quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O elogio do Seixal

"O ano começa com notícias que confirmam a excelência do Caixa Futebol Campus e o mérito dos responsáveis pela formação do Benfica:
• Em Portugal, os treinadores da II Liga acabam de reconhecer a qualidade que impera na equipa B ao elegerem 4 jogadores das águias para o onze do ano;
• Lá fora, a UEFA divulgou ontem a lista dos 50 jovens mais prometedores do futebol europeu, com Gedson Fernandes e João Félix a integrarem a lista.
Estas escolhas – anunciadas no primeiro dia de 2019 – são o reconhecimento nacional e internacional da qualidade do trabalho desenvolvido na academia do Benfica, de onde têm saído jogadores que brilham hoje nalgumas das maiores equipas europeias.
O talento que evolui no Seixal parece, de facto, inesgotável. Os treinadores da II Liga elegeram Jota (19 anos), Ferro (21), Florentino (19) e Alex Pinto (20) para a equipa do ano, mas havia ainda muito por onde escolher. Ficará, por certo, para uma próxima oportunidade.
Na UEFA, onde a selecção de valores foi feita (tal como cá) por quem entende específica e detalhadamente o jogo, os nomes de Gedson e Félix surgem entre os craques mais promissores da actualidade e que merecem ser acompanhados com atenção em 2019. Um orgulho.
Para o fim, mais uma boa notícia que chega com o novo ano: a renovação de Salvio (até 2022) está consumada.
Um desfecho feliz e que anima a nação benfiquista precisamente no momento em que, com a difícil deslocação a Portimão, a #reconquista volta à estrada."

Salvio 2022

Esta é uma daqueles decisões, que seria sempre criticável: se não renovasse, o jogador seria considerado um Judas, a Direcção incompetente; e renovando, o jogador só quer dinheiro para a reforma, e a Direcção é incompetente por ter renovado com um jogador com muitas lesões!!!

Pessoalmente, fico contente com a renovação do Toto. É um jogador de inegável qualidade, um jogador com muitos anos de casa, um jogador que nunca criou 'casos' no Benfica, e nem sempre foi titular. Precisamos de jogadores experientes, de qualidade acima da média e da casa, são o complemento perfeito para os jovens...

Já provou que as lesões não o desanimam, tem recuperado sempre... e estando em condições, tem qualidades únicas como extremo no nosso plantel... E os números não mentem, apesar de ser 'trapalhão' em algumas ocasiões, marca sempre golos e faz sempre muitas assistências para golo, sempre que joga...

Das loiras e das morenas ao sr. Manuel Condeixa

"1943 - na véspera do Ano Novo, os jogadores do Benfica confiavam as suas crenças, os seus receios, as suas fezadas. Algo de muito curioso, que reaviva a memória de um tempo que não volta mais...

coisas curiosíssimas que, de tempos a tempos, nos caem no colo, assim de surpresa. E nada como uma boa surpresa para nos entretermos, sobretudo numa altura como esta, em que, de repente, a vida parece ter começado a correr à desfilada em direcção a mais um ano novo que não tardará, como os outros, a ficar velho.
Reparem nesta. Uma lista de superstições de todos os jogadores da equipa do Benfica do ano de 1943. Vou avançando com ela. Não necessita de grandes comentários. É, ao fim e ao cabo, um entretenimento. Desfrutem-no.
Rogério: 'Não gosto de ver cães a entrar em campo. É mau sinal. Por outro lado, se olho para a assistência e vejo uma espectadora loira e galante a torcer pelo Benfica, é certo que jogo melhor!'
Gaspar Pinto: 'Não tenho pressentimentos. Entro em campo para ganhar, e ninguém me tira essa ideia da cabeça. Mas gosto de jogar com chuva. Sentir a relva molhada e pesada é como se me desse mais força'.
Peyroteo que o diga. Gaspar Pinto era um daqueles defesas que faziam com que o cavalheiro de Humpata, violino do Sporting, perdesse as estribeiras.
Albino: 'Gosto de ter os meus amigos nas bancadas. Dá-me conforto e energia. Se há um director do clube que me recusa um convite para gente que me é próxima, fico chateado. E demoro a esquecer a contrariedade'.
Valadas: 'Às vezes por distracção, calço primeiro a bota do pé esquerdo. É uma chatice. Sinto logo que as coisas não vão correr de feição. Por outro lado, se, no primeiro remate que faço à baliza do adversário, a bola sai ligeiramente ao lado ou obriga o guarda-redes a uma boa defesa, fico cheio de moral: já sei que os seguintes vão dar em golo'.
Prometi não me estender em comentários, mas esta resposta merece um: o que será que Valadas sentia quando o primeiro remate dava logo golo? Não acredito que lhe desse azar...
Francisco Ferreira: 'Só preciso de uma coisa para me sentir confiante e nada tem que ver com a sorte ou com azar. Necessito de entrar em campo à frente da fileira dos meus companheiros. E de levar a bola na mão ou debaixo do braço. É uma exigência!'
Exigência justa para um dos que foram um capitão absolutamente exemplar.

