sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O 'feeling'!

"Bruno Lage já deixa algumas boas primeiras impressões. Ele sabe como ir vencendo é sempre decisivo; mas sabe mais

Nem precisaria o presidente do Benfica de vir publicamente confirmar Bruno Lage como treinador do Benfica até final da época para termos percebido, desde que Rui Vitória saiu, que era mais ou menos isso que inevitavelmente iria acontecer. Lage não seria apenas a escolha óbvia como, na circunstância, seria também a escolha mais sensata, tendo em conta a improbabilidade de qualquer treinador de topo - como o Benfica parece desejar para o futuro - aceitar o desafio de pegar no Benfica assim sem mais nem menos, em Janeiro, a meio de uma caminho tão difícil e sinuoso, quando o cenário no campeonato parece tão mais favorável ao grande rival FC Porto.
Para ir à procura de um treinador disposto a correr todos os riscos, na perspectiva de ter muito mais a ganhar do que a perder - e esse não é o caso de um treinador de topo, como bem sabemos - então seria sempre preferível deitar mão de um treinador da casa, que pelo menos não perde tempo a conhecer a clube nem a identificar o contexto em que vai trabalhar.
Não me custa nada a admitir, por isso, que o presidente do Benfica fale verdade quando diz que Lage foi sempre a primeira opção, como já tinha sido sensivelmente um mês antes, quando Vitória esteve quase com os dois pés de fora da Luz e acabou por ficar em qualquer proveito para ele próprio, para a equipa e para o Benfica.
Sabe tão bem como eu o presidente das águias que nesta altura, depois de tudo o que a equipa do Benfica foi perdendo pelo caminho, seria quase tão difícil conseguir que um treinador com estatuto aceitasse o desafio como encontrar uma agulha no palheiro.
Lage é, pois, repito, a escolha mais natural e a mais sensata.
Claro que, como sempre acontece com os treinadores, também ele será refém dos resultados que a equipa vier a obter. Mas terá sempre muito mais margem de manobra no que diz respeito à tolerância. Nenhum benfiquista exigirá a Bruno Lage o que exigiria a qualquer outro treinador que fosse contratado fora, com outra dimensão, outro custo e, também por isso outra, e muito maior, responsabilidade.
A responsabilidade de Bruno Lage não é a de ganhar tudo e mais alguma coisa. A responsabilidade de Lage é unir o que se desuniu, motivar o que se desmotivou, e evitar que a equipa do Benfica seja, daqui para a frente, pior do que foi, esta época, até aqui.
É exactamente por não ter estatuto nem experiência que Bruno Lage é um treinador com muito mais a ganhar do que a perder.
Se, mais coisa, menos coisa, o Benfica não passar da cepa torta, o pior que pode suceder a Lage é ter de voltar atrás, ao lugar de treinador da segunda linha, onde o seu lugar parece altamente respeitado e valorizado, mesmo sabendo que isso o fará naturalmente atrasar-se na ambição de ser treinador na principal competição do futebol português.

Se, pelo contrário, endireitar a equipa, a fizer jogar melhor futebol e continuar algumas coisas, superando, por exemplo, pelo menos alguns dos tremendos desafios que aí vêm, sobretudo de Fevereiro até aos primeiros dias de Março - altura em que o Benfica joga no Dragão para a Liga e fecha, talvez o mais difícil ciclo da águia de que há memória nos tempos mais recentes -, então pode Bruno Large ficar certo de ter encontrado o seu lugar entre o lote de treinadores que contam na equação dos clubes da Primeira Liga.
Terá sempre, portanto, muito mais a ganhar do que a perder, porque ninguém pode perder o que à partida não tem.
E, à partida, Bruno Lage não tem dimensão, nem experiência, nem estatuto, nem obviamente, e por isso mesmo, a responsabilidade.
E muito a ganhar se a coisa lhe correr bem!
Pode mostrar a competência que certamente tem, mas também vive a oportunidade de mostrar se tem ou não a personalidade, o espírito, o discurso, a exigência, algum carisma por muito pouco que ainda seja, e algum sentido de liderança por muito fraco que possa ainda revelar-se.
Duas pequenas vantagens que me parece ter, o modo como se mostra confortável na posição e o modo como fala sem complexos de futebol, do jogo e de jogadores.
É realmente o melhor que tem a fazer porque é o treinador do Benfica, pelo menos, até final da época e ponto final.
Outras primeiras impressões: mostrou convicção ao mudar o sistema de jogo e firmeza na decisão de incluir de imediato no onze o jovem João Félix.
E diz estar focado no que realmente interessa: no treino e nos jogadores para tornar melhor a equipa e tornar melhor o jogo da equipa.
Em Guimarães, esta semana,  por exemplo, pareceu-me ter lido muito bem o que o jogo pediu no momento mais difícil do Benfica.
E o discurso, sendo simples, tem conteúdo. E tem uma forma engraçada de dizer algumas coisas. E é directo. E mostra poder dizer muito com pouco.
Parece, pois, ser capaz de vir a honrar uma certa tradição de qualidade das gentes de Setúbal no mundo do futebol em geral, e, de algum modo, no Benfica em particular.
É um feeling!
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

