segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O pior central do mundo

"Fazer pior do que Varandas tem feito era impossível. Depois do terramoto de Alcochete, e da loucura total em que o clube mergulhou na fase final de Bruno de Carvalho, do que precisava o Sporting? De estabilidade.

Sebastián Coates, cinco golos oferecidos ao adversário, três derrotas por sua culpa, deve ser um palmarés único no mundo para um central. Nunca vi uma coisa assim. Ora, Coates era tido até há pouco como um excelente jogador. Lembro-me de exibições suas de grande nível contra grandes equipas: o Real Madrid, a Juventus, o Atlético de Madrid. O que se passou?
Julgo que Coates não mudou – o que mudou foi o mundo à sua volta. O que mudou foi o Sporting e a própria equipa leonina. Coates é o espelho da desorientação que tomou conta do clube. E cujo responsável tem outro nome: Frederico Varandas.
Fazer pior do que Varandas tem feito era impossível. Depois do terramoto de Alcochete, e da loucura total em que o clube mergulhou na fase final de Bruno de Carvalho, do que precisava o Sporting? De estabilidade. O Sporting precisava de estabilidade como de pão para a boca. Precisava de acalmar, de serenar, de assentar as águas.
Ora o que fez Varandas? A primeira coisa foi despedir Peseiro (sem ter dito nada, note-se, na campanha eleitoral). Logo aí, foi um erro de palmatória. Ainda por cima, despediu Peseiro para ir buscar um desconhecido, sem currículo, e que não conhecia o futebol português.
Mesmo assim, o homem não se saiu mal. Ganhou dois troféus. Pode dizer-se que foi com sorte; mas ganhou e outros perderam. E, num ano que era para estabilizar, ganhar dois troféus e ficar destacado em 3.º lugar não era nada mau.
Naturalmente, Keizer ficou. Fez a pré-época. Mas inesperadamente, ao fim de 5 jogos, foi despedido. Ora, um treinador avaliado durante o ano passado em dezenas de jogos deixava de prestar de repente por causa de 5 jogos? Fazia algum sentido?
Leonel Pontes tomou conta do leme. O mais inteligente seria conservá-lo até ao fim da época – porque conhecia o clube, conhecia o campeonato português e parecia um homem ponderado. Mas não: Varandas tinha de demitir mais um treinador. Substituiu-o por um jovem com potencial, mas que está no início da carreira e precisaria de um ambiente calmo para se afirmar. O oposto do que existe em Alvalade…
E não contente com isso, Varandas disse aos 4 ventos que tentou contratar outros treinadores que recusaram. Ou seja, disse claramente que Silas é uma solução de recurso, diminuindo-o aos olhos de todos e até dos jogadores.
Enfim, um treinador pouco experiente entra em posição fraca num clube em crise. Tem tudo para ser a próxima vítima.
Mas se Silas falhar, Varandas tem de se demitir. É verdade que será mais um pontapé na estabilidade. Mas quem semeia a instabilidade acaba sempre por ser vítima dela."

Liga: foi bom, parabéns, mas não é para repetir

"A propósito do resultado de dois milhões de lucro

A Liga Portugal anunciou esta segunda-feira que fechou o último exercício económico com um resultado positivo de dois milhões de euros.
Ponto importante: para quem ainda há poucos anos vivia no limbo da falência, sem receitas e com uma dívida astronómica, obrigado a ser ajudado pelo dinheiro da Federação, o que nos foi transmitido pelo relatório e contas apresentado é merecedor de aplausos.
A Liga liquidou a cem por cento as dívidas à Federação, aos bancos e ao Estado. Nesta altura, aliás, só ainda tem uma pequena dívida para com fornecedores.
No último exercício aumentou os rendimentos e os gastos, e manteve os resultados positivos. 
Notável, sem dúvida.
No entanto, e quando passar este barulho provocado pelas ameaças recentes de falência, convém que toda a gente perceba que os lucros da Liga de Clubes não são bem algo positivo.
No fundo, a Liga não existe para dar lucro: existe para investir no futebol, para dinamizar o produto futebol, para promover os campeonatos profissionais. O objectivo da Liga é no fundo fazer um futebol melhor, mais rico, mais espectacular, conseguindo ainda assim fazer tudo isso sem ter prejuízo no final do ano. Atingir o tão falado break-even.
O dinheiro que apresenta como lucro no final do exercício é dinheiro que não foi investido nesse objectivo para o qual a Liga foi criada: tornar melhor e mais universal o campeonato nacional. 
Ninguém - nem os clubes, nem os adeptos, nem os parceiros, nem os investidores - está à espera de lucros de milhões.
Por isso, e para início de conversa, foi espectacular conseguir tamanha recuperação financeira. Parabéns pelos lucros. Mas não é para repetir no futuro, ok?"

Toda a verdade sobre a contratação de Silas

"Amigos, sportinguistas, compatriotas, Teresa, Teresa, Teresa.
Venho aqui não para me enterrar, mas para me elogiar. Dizem que elogio em boca própria é vitupério, pois vitupério seja. Mesmo que me enterre, Teresa, Teresa, Teresa, enterrarei-me (creio que é assim que se diz) a proferir essa palavra tão digna e amada pelo povo: “eu”.
As pessoas querem conhecer o processo de escolha do novo treinador. Vou contar tudo. Perguntam-me se o mister Silas foi a minha primeira escolha. Não foi, Teresa, não foi, e digo-lhe já porquê. Terá sido a segunda? Não, Teresa, a segunda escolha mister Silas não foi. A terceira escolha. O mister Silas foi a terceira escolha. E porquê? Foi a terceira escolha porque antes dele houve duas escolhas e, de acordo com a numeração ordinal, a seguir à primeira escolha vem a segunda e, só depois, a terceira. Será uma terceira escolha pior do que a primeira? Tenho as minhas dúvidas. Quem garante que a minha primeira escolha seria alguma coisa de jeito? A opção por uma terceira escolha é um ato de humildade. Só os arrogantes confiam cegamente nas suas primeiras escolhas. A minha história diz-me que é melhor confiar cegamente nas terceiras escolhas.
Lembram-se do que aconteceu no ano passado? Passo a lembrar aos mais esquecidos. Quando cheguei à presidência estava José Peseiro no banco e eu pensei logo “com este homem não vamos a lado nenhum.” Precisávamos de um treinador ambicioso, com provas dadas no futebol europeu e com uma ideia de jogo atrativa. Definido o perfil, sabem qual foi a minha primeira escolha? A Teresa sabe? Johann Cruyff, Cruyff, o homem que revolucionou o futebol, Teresa, um dos homens que inventou o futebol moderno, Teresa. Incumbi o meu director desportivo de fazer os contactos. Comprei-lhe os bilhetes para a Holanda, acompanhei-o ao aeroporto e, certa noite, já em Amesterdão, ele liga-me um pouco atrapalhado: “Presidente, tenho uma má notícia, o senhor Cruyff já morreu.” Percebe, Teresa? Nenhum curso nos prepara para estas surpresas, nenhuma comissão de serviço no Afeganistão nos dá estaleca para um imprevisto como este. Mas num clube com a grandeza do Sporting temos de estar preparados para tudo. Não desanimei e disse ao meu director desportivo: “olha, já que estás aí traz-me um treinador holandês que esteja vivo.” E foi assim que chegámos ao senhor Keizer.
Correu bem? Não. Correu assim-assim? Não. Correu mais ou menos? Não. Correu mal? Sei lá. Correu extraordinariamente bem? Claro que sim. E correu tão bem que ao fim da terceira jornada desta época tive de o despedir. Teresa, Teresa, Teresa, eu sou um homem muito desconfiado. Quando as coisas correm espetacularmente bem, desconfio. Disse para com os meus botões, “isto está a correr tão bem que daqui para a frente só pode correr mal.” E mandei o mister Keizer colher túlipas para a Frísia. Se eu tinha ideia de quem iria para o lugar dele? É claro que não tinha. Não tinha e não tenho, mas lembrei-me que a equipa da Liga Revelação estava tão bem que era preciso fazer alguma coisa antes que aquilo descambasse e fui lá buscar o treinador, um profundo conhecedor da casa, um treinador sem qualquer currículo, o homem que fez de Cristiano Ronaldo o que ele é hoje. Confiei-lhe uma missão e hoje posso dizer qual foi. Cheguei ao pé dele e disse-lhe: “Leonel, pá, só te peço que não percas todos os jogos.” E ele perdeu todos menos um, que empatou. Que mais poderia eu pedir ao homem?
Concluída a missão com sucesso, pensei em possíveis substitutos. Mas confesso que a primeira ideia é que era verdadeiramente arrojada, revolucionária, e era a seguinte: não ter treinador.
Teresa, Teresa, Teresa, uma vez contaram-me uma história. Na União Soviética, alguém teve a ideia de fazer uma orquestra sem maestro. Está a perceber? Estão a perceber, amigos? O maestro é um gajo com a mania. Fica ali de batuta na mão, armado em maluco e os outros que trabalhem. Parece que a ideia não vingou, mas eu sempre a achei fascinante. Um clube como o Sporting precisa é de um presidente, de preferência bem remunerado. Os treinadores só atrapalham e, além disso, não são eleitos democraticamente. Muitas vezes são escolhidos assim ao calhas, por um maluco qualquer. (Sei por experiência própria do que estou a falar).
E convenci-me da bondade da minha ideia quando o meu diretor desportivo me disse que podíamos fazer uma grande época só com um ponta-de-lança. “Nem inscrevemos o Pedro Mendes?”, perguntei-lhe eu timidamente. “O quê, meu? Estás maluco? Um puto da formação que marca golos? Deixa-te disso. O que está a dar são os avançados móveis”, disse-me ele. Quase chorei de alegria ao contemplar as possibilidades abertas pela solução radical de não ter treinador e de aguentar uma época inteira só com um ponta-de-lança. Como é que nunca ninguém se tinha lembrado disso? Fizemos uma pesquisa na Amazon e mandámos vir o Bolasie. Os outros dois foi por indicação do motor de busca: “frequentemente comprados juntos.” Para dar a táctica e discutir com os árbitros bastava o Bruno Fernandes. Como lhe tínhamos aumentado o salário pensei que ele não levaria a mal se lhe pedisse para orientar a equipa, distribuir as camisolas pelos companheiros antes dos jogos e falsificar cartas de condução.
O Bruno, que é uma joia de moço, aceitou logo, mas ao fim de dois dias mandou-me uma mensagem de voz pelo Whatsapp, a queixar-se dos colegas de equipa: “Há jogadores que não têm atitude, mano. Há jogadores que não querem estar aqui. Não querem estar aqui, não querem jogar… vão para a p*** que os pariu. Andam aqui um ano a ganhar dinheiro e depois põem-se no c****.” Não é mal pensado, disse-lhe eu, mas chamei-lhe a atenção para o que tinha acontecido no ano passado em Alcochete e que os jogadores podiam estar perturbados com a tentativa de invasão da garagem depois da derrota com o Famalicão: "Mas que invasão? Foram lá reclamar, estão no direito deles, foram lá cantar, mandar umas bocas. Queremos o quê? Não ganhamos a ninguém. Perder em casa com o Famalicão e queremos ser aplaudidos?"
De facto, ele tinha alguma razão, o vosso descontentamento é natural, a não ser que seja premeditado, aí torna-se “auto-destruitivo”. Bem sei que é da natureza do adepto querer tudo ao mesmo tempo. Mas ainda agora construímos três campos em Alcochete e vocês já se põem a exigir vitórias em casa contra o Famalicão. Vamos com calma. Uma coisa de cada vez. Tudo a seu tempo. Enfim, o Bruno Fernandes acabou por me dizer que não estava disponível para ser treinador e então tive de ir à procura de um treinador a sério. Liguei ao Cristiano Ronaldo para ver se se lembrava de mais alguém que o tivesse ajudado quando veio para Lisboa e ele falou-me da dona Edna, mas disse-me logo que a senhora só tinha o nível II do curso de treinadores. Perguntei-lhe por aquele primo que lhe trata da correspondência e o CR7, muito educadamente, disse-me que o Sporting não estava em condições de lhe pagar o mesmo que ele recebia a abrir envelopes.
Gorados os meus intentos de alargar o leque de competências do Bruno Fernandes e de oferecer uma nova carreira ao primo do Ronaldo, fui-me deitar muito preocupado. O meu sonho sempre foi servir o meu clube. Custa-me ver a tristeza dos adeptos por não conseguirmos endireitar o futebol do Sporting. Lembrei-me dos festejos do último campeonato em 2002, da alegria daqueles milhares de pessoas pelas ruas de Lisboa e, embalado pela doçura dessas memórias distantes, ia caindo no sono. De repente, fez-se luz!
Lembrei-me de um jovem de cachecol a celebrar a vitória do Sporting perto do Rossio e com quem troquei contactos na altura. No meio do contentamento generalizado, a euforia dele destacava-se. Era um adepto especial. Perguntei-me por onde é que ele andaria agora. É de alguém assim que precisamos para treinar o Sporting, pensei. Pesquisei nos meus contactos e encontrei o número dele. O resto já vocês sabem."

Silêncio… que começou a Liga NOS

"Na época passada mais de 3,5 milhões de espectadores vibraram em 18 estádios com as emoções fortes da Liga portuguesa que veio a celebrar o Benfica como campeão. Contas feitas dizem-nos que a edição 2018/2019 atingiu uma média de assistências de 11.691 espectadores por jogo.
A matemática prega-nos, por vezes, partidas dado que se verifica que apenas cinco clubes estiveram acima da média de espectadores da Liga: Benfica com 53.824, FC Porto com 41.626, Sporting com 33.691, Vitória de Guimarães, com 18.259 e Sp. Braga com 12.035. Os restantes 13 clubes atingiram médias de espectadores por jogo entre os 8.155 do Boavista e os 2.275 do Moreirense.
As equipas que desceram de divisão: Chaves (5.550), Feirense (3.049) e Nacional (2.595) são este ano substituídos pelo Paços de Ferreira, Famalicão e Gil Vicente, que apresentaram no ano passado boas assistências na 2.ª Liga. Os números acima descrevem a dura realidade das assistências no futebol português: três clubes com médias de assistências acima dos 30 mil espectadores, dois clubes com médias acima dos 12 mil espectadores e, daí para baixo, uma realidade desoladora que deve fazer pensar os agentes do futebol.
E não, a culpa não é das transmissões televisivas. Esta é a resposta preguiçosa que tem vingado nos últimos anos por todos aqueles que procuram desculpar estes números. As tendências no futebol europeu mostram inequivocamente que as transmissões televisivas não afectam o número de espectadores nos estádios. Existem mais de 30 razões distintas que ajudam a justificar as motivações pelas quais um adepto decide comprar um bilhete de futebol.
Não vamos identificá-las todas, mas prendem-se essencialmente com factores económicos, sociais, desportivos e relacionados com os próprios estádios. Além disso exige-se à Liga Portugal, em primeiro lugar, e a todos os clubes um esforço de marketing que permita atrair os adeptos para os estádios de futebol. Tão importante como ter dirigentes eficazes, treinadores competentes, atletas valiosos e equipas médicas eficientes, é os clubes perceberem, de uma vez por todas, a necessidade de ter também equipas profissionais na área do marketing.
Por último, tão importante como ter uma estratégia de atracção de espectadores será criar um clima sereno, seguro, emocionante e de verdadeira festa do futebol onde só exista espaço para todas as coisas maravilhosas que esta modalidade tem. Espero que a Liga NOS que agora começou tenha de todos uma enorme travagem a todas as confusões que marcaram a época passada. O futebol tem todas as condições para ser o maior espectáculo de entretimento em Portugal. É este o meu desejo para esta temporada. Divirtam-se!"

O Tigre e o guarda-chuva

"Nasceu feliz, varreu ruas na infância e ficou surdo. Fechado num silêncio como se se deixasse cair nas profundezas do mar

A vida de Tigran sempre me fez lembrar a de um personagem de Gogol. Talvez a daquele que já nasceu com guarda-chuva e tudo. Ora, quem nasce de guarda-chuva vem preparado para todas as borrascas. Faltavam-lhe as galochas, mas a mãe também não se podia lembrar de todos os pormenores na hora sempre aflitiva do parto. Tigran era um homem que aguentava tempestades à beira de um penhasco, de tronco nu e desafiando os elementos da natureza, Deus incluído. Não foi por acaso que ganhou a alcunha de Homem-de-Ferro. Ou de O Tigre.
Tigran é Petrosian, já agora. Tigran Vartanovich Petrosian, o tipo mais duro de vencer de toda a história do xadrez. Nasceu em Tbilissi, na Geórgia. Foi um rapazinho feliz. Mas a II Grande Guerra vinha a caminho e faria dele uma sombra vazia de sentimentos.
A personalidade moldou-se-lhe à medida dos movimentos das peças no tabuleiro. Viu morrer a mãe e o pai. Em seguida o irmão Hmayak e a irmã Vartoosh. Depois foi ficando crescentemente surdo. A miséria obrigou-o a ganhar a existência varrendo ruas. «Era um garoto débil. Os mais velhos, às vezes, ajudavam-me. Sentia vergonha. Por isso preferia pegar na vassoura de madrugada, quando não se via ninguém. Foi nessa altura que, por causa de uma doença de pulmões, deixei de ouvir. Mas é tudo muito confuso na minha memória». O Tigre ficou preso na sua surdez. E nas sessenta e quatro casas brancas e pretas.
Cresceu agarrado a um livro velho com as lições práticas do mestre dinamarquês Aron Nimzowitch, um judeu letão que fugiu para a Escandinávia fingindo-se louco e desertando do exército ao tempo da revolução russa. Afirmava que tinha uma mosca voando insistentemente dentro da sua cabeça. Outra personagem que Nikolai Gogol não teria desprezado inventar no caminho das suas Almas Mortas. 
Petrosian fanatizou-se. O seu jogo profundo não se permitia ao luxo dos espaços nem do risco. Cavalos e bispos serviam de apoio aos peões e defendiam galhardamente a retaguarda da rainha. As torres eram elefantes que bramiam por entre a espessura das suas tácticas duras, praticamente imbatíveis. «O xadrez é, pela sua forma, um jogo; pela sua estrutura, uma arte; pela dificuldade de uma vitória, uma ciência», filosofava. Falava pouco. Muito pouco e cada vez menos. Perdia pouco, muito pouco. Lev Polugaevsky, um dos seus mais ferozes adversários, não tinha dúvidas: «É mais fácil ganhar um campeonato soviético de que ganhar um jogo a Petrosian».
Dizem que Beethoven, o mais divino de todos os surdos, quando compôs a Nona Sinfonia, nem se dava ao trabalho de usar a casa de banho, fazendo as necessidades ao lado do piano. Petrosian podia ter sido assim. O antigo varredor de ruas de Tbilissi deixou-se obcecar pelos movimentos repetitivos que baralhavam os opositores. A mesma peça era movida em sequências apertadas, avançava pelo caminho da abstracção por vezes contrariado com súbitos sacrifícios que o elevavam ao estatuto de jogador supremo, como Mikhail Tal, a maior fera que se sentou em frente de um tabuleiro. Era então que o  Tigre se revelava na sua dimensão de Tigre. Sem guarda-chuva.
Às vezes usava um aparelhinho que lhe permitia ir ouvindo alguma coisa, aqui e ali. Num torneio disputado em Sevilha, o barulho na sala era de tal ordem que desligou a máquina e dispôs-se, serenamente, em pleno silêncio, a enfrentar um tão desorientado Robert Hübner que este acabou por desistir. A verdade é que o silêncio de Tigran não precisava da ajuda da técnica. A sua concentração era tão profunda que mergulhava numa espécie de transe como se se deixasse cair nas profundezas do oceano onde os homens não gritam e as crianças não choram.
Sim. Ele é uma fera», aceitava Bobby Fisher. «Fareja o perigo com 30 lances de antecedência». Tigran Petrosian era um chato. Tão chato como qualquer criança que tivesse vindo ao mundo já de guarda-chuva. Dono da palavra e do silêncio. Os adversários escutavam as suas frases arrastadas com o respeito que se tem apenas aos grandes mestres, plenos de ensinamentos imperdíveis.
Houve quem lhe chamasse A Pitão: estrangulava os opositores lentamente, com uma força inacreditável, até que eles deixassem de respirar. Chamaram tantas coisas a Tigran Petrosian, esse homem secreto, recolhido, perpétuo movimento interior abafado pela paz externa da sua surdez.
A sua mulher Rona Yakovljevna Avinezer, psicóloga, que chegou a namorar com ele e com um dos seus principais rivais, Efim Geller, ao mesmo tempo, decidiu no inerzonal de Estocolmo, em 1952, que casaria com aquele que ficasse melhor classificado. Tigran, o cínico, somou mais meio ponto do que Geller. Por meio ponto viveu lado a lado com a única pessoa que veio a conhecer a verdadeira dor do Tigre."

Treino competição / Clubes Selecção (2)

"Então estimado leitor chegou a alguma conclusão referente ao convite que lhe sugeri no último artigo correspondente à qualidade interpretativa do rendimento dos jogadores que estiveram presentes nas selecções dos seus países comparando o desempenho demonstrado após a reinserção nos clubes de origem?
Será que o tempo que intermediou (cerca de 10 dias) a ausência interrompendo as rotinas presenciais de treinos e jogos e ajustando a tarefa a outras vertentes como sejam as distâncias percorridas, diferentes metodologias assumidas por diferentes estruturas técnicas, tempo de utilização, rendimentos e resultados obtidos, etc, criou algum deficit comportamental, à posterior registado?...
O que verificamos é que em termos nacionais equipas que mais se viram representadas com jogadores na selecção, o tipo de rendimento e resultado se alterou de forma significativa em alguns casos, tais como:
O F.C.Porto durante o encontro com o Portimonense utilizou 5 jogadores que estiveram à disposição das selecções. O clube, depois de estar a vencer por 2-0, teve (em especial durante uns bons períodos da 2ª parte) um fraco desempenho, acabando por marcar o golo da vitória aos 90+8 minutos.
O S.L.Benfica que tinha tido uma utilização de 9 jogadores nas diversas selecções, acusou uma inconsistente exibição perante o Gil Vivente (embora vencendo), mas com Pizzi a falhar uma grande penalidade e em termos internacionais obtendo um resultado negativo perante o Leipzig e conseguindo uma vitória nos últimos segundos no jogo com o Moreirense F.C. e com um rendimento de pendor sofrível.
O Sporting empatou no Boavista F.C. e perdeu em casa com o Famalicão, admitindo fracas exibições, tendo tido também 5 jogadores ao serviço das respectivas selecções.
Também ao nível europeu constatamos o facto de serem apresentados resultados, que nos geram uma reflexão, perante o tema em causa. Vejamos:
O Leicester perdeu por 1-0 com o Manchester U. tendo utilizado 3 jogadores ao serviço das selecções.
O Everton perdeu por 3-1 com o Bournemouth quando tinha sido desprovido pela ausência de 9 jogadores ao serviço das selecções.
O Manchester City também perdeu por 3-2 com Norwich, tendo estado ao serviço das selecções dos seus países 9 jogadores. O Arsenal empatou 2-2 com o Watford, quando também tinham estado 8 jogadores ao serviço das seleções dos seus países. A Juventus empatou com a Fiorentina 0-0, apresentando uma qualidade de jogo bastante inconsequente, tendo tido a ausência no período referido em estudo de 6 jogadores.
O Atlético de Madrid perdeu por 2-0 com a Real Sociedad, tendo visto convocados 6 jogadores para as selecções.
O Mónaco também perdeu com o Marselha por 4-3, tendo utilizado 3 jogadores que estiveram nas selecções.
O Bayern que utilizou 7 jogadores que estiveram nas diversas selecções, empatou com o Leipzig 1-1. 
O Chelsea foi derrotado em casa na Liga dos Campeões pelo Valência, utilizando 6 jogadores pelas suas selecções.
O Barcelona empatou com o Borússia Dortmund, tendo utilizado 9 jogadores nas selecções de seus países, embora o adversário tenha tido também a participação de 7 jogadores em idênticas condições. 
O Liverpool foi derrotado pelo Napoli por 2-0, tendo utilizado 7 jogadores que estiveram ao serviço das suas selecções, não obstante o adversário ter tido também 5 jogadores nas mesmas condições. 
Outro caso digno de análise foi o facto de no jogo da Liga dos Campeões, o Atlético de Madrid ter empatado com a Juventus por 2-2 (depois de estar a perder 2-0), tendo a Juventus tido a participação de 10 jogadores que tinham jogado nas respectivas selecções e o Atlético de Madrid 7 jogadores. O Real Madrid que perdeu nesta prova por 3-0 com o PS, utilizou 8 jogadores que estiveram ao serviço das selecções, enquanto que o Paris SG utilizou apenas 4.
O Tottenham empatou com o Olympiacos 2-2, tendo utilizado 9 jogadores que estiveram ao serviço das selecções e o adversário 5.
O Wolverhampton que perdeu em casa com o S.C.Braga na Taça UEFA, utilizou 7 jogadores que estiveram ao serviço das selecções de seus países de origem.
Ainda poderíamos aumentar a análise que começa a ser demasiado penalizante para o meu estimado leitor. Contudo deixo mais um ou outro exemplo mais significativo:
Na Inglaterra o Manchester United perdeu por 2-0 com o West Ham, utilizando 8 jogadores que estiveram presentes nas selecções e o adversário apenas 4.
Em Espanha o Celta de Vigo foi empatar ao Atlético de Madrid, tendo este clube utilizado 6 jogadores que estiveram nas selecções e o adversário apenas 2.
Também em Espanha o Granada venceu o Barcelona por 2-0, tendo este clube utilizado 7 jogadores que estiveram ao serviço das suas selecções e o adversário apenas 2.
Enfim um quadro de resultados que poderá não justificar em absoluto a ausência relativamente prolongada dum núcleo duro duma equipa dos seus clubes de origem, mas que nos remete para uma reflexão do que inicialmente eu tentei colocar como tema de análise, por isso mesmo, merecedor de estudo, sem esquecer que por vezes em termos de competição ao nível internacional e com jogos a eliminar, a competência exercida pelos jogadores apresenta-se mais fortemente focada em termos exibicionais do que numa prova de regularidade competitiva interna.
Nessas circunstâncias e sem pretender dar lições a quem quer que seja visto que, quer nos clubes referidos, quer nas seleções associadas aos países mais representativos, as equipas técnicas estão devidamente estruturadas pelas valências que hoje a temática do treino e jogo exige: fisiologistas, nutricionistas, especialistas na área de medicina desportiva e psicologia, observadores, biomecânicos, etc … e melhor do ninguém, são capazes estudar as competências mais assertivas para uma qualificação da prestação ao nível da excelência.
Contudo e para que um trabalho desta natureza não fique “amarrado às cores do vento”, não deixo de prestar um humilde contributo, reportando-me à filosofia que o rigor da metodologia de treino referencia como condição “obrigatória”:
1- Uma fundamental exigência para que o conhecimento das metodologias de treino que foram desenvolvidas nos clubes possam servir dum mediador devidamente avaliado, para a sequente personalização complementar de tarefas a realizar.
2- Continuar com essa avaliação (técnico-físico-biológico-psicológico-social e mental) após a retoma de funções dos jogadores que estiveram nas selecções, com o objectivo de personalizar como complemento de carga uma metodologia individual de funções.
3- A inserção ao nível da carga de exercícios de intensidade moderada/média/alta com um fundamental ajustamento qualificado dos intervalos longos entre as cargas, adicionando compensação hídrica e respiratória.
4- Técnicas de relaxação associadas ao treino de imaginação e visualização mental criativa dos gestos técnicos e competitivos que estiveram na base do êxito alcançado que terão um efeito extraordinário e exponenciador de eficácia.
5- Mobilização via comunicação de todas as fontes ao nível atencional e que de forma positiva estiveram presentes no reportório representativo do sucesso alcançado … no treino … no jogo e sobretudo na vida.
6- Treino das competências ao nível da auto comunicação, quer em termos verbais como não verbais e quando necessário eliminar o discurso interno negativo nos casos em que as competências emocionais ou adversas configurem um estado de aprisionamento, também chamados venenos de memória que se apresentam tantas vezes como “garrote” indiciador duma asfixia emocional, extremamente perturbadora. Neste momento estou a recordar-me dum caso de sítio bem actual, presente num grande clube português que a história da sua vida cantou glórias passadas e agora asfixiado por sentimentos de angústia, inquietude e insegurança traído pelo veneno duma memória que persegue e atormenta … a relva queima…o balneário chora e o adepto implora!...
7- A inserção na metodologia de banhos de contraste, sessões de crioterapia (quando necessário), e ingestão nutricional de suplementos na dieta alimentar de recuperação.
8- Outras … Estratégias motivacionais; Envolvimento e responsabilidade; Treino simulado adaptando técnicas de engenharia ambiental; Empatia e aptidões sociais; Técnicas operacionais valorizando as funções da atenção e concentração, autoconfiança, coesão e dinâmica de grupo e demais áreas de comprometimento com a autoeficácia e valorização pessoal.
Penso que em qualquer exercício, ou microciclo, ou morfotipo de treino, deve estar sempre associado a um plano de consciência operatória para a conquista do êxito, pois os atletas definem-se mais pela qualidade do que pensam do que pela quantidade de acções que realizam. Isto é, muitos trabalham, lutam, esforçam-se mas o resultado esvai-se num deserto sem rasto… e passam a vida a dizer quando “afogados” num desaire que ” é preciso levantar a cabeça”!...
Como tenho referido de forma continuada, o plano de intenções no domínio do consciente é o que pode fazer a diferença entre o médio e o bom e o bom e o excelente, vendo convertida nessa função o poder da crença, do estado de alma, do espírito de conquista, (que também gera biologia), e isso ajuda a mobilizar a força motriz de intencionalidade energética onde se opera e alimenta o sucesso. Mas como e muito bem tem referido o nosso sempre tão ilustre e querido Professor Doutor Manuel Sérgio “ o conhecimento científico nasce da dúvida e alimenta-se da incerteza”, como estamos em vésperas de nova ronda de convocatórias para a presença de jogadores nas selecções de vários países, volto à carga em propor ao meu estimado leitor a confirmação ou não dos resultados obtidos e que foram objecto desta simples reflexão, que este órgão de comunicação social me possibilita e muito me honra partilhar."

