segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A Geração de 99 está aí e quer dançar, mas precisa de palco

"Em Portugal há um grupo de jogadores que já mostraram (duas vezes) que são os melhores da Europa da sua idade. Mas isso parece não chegar. O nível da Liga não tem encantado - que equipa da nossa Liga é fantástica, no momento? - mas aparentemente é alto demais para que estes jovens tenham oportunidades. Esta é a história de Francisco Trincão, Diogo Leite, Jota e muitos outros. De 99 e não só

Mais de um ano depois da conquista do segundo Europeu por parte da ‘Geração de 99’ – primeiro, no Azerbaijão, Portugal foi campeão da Europa de Sub-17; dois anos mais tarde, em Espanha, sagrou-se vencedor do Europeu de Sub-19 – e volvidas 10 jornadas da Liga NOS, encontramo-nos na altura ideal para realizar o primeiro balanço sobre a aposta (ou falta dela) neste grupo de jovens que superaram nas finais a Espanha de Brahim Diaz e a Itália de Moise Kean e Nicolò Zaniolo. Coisa pouca, portanto.
Dos 29 jogadores envolvidos nas fases finais dessas duas conquistas (que deram origem à reportagem do Canal 11 intitulada "Geração de 99:"Dançar ao som da história"), praticamente ninguém se encontra a jogar com regularidade na Liga NOS.
Florentino Luís, no Benfica, é a única excepção, à qual Miguel Luís, no Sporting, se tem juntado, embora a situação deste segundo seja ainda muito dúbia. Os outros 27 ou estão no banco… ou no estrangeiro.


Rafael Leão, Thierry Correia, Rúben Vinagre, Domingos Quina ou João Virgínia são alguns dos que já partiram, em contextos diferentes, mas que têm em comum o facto de, neste momento, já nenhum contribuir para o "Futebol com Talento" que a Liga Portugal usa como slogan para vender as competições nacionais. As motivações terão sido diversas, mas a nenhum terá sido alheio o facto de por cá a qualidade raramente vir antes da idade nos critérios de selecção presentes nos clubes.
João Félix, da mesma geração, também saiu, mas esse fê-lo pela porta grande, após brilhar nos palcos portugueses.
Jota e Francisco Trincão, melhores marcadores do Euro de Sub-19, e Diogo Leite, central azul e branco, são porventura três dos mais claros casos daquilo que José Saramago falava em ‘O ensaio sobre a cegueira’ quando escreveu, de forma tão simples quanto certeira, “o medo cega”.
Aliado a estes três, todos envolvidos nas selecções jovens de Portugal, também Daniel Bragança, por alguma razão desconhecida afastado do grupo que conquistou a Europa por duas vezes, é um exemplo gritante do medo que há em Portugal de apostar… no talento. Curiosamente, ou não, falamos de 4 jogadores dos 4 maiores clubes portugueses.
Jota leva 188 minutos de competição (e apenas 58 na Liga, onde foi essencial ao fazer a assistência para o golo de Seferovic aos 90’, contra o Moreirense, que deu a vitória aos encarnados), Francisco Trincão tem 230, sendo somente 92 deles no campeonato, e Diogo Leite, que ainda não se estreou esta época na Liga, tem 180 minutos pelos dragões.
Daniel Bragança, esse, nem sequer ficou na equipa principal do Sporting CP, brilhando na Liga Pro, ao serviço do Estoril, onde foi considerado o melhor jogador da prova no mês de Setembro e já conta com 3 golos marcados em 7 jogos.
Além destes, de 99, há vários outros, ligeiramente mais jovens (e também alguns um pouco mais velhos), que estão aí a chegar e vão reclamar o lugar que o seu talento merece. André Almeida, no Vitória de Guimarães e de 2000, tem mostrado que não há por que ter medo da juventude nem da inexperiência desde que a qualidade esteja lá. Ivo Vieira, o treinador, já lhe concedeu 557 minutos e ele tem correspondido. Erra, como os outros que somam anos e anos de carreira, mas dá mais do que aqueles que levando mais tempo nos relvados, nunca tiveram (nem terão) a qualidade dele.
No minuto 2’49 da reportagem partilhada no início deste artigo, Jota resume o estado de espírito de uma geração que quer danç… jogar, mas não tem palco. “Nós queremos é jogar, jogar e jogar e estamos ansiosos por chegar lá e mostrar tudo aquilo que valemos”."

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