"O SL Benfica compete na primeira divisão nacional – e em provas europeias – nas cinco principais modalidades de pavilhão, no sector masculino: futsal, andebol, hóquei, voleibol e basquetebol. Em todas elas assume a intenção de vencer. No entanto, a capacidade para conquistar títulos não é a mesma em todas as cinco. Em jeito de análise ao início de época de cada uma delas e de antevisão ao que cada modalidade pode oferecer ao clube na presente época desportiva, hierarquizo as cinco referidas modalidades em função do nível de preparação e valia.
Hóquei – O último lugar do ranking foi bastante disputado pelo andebol e pelo hóquei encarnados. Ambas as modalidades me parecem estar num patamar inferior às restantes, a começar pelo (aparente) investimento. Contudo, entreguei o último posto ao hóquei pela queda da modalidade nos últimos cinco anos. Ao contrário do andebol, que não tem grande expressão no clube lisboeta há anos, não foi assim há tanto tempo que o desporto patinado trouxe glória europeia ao SL Benfica. Nas épocas 12/13 e 15/16, as águias sagraram-se campeãs da Europa, algo que me parece fora do alcance esta temporada.
Nos mais recentes anos, tem sido notória a diferença de qualidade, de intensidade e de regularidade durante a época entre o SL Benfica e os três outros crónicos candidatos aos títulos – Sporting CP, FC Porto e UD Oliveirense. Ainda assim, temos assistido a uma constante aposta no hóquei patinado por parte desses clubes e, em contraponto, o SL Benfica tem descurado uma modalidade que já ofereceu ao Museu Cosme Damião, entre outros troféus, 23 títulos nacionais, 15 Taças de Portugal e duas Ligas Europeias (prova maior do hóquei patinado europeu).
Depois do quarto lugar na época transacta, os dirigentes encarnados parecem ter tapado os olhos com o antebraço, num ato púdico, para não verem nua a clara necessidade de mudar de ciclo. A base estrutural da equipa manteve-se, quando deveríamos estar perante o início da revolução de um plantel um ano mais velho e um ano mais cansado das mesmas caras e da mesma rotina. A qualidade não abandonou jogadores como Nicolía ou Adroher, mas a intensidade e a vontade que demonstram não é condizente com o exigível numa secção com tal historial, num clube com tanta história.
Apenas o regressado Gonçalo Pinto, que esteve emprestado ao Lodi e ao Valongo, e Edu Lamas, espanhol ex-Deportivo Liceo e namoro antigo do clube, ingressaram no clube, para suprir as saídas de Miguel Rocha e de Xavier Cardoso, respectivamente. O Benfica fica a ganhar com as trocas mencionadas, mas não fica mais forte o suficiente para ser, em teoria, tão favorito à conquista dos principais títulos como os três rivais. Até porque o maior problema mantém-se: a falta de um guarda-redes de valor indubitável, que possa decidir jogos, como fazem Malián, Girão ou Nélson Filipe.
Andebol – Posição injusta – mas, creio, ajustada – para a modalidade com maior crescimento e mais “esforçada” dos últimos anos. A contratação de Carlos Resende para homem do leme foi fantástica e tem dado resultados a certos níveis; nota-se uma tremenda evolução dos jogadores e de toda a estrutura, patente na crescente qualidade dos escalões de formação ou, por exemplo, no critério das contratações. Ainda assim, o título de campeão nacional continua fugido ao SL Benfica, andando a monte desde 2008.
O domínio de FC Porto e Sporting CP tem sido demasiado avassalador para que o clube da Luz o contrarie, sobretudo dada a forte aposta que os rivais fazem na modalidade, que contrasta com o projecto a médio-longo prazo dos encarnados. Esta época, note-se, o plantel das águias tem 12 portugueses e seis estrangeiros. Situação idêntica regista-se no FC Porto, que apresenta 12 portugueses e cinco estrangeiros. Todavia, o Sporting CP tem no seu plantel sete portugueses e dez estrangeiros, além de um treinador francês que, há duas épocas, disputou a final da Liga dos Campeões de Andebol. A aposta encarnada está longe de ser suficiente para ultrapassar o rival lisboeta na recta. Resta esperar por uma curva.
Até lá, incluindo esta temporada, o título deverá continuar a ser uma miragem para o grupo de Carlos Resende, apesar da boa réplica dada frente ao Sporting, na Luz. Contudo, parece existir um plano a médio prazo bem definido, bem estruturado e bem liderado, que tem tudo para dar certo a seu tempo. Se e quando resultar, o domínio do andebol luso poderá ser do Benfica ou ser repartido entre os três “grandes”.
Basquetebol – Depois de um período de domínio quase indiscutível, o basquetebol benfiquista, hoje liderado por Carlos Lisboa, atravessa há dois anos uma fase de menor fulgor, aproveitado – com muito mérito – pela UD Oliveirense, bicampeã em título. Este ano, procura voltar ao topo da tabela do jogo das tabelas. E reforçou-se nesse sentido e com sentido.
Os regressos de Damian Hollis e de Betinho e as contratações de Gary McGhee, Eric Coleman e Toure’ Murry tornaram o plantel encarnado substancialmente mais forte do que os dois últimos. Coleman e McGhee trazem uma capacidade de ganhar bolas debaixo dos cestos como há muito não se via no Pavilhão da Luz. Betinho e Hollis oferecem uma inegável qualidade técnica ao jogo do SL Benfica e Murry dá critério ao momento ofensivo das águias.
As primeiras quatro partidas realizadas, de apuramento para a Liga dos Campeões, auguram uma época positiva. Apesar da eliminação e subsequente queda para a FIBA Europe Cup, o nível exibicional exposto permite acreditar na reconquista de títulos (viram o que eu fiz? Reconquista? Adiante). Ainda assim, é preciso trabalhar muito e no duro, como fez questão de demonstrar o Vitória SC na primeira jornada da Liga, num jogo em que o SL Benfica venceu, em casa, apenas por dois pontos (78-76).
Futsal – Depois da reconquista (não foi de propósito, agora) do título na passada época, o futsal benfiquista procura revalidar o campeonato nacional e voltar a vencer (que é como quem diz “reconquistar”) o título europeu conquistado em 2010. Vai à procura de o fazer com a pressão de não falhar, sabendo que, tendo sucesso, pode pôr fim à hegemonia do Sporting CP, mas que, falhando, pode não voltar a ter uma oportunidade para suplantar o eterno rival.
As saídas de Marc Tolrá e de Raúl Campos, ainda que inevitáveis – foram decisões dos jogadores, que têm que ser respeitadas -, deixaram uma herança difícil de carregar. Para o fazer, foram recrutados Fernando Drasler (ao El Pozo Murcía) e Célio Coque (ao Sporting), ainda que este último não venha para ser opção exclusiva para Joel Rocha. Não creio que tenham sido trocas de sobremaneira positivas para as águias, mas são jogadores interessantes.
Drasler, como explicado pelo próprio treinador do Benfica, traz intensidade e agressividade sobre a bola, além de grande critério e ajuda na construção ofensiva, beneficiando ainda do pormenor de ser canhoto. Célio Coque, de 20 anos, vem para crescer e confirmar o potencial demonstrado no rival e na seleção de sub-19, que capitaneou no Europeu da categoria.
Também do Sporting chegou André Sousa, experiente guardião português que veio colmatar a saída por empréstimo de Cristiano. Aqui sim, uma clara melhoria. Experiência, encaixe de remates a 15 metros, critério na reposição de bola e capacidade de sair a jogar e apoiar o ataque – como explicado por Joel Rocha – são os apetrechos ganhos pelo clube da Luz com a chegada do conimbricense.
Pese embora a goleada sofrida na Supertaça e o empate em Ponte de Sôr na primeira jornada, as mais recentes exibições e a vitória na Luz frente ao Sporting deixam antever uma temporada positiva para as águias e levam a acreditar que o SL Benfica pode acabar a época como não a começou: a levantar troféus.
Voleibol – De longe, a modalidade mais bem estruturada e mais preparada para dominar o panorama nacional das cinco analisadas. Viu a sua hegemonia colocada em causa pelo Sporting CP, que venceu o campeonato há duas épocas, mas respondeu de imediato, com boas contratações, em particular a de Marcel Matz, um jovem treinador de enorme valia. E, dessa forma, voltaram as conquistas: na temporada de estreia do treinador brasileiro, o SL Benfica venceu a Supertaça, a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional.
Ao contrário do hóquei, a secção de voleibol decidiu não estagnar e reforçou-se de forma a superar os novos desafios que vai enfrentar internamente – em particular, um Sporting reforçado – e fazer boa figura na Europa do voleibol. Afonso Guerreiro foi contratado ao Sporting de Espinho com o estatuto de promessa a virar certeza e André Aleixo foi contratado ao SESC-RJ (Rio de Janeiro) com o estatuto de estrela. Apesar de ser desconhecido e desconhecedor do voleibol europeu, aparenta ser uma contratação de altíssimo nível. Depois de uma época extraordinária, o voleibol encarnado dá ainda mais um passo em frente.
A qualidade do plantel, do treinador e da estrutura aliada às boas exibições de pré-época – com vitórias frente ao Almería e frente ao Heitec Volleys Eltmann – preconizam uma época de sucesso para o Benfica a nível interno. Além disso, não será descabido acreditar numa boa prestação, pelo menos, na qualificação para a Liga dos Campeões, que as águias começam a disputar a 22 de Outubro, na Bósnia-Herzegovina, frente ao Mladost Brcko."
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