A institucionalização da sociologia do desporto

"A sociologia é uma ciência que procura descrever, explicar e compreender o funcionamento da sociedade. Existem sociologias aplicadas a um domínio particular. A sociologia do desporto procura estudar o fenómeno desportivo como um fato social, a explicar a realidade desportiva composta de acções, de práticas e de comportamentos muito diferenciados(as) e de compreender as interacções que se estabelecem entre a pluralidade desportiva e as organizações. Várias obras e artigos científicos sobre sociologia do desporto tentam suscitar o interesse por esta disciplina. De uma forma geral, os sociólogos começam a se interessar pelo fenómeno desportivo durante os anos sessenta. No entanto, surgem obras que, apesar de terem contribuído para a construção deste campo teórico, nem sempre se fundamentam numa perspectiva sociológica (Peter MacIntosh, 1963, na Grã-Bretanha, Georges Magnane, 1964, Jean Meynaud, 1966, e Michel Bouet, 1968, em França. Georges Magnane e Jean Meynaud são das ciências políticas. Michel Bouet vem da filosofia. George Magnane estuda o desporto na vida quotidiana com actividade de lazer e meio de cultura. Jean Meynaud analisa as complexidades e dimensões do universo desportivo, poderes públicos e conflitos internacionais. Michel Bouet aborda as funções sociais, educativas e culturais do desporto.
Os anos sessenta são marcados também pela institucionalização internacional da disciplina (Sociologia do Desporto). Com as diligências do polaco Andrzej Wohl, funda-se, em 1964, o Comité Internacional da Sociologia do Desporto (ICSS), no seio da Associação Internacional de Sociologia (AIS), criada em 1949, sob os auspícios da UNESCO. Em 1966, inicia-se a publicação da International Review for the Sociology of Sport (IRSS), e em 1994, é fundada a Associação Internacional da Sociologia do Desporto (ISSA).
Este nascimento, que se pode dizer recente para uma ciência, pode explicar, em parte, o pouco interesse dos científicos pelo desporto, em geral, e pelas fraquezas da estruturação universitária de formações desportivas (em França, por exemplo, a fileira STAPS – Sciences et Techniques des Activités Physiques et Sportives foi criada em 1981), em particular. Em Portugal, a sociologia do desporto foi integrada nos currículos das licenciaturas em Educação Física.
Em artigos anteriores, já referimos que o termo genérico “desporto” abrange um conjunto diversificado de práticas e de espectáculos, de imagens e de representações que derivam da cultura contemporânea, que tem funções sociais muito diversas (integradora e federativa, educativa e escolar, lúdica e recreativa, consumidora, espectáculo e mediática) e que participam nos mitos e realidades actuais. O sociólogo alemão, Norbert Elias vê no desporto o laboratório privilegiado para se reflectir sobre as relações sociais e a sua evolução. O desporto inscreve-se nos modos e estilos de vida dos nossos contemporâneos. De fato, o seu desenvolvimento considerável interroga-nos sobre as normas que ele veicula e sobre os valores, que através dele, se partilham."

António de Paula Brito - O Professor

"Conheci o Professor Paula Brito em Outubro de 1974, numa fase ideologicamente riquíssima da vida do nosso país, com revoluções e contrarrevoluções quase diárias a preencherem as páginas dos jornais diários e o ocupar o prime time da Radio Televisão Portuguesa.
Essas revoluções tocavam todas as instituições do país e, como não podia deixar de ser, as instituições de educação, muito marcadas por estigmas de autoritarismo característicos do Estado Novo que pretendia o controlo absoluto do processo ensino-aprendizagem. É importante que se diga que as muralhas desse centralismo autoritário começavam a abrir brechas, principalmente pela acção consciente e inovadora de muitos dos mestres que, contra ventos e marés, porfiavam no sentido de transformar a lição ex-cátedra num momento de auto e hétero-formação em que as doutrinas fechadas eram substituídas por vívidas teorias refutadas todos os dias.
O 25 de Abril apanhou-me no final do 1º ano do Curso de Instrutores de Educação Física, na escola do Porto. Não era já nenhuma criança, pois tinha feito a guerra no ultramar e, por isso, receei que a alteridade do momento pusesse em causa a resolução do curso. Comecei a ter um forte protagonismo, procurando evitar que o oportunismo que grassava na sociedade portuguesa fizesse perigar a dignidade da formação que eu e muitos como eu procuravam.
Meus senhores, naqueles tempos de revolução oportunista, feita à medida dos interesses egoístas de cada um, foi um fartar vilanagem no campo da formação superior. Houve estudantes de medicina que, assinando num dia as aulas de um período, fizeram três anos em um, à base de trabalhos alheios. Um fazia o trabalho e dez ou mais assinavam-no. Logicamente que esses médicos ficaram marcados, para sempre, com o estigma do mais descarado oportunismo. Essa patologia anti formativa estendeu-se naturalmente a quase todas as instituições de educação. Digo quase para não ferir alguém que num caso particular tenha conseguido lutar contra o zeitgeist “revolucionário”.
Devido ao meu protagonismo anti facilitismo fui eleito pelos meus colegas para a Comissão Instaladora dos Institutos Superiores de Educação Física de Lisboa e do Porto. Rumei a Lisboa e tenho o primeiro contacto com o Professor Paula Brito no Ministério da Educação, numa reunião convocada pelo diretor geral do Ensino Superior – António Hespanha. De imediato verifiquei que o Professor Paula Brito tinha, não só, a capacidade de organização e decisão de um grande líder como, em relação à nossa missão já tinha construído “the big picture”. Ou seja, antes de começar já tinha bem elaborada na mente a estratégia para abordar os imensos problemas com que deparámos.
Paula Brito decidiu que o nosso locus de trabalho seria nas instalações do INEF pois a partir dali conseguiríamos, mais facilmente, resolver o duplo objectivo da nossa missão: (1) dar solução às avaliações no INEF e nas Escolas de Instrutores de Lisboa e Porto, e (2) promover todas as acções que unissem a classe dos professores de educação física e permitissem a criação da via única de formação.
A via única de formação era desejada por todos, mas…há sempre um mas nestas coisas, nessa via única de formação como se integrariam os antigos formados? Emergiram, naturalmente, diversas linhas de tensão, principalmente com os formados pelas Escolas de Instrutores que, sem nunca terem entrado na universidade queriam equiparações académicas de nível superior. Eu, que sempre defendi a dignidade dos processos insurgi-me sempre contra o oportunismo que grassou na nossa classe. Este diálogo idealizado não deve andar muito longe do diálogo real que muitas vezes entabulei com o Professor Paula Brito.
- Professor, é inadmissível tanto oportunismo.
- Calma, José Augusto, tente ver o lado dos instrutores. Eles faziam o mesmo trabalho dos professores que saíram do INEF, recebiam muito menos, e não recebiam nas férias. Eram verdadeiros escravos do sistema.
- Como assim? questionei eu.
- Os instrutores foram mão de obra barata, formada em curso de dois anos, para dar resposta às necessidades sociais de professores de educação física.
- Mas, eles nunca entraram nunca universidade; como podem querer ser bacharéis? Entraram no curso de instrutores com o 5º ano (atual 9º ano).
- É um problema de justiça social, retorquiu o Professor Paula Brito.
- Certo, reconheço que lhes dever ser dada equiparação profissional a bacharéis, mas se quiserem ser bacharéis para seguir os estudos até à licenciatura, devem entrar no primeiro ano do curso superior.
- José Augusto, gosto do seu voluntarismo, mas o que você defende não é viável. Tem de ser dada a equipação profissional e académica aos instrutores. Pode haver algo de cedência aos seus interesses egoístas nessa equiparação, mas é uma forma de fazer justiça a uma classe vilipendiada pela lógica da mão-de-obra barata que os desqualificou como professores.
- Professor, mas eu sou instrutor e quero fazer a licenciatura desde o primeiro ano.
- Sim, mas você é um jovem, com a vida cheia de futuro à sua frente e não sofreu os maus tratos dos instrutores ao longo dos anos. A partir de agora não haverá mais professores de primeira e professores de segunda.
Logicamente que a razoabilidade das reflexões do Professor Paula Brito, após uma resistência inicial que batia certo com a minha costela guerreira, foram-me entrando na moleirinha e adoptei como minhas as suas posições.
No decurso da minha estadia em Lisboa, desde Novembro de 1974 a dezembro de 1975, o Professor Paula Brito acolheu-me debaixo da sua asa proctetora. Quase todos os dias da semana almoçava com ele e ia bebendo da sua experiência e calma sabedoria.
Um dia, ao saber que eu tinha aderido ao M.R.P.P. o Professor perguntou-me:
- José Augusto, sabe o que é o maoismo?
- Não sei bem o que é, mas vou tentar saber. No dia a seguir ele traz uma saca com cinco livros sobre Mao Tze Tung e o maoismo e oferece-mos. Avisa-me: - Daqui a uma semana tem de me fazer uma síntese do que entende por maoismo. Estudei a fundo a matéria e passada uma semana fiz-lhe um resumo das minhas concepções sobre o maoismo. Perguntei-lhe: Então Professor? Já domino a coisa? Responde ele com a sua sábia ironia:
- Não sei, porque não sou maoista nem quero ser. Esta foi a mais profunda lição que o Professor Paula Brito me deu. Seja qual for a direcção das nossas opções ideológicas elas têm de estar alicerçadas no máximo conhecimento dos seus pressupostos filosóficos.
O Professor Paula Brito, como mestre empenhado em criar mentes bem formadas em vez de mentes bem recheadas, iluminou-me no dealbar da minha condição de professor. Sempre o seu lema me orientou – Só deve ter direito à palavra quem gastou tempo na procura de soluções para um dado problema. Fora disto, falar, é puro diletantismo.
O Professor Paula Brito, foi o timoneiro seguro que nos fez navegar entre os escolhos que levaram à criação do Decreto-lei 675/75 que criou os ISEFs de Lisboa e do Porto. Como Professor de Lisboa esteve sempre ligado académica e emocionalmente ao Porto. Foi o mestre de alguns dos meus colegas da FADEUP. Era um cidadão do mundo sempre empenhado em destruir barreiras que isolassem o homem do seu envolvimento social. O seu sorriso era o sinal de uma alma em paz consigo próprio.
O ano passado telefonei-lhe saudoso das nossas conversas. Aventou: - Temos de reunir a malta toda da Comissão Instaladora num jantar para relembrar as saborosas histórias desses momentos tão importantes na vida de Portugal e das nossas vidas. Anuí logo. Esse jantar já não se pode realizar, mas as lições do mestre que moldaram parte da minha efervescente personalidade continuarão comigo até que a realidade biológica que me corresponde se dissolva no magma quântico de que é feita a vida e vã encontrar o Professor Paula Brito ali ao virar da esquina, naquela praça onde os bosões, protões, neutrinos, electrões e outros que tais se encontram para conversar."