Até um funeral metido ao barulho
Prossigamos o relambório. Que tem chiste, não há dúvidas.
Manuel da Costa: 'Eu preciso de ser o último a entrar em campo, depois dos meus colegas todos. Mas não crio fantasmas na cabeça. Se isso não acontecer, não jogarei pior. É apenas uma preferência, não um fetiche'.
Jordão: 'O que eu quero mesmo é ver as bancadas cheias de moças bonitas. Alegra-me a alma. Elas dão ao espectáculo um ambiente de graça e de alegria. Quando entro em capo, passo os olhos em volta. Se vejo um grupo de raparigas, fico feliz. Agora, coisa que me estraga o dia e o jogo é tomar e pequeno-almoço frio. isso irrita-me'.
Pires: 'Se o primeiro passe ou remate não me sai bem, fico a matutar nisso e custa-me a recuperar a concentração. Preciso de um esforço mental acrescido. Por outro lado, se há um adversário que me carrega em falta no início do encontro, ganho uma gana suplementar. Fico doido por me ir a eles, cheio de vontade'.
César Ferreira: 'Se no caminho para o estádio me cruzar com um funeral, é certo que ganharemos. É uma fé. Ao contrário de muitos outros, não penso que traga azar. A infelicidade fica toda no cortejo mortuário'.
Julinho: 'Não gosto nada quando os meus colegas cantam no balneário, antes do jogo. Dá-me uma sensação de facilitismo. A alegria não pode ser antecipada. Tem de ser ganha e merecida. Por mim, obrigava-os todos a ficarem em silêncio. Concentrados. É sinal de que vamos ganhar o jogo!'
Teixeira: 'Não sou supersticioso. Nunca fui! Mas prefiro jogar contra equipas de maior categoria. Aborrece-me defrontar adversários fracos, que dão pouca luta. Ah! E gosto de caras bonitas nas bancadas. É sempre agradável jogar com umas moças simpáticas a ver-nos'.
Martins: 'Só preciso de uma coisa - antes do jogo, encontrar o sr. Manuel Condeixa! É um grande, grande amigo e proprietário da Casa da Lotarias Condeixa. Olho a toda a volta a tentar perceber onde está sentado. Se não o encontro, é certo que perdermos'.
Nelo: 'Loiras! Mas loiras clarinhas. Se topo uma quando entro em campo, fico com a certeza de que iremos ganhar. Já as morenas, por mais bonitas que sejam, não me garantem nada. Desculpem-me a franqueza. É mesmo assim!'
Pois: há, de facto, coisas curiosas, não é?
E que merecem que lhes prestemos atenção. Logo agora que o ano velho vai dar lugar a uma no novo. Esperemos que melhor para todos do que o anterior...
É um desejo."

Afonso de Melo, in O Benfica

A paixão de Fernando Cruzeiro

"Com 7 anos andou de patins pela primeira vez e aos 17 anos já se sagrava campeão nacional

Ainda bastante pequeno, Fernando Cruzeiro abandonava, muitas vezes, as partidas de futebol a meio para assistir aos treinos de hóquei em patins. Inusitadamente, encantava-o um desporto que nunca havia praticado. Aproveitava para coleccionar algumas peças, 'roda velha ou esfera perdida que visse no chão, era certo e sabido que a guardava religiosamente, para coleccionar algumas peças, 'roda velha ou esfera perdida que visse no chão, era certo e sabido que a guardava religiosamente, para, mais tarde (pensava), poder construir uns patins'. O tio foi quem mais aguçou o gosto pela modalidade, levando-o, com 7 anos, a andar de patins pela primeira vez. 'Agarrado à vedação, cai, levanta-se acolá, não foi preciso muito para que aprendesse os «rudimentos da arte»... De tal forma que, ao fim da primeira sessão, já adquiria certa desenvoltura'. O encanto tomou proporções de paixão!
E tal como todas as paixões, anima quem a vive e quem a rodeia. Foi o caso do seu tio, que ficou tão entusiasmado que quis partilhar com o resto da família. Entre uma demonstração e outra, foram horas de patinagem que valeram a Cruzeiro enormes bolhas nos pés. O resultado foram 48 horas deitado, sem sequer poder andar. A paixão avassaladora tem destas coisas, traz prazer, mas por vezes também sofrimento. Contudo, o desfecho é sempre o mesmo: a persistência. Continuou a praticar e, aos 12 anos, aventurou-se num treino do Benfica. Agradou, mas era muito novo.
Teve de esperar até 1947, ano em que fez 17 anos, para requerer a licença de patinador. Todavia era necessária a autorização do seu pai para que o processo ficasse completo. Cruzeiro, com medo que o progenitor recusasse, achou por bem imitar-lhe a assinatura. 'No Benfica deram pela esperteza e disseram-lhe que assim não (...) que levasse o «papelinho» com a assinatura verdadeira'. Ainda que com algum receio, pediu ao pai, que acedeu de pronto.
Superada toda a burocracia, integrou o conjunto de juniores dos 'encarnados'. Na época de estreia, sagrou-se campeão regional e nacional. Na temporada seguinte, começou a alinhar pela equipa de honra. Foi o início de uma carreira brilhante. Ao longo de 10 anos ao serviço do Clube, conquistou 3 Campeonatos Nacionais, 4 Regionais e 5 Taças de Honra. Pela selecção nacional, foi um dos elementos que mais se destacou na conquista do título mundial de 1956. A imprensa teceu enormes elogios à sua prestação, 'um «príncipe» e jogar, com a sua técnica portentosa, inexcedível. Nas fintas, no domínio da patinagem e do «stick» em tudo o que define um grande jogador'.
Saiba mais sobre as conquistas deste fantástico hoquista na área 3 - Orgulho Ecléctico do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica