segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A arma do povo

"Sei bem que os tempos mudaram e que a crise de representação é uma realidade. Mas o que sei é que o voto é a essência da representação.

1. (...)

2. Tenho a consciência que, em certo sentido, já sou um senador eleitoral. Mas também sei, como me advertem amigos que respeito, que não me posso silenciar acerca de realidades vividas e sentidas e de situações complexas ocorridas. Sei bem, desde o sábio e profundo ensinamento do Professor Adriano Moreira, que «os cemitérios estão cheios de pessoas que se julgavam insubstituíveis» e que a tolerância face a graves ocorrências belisca a essência da cidadania. Não há o direito ao silêncio, assumo-o. Mas há o direito de escolher o momento da pronúncia. E esses momentos ou instantes não são concretizáveis em dia de dita reflexão - algo que já faz pouco sentido nas actuais circunstâncias - e, consequentemente, em domingo eleitoral. Sabendo nós todos que o desporto não foi tema desta campanha e que os diferentes programas eleitorais, salvo uma ou outra excepção, não suscitaram nem real novidade nem, acima de tudo, motivaram qualquer tipo de debate. O desporto esteve e passou ao lado da campanha, o que não deixa de ser pelo menos intrigante. Vivemos tempos de quase neo-mercantilismo no desporto, o que não deve deixar de suscitar alguma perplexidade e, até, preocupação. Ficamos à espera do que o futuro programa de Governo nos reservará para o desporto, sua estrutura e sua concreta e subjectiva responsabilidade. Com a consciência que vamos sentir, a curto prazo, as primeiras deliberações da recente criada Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência. Que tem a sua sede, relembro, em Viseu!


3. Arrancou ontem o campeonato nacional de basquetebol, denominado como Liga Placard. São catorze os emblemas participantes e a grande novidade é o regresso do Sporting e logo com uma vitória com números impressionantes (119-58). Tal como no andebol e no hóquei os três grandes do desporto português vão defrontar-se nesta modalidade cuja atractividade global é protagonizada pela NBA! É, no entanto, uma liga totalmente litoral. Com algumas particularidades. Aveiro tem quatro representantes e entre eles está o campeão em título, Oliveirense. Depois o Barreiro tem dois clubes e lá está o emblemático Barreirense, agora com uma lutadora liderança feminina. A Ilha Terceira tem dois clubes e lá está, por exemplo, o Lusitânia. E a Madeira marca presença com o CAB Madeira. E em Lisboa são, tão só, Benfica e Sporting. Benfica que ontem derrotou, com extrema dificuldade, um audaz Vitória de Guimarães, o único representante do Minho. Tal como o Porto também só com dois clubes. Permitam-me uma nota pessoal: o regresso à nossa principal Liga de basquetebol de um grande senhor da modalidade, Alberto Babo. Agora liderando o Maia Basket. Foi campeão nacional e não esqueço a sua liderança vitoriosa no Queluz. É um grande senhor do desporto e do basquetebol. E um cidadão empenhado e exemplar. Bom regresso meu caro amigo!


4. Bernardo Silva está a ser vítima de um fundamentalismo terrível que abala o nosso tempo. E que tem de ser combatido! Brincou com um colega e em razão da raça diferente surgem indícios de conduta imprópria, dizem com intuitos racistas. Acredito que haverá, em terras inglesas, bom senso e capacidade de resistir a vestes fundamentalistas destes tempos que se dizem modernos. E Bernardo Silva que não seja exemplo fácil. E espero que o seu clube o defenda até ao limite. Algo que sei que o Benfica faria. Faria mesmo!


5. (...)"


Fernando Seara, in A Bola

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