Revista de Medicina Desportiva

"Reporto-me, hoje, aos finais da década de 70 e princípios da década de oitenta, quando fui adjunto do Dr. Aníbal Silva e Costa, médico cirurgião e, nesses anos idos, director do Centro de Medicina Desportiva de Lisboa e director-geral de Apoio Médico. Preparava literariamente (apenas literariamente, como é óbvio) um conjunto de publicações reunidas sob a ampla expressão de Cadernos de Medicina Desportiva. Foram mesmo inúmeros os congressos de medicina desportiva, tanto em Portugal como no estrangeiro, em que participei, quase sempre versando dois temas: “O racionalismo na medicina e na educação física” e “O nascimento da clínica em Michel Foucault”. Num congresso, em Madrid (está vivo e são o Dr. Marcos Barroco, que não me deixa mentir) um médico alemão manifestou pública admiração pelo meu estudo, sobre o nascimento da clínica em Michel Foucault. Trata-se de um filósofo que, se bem penso, deveria estudar-se nos cursos superiores de desporto. O Doutor Gonçalo M. Tavares, um escritor tão grande no romance como no ensaio e que é novo em cada livro que escreve, sem sacrificar o que, numa obra literária, deve haver de permanente – o Doutor Gonçalo M. Tavares seria o docente indicado para professar um tema deste jaez. Digo e repito: onde mais aprendi sobre o itinerário histórico da Educação Física e do Desporto foi, precisamente, na História da Filosofia. Para ser mais preciso: em Descartes, em Espinosa, em Locke, em Kant, em Comte e em Foucault. E não esqueço o médico, Claude Bernard (1813-1878), nome de luminosidade inapagável, na História da Medicina e na História da Cultura. Defendeu sempre a íntima relação Filosofia-Ciência pois, segundo palavras suas, “a sua união eleva uma e estrutura a outra. Se o elo se rompe, a filosofia, privada do apoio e do contrapeso da ciência, sobe a perder de vista e desaparece nas nuvens, enquanto a ciência, ficando sem direcção, não obstante os seus altos propósitos, cai, pára, ou erra, ao acaso” (in Fernando Namora, Deuses e Demónios da Medicina, II volume, p. 65)…
Quando o Dr. Basil Valente Ribeiro, director e editor da Revista de Medicina Desportiva informa e um especialista em Medicina Desportiva de indiscutível saber e diligência, teve a bondade de convidar-me para o meu nome figurar no corpo editorial desta magnífica revista, logo acrescentou: “Não me esqueço do seu trabalho na edição dos Cadernos de Medicina Desportiva”. Reinou ao redor destes Cadernos um clima de efervescente entusiasmo mas eu quero salientar, agora, na modéstia das minhas palavras, os dez anos de existência da revista, única em língua portuguesa, Revista da Medicina Desportiva informa, do Dr. Basil Ribeiro. De facto, esta revista já se transformou no breviário de todos os especialistas portugueses, nesta área, que nela colhem preciosos ensinamentos e as mais candentes novidades. Ela representa um trabalho de documentação e informação, que enriquece a medicina, a educação, a cultura e o desporto, em Portugal. E não só em Portugal, sempre que especialistas doutros países a folheiam, a estudam, a consultam. Convivi, no Belenenses dos anos em que lá trabalhei (1964-1992), com os médicos, Drs. Silva Rocha e Camacho Vieira (este também um excepcional intérprete do fado de Coimbra) e relembro as queixas destes dois pioneiros da Medicina Desportiva, no nosso país, pela inexistência de uma revista que difundisse novas ideias e novos métodos, com séria fundamentação científica, desta especialidade médica. Já, há um bom par de anos, o Conselho da Europa definiu assim a Medicina Desportiva: “aplicação da arte e da ciência médica, sob o ponto de vista preventivo e terapêutico, à prática do desporto e das actividades físicas, no desejo de utilizar as possibilidades que o desporto oferece, para a manutenção e melhoria da aptidão e da saúde”. Aliás, o Conselho da Europa, pelas suas resoluções 7(70) e 27(73), há muito reconhece a Medicina Desportiva, como especialidade médica.
Mas, quem se der ao trabalho de coligir a Revista de Medicina Desportiva informa , nos seus dez anos de existência, terá entre mãos um verdadeiro manual de Medicina Desportiva, como outro não há em língua portuguesa. E sempre com entrevistas dos nossos melhores especialistas, alguns deles no apogeu do seu prestígio, como o Dr. José Ramos, médico do Boavista, antigo director do Centro de Medicina Desportiva do Porto, presidente da Comissão Médica do Comité Olímpico de Portugal, membro do Colégio da Especialidade de Medicina Desportiva e um dos mais voluntariosos dinamizadores dos cursos de pós-graduação, em Medicina Desportiva, da Faculdade de Medicina do Porto, entre outros cargos que já ocupou, com zelo impecável, no âmbito da Medicina Desportiva. Com uma vida profissional coroada de êxitos, vale a pena, portanto, aprender com o indiscutível saber do Dr. José Ramos, o último médico entrevistado, por esta Revista. À pergunta: “A prática clínica num clube de futebol mudou muito?” assim iniciou a resposta: “Mudou muitíssimo. Da medicina curativa passámos para a medicina muito mais preventiva. Quando entrei para o futebol, o objetivo era a intervenção na avaliação e controlo do treino, que hoje se faz com outros profissionais para além do médico e com muitos mais meios”. De facto, qualquer ciência hermenêutico-humana, como a Medicina, é eminentemente interdisciplinar e com uma postura de profundo holismo epistemológico. Não é possível deter-me, aqui, detalhadamente, diante da história da epistemologia. Posso, no entanto, adiantar que, na epistemologia da Medicina, o holismo e as teorias da complexidade se aplicam, com inusitada frequência e num grau de indispensabilidade. Se me permitem uma nótula de carácter pessoal: não esqueço o meu encontro, na cidade de Santiago (do Chile) com Maturana, um dos nomes inapagáveis da história da epistemologia.
Mas volto ao Dr. José Martins, com as palavras com que findou a sua entrevista: é preciso “apostar nos jovens especialistas, que têm muitas ideias e um caminho maior do que o nosso, para percorrer. É necessário regular a lei de Assistência Médico-Desportiva, que já existe, e entregar os destinos da Medicina Desportiva, a quem sabe. Não precisamos de mais leis: precisamos de cumprir as que temos”. Mas o Dr. Basil Ribeiro é um estudioso e portanto um profundo conhecedor da evolução científica da Medicina Desportiva. A sua cultura surge, em cada uma das rubricas que compõem esta revista. O Dr. Igor Santos Neto, na rubrica “O que andamos a Ler”, revela-nos, com mestria, um tema complexo mas indispensável, no “treino invisível” do atleta. E, a este propósito, adianta: “De acordo com a Academia Americana da Medicina do Sono, os adultos devem ter entre 7 a 9 horas de sono, para melhorar a recuperação e adaptação ao esforço físico”. No entanto, como resultado de exames realizados em 800 atletas de elite sul-africanos, refere o mesmo estudo, “quase 75 % dos atletas confessaram que dormiam menos de 8 horas/dia e 11% dormiam menos de 6 horas/dia”. O artigo salienta ainda a relação entre o sono e o rendimento desportivo. E ainda a relação do sono com as lesões e as doenças. Para o Dr. Basil Ribeiro não há, no conhecimento científico, domínios estranhos ou reservados. E, daí, os convites endereçados às Drªs. Úrsula Martins, Daniela Martins e Inês Táboas, para versar o tema “Coluna do Ginasta: Idade, Flexibilidade e Força. É tudo igual?”. Aos Drs. Pedro Farinha e Diogo Lino Moura confiou o Tema: “Biomecânica e Traumatologia no Judo”. Aos Drs. Renato Vale Ramos, Henrique Costa Sousa e David Sá pediu se ocupassem do tema: “A Radiografia Simples, no Estudo da Anca Dolorosa – Ênfase na Avaliação do Conflito Femoroacetabular”.
Para o estudo de um “Caso Clínico”, obteve o Dr. Basil Ribeiro o contributo dos Drs. André Varandas Borges. João Cunha e Inês Machado Vaz, em oportuníssimo estudo sobre a “Fibromatose Plantar”, descrita, pela vez primeira, por George Lederhose, em 1897. O Dr. Basil Ribeiro aproveitou o raro ensejo de presentear-nos com um artigo sobre “O Leite Achocolatado”, levantando a questão seguinte: “Mas é o leite achocolatado o responsável pelo número, cada vez maior, de crianças obesas?”. No entender do sábio articulista, o leite achocolatado é uma boa bebida de recuperação, após um treino, ou um jogo: tem água, tem energia e tem proteína, os quais são constituintes fundamentais, para a recuperação muscular, após o esforço (…). O problema é sempre a ingestão desenquadrada, fora do contexto e em quantidade excessiva”. Com o objetivo de promover novas ideias e novas pesquisas, na Medicina Desportiva, o médico oftalmologista, Dr. Miguel Sousa Neves, compendiou, na rubrica “Urgência Clínica”, muitas das suas reflexões sobre a sua prática clínica acerca de “O olho vermelho agudo: uma abordagem simples e prática”. Mas o Dr. Basil Ribeiro faz-nos comungar nos seus entusiasmos e partilhar dos seus estudos, com um artigo da sua autoria, intitulado: “São mesmo necessários 10 000 passos, por dia?”. E, após oportunos esclarecimentos a este respeito, assim precisa o que pretende dizer: “Basta agora caminharmos mais e divulgar esta mensagem – caminhar é barato, fácil, dá saúde e… faz morrer mais tarde!”. Deverá destacar-se ainda um artigo do Doutor Ovídio Costa, eminente cardiologista, sobre as mortes súbitas, em plena actividade desportiva, designadamente em atletas que sofrem enfartes do miocárdio. E um outro, do Dr. Júlio Costa, sobre “O Tempo de acordar: monitorização do sono em atletas femininas”. E, depois desta leitura superficial da Revista de Medicina Desportiva informa (Ano 10, número 05) assentemos neste ponto nodal: esta revista foi criada por um médico, que vive e teoriza, como poucos, a Medicina Desportiva. E com uma sabedoria que dimana de conhecimentos de raiz, nutridos no quotidiano de uma prática de muitos anos. Com esta revista, o Dr. Basil Ribeiro é um dos nomes de maior relevo, no vasto panorama do desporto nacional."