Futebol português. Três Grandes + 1

"O futebol nacional não é competitivo? Quatro clubes disputam as fases finais de duas competições a eliminar e ocupam os quatro primeiros lugares da Liga no arranque da 2ª volta. Três clubes dividem entre si os títulos nacionais da Liga e há um clube, Braga, que tem vindo a reclamar um lugar entre os “grandes”. No que toca à principal competição a realidade não é tão diferente nas cinco principais ligas europeias – Espanha, França, Itália, Alemanha e Inglaterra.

O futebol, jogo jogado, joga-se nas 4 linhas. No rectângulo são 11 contra 11 e no final ganha um clube, contrariando a gíria que estatui ao som do apito final a Alemanha sai vencedora. 
Transportando a bola para a realidade portuguesa, entramos hoje, 18 de Janeiro, na 2ª volta da Liga NOS. Esta semana ficaram igualmente conhecidas as equipas que vão disputar as meias-finais da Taça de Portugal e no final deste mês será conhecido o “campeão de inverno” com a disputa da final four da Taça da Liga, em Braga.
Olhando para estas três competições – campeonato nacional, Taça de Portugal e Taça da Liga – surgem quatro equipas: Porto, Benfica, Braga e Sporting.
São estes os emblemas que disputam as fases finais das competições a eliminar e são estes os quatro clubes que lideram, pela ordem atrás descrita, a principal competição do futebol português quando se inicia a 18ª jornada.
Ou seja, os “Três Grandes” + 1, o Braga, que reclama dentro e fora de campo um lugar neste pódio, dominam as três competições nacionais de futebol.
Olhando para as Taças e o campeonato, sem certezas de quem irá erguer cada um dos troféus, sem antecipar se haverá um clube que ganhe o “triplete” ou faça a “dobradinha”, uma certeza surge: haverá pelo menos um clube que “ficará a ver navios” em maio. Os outros (ou outro) engordarão o palmarés e a sala de troféus.

