transacta nas competições europeias.
Os adeptos já começaram a demonstrar que estão com a nossa equipa. A recepção calorosa e entusiástica oferecida aos jogadores e equipa técnica no passado sábado, no Caixa Futebol Campus, foi um bom exemplo do que se espera para hoje à noite e para o resto da temporada: apoio inexcedível e inalienável dos benfiquistas à sua equipa de futebol.
Hoje é o início de todas as emoções de uma época com marca registada Pelo Benfica!"

Sport Lisboa e Taiúva

"Até Tunja, uma cidade perdida no meio dos Andes, é maior do que Taiúva. Tudo é maior do que Taiúva e, contudo, naquela longa viagem de regresso, ele só queria que o destino fosse Taiúva. A noite já ia alta, todos os outros dormiam à sua volta mas ele não conseguia. Talvez tudo fosse um erro. Talvez estivesse na hora de deixar de jogar. Tinha sido um sonho bonito que acabara numa noite de pesadelo. Só isso. Ligou aos pais. Não atenderam. O pai iria compreendê-lo. O pai nunca quis que ele jogasse. O pai nunca o deixaria falhar aquela primeira bola isolado. O pai nunca deixaria que ele atirasse aquela segunda bola ao poste. O pai nunca deixaria que ele falhasse a última emenda. O pai nunca deixaria que ele se tornasse no «pior atacante do mundo». O pai devia estar de braços abertos para recebê-lo quando foi substituído ao minuto 83. O pai devia ter um casaco na mão, abraçá-lo, e dizer: deixa estar, miúdo. Vamos voltar para casa, Taiúva é já aqui ao lado. E no carro velho do pai iriam cruzar toda a América do Sul, e ele seria novamente um moleque que brinca com a bola e falha. Todos falham por vezes. Mas não é grave, é só um jogo de bola. Taiúva é uma pequena terra, tão pequena que nem tem um restaurante aberto todas as noites da semana. Taiúva não tem cinema, nem tem internet em condições para ver os filmes de que falam na televisão. Taiúva é um porto de abrigo, é uma baliza sem guarda-redes onde o golo é sempre fácil. Obrigado por teres descoberto uma segunda Taiúva no Benfica. Obrigado, Jonas."

Compte à rebours pour le 38

"Les festivités du 37è titre à peine terminées, il aura fallu attendre quelques semaines de disette avant que la silly season reprenne ses droits.
La reprise des entraînements et des pseudos marchés des transferts font la une des journaux et alimentent ainsi notre quotidien influençant ou pas les discussions de comptoir.
Force est de constater qu’année après année, la santé financière du club fait son chemin et assure à notre organisation une optimisation des ressources aussi bien financières que sportives.
La stabilité et le maintien des cadres du staff sont pour moi la meilleure garantie d’une saison réussie. Cette pré-saison sera forcément marquée par la vente du prodige João Félix et les 120 millions record de son transfert. Tout le monde est d’accord avec Lage, il aurait pû et nous aurions voulu qu’il reste une saison de plus avant de faire le grand saut. Cette vente stratégique est pour moi des plus cohérentes si elle permet de maintenir dans nos rangs le reste d’une équipe prometteuse et en progression constante.
Analysons cela secteur par secteur :
Les cages : Vlachodymos et Zlobin me rassurent, Svilar doit être prêté. Il nous manque un bon gardien pour assurer la compétitivité entre titulaires (Perin de la juve serait une bonne option). Navas est pour moi hors scope.
Les latéraux : almeida ok - ebuehi totalement oublié des supporters mérite sa chance et a son potentiel. Salvio reste une option valable pour cette position et une référence indéniable du vestiaire. À gauche grimaldo fera je l’espère une dernière saison de qualité avant d’être vendu. Nuno Tavares est son remplaçant naturel. Mon rêve ? Atal qui joue à Nice. Trop cher je pense à l’heure actuelle.
Les centraux : Ruben et Ferro sont intouchables mais Champions oblige ... Jardel rendra service et il nous manque un 4e ... car je doute de Conti.
Milieux déf et récupérateurs : Gabriel Samaris et Florentino, que demander de mieux ?
Milieux offensifs et ailiers : Pizzi, Rafa,Jota,Taarbat, chiquinho et Gedson seront tous des confirmations. Caio Lucas doit s’approprier le système de jeu mais a l’air de promettre. Cervi est out pour moi et serait bien vendu pour 10 Millions, quel rôle pour Fejsa ? David Tavares et Tiago Dantas seront l’un ou l’autre la pépite, l’effet surprise !
Attaquants : RDT reste un investissement important qui confirme le niveau de qualité attendu. Cadix démontre une motivation extra et mérite peut-être sa place. Seferovic sera un pilier. Manque l’attaquant unique pouvant faire oublier Jonas voir Félix en même temps !
En conclusion il nous manque un gardien et un attaquant de très haut niveau. En comptant 2 gardiens en équipe A, je respecte les 23/24 joueurs attendus par mister Lage.
Actualités :
Une réunion a eu lieu avec certains sócios investis dans les projets liés au club. La rumeur de l’évolution du logo suscite interrogations et engouements en simultané ... attention à ne pas bafouer un élément crucial de l’histoire du club.
Demain c’est le match de présentation aux sócios ... dommage de ne pas avoir jumelé ce match avec l’Eusebio Cup.
Marketing du club : un peu en deçà de ce qui est attendu pour un grand club. Je me pose des questions et trouve que le partenariat avec adidas a peut-être été trop long et du coup moins productif années après années !"

L'auberge espagnole🎬

"S/S Benfica 2011/12 Home
Esta é camisola que marca os 50 anos do bicampeonato europeu conquistado ao Real Madrid. No interior há uma foto comemorativa e o símbolo do Benfica foi tingido de dourado, com duas estrelas e com rebordo em forma de palheta de guitarra.
Regresso ao decote em bico e pela primeira vez temos o patrocínio enquadrado com o design da camisola: caiu a cor da marca do patrocinador e MEO passa a estar escrito a branco sob o fundo vermelho da camisola (algo muito reinvindicado em vários fóruns Benfiquistas e que passou a ser a nossa realidade a partir desta época.
A nível desportivo, foi o ano do arranque bruto do Nolito, Aimar, Cardozo, Witsel, Garay e Rodrigo (que ficou em S. Petersburgo) mas também da casmurrice de Emerson, Capdevila sem calçar e do reforço de inverno Yannick Djaló.
Daquele golo de Javi Garcia para a Taça e dos 5 pontos de desvantagem mandados para o espaço com uma derrota em Guimarães, empate em Coimbra e derrota em casa com o Porto de Maicon após ter estado a ganhar por 2-1, fazendo do Porto bicampeão.
Mas a história que tenho associada a esta camisola é melhor do que tudo o que foi escrito até aqui: é a história em como conheci o Carlos e ele se tornou sócio do Benfica.
A história começa simples: recebi uma mensagem via twitter de um jovem galego a fazer erasmus em Lisboa a perguntar como seria a melhor maneira de ver jogos do Benfica. Encontramo-nos algumas vezes, bebemos umas sagres e fomos partilhando algumas histórias de futebol e interesses comuns. Dei-lhe alguns bilhetes de oferta, arranjei-lhe a camisola deste ano a preço reduzido e, vendo o seu interesse crescente pelo Benfica, ofereci-lhe um kit sócio para que ele imortalizasse a sua paixão recente pelo Benfica. O ano terminou, não da forma como queríamos e ele abandonou Lisboa sem antes prometer que, caso o Deportivo da Coruña subisse, havíamos de arranjar maneira de vermos esse jogo no Riazor.
E assim foi: o Deportivo sobe, sai o sorteio da Liga e o jogo na Coruña calha num fim de semana de Taça de Portugal, que por ser a 1ª eliminatória, seria fora da Luz. Logo em Agosto eu começo a planear uma viagem, desta vez não para ver o Benfica mas sim para assistir a um Deportivo x Barcelona.
Concretizou-se.
No fim de semana de 20/21 de Outubro de 2012, a minha filha mais velha fez a primeira viagem de avião e juntamente com a minha senhora, fomos os três passar o fim de semana à Coruña. Um sábado maravilhoso com sol, passeio, museu grátis de ciência e muito boa comezaina. E no final do dia, lá fui ter com o Carlos e família, que me ofereceram a entrada para o melhor jogo de futebol que vi na minha vida.
Acabou 4-5 com hattrick do Messi e bis do Pizzi (!).
Incrível! https://www.youtube.com/watch?v=07aO8JL6oQs
Despedimo-nos com um até breve e promessa de bebermos umas sagres. No outro dia falámos, ele vive actualmente na Escócia. Não sendo fácil arranjar sagres por lá, tenho uma camisola do Partick Thistle à minha espera. Depois de Lisboa e La Coruña, teremos um português e um galego, na Escócia, a falar e a beber Benfica. 
Um verdadeiro erasmus futebolístico graças ao maior de Portugal.
Que é maior que Portugal.
A título de curiosidade:
- Esta foi a minha camisola número 32 do Benfica;
- O logo Benfica das camisolas de senhora e criança era ligeiramente mais pequeno que as de homem;
- Houve uma casa de apostas que mediante o depósito de €20 oferecia uma camisola. Julgo que foi um sucesso superior ao previsto uma vez que não houve mais promoções dessas.

L'auberge espagnole - https://www.imdb.com/title/tt0283900/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1"

Basquetebol 2018/2019 - Análise

"Termino as análises individuais às épocas das modalidades de pavilhão com a análise da temporada da equipa de basquetebol.
A equipa de basquetebol encarnada tinha vindo da sua pior temporada dos últimos 10 anos, na qual tinha falhado o acesso à final do play-off ao ser eliminada nas meias-finais pelo FC Porto. Após esta época que foi uma grande desilusão, seguiu-se um Verão conturbado.
Tudo começou com a polémica e misteriosa saída de José Ricardo. Apesar do vice-presidente das modalidades Domingos Almeida Lima ter chegado a garantir a sua continuidade numa conferência de imprensa (tinha mais um ano de contrato), algumas semanas mais tarde, o antigo treinador da UD Oliveirense e do BC Barcelos acabaria por ser despedido. Um despedimento que assumiu contornos polémicos e que não foram devidamente esclarecidos, sendo que a sua saída nem foi oficializada pelo clube.
Para o seu lugar viria o espanhol Arturo Álvarez. Um treinador de 41 anos com mais de 20 anos de carreira e que já tinha corrido meio mundo, mas que apenas na última temporada ao serviço do CB Prat tinha feito um trabalho relevante. Ainda durante a pré-temporada, o reforço Kris Joseph lesionou-se com gravidade e acabaria por ser dispensado. Para o seu lugar, seria contratado Micah Downs aos russos do Avtodor Saratov.
Apesar do período conturbado, as coisas a seu tempo entraram nos eixos. Depois de concluída a pré-temporada, o clube iria iniciar a época oficial com a disputa da pré-eliminatória de acesso à Fase de Grupos da FIBA Europe Cup. Aqui a sorte foi madrasta para o Benfica, tendo-nos calhado a poderosa equipa italiana do Dínamo Sassari. Na eliminatória a duas mãos, a equipa italiana não deu hipóteses, vencendo os dois jogos sem dificuldades (34 pontos de diferença em Itália e 19 no pavilhão da Luz). Para o Benfica, a Europa acabava ali, enquanto o Dínamo Sassari acabaria por vencer a competição e sagrar-se-ia vice-campeão italiano.
Já no campeonato, a equipa teve um início notável com 14 vitórias consecutivas, sendo o melhor registo dos últimos nove anos. Mais do que as vitórias, em boa parte destes jogos, a equipa rubricou exibições dominantes de princípio ao fim do jogo, mostrando que era capaz de alcançar grandes coisas apesar da pré-época atribulada e das constantes lesões que assolavam o plantel.
Pelo meio desta sequência positiva de resultados, houve mais uma alteração no plantel. O norte-americano Quentin Snider, base recrutado directamente ao college, não se adaptou à realidade do Benfica e acabara por ser recambiado para o Imortal de Albufeira. Para o seu lugar, chegara Juan Pablo Cantero, base internacional argentino de 36 anos.
O primeiro tombo chegaria no dia 26 de Janeiro de 2019, quando a equipa deslocou-se ao Dragão Caixa e sofreu uma derrota copiosa dos azuis por 96-78. Na altura, acreditei que era apenas um dia mau, mas a verdade é que isto seria o início da derrocada. Duas semanas após este desaire, realizou-se a Taça Hugo dos Santos em Sines. Depois de eliminar a Ovarense nas meias-finais, o Benfica acabaria por sucumbir na final frente à UD Oliveirense, perdendo por 77-70, muito graças a uma primeira parte horrível na qual a equipa campeã nacional tinha uma vantagem de 21 pontos.
A seguir à perda do troféu, deu-se uma sequência de vitórias sofridas, com a equipa a não ter a consistência que mostrou no primeiro terço da temporada. Pelo meio, houve mais uma alteração no plantel. O poste espanhol Xavi Rey voltou a lesionar-se com gravidade na final da Taça da Liga, sendo substituído por Mickel Gladness, poste de 32 anos com experiência na NBA.
As exibições sofridas fizeram com que aumentasse a contestação à equipa e ao treinador Arturo Álvarez, mas a gota de água chegaria com a eliminação nos quartos-de-final da Taça de Portugal em Portimão, após derrota com a Ovarense. Sem grande surpresa, diga-se, Carlos Lisboa regressaria ao comendo técnico dos encarnados, para orientar a equipa na Fase Intermédia do campeonato e no play-off.
O começo do regressado Carlos Lisboa também não foi positivo, com a equipa a perder três dos primeiros cinco jogos, inclusive em casa contra UD Oliveirense e FC Porto. Apesar do começo atribulado, a equipa assentou o seu jogo e iniciou uma nova sequência de vitórias, ao vencer os cinco últimos jogos da Fase Intermédia, dois deles em casa dos adversários directos, alcançando assim o segundo lugar, que só seria suficiente para garantir o factor casa até às meias-finais.
Depois de eliminar o CAB Madeira sem dificuldades por 3-0, chegaria uma nova semi-final contra o FC Porto, onde chegaria a oportunidade da equipa se desforrar da época anterior. Nesta semi-final, a equipa mostrou clara superioridade face ao rival azul e branco, conseguindo vencer a eliminatória por 3-0, partindo para a final contra a UD Oliveirense com a moral em alta após 11 vitórias consecutivas. 
Chegada a final, a equipa partiria em desvantagem no primeiro jogo, após derrota por 85-75, fruto de um primeiro quarto de grande inspiração para a equipa da casa. Apesar de terem entrado na final com o pé esquerdo, a equipa deu uma resposta no segundo jogo, conseguindo empatar a final e dando esperanças aos adeptos de que esta equipa tinha hipóteses de conquistar o título nos dois jogos na Luz.
No terceiro jogo, o primeiro no pavilhão da Luz, a equipa tinha o jogo na mão a três minutos do fim, mas uma série de más decisões técnico-tácticas permitiram a recuperação à equipa da Oliveirense, que acabou que conquistar a vitória já no prolongamento. No quarto jogo, disputado três dias depois, a equipa orientada por Norberto Alves foi superior durante grande parte do jogo. A equipa do Benfica ainda conseguiu esboçar uma boa reacção no terceiro quarto, mas a equipa visitante voltaria a assumir as rédeas do jogo, num último período, onde a equipa encarnada já estava emocionalmente esgotada e sem lucidez e clarividência nas suas acções.
No final, a diferença de 25 pontos que deu o bicampeonato à UD Oliveirense, mostrou a superioridade do conjunto de Oliveira de Azeméis em todos os aspectos, colectivos e estruturais. Segue-se agora uma análise individual a alguns jogadores e alguns outros aspectos do basquetebol do Benfica:
Micah Downs - é claramente, o melhor jogador que vi jogar no basquetebol do Benfica no meu tempo de vida. Micah Downs é um jogador que faz de tudo: pontua, assiste, ressalta, ataca, defende... Como se não bastasse, o extremo ainda é dotado de uma capacidade atlética fora do comum no basquetebol nacional, que confere momentos de espectáculo nos pavilhões espalhados pelo país. Veremos como será o seu futuro...
Aléx Suárez - Aléx Suárez chegou ao Benfica rotulado de eterna promessa no basquetebol espanhol. Sendo uma aposta pessoal de Arturo Álvarez, o extremo-poste de 25 anos chegou ao Benfica com o objectivo de relançar a carreira. Apesar de chegar sob expectativas elevadas, a verdade é que o internacional pelas camadas jovens de Espanha raramente fez a diferença, mostrando ser daqueles jogadores que, ou contribui directamente para o resultado com uns triplos, ou que não acrescenta nada ao jogo. A mim pessoalmente, faz-me confusão como é que um jogador que mede 2,06m pode ser tão inútil na luta nas tabelas. É daqueles jogadores que só faz a diferença quando as bolas caiem no cesto e um jogador estrangeiro tem de ser mais do que isso.
Quentin Snider - foi recrutado à Universidade de Louisville, onde foi colega de Donovan Mitchell, estrela dos Utah Jazz. A contratação do base de 23 anos ditou um novo paradigma na contratação de jogadores norte-americanos, com a aposta em jovens recrutados directamente às academias americanas. Nos três meses em que cá esteve, Snider mostrou muito pouco. Porém, eu sempre disse que ele era um jovem que se estava a adaptar a uma nova realidade num país novo e que precisava de tempo para mostrar o seu valor, tempo esse que acabou por não ter. Apesar de não se ter afirmado, nunca deixei de o considerar um prospect interessante e acho que a estrutura do basquetebol deveria criar um contexto que permitisse apostar em mais jogadores deste perfil.
Juan Pablo Cantero - o base de 36 anos foi mais uma aposta pessoal de Arturo Álvarez e foi mais uma aposta falhada do clube. Com excepção dos jogos das meias-finais do play-off, o internacional argentino nunca deu quaisquer garantias, mostrando ser um jogador que, para além de não ser um grande pontuador, era também lento de movimentos e tinha visíveis limitações físicas, que não lhe permitiam jogar muitos minutos. Ficou claro e evidente que um base estrangeiro tem de mostrar muito mais.
Xavi Rey e Mickell Gladness - Xavi Rey foi o reforço que me deixou com mais expectativas. Internacional espanhol com carreira feita na Liga ACB, o poste era o "monstro do garrafão" que faltava à equipa já há algum tempo. No entanto, uma lesão contraída na pré-época fez com que só se estreasse em Dezembro. Na final da Taça Hugo dos Santos voltaria a lesionar-se com gravidade, levando a estrutura a ir ao mercado à procura de outro poste. É pena, porque nos poucos jogos que fez mostrou que era um jogador de outro nível. Um Xavi Rey saudável seria facilmente um candidato a MVP da liga. Mas também não podemos contratar jogadores que passam mais tempo lesionados do que aptos para ir a jogo. Foi então substituído por Mickell Gladness, um poste mais móvel e com maior poder de impulsão, o que conferia maior apetência nos afundanços e nos bloqueios. Mas por outro lado, era também um poste mais magro e mais esguio, o que fazia com que tivesse mais dificuldades a defender contra postes mais dominantes e fisicamente robustos. E foi essa fraqueza que veio ao de cima nas finais contra a Oliveirense, onde se viu ele a levar um baile do Eric Coleman. Com certeza que o Gladness vai passar o Verão a ter pesadelos com o novo reforço do Benfica. 
Arturo Álvarez e Carlos Lisboa - o começo do técnico espanhol foi promissor, com 14 vitórias consecutivas na Fase Regular e a prática de um basquetebol que privilegiava a partilha de bola no ataque, sendo um basquetebol diferente daquele que estávamos habituados a ver nos últimos anos, cuja manobra ofensiva estava muito assente no jogo exterior. Porém, quando o rendimento da equipa começou a cair, este não mostrou capacidade de a recuperar. Tendo em conta a recuperação que a equipa ainda teve com Carlos Lisboa, não iremos ficar realmente a saber se o Arturo Álvarez não tinha mesmo capacidade para mais, ou se foi apenas utilizado como bode expiatório na pior fase da época, mas a verdade é que o espanhol saiu do Benfica pela porta pequena. Aquando da sua saída, defendia o regresso de Carlos Lisboa porque naquele momento, acreditava que ele era o único homem capaz de recuperar mentalmente a equipa. Por outro lado, também sempre disse desde o dia em que ele regressou, que acontecesse o que acontecesse, teria de sair no final da época. No aspecto mental, a chicotada psicológica fez jus ao nome e surtiu efeito, sendo que Arnette Hallmann chegou a referir numa entrevista ao Record que a mudança no comando técnico foi importante para recuperar mentalmente a equipa. Porém, contra uma equipa como a UD Oliveirense, isso já não seria suficiente, e todas as deficiências técnico-tácticas de Carlos Lisboa acabaram por vir ao de cima, desde a forma como apostava teimosamente nalguns jogadores, como utilizava outros até à exaustão. Carlos Lisboa não é nem nunca será o homem indicado para liderar um projecto na modalidade.
Estrangeiros - desde a época 17/18, já passaram os seguintes jogadores estrangeiros pelo basquetebol do Benfica: Carlos Morais, Raven Barber, Jesse Sanders, Antywane Robinson, Miroslav Todic, Damier Pitts, Quentn Snider, Xavi Rey, Aléx Suárez, Kris Joseph, Micah Downs, Juan Pablo Cantero e Mickell Gladness. Ao todo, são 13 jogadores estrangeiros, a maioria dos quais com experiência na NBA e/ou em campeonatos de topo na Europa, sendo que mais de metade deles não foram mais-valias no Benfica. Já a UD Oliverense, vai buscar jogadores estrangeiros à segunda e à terceira divisão francesa, que no entanto, conseguem ter prestações mais consistentes que os nossos. Quando isto acontece, é porque alguma coisa não está a bater certo.
Rui Lança já avançou que Carlos Lisboa continuará a ser o treinador do basquetebol do Benfica, uma decisão que não faz sentido na minha opinião. No entanto, também há que por os pratos todos na mesa. Quando apenas um dos quatro estrangeiros do plantel faz a diferença, a culpa não pode ser só do treinador.
Quanto a mexidas no plantel, já foram anunciadas as saídas de Mickell Gladness, Juan Cantero, Álex Suárez, bem como as de Cláudio Fonseca (que será jogador do Sporting CP) e do internacional angolano Jaques da Conceição. Micah Downs ainda tem o futuro indefinido, sendo público que tem uma proposta para renovar.
A nível de entradas, já foi anunciada a contratação de Eric Coleman, um dos jogadores bicampeões nacionais pela UD Oliveirense. O poste de 34 anos deverá ser o poste suplente da equipa, visto que na próxima época cada plantel na Liga Placard poderá ter cinco estrangeiros (pelo menos um comunitário). Fala-se também no regresso de João "Betinho" Gomes, após 5 anos no estrangeiro.
Se não houver mais mexidas para além dos estrangeiros, mantemos grande parte dos jogadores portugueses de nível de selecção nacional, o que mostra que fazemos um bom trabalho neste aspecto. O problema é que a nível de estrangeiros deixamos muito a desejar. E o que mais me aborrece neste aspecto, é que se tivéssemos um planeamento, um treinador a sério e um scouting de qualidade, conseguiríamos dominar a nível nacional e fazer melhor figura nas competições europeias com um orçamento bem mais baixo.
Vamos ver o que o Verão nos reserva..."

Jonas

"“....Jonas hoje sem marcar ainda, a bola vem para Renato Sanches, vai meter a bola para o lado esquerdo, a bola para Eliseu, carrega o Benfica, vai mandando subir o treinador Rui Vitória, levanta Eliseu, a bola bombeada para a área... É para Carcela Gonzalez, é para Jonas... Atirou.... Goloooooooooooo!!!! Grita-se Golooooo! Goooooooooooooo! Jonaaaas! Jonas Pistolas! Gooooooooooooooooooooooooo! É do Benfica! Todo o Estádio! Todo o Estádio a Festejar Este Golo de Jonas! À Ponta de Lança!” 
Foste a minha alegria. Desde um dia em 2014, enquanto via um Benfica-Arouca no iPhone num hostel em Los Angeles, na espera para o aeroporto e em que me brilharam os olhos ao perceber que tínhamos encontrado ouro.
Foste a nossa extensão no campo, foste o meu porto de abrigo durante os jogos do Benfica, a minha fé, a cabeça, os pés e a inteligência em que eu depositava todas as minhas esperanças e sonhos. Mas antes que eu desate a chorar já enquanto escrevo isto, voltemos atrás.
Eu cresci com um Benfica que não ganhava e tinha uma relação difícil com o golo. Nunca éramos suficientemente bons ou organizados para marcá-los com facilidade. (E quando começávamos a marcar muitos, anulavam-nos. Mas não consta que o Martins dos Santos tivesse e-mail, portanto avancemos). Tudo custava. Quando o Pringle marcava um golo, aquilo era uma coisa tão difícil que eu nem sequer sonhava com outro. No fim de se escalar uma montanha, a pessoa não pensa em escalar outra, e era assim que eu me sentia. E do outro lado havia Jardel, que escalava montanhas a descer, portanto a coisa era negra.
Alguns anos depois, surgiu um paraguaio alto e magro, desengonçado, mas com golo. Cardozo não saltava muito, parecia capaz de perder todas as bolas, mas tinha uma caçadeira no pé esquerdo. Até fazia aquele barulho que a gente ouve nos filmes quando se carrega a arma: tchk-tchk – golo - tchk-tchk – golo tchk-tchk – golo.
Foi quando eu percebi que o Benfica já não tinha dificuldades em marcar golos. Que o golo não era uma quimera impossível, não era tão difícil como ter borbulhas, falta de jeito para falar com raparigas e jogar com esquemas de três centrais com o Ronaldo, Paulo Madeira e Sérgio Nunes. O Benfica não era hegemónico, mas já era uma ameaça. E tinha golo. Quando Cardozo se despediu em 2013/14 (em que faz um início de época verdadeiramente fundamental: jogo em Coimbra, hattrick no derby da Taça que talvez tenha salvo JJ), pensei que dificilmente veríamos alguém igual. Acabar uma relação goleador/adeptos é um desgosto de amor muito difícil de suportar (há uma geração de benfiquistas mais velhos que ainda fala de Eusébio como se falasse da tal e vive ali preso, ainda a sonhar com esse baile de finalistas), e eu achei que ia demorar anos a apaixonar-me outra vez. Estamos ainda em 2014 (Cardozo saiu há meses), a jogar com o Arouca, estou em Los Angeles com a mochila aos pés e o meu coração já tem dono, mas eu não faço ideia do quão feliz me farás. Se soubesse, era possível que eu não aguentasse e que o meu coração tivesse explodido ali mesmo.
O golo, de repente, era uma inevitabilidade. Já não tinha que encomendar a alma ao diabo ou esperar que Poborsky, João Pinto e Nuno Gomes se livrassem dos empecilhos que eram o resto da equipa: o golo ia chegar porque tu estavas lá. Trinta e um na primeira época. Como cartão de apresentação e com golo roubado no final que te tirou o título de melhor marcador do campeonato. Os golos surgiam – e isto é extraordinário – como um bónus de tudo o resto. A equipa girava por tua causa, impunhas sempre o ritmo que nos convinha, baixavas quando era preciso e mesmo que tivesses marcado zero golos eras o nosso melhor jogador. Mas saber que em qualquer cruzamento ou que em qualquer bola perdida na área tu estarias lá foi um bálsamo na minha vida. Porque o golo é o golo. Podemos falar da tomada de decisão, do tabelar, do jogar para a equipa, mas o ter golo não tem preço. Podemos meter as tabelas todas pelas nossas ideias tacticistas acima se ao fim do dia não estiver lá alguém para a meter lá dentro. E tu estavas. Sempre. De pé direito ou esquerdo. De cabeça. Golos feios, lindos ou mais ou menos. Tu estavas sempre. Com a alegria dos amantes e a regularidade dos funcionários. Como se fosses Aimar e Cardozo num só. Hoje, amanhã, para a semana, contra este, contra aquele (só um contra os verdes e contra os azuis e ambos de pénalti, mas perdoamos-te tudo). Tiveste direito a alcunha: Jonas Pistolas (criada pelo Cota do Bigode, lenda da internet). Eras o nosso Pistolas.
Veio depois 2015/2016 e, se um dia alguma coisa te faltar na vida (comida, casa, sexo, amor, o que for), fala com um benfiquista – qualquer um – e ele terá esta época no coração e tudo se arranjará. Não fosse uma tarde suicida do Depor contra o Barça (que acabou com vários golos de Suarez) e tinhas sido Bota de Ouro. Foram golos, golos e golos. Mas mais que isso, foi o amor. O amor em todo o seu esplendor. Eu penso que foi o Diego Armés a primeira pessoa a quem ouvi ou li a frase “Jonas é o amor” e acho que nada podia ser mais justo. Tu foste o amor. A plenitude, a felicidade, a raiva gritada contra a almofada como um adolescente, o primeiro cigarro depois do sexo e a noite de copos em Berlim com os amigos. Foste o amor. Começaste na Supertaça, ao rejeitar o cumprimento de Jorge Jesus como que a prometer guerra, brilhaste de alegria e sorrisos numa segunda-feira na Choupana como se soubesses que tudo ia acabar bem, paraste no ar para cabecear uma bola contra o União da Madeira, atiraste de pé esquerdo no último minuto no Bessa e fizeste-me atirar para a televisão e levar com mais três benfiquistas em cima de mim enquanto uma criança de dois anos olhava para nós estupefacta, e mais depressa me esqueço do aniversários dos meus irmãos do que daqueles primeiros vinte minutos infernais que tu e o Mitroglou jogaram em Alvalade, numa noite de Março de 2016. Tu eras o amor. O nosso chão, o nosso tecto, a nossa casa. Tu eras o nosso lar, até nas associações: com Lima, com Gaitan, a eterna sociedade com Pizzi e até com André Almeida. Além disso, os rivais odiavam-te e eu amava-te ainda mais por isso.
Um dos lances que mais me marcou no Vietname do Benfica foi num Leiria-Benfica, penso que em 2000/2001. Há uma jogada a meio-campo, é assinalada uma falta quando Sabry cai e, com o jogo parado e com Sabry no chão com a bola no meio das suas pernas, Bilro e Tiago aproveitam o facto da bola lá estar e pontapeiam-no várias vezes. Nas barbas do árbitro (Lucílio Baptista?). Nem um amarelo. Nada. Éramos achincalhados e gozados. Ninguém nos respeitava. Odiavam-nos e faziam de nós o que queriam. Chorei de raiva a ver esse lance. Lembro-me de berrar para a televisão sozinho em casa. Quando insultaste, sem vergonha e para as câmaras, o guarda-redes do Marítimo que passou o tempo a chatear-nos e a fazer anti-jogo, quando cavavas penáltis e a redacção d`O Jogo espumava tanto de raiva que te dedicava capas, eu sorria. Eu amava-te mais. Continuávamos a ser odiados, mas já ninguém nos dava pontapés no chão. Porque contigo voávamos. E tu eras cabrão o suficiente para vingares aquilo que tínhamos passado. Representavas-nos.
São só dezoito golos em 2016/2017 porque estiveste muito tempo lesionado. No ano seguinte foram trinta e sete e a jogar sozinho na frente, mas as lesões tiram-te do jogo do título. A retirada aproximava-se (nós sabíamos e já tínhamos vivido isto com Cardozo) e tornas-te um líder espiritual. No banco e de barba, a dar indicações. A manter-nos vivos no Inverno de 2018 (vitórias em Setúbal e na Madeira) e a ser absolutamente decisivo a entrar contra o Portimonense e a dar electricidade à equipa. É tua a pressão que dá o primeiro golo do Rafa e põe o estádio no jogo. No teu pior ano, quinze golos. No total, são 137 golos, 42 assistências e 4 campeonatos em 5. O Benfica é hegemónico por tua causa. Aos trinta e tal anos tive direito ao meu Jardel. Foi como se me limpasses a adolescência e me alegrasses a vida adulta. Não há 126 milhões que paguem isso.



Foste a minha alegria. Foste o golo que vinha sempre. És o amor, Jonas Pistolas. Obrigado por tudo."

Que Benfica se pode esperar na pré-época?

"Falar em pré-época é sinónimo de falar em reforços. Seguramente que, no seio da família encarnada, os jogos amigáveis servirão para começar a dissipar as primeiras dúvidas sobre os tão esperados reforços. Os adeptos procuram ver os primeiros toques das novas caras, de forma a conseguirem imaginar um futuro risonho para as suas cores.
Esta pré-época tem a particularidade de ser a primeira de águia ao peito não só para alguns jogadores, como para o tão acarinhado Bruno Lage. Na época passada, durante o reinado de Rui Vitória, o objectivo inicial da época era preparar a equipa para os desafios de apuramento da Liga dos Campeões. Este ano, com esse apuramento garantido e com a noticia de que Bruno Lage pretende jogar um futebol divertido, é seguramente esperado um SL Benfica bem diferente do que foi o do ano anterior.
Para a época 2019/2020, o plantel encarnado não sofreu grandes alterações, até ao momento. Do último onze apresentado no campeonato, apenas sai João Félix na tão badalada transferência para o Atlético de Madrid. Como novas aquisições temos Raúl de Tomás, como substituto directo do jovem natural de Viseu, Chiquinho, Cádiz e Caio Lucas.
Com o actual treinador a ser conhecedor das características do plantel à sua disposição e privilegiando em vários momentos a rotação de jogadores, espera-se um SL Benfica com um onze diferente de jogo para jogo numa fase inicial, sem grande intensidade mas praticando um bom futebol.
Quando assumiu a equipa principal do SL Benfica, não é novidade que Bruno Lage pretendia numa primeira fase voltar a trazer adeptos ao estádio e consequentemente fazer as pazes com o terceiro anel. Pois bem, esse objectivo rapidamente foi atingido e, por isso, acredito que se o mister afirma que quer divertir o público, o mesmo irá acontecer garantidamente.
Não tenho dúvidas que iremos ver uma equipa mais solta, com menos pressão sobre a camisola que veste, jogadores de ataque com menos responsabilidades no sector defensivo, com o único objectivo de presentear os adeptos com um bom futebol.
Mas nem todos os jogos serão seguramente desta forma, pois além de uma fase inicial, a pré-época tem também a sua fase final.
É nesta fase que começa a existir os cortes no plantel, ficando de dia para dia mais pequeno até ter o desejado número ideal de jogadores. É ainda nesta fase que a pressão aumenta, pois a Supertaça aproxima-se a passos largos.
Não sou defensor de que os maus resultados numa pré-época não são motivos de alarme, pois ao longo dos anos tem sido visível que o desempenho de uma equipa nos jogos amigáveis é o reflexo da mesma nos primeiros jogos do campeonato.
Recordo-me de um jogo amigável, que culminou com uma vitória por 2-0, numa fase muito prematura da pré-época, na época 2009/2010, contra o então vencedor da Liga Europa, Shakhtar Donetsk. Lembro-me desse jogo como se de um oficial se tratasse. Foi um SL Benfica fortíssimo, cheio de intensidade e com um futebol super atractivo. Tratou-se de uma pré-época com um futebol entusiasmante, o que acabou por se prolongar por toda a época.
Embora não seja regra de que uma equipa que tenha uma má pré-época vá ter necessariamente um mau arranque, ou vice-versa, é necessário manter sempre os níveis de concentração nestes tão importantes jogos amigáveis.
Assim sendo, espero que Bruno Lage cumpra com o pretendido, mas sem esquecer que o jogo contra o Sporting, que define o primeiro titulo da época, está já ao virar da esquina."