Vitória 'curta'!!!

Benfica 4 - 3 Sporting

Começamos a perder, mas o golo acabou por não nos afectar, fomos para cima deles, e virámos até ao 4-1!!! E podiam ter sido mais... Defendemos quase sempre bem, inclusive os pivot's adversários, que nos últimos jogos, nos têm criado muitos problemas... mesmo sem o Drasler que ficou de fora!

Sendo que em ambas as partes, ficamos bastante tempo condicionados com as 5 faltas...!!! Curioso para saber se haverá algum castigo 'extra' para o Taynan, que chegou à pouco tempo, mas não demorou a comportar-se como um verdadeiro Lagarto!

Com um penalty evitável 'oferecido' pelo Roncaglio e um golo já em 5x4, o Sporting reduziu para a vantagem mínima. O que tornou os últimos segundos demasiado emotivos, para a nossa superioridade durante o jogo...

Vitória muito importante, após o empate em Ponte de Sor, na primeira jornada...



PS: Noite com pouca fortuna para o Pichardo! Esteve todo o concurso nas Medalhas, inclusive perto do Ouro... e depois no último salto, foi relegado para 4.º, por 4 centímetros!
Os 17,62m na actual época, até ficaram acima da 'média', mas para a carreira e potencial do PPP, ele pode fazer mais... Creio que a preparação Olímpica tem que ter um objectivo claro: os 18m, algo que o Pichardo em condições normais pode fazer...

Já estava decidido...

Mornar Bar 71 - 82 Benfica
28-21, 12-31, 16-14, 15-16

Depois da derrota na Luz, por 28 pontos, uma vitória em Montenegro, insuficiente para a qualificação.

Sendo assim, vamos disputar a FIBA Europe Cup. E no grupo A, vamos ter a companhia do PVSK-Veolia Pecs (Hungria) e o Inter Brastilava (Eslováquia). Falta conhecer um adversário, os serão os húngaros do Beroe ou os holandeses do ZZ Leiden.

PS1: Parabéns às nossas meninas do Basquetebol feminino, pela vitória na Taça Vítor Hugo, vencendo na Final o Vagos por uns convincentes 64-38. Para chegarmos a esta Final derrotamos por duas vezes a União Sportiva e o CAB Madeira. Excelentes indicações neste início de época...

PS2: No Torneio de Abertura da APL, a secção de Hóquei em Patins feminina, venceu o Sporting na Final, com um claro 6-0... Dois da Marlene, dois da Sofia e dois da Piqueiro!

Grupos de adeptos organizados (claques) e 'hooligans' - A confusão securitária

"Algumas soluções afiguram-se-me inconstitucionais quando se impõe a organização das claques em associações

Comecemos por onde devemos começar: O que são GOA? E o que são hooligans? Segundo a nossa lei (Lei 113/2019 de 11 de Setembro) Grupo Organizados de Adeptos será o «conjunto de pessoas, filiados ou não numa entidade desportiva, que actuam de forma concertada, nomeadamente através da utilização de símbolos comuns ou da realização de coreografias e iniciativas de apoio a Clubes, Associações ou Sociedades Desportivas, com carácter de permanência».
E o que são (ou foram) os hooligans?
São grupos de adeptos fanatizados, cujo objecto é o exercício da violência, a qualquer pretexto, em qualquer lugar, mesmo sem dependência da competição desportiva.
A violência pode ser exercida sobre grupos rivais, mas igualmente sobre pessoas e sobre bens que não se conexionam com a competição, ou seja, não é o emblema do clube, nem a competição, que provocam a violência. Quer o emblema, quer a competição são marginais perante as condutas violentas e deliberadamente organizadas.
Eram vulgares as invasões de campo quando a sua equipa estava a perder, o lançamento de objectos perigosos sobre os simpatizantes dos adversários, em suma, a violência nos hooligans era um meio e um fim, em simultâneo, podendo mesmo eclodir em duelos colectivos, à margem da competição.
Historicamente, o hooliganismo nasce antes do futebol, embora seja o futebol o caldo de cultura dos hooligans a partir da década de 60 do século passado.
Como se vê, os nossos GOA (as claques) nada têm a ver com a conduta, a matriz sociológica e comportamental dos hooligans.
As nossas claques acham-se, de facto, impregnadas de paixão pelo seu emblema, embora o fanatismo e a violência não pertençam ao grupo mas, tão-somente, a alguns dos seus membros.
É evidente que dentro das claques surge quem as aproveite para a prática de crimes que nada têm que ver com a natureza, com a prática e com a paixão clubista, nem com o comportamento da própria claque, no seu conjunto.
Ora, tudo isto vem a propósito da nova Lei sobre a Violência no Desport (Lei 113/2019 de 11/9) que adoptou um modelo em vários momentos desfocado da nossa realidade, indo bem mais longe nas preocupações securitárias que os ordenamentos jurídicos onde o fenómeno hooliganista é acentuado.
O primeiro reparo que esta Lei merece é o seguinte: não se aceita, como politicamente adequado, que o diploma que regula o combate à violência, ao racismo e à xenofobia preveja o regime jurídico dos GOA.
Esta sobre posição das duas regulamentações permite concluir que os GOA (as claques) nascem e actuam geneticamente para o exercício de violência, são racistas e xenófobos.
E, de facto, assim não é.
Se o fosse, como o legislador o induz, justificar-se-ia a sua eliminação, logo a sua ilegalização.
Mas, para além disso, os excessos da Lei 113/19 são de variada natureza.
De facto, algumas soluções afiguram-se me inconstitucionais quando se impõe a organização das claques em associações, assim como se agride a Lei Fundamental quando se permite a punição de um clube ou de uma SAD por actos praticados pelos seus adeptos, mesmo quando adoptem todas as medidas de segurança, seja como clubes visitados, seja como visitantes.
Algumas soluções, mostram-se ilegais, como, p.e., a obrigação de identificar e registar os adeptos junto de APCVD, sem esquecer a obrigação de os clubes e as SAD de manter um registo sistematizado e actualizado dos filiados no GOA.
Algumas imposições legais caem no ridículo. Assim, p.e., se um clube quiser cancelar facilidades ou apoios a um GOA, tem de obter a anuência da APCVD para apurar se esses adeptos merecem ou não a facilidade ou o apoio a que se propõem.
Mas outras imposições legais assumem especial danosidade. Repare-se que o clube ou a SAD têm de remeter trimestralmente à APCVD e às forças de segurança «cópia do registo» dos seus adeptos e se o GOA se deslocar a um outro clube, o clube visitante deve possuir uma listagem organizada, contendo a identificação de todos os sócios que se desloquem, devendo, tal lista, ser entregue às forças de segurança e aos assistentes do recinto desportivo.
Muitas, mas mesmo muitas normais deste... se poderiam aqui invocar.
A violência achas-se mais nestas soluções consagradas quando, como disse, se ficou um regime preventivo e sancionatório mais gravoso que o dos países que suportam o encargo e o vexame do hooliganismo.
Ora, confundir hooligans com os nosso Grupos Organizados de Adeptos ou, se quiser, Grupo de Organizados, é bem sinal da impreparação dos autores das soluções legislativas.
Já aqui defendi que os GOA devem registar-se no interior (e só no interior) do seu Clube ou SAD, a responsabilidade de cada adepto deve assumir-se perante o seu clube ou SAD e, em caso de incumprimento deve ser a auto-organização e autoregulação que devem actuar, punindo os seus autores.
Se tal não suceder, caberá aos tribunais apreciar os crimes e à entidade reguladora (APCVD) o acionamento dos clubes, sempre sem colidir com a competência disciplinar das federações.
Não se percebe, na verdade, patológica obsessão do legislador, quando consagrou soluções que reputo de ilegais e inconstitucionais que mais não servem, senão para potenciar as desfocagens relacionais e as irresponsabilidades dela emergentes.
De facto, se responsabilizarem as claques perante os seus clubes, outras e mais eficazes prevenções se alcançariam perante a violência no desporto, maxime, no futebol."

João Correia, in A Bola

Sobre a reflexão - Espelho, tempo e espaço

"«Se não fosse o espaço e o tempo vossa excelência, por exemplo, seria um extraordinário atleta»

Dois pormenores
1. - Do que estávamos a falar na semana passada, excelência?
- Do tempo e do espaço.
- Ah, essas pequenas coisas!
- Sim.
- Tempo e espaço. Um, dois. Correr no momento certo e na direcção certa.
- Isso!
- É muita coisa, não?
- Talvez. De facto, há sujeitos que se lembram do espaço, mas esquecem por completo a dimensão tempo.
- Falta de memória.
- E assim correm - como dizíamos da outra vez - para o sítio certo, rapidíssimos, mas no momento errado.
- Esqueceram o tempo.
- Sim.
- E os outros?
- Os outros, têm uma excelente memória para o tempo. Correm no momento certo, na hora h, no momento decisivo e necessário, mas...
- Mas?
- ... na direcção errada.
- Espaço e tempo, duas variáveis Mas insisto. Não será complicado de mais?
- O mundo nunca foi simples.
- Teremos, pois, de treinar a velocidade, mas não esquecer o resto.
- Sim, excelência. O pequeno resto: o espaço e o tempo.
- Se não fosse o espaço e o tempo vossa excelência, por exemplo, seria um extraordinário atleta.
- Sim! Sempre tive essa ideia muito clara para mim.
- É que só lhe faltam mesmo esses dois pormenores, excelência.
- Sim, dois pormenorzinhos. O que são o espaço e o tempo ao pé da vontade e das ganas e etc.?
- Nada, excelência, nada.
- Pois.

Uma boca, muitos ouvidos
2. - Há um falar e dois entenderes, sábia frase do povo, excelência.
- Um sujeito fala e dois ouvem. E não ouvem o mesmo.
- Dois entendimentos, portanto, para cada frase.
- No mínimo.
- Pois. Se vossa excelência falar para onze sujeitos, com calções ou não, terá onze formas diferentes de entender a sua fala. Porque cada ouvido tema sua biografia.
- Exactamente: cada ouvido tem as suas experiências próprias.
- O ouvido não é um órgão anatómico, é um órgão biográfico.
- Não é pele, cartilagens,etc. Nada disso. É memória quase tudo.
- Exactamente, um órgão biográfico. É um belo termo.
- A minha história é em parte tudo aquilo que eu ouvi antes. E vi.
- Isso.
- Eu diria, de uma forma mais simples: a cada ouvido sua interpretação.
- Eu diria mais: se vossa excelência se isolar numa sala e falar sozinho para o espelho.
- Um monólogo?
- Um monólogo. Dizia: se falar sozinho para o espelho, o espelho, ou melhor, a imagem que dele vem, entenderá de forma distinta aquilo que vossa excelência diz.
- O meu reflexo não entende o que eu digo da mesma maneira que eu.
- O espelho ouve o que vossa excelência diz, e reflecte. É uma máquina de reflectir, o espelho.

Espelho, reflexão física, intelectual e ética
3. - Excelência, já reparou?
- Em quê?
- Falamos em reflexão do espelho e em reflexão de um sujeito. Não é por acaso.
- Não?
- Não, é o mesmo fenómeno. Um à superfície, outro lá dentro, mas o mesmo fenómeno.
- Reflectir é isto, excelência: olhar para aquilo que se faz no momento exacto em que se faz. O espelho permite isso. Um feedback imediato.
- Isso, excelência.
- Corrigir a posição dos braços e das pernas diante do espelho, como se faz nas academias de dança. Vossa excelência olha para o espelho e confirma se a sua posição e os seus movimentos são correctos.
- Isso.
- Mas deixe-me dizer uma coisa, excelência.
- Diga.
- Eis do que o mundo no geral precisava: um espelho que reflectisse não o exterior, mas o interior.
- Como assim?
- Um espelho em que se conseguisse ver o próprio pensamