quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Quando o adversário é mais forte, as dificuldades do Benfica são mais fáceis de assinalar

"Bruno Lage disse-nos, no final da Supertaça, e dos primeiros jogos da Liga, que ainda não era capaz de avaliar a equipa do Benfica. Acrescentou que deveríamos esperar por dez ou onze jogos oficias para que se pudesse fazer uma análise mais fidedigna da performance colectiva e individual do campeão nacional.
Terminada a 4ª jornada da Liga dos Campeões, ao 16º jogo oficial, o balanço para o Benfica continua positivo, excepto nos jogos onde o valor do adversário se equipara ao dos seus jogadores.
Os jogos no campeonato português, pela diferença evidente de qualidade entre as equipas, foram dando para vencer mesmo que com menor qualidade de jogo. Ao fim ao cabo, os melhores jogadores, juntos, mesmo sem treinador, tal é a diferença para os outros, devem tendencialmente ganhar mais vezes.
Como é natural, o Benfica não foi inferior na maior parte dos jogos da Liga; mas foi-o em mais jogos do que o que seria expectável. E aí, mesmo vencendo, tal como na época passada, percebe-se a pouca qualidade da equipa na sua organização ofensiva. É uma equipa pobre em ataque posicional, sem capacidade para romper com os constrangimentos defensivos que lhe são colocados por adversários que defendem com muitas pernas.
Os sinais que ecoavam na época passada, antes do Benfica estar em vantagem nos jogos, tornaram-se gritantes nesta época porque não tem acontecido, regularmente, marcar primeiro do que o adversário, e, sobretudo, marcar cedo. O desconforto passa a durar mais tempo, os jogadores ficam mais impacientes, os adeptos também, e o jogo perde ainda mais qualidade - é uma bola de neve.
(...)
O problema não vem de hoje! Mas começa a ser mais notório, mesmo no nosso campeonato, porque as equipas também já perceberam que o Benfica não se dá muito bem contra equipas que trocam muitos passes no seguimento de uma recuperação de bola. Quem se preocupa em não perder a bola assim que recupera, em não atacar de qualquer forma, em não contra atacar a cada recuperação, tem feito a equipa de Bruno Lage ficar exposta a coisas que não nos passavam pela cabeça antes: a equipa defende muitos lances, durante muito tempo, com apenas seis jogadores (os quatro defesas e os dois médios centro), e tem dificuldade em defender de forma organizada quando o adversário faz variações curtas de corredor com a bola pelo chão.
Na época passada, vimos poucas vezes o Benfica em momentos de organização defensiva por mérito da grande reacção à perda que o seu treinador pedia, mas também por alguma falta de coragem das outras equipas para tentarem sair da pressão com qualidade; hoje, o Benfica joga mais vezes perto da sua baliza, e mesmo com a equipa organizada sente-se muito desconfortável no momento de defender as suas redes. Do ponto de vista colectivo, mesmo nos momentos defensivos, não é uma equipa tão pujante como num passado recente.
Como é claro, o momento de forma de alguns jogadores não ajuda a resolver alguns problemas como dantes; mas isso é consequência de um modelo muito virado para as individualidades, e cuja maior arma ofensiva não é a forma como os jogadores se ligam uns aos outros e as dinâmicas que todos conhecem, mas sim a inspiração individual de cada um dos seus elementos.
De forma demasiado simplista, Bruno Lage atira os seus jogadores para os posicionamentos que ele entende como correctos, e como não quer matar a tomada de decisão dos seus jogadores (como já disse várias vezes), deixa que eles se safem. Isto funcionará sempre que os jogadores escolhidos tiverem qualidade para interpretar o jogo da forma mais correta, sempre que se juntarem jogadores que se conheçam muito bem, e que tenham a capacidade para executar tudo o que imaginam. E como se percebe pela descrição, não há tantos jogadores assim no Benfica, e os que há nunca jogaram todos juntos nesta época.
Por isso, pede-se mais do treinador encarnado. Mais do que vitórias (que são fundamentais), é importante que a sua organização se consiga impor a dos adversários de forma inequívoca - quer por juntar os melhores jogadores no mesmo onze (como na época anterior), ou então por tentar criar caminhos (não apenas posicionamentos, mas também relações colectivas) que façam aparecer o talento de alguns jogadores que hoje parecem ter sumido.
Mais do que a estratégia, a equipa deve encontrar uma coerência nos seus comportamentos que não é colocada em causa pela falta do jogador A ou B.
Claro que os treinadores não são deuses, e que são os jogadores que jogam; mas então, convém colocar os melhores jogadores nas posições que mais os beneficiam dentro da ideia que se quer, e tentar enquadrar os outros para que possam esconder as suas fragilidades.
Caso contrário, e sem que se equacione a mais valia dos jogadores em todos os momentos do jogo e se hipervalorize apenas um aspecto, o risco é de tudo correr bem naquele ponto, a equipa cumprir com a proposta posicional pedida, mas depois não conseguir tirar proveito daquilo que o treinador imaginou para aqueles posicionamentos.
(...)
E não, não é uma questão de diferença de qualidade entre as equipas, porque se assim fosse não estaríamos a ver o Ajax a fazer as carreiras que faz na Liga dos Campeões ao nível de pontos, mas sobretudo ao nível de exibições em casa e fora de adversários melhor apetrechados do ponto de vista individual.
E sim, o Ajax também joga numa liga de pouco ranking em comparação com a espanhola, alemã, italiana ou inglesa. O problema está na diferença entre a forma de jogar de uma equipa e de outra."

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