Uma Liga na linha da Europa
No que toca à Liga NOS, o Porto lidera com 43 pontos. O quinto classificado, o Vitória de Guimarães, na companhia de Belenenses e Moreirense, tem 28 pontos. Uma diferença de 15 pontos, que baixa para 10 se comparado com o segundo classificado, o Benfica (38); nove, em relação ao Braça e sete pontos comparativamente com o Sporting.
Recorrendo à história e à estatística, o título nacional deverá calhar a um dos emblemas com os Dragões em vantagem face à concorrência. De notar que só por duas vezes desde 1934-1935 (data que a Federação Portuguesa de Futebol assume como o início do campeonato nacional), outros dois clubes - Belenenses (1945-1946) e Boavista (2000-2001) – se intrometeram na luta dos “três Grandes” que somam 36 (Benfica), 28 (Porto) e 18 (Sporting) títulos nacionais.
E é em virtude desses números, que há muito se fala da tradicional falta de competitividade do futebol português. Uma prova dividida entre Porto, Benfica e Sporting, embora o clube leonino se resuma a cinco campeonatos nós últimos 50 anos.
Se olharmos para as cinco principais ligas europeias, para, de certa forma, desmistificar essa falta de competitividade “cá do burgo”, vemos que o cenário de domínio de um clube ou a luta a dois tem sido acentuada nos anos recentes. Vejamos:
Espanha.
Na La Liga, nos últimos cinco anos, o Atlético de Madrid conseguiu a proeza de se intrometer e vencer (2013-2014) na luta a dois entre Barcelona (três título) e Real de Madrid (um troféu de campeão). Até lá, a antiga equipa de Ronaldo (sagrou-se campeã nacional 33 vezes) e actual formação (25 títulos nacionais) liderada por Messi dominavam a seu bel-prazer os relvados espanhóis. Os colchoneros ostentam 10 estrelas de campeão, sendo que nove foram conquistados no século passado.
Itália.
A Juventus, heptacampeã italiana, relegou o domínio de Milão, em especial do Inter, campeão entre 2005-2006 e 2009-2010, para segundo plano Na Serie A, a equipa das três estrelas de ouro (e de Ronaldo) tem no seu palmarés 34 títulos, sendo que os dois emblemas da capital da moda, Milan e Inter, somam 18 cada.
Alemanha.
O Bayern Munique é hexacampeão. O emblema Bávaro sagrou-se campeão nacional por 28 vezes, sendo que 27 foram na era da Bundesliga (1963). Nos últimos anos, somente o B. Dortmund levanta o disco de campeão, sendo que ainda assim a equipa do Renânia do Norte só por três vezes (2001-02, 2010-11 e 2011-12) foi campeão neste século. De destacar que o Nuremberga com nove títulos nacionais, o clube foi até ao ano de 1987, o ano em que foi ultrapassado pelo Bayern Munique, o clube com mais títulos nacionais acumulados. Oito desses títulos foram ganhos antes da criação da Bundesliga.
França.
Num campeonato que conheceu desde o início do século, nove campeões (Nantes, Lyon, seis vezes, Bordéus, Marselha, Lille, Montpellier, Mónaco e Paris Saint-Germain) o clube parisiense venceu cinco das últimas seis edições da Ligue 1.
Olhando para o panorama futebolístico gaulês verifica-se que é um campeonato marcado por um clube que reina numa era. Do Saint-Étienne, Marselha e Lyon, com Nantes e Bordéus a somarem campeonatos de tempos em tempos. O PSG tem inscrito o nome numa nova hegemonia.
Inglaterra.
Se olharmos para a data da instituição da FA Premier League em 20 de Fevereiro de 1992, o panorama é de domínio dos seis clubes, com destaque para os big 4: o Manchester United surge na liderança com treze títulos, o Chelsea, com cinco, o Arsenal, com três, tantos quanto o Manchester City que é também o único clube a conquistar a Premier League de forma invicta. Blackburn Rovers e Leicester City, outsiders, conquistaram um título cada.
A história tem que ser honrada e por isso desde 1888, 24 clubes foram coroados campeões de futebol inglês. O Man United continua a ser rei e senhor, 20 vezes campeão nacional, seguido de Liverpool, 18 e Arsenal, 13.

Ou seja, a frio, tem sido os mesmos quase sempre a saírem vitoriosos. E porque estamos a falar do futebol cada vez mais moderno, deixo para o final uma sugestão de uma série que pode acompanhar no Netflix: “Sunderland 'Til I Die” — que retrata a relação de uma cidade, dos seus habitantes e adeptos, com um clube de futebol. Clube esse que soma seis títulos de campeão inglês, todos eles ganhos antes de 1936, sendo três no século XIX e outros tantos no século XX."

Dimensão Europeia

"A afirmação do Sport Lisboa e Benfica como um caso de sucesso no futebol europeu actual é cada vez mais uma realidade indiscutível. O último estudo da UEFA, relativo à temporada 2016/17, prova o crescimento consolidado do Benfica, que surge no Top 20 de diversos rankings com significado muito relevante.
O trabalho apresentado pela UEFA enquadra o Benfica em 7 tabelas, algumas delas praticamente inacessíveis a clubes fora do tradicional Big Five (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França), o que explica, só por si, a importância do que acaba de ser anunciado. No Top das assistências no seu próprio estádio, por exemplo, o Benfica é o 17º melhor clube europeu, tendo acumulado 957 mil espectadores em 2017/18 (único indicador relativo a esta temporada).
Mas há outras conclusões importantes no estudo, que resultam da presença do Benfica em rankings tão importantes como o dos clubes com maiores rendimentos, resultados líquidos, investimentos em activos ou valorização do plantel. No Top 20 dos clubes europeus com maiores resultados líquidos, o Benfica surge na 6ª posição, com 45 milhões de euros, mas ainda mais relevante, porque estrutural, é a 7ª posição obtida em investimentos e activos fixos como infra-estruturas.
O estudo confirma ainda a descida consolidada da dívida, sendo importante referir que não aparece contabilizada a redução em 100 milhões feita já esta temporada – e que, naturalmente, terá o seu impacto em análises futuras.
Dificilmente o balanço poderia ser melhor. Estão aqui os motivos que nos levam a acreditar que o caminho escolhido é o caminho certo. E as razões porque o projecto e a gestão do Benfica são referenciados."

2019 – Odisseia no Desporto

"Ainda no rescaldo de um ano que terminou com o tradicional cabaz de Natal em vários sectores de actividade, no qual o Desporto também ganhou duas importantes batalhas em matéria fiscal, ainda assim não se pode deixar de recordar que os espectáculos desportivos foram arredados do epicentro dos benefícios fiscais que vieram congratular a luta da cultura na nossa sociedade.
O desporto, como em tudo, tem vários lados e integra uma panóplia incontável de perspectivas, cuja importância é essencial para se mesurar a verdadeira essência da sua realidade. O desporto tem o poder de mudar o mundo, de ser um verdadeiro salva-vidas, mas também consegue ser condutor de violência, dentro e fora dos recintos desportivos. Integra todos os agentes desportivos, desde o atleta, fisioterapeuta, massagista, psicólogo e treinador a qualquer outro técnico de acompanhamento desportivo, anónimos de excelência inigualável, mas também aqueles, que não o sendo, são objecto de mediatismo inusitado. Inclui modalidades individuais e colectivas, cria memórias e património inolvidável, cuja cultura importa fomentar e cultivar, integra um número cada vez maior de missões cobertas com as cores da bandeira nacional, que servem de veículo para milhares de marcas e mercados se alimentarem do espírito e sentimento que aquelas envolvem; abarca ambos os géneros, todas as orientações sexuais, crenças, identidades, raças, etnias, ou sentidos políticos, dos mais novos aos mais velhos, contando sempre com aqueles que alcançam repetidamente os seus mais profundos e complexos objectivos desportivos e com aqueles que, apesar do esforço, ficam aquém das marcas, metas, tempos, pontos ou golos necessários para atingi-los; e, naturalmente, inclui não só o desporto limpo mas também aquilo que não é sequer desporto.
Por toda a riqueza que o desporto oferece, seja ao público em geral, como a todos os entes que circundam o meio com maior proximidade, e que dele beneficiam directamente, o desporto deve ser convenientemente valorizado e tomado em consideração por quem decide em Portugal. O desporto não deve continuar a ser considerado como “cultura de terceira”, mas sim como cultura, sem distinção, inserida no leque de beneficiários das medidas incentivadoras promovidas pelo Estado. Não deve ser assim considerado, sobretudo, pelo facto de revelar níveis de desenvolvimento tão baixos que colocam o sistema desportivo nacional na cauda da Europa. E, por fim, não deve continuar a ser confundido com uma ou outra modalidade, refém de um sinónimo limitador que em Portugal perdurou e perdura no tempo, em resultado de largos anos de promoção de uma monocultura desportiva.
Pese embora não se esqueça o destaque dado, por algumas capas de jornais, aos feitos obtidos no seio de outras modalidades chamadas menos convencionais, continua a existir um caminho a conquistar na prossecução do equilíbrio mediático entre modalidades desportivas. Está na hora de dar relevância e valor aos atletas nacionais, única e exclusivamente pelos méritos alcançados e pela superação das dificuldades ultrapassadas na obtenção dos seus resultados, e independentemente das modalidades que praticam, sendo imperioso conter a multiplicação de exemplos de casos esquecidos, de mérito desportivo incontornável ignorado, minorados por outros, não raras vezes de valor desportivo residual, que são alvo e foco de atenção mediática, tantas vezes com difícil justificação.
Na era cada vez mais globalizada, o país continua a precisar de alargar horizontes e mostrar novos mundos ao mundo, precisa de promover todo o seu desporto de uma forma transversal, sem discriminação, precisa de mais medalhados olímpicos, mais canoístas campeões da Europa e do Mundo, mais atletas de marcha campeãs da Europa e do Mundo, mais atletas de triplo salto e judocas campeões da Europa, mais tenistas em grande plano no ranking ATP, mais velejadores com recorde de presenças nos Jogos Olímpicos a vestir as cores de Portugal, entre tantos outros e outras nas mais distintas modalidades, que, não só merecem a visibilidade proporcional aos seus feitos, como garantirão mais e melhor desporto português, assegurando, nos factores críticos do sistema desportivo nacional, um desenvolvimento mais rápido, que nos permitirá ir mais alto, para que, no futuro, e em todas as áreas, Portugal possa ser o mais forte."

Hungarian Dance No. 5


""Hungarian dance n.º 5"… peça de um célebre compositor alemão do romantismo novecentista que, por qualquer motivo, estendeu a sua atenção à cultura popular húngara.
Ficou na história musical. "Benfica leaks", célebre empreitada informática que um hacker português realizou para o bem da humanidade, já neste século. Por qualquer motivo, sabe-se lá se não serão "saias" ou "calças", também foi parar a Budapeste. Já o querem eternizar. Ora experimentem ouvir a peça partilhada enquanto pensam sobre o enredo que desenrolam para vosso deleite. Eu já estou extasiado! E é de ficar… Aos 23 anos descobre que ganhar a vida atrás de um ecrã com a intrusão em contas bancárias alheias, para obter dinheiro alheio, é algo genial. Não tão genial foi a forma de se safar dessa. Devolver a "pasta" para escapar à alçada criminal, qualquer um faria. É o artigo 24.º do Código Penal, diz com eloquência o seu ex-advogado, agora também comentador desportivo, nos intervalos do seu fervoroso e declarado portismo. Ahahahahah!
Uns anos mais tarde, o hacker evolui no conceito e dedica-se à extorsão. Pura e dura. Ataca onde há dinheiro à farta e segredos comerciais e pessoais. E depois negoceia para trocar confidencialidade por trabalho remunerado. Terá sido novamente safo pelo genialidade interpretativa e ouvido do seu ex-advogado, que identificou numa área de serviço de autoestrada um porto seguro para ouvir uma proposta. Em Espanha a melodia terá sido mais fina... A jactância com que isto flui só poderia encontrar na planura noticiosa doméstica o leito ideal para se espalhar. E é nessa terra fértil que chega a eternidade: o hacker português, afinal, não quis lixar o Benfica em conluio com os criminosos do costume. Nada disso. Ele quis foi neutralizar a criminalidade organizada em torno do futebol. Ele é um whistleblower! Um denunciante. Piratas somos nós! E o Benfica é que está por trás de todos os males do futebol português, não se esqueçam.
Desculpem ter-vos feito perder tanto tempo. Vamos à parte séria. Muito provavelmente, a detenção estaria a ser preparada há algum tempo. Uma defesa com William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota não se prepara em poucas horas úteis. Um é especialista na defesa de processos de criminalidade económica internacional. Reputado e caro. Ideal para o patrocínio de processos de criminalidade transnacional. O português é um valoroso advogado, respeitado pelo seu trabalho continuado na defesa e promoção da liberdade de informação. Advogado de "O público", conhecerá o périplo de toda a cadência de recursos nas instâncias nacionais, até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, onde se encontrará com Bourdon.
Este é o esquema para defesa da tese nuclear de quem utilizou os emails roubados ao Benfica, para obter segredos comerciais e informações para ataques pessoais. Limitaram-se a informar para bem do interesse social, e da verdade desportiva, com recurso a "fontes". Este não é o argumento do hacker, note-se, apesar de ser o "sumo" do comunicado dos seus novos advogados. Este pouco se importa com o direito e liberdade de informar. O seu negócio é mais reuniões, como diria o ex-advogado. É a fama, o reconhecimento internacional e o proveito inerente.
Mas a imagem destas primeiras horas é outra. Um rapaz de origens humildes que tem um talento e que está apavorado pelo benfiquismo vingativo que tudo domina nesta terra de corruptos. A esta hora devem estar a escrever algo do género para as autoridades húngaras. De anti-benfiquismo percebem de sobra. Se não for o seu mandatário, alguém por ele. Mas a humildade não lhe cerceou o engenho para viver numa capital europeia e receber, aí, compatriotas famosos, como Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva. Nas horas vagas desloca-se à Alemanha para se tornar interlocutor do Der Spiegel, representante de um consórcio internacional de meios de comunicação. Geram milhões de euros em vendas com subprodutos do futebol. E lá aparece o Grupo Impresa, com uns artigos "football leaks", de quando em quando. Quando se cansa do Benfica. Pois bem, estou-me borrifando para o hacker, para o Francisco Marques e seus figurantes, para Bruno de Carvalho e não sei ao certo se Nuno Saraiva não estará a viver na Hungria, por troca, no apartamento do hacker. São uns lacaios de provisória utilidade.
O que me interessa mesmo, é ir ao ponto desportivo. A estratégia de comunicação subjacente a toda esta associação de figuras visou soltar as amarras dos poderes corruptos que condicionam a arbitragem e a disciplina. Para que o antigamente volte, sofisticado e reforçado. A cada notícia com conteúdos criminosos, que visam o Benfica, são mais uns parágrafos de vergonhosos acórdãos e autos que são escritos. Com impunidade garantida. A cada programa televisivo de difamação e injúria doentias, são mais uns apitos viciados que controlam um resultado, a gosto. E depois? Depois não há espaço mediático e judiciário para tanta porcaria. O entupimento dos canais é a bomba atómica destes pobres de espírito, inimigos do desporto. A cada época sob este ambiente, mais longe fica a baliza adversária para o Benfica, mais longe ficam os nossos objectivos desportivos e mais perto ficam das buscas ao Estádio da Luz. Mais violência gratuita e inconsciente se enfrenta nos estádios, mais sofrem os adeptos por ser do Benfica. Autênticos heróis. Eles sim, não o hacker. Nas ruas, nas escolas, nos empregos. Somos perseguidos por uma associação de interesses de ódio e de crime organizado. O hacker não é mais que um suspeito. Mas os beneficiários da sua actividade são criminosos factuais que não conhecem limites. Corrompem o futebol. Corrompem a Justiça. Corrompem a sociedade e a coesão nacional. E duvido que algum dia lhes ponham as mãos em cima. Mas não desistimos. Ah, já me esquecia. Não fui eu que escrevi. Apareceu escrito e nem tive de pagar."

Super-Herói...!!!

"O rapaz é um herói e na opinião de um universo azul esverdeado, devia ser condecorado, tal como devia ter sido todo o departamento de escutas telefónicas da PJ que trouxe ao mundo o esquema do Apito Dourado, através de escutas que foram consideradas ilegais, em minha opinião. Ao que consta, até uma euro deputada defende agora justiça popular criminosa para o combate ao crime. Não se sabe se o diz por defender tal sistema policial ou se apenas quer garantir que o bom Rui Pinto nunca se vai interessar pela sua correspondência electrónica.
Ao contrário do que foi altamente veiculado ontem, à data que escrevo isto ainda os reputadíssimos e bem pagos advogados do piratola pro bono não assumiram a sua participação no roubo dos emails do SLB. Em defesa da não extradição, apenas referem que o apaixonado amante de futebol revelou práticas criminosas... no Football Leaks, por onde não passaram os emails do FCPorto (na mesma medida em que o hacker é o do Benfica). Convirá alguém perguntar à douta Ana Gomes, qual o crime constante no contrato de compra do Ola John, esse sim, aí publicado. Mais, saberá justificar a Sr. Dona Eurodeputada, o nível de criminalidade dos documentos que o Super Rui abarbatou do escritório de advogados PLMJ? 
Enquanto parte interessada no processo, o FCPorto limita-se a colocar o seu "Director de Comunicação" como ponta de lança e a sair de fininho em direcção aos balneários, limitando-se a garantir que nada pagou ao gracioso Batman cibernético. Mais a sul, os outros intervenientes da reunião do Altis limitam-se a pedir justificações pelo conteúdo dos emails revelados no Porto Canal, que um relatório da ERC escondido no fundo de sites de informação desportiva e de conteúdo nunca emitido em canais de desporto ou notícias, afirma claramente que foram truncados e manipulados. Em relação ao pagamento do material, os de Alvalade não sentem necessidade de o negar. Ou esperam ansiosamente que o seu silêncio apague a vergonha de terem sido embarrilados pelo aliado?"

O lugar do outro

"Roubo de informação, com notícias falsas à mistura e devassa de privacidade: isto não só acontece, como parece não merecer grande censura por parte da população

Comecemos com uma afirmação que se situa no campo da banalidade: as coisas mudaram, e mudam rapidamente. A tal ponto que coisas há tempos impensáveis são hoje banais ou quase. Pensemos nas chamadas “fake news” (abrangendo todo o tipo de falsidades, montagens, deturpações). Ou no roubo de informação, com destaque para aquela que ocorre no mundo digital, e muitas vezes com a sua subsequente adulteração. Pensemos ainda na devassa da vida privada ou no esbatimento das fronteiras desta, chegando amiúde à intimidade. Ou nas violações – reiteradas e em “cascata”, isto é, com vários degraus de divulgação – de segredos, tão importantes quanto o segredo médico, o de justiça ou o da advocacia. E pensemos, para finalizar os exemplos, e para adensar o terror, na combinação possível de todas ou de várias destas coisas. Por exemplo, roubo de informação, com adulterações ou notícias falsas à mistura e devassa de privacidade e total desrespeito por este ou aquele tipo de segredo.
Ora, isto, não só acontece com frequência, como parece não merecer grande censura por parte da população, sendo certo que há mesmo consumo indiferente, ou até consumo com aplauso – seja em homenagem ao voyeurismo ou a sentimentos ainda menos nobres, seja em homenagem a uma enganosa e, sobretudo, perigosa ideia de transparência. E julgo que essa ausência de censura merece preocupação, pelo menos equivalente à preocupação que merece a proliferação dos fenómenos referidos. Equivalente ou mesmo superior, pois essa ausência de censura é campo aberto para que aqueles fenómenos proliferem e minem tudo quanto minam (e é muito).
E o que deve perguntar-se é quais são as razões dessa ausência de censura, ou mesmo do aplauso. São várias, e complexas, e não cabe tal análise numa mera crónica. Mas há uma causa – que é velha como o tempo, embora a “modernidade” (pelas suas características) lhe dê fertilidade – que me parece óbvia, e uma das mais importantes, sendo certo que, se ela não fosse uma característica tão humana, grande parte disto não acontecia ou, pelo menos, mereceria vivo repúdio por parte da generalidade das pessoas (o que tende a não acontecer). E é ela a incapacidade de cada um se colocar no lugar do outro, do outro vítima de notícias falsas, do outro a quem roubam e publicam informação, do outro que se vê devassado, do outro que é objeto de adulteração, construção ou manipulação, et cetera. Se não houver essa capacidade de colocação no lugar do outro, então isto, não só nunca parará, como crescerá, até sabemos lá onde. E essa colocação no lugar do outro é necessariamente de identificação a dois níveis: identificação com o sofrimento e a violação de que o outro é alvo, mas também uma bem mais elementar e egoísta consciência de que aquilo também poderá acontecer a quem em certo momento não censura, ou consome ou até mesmo aplaude. Aliás, só essa consciência já poderia ser um travão bem forte. É que estes infernos não acontecem só aos outros (sejam eles quem forem), ao contrário do que distraída ou superficialmente se possa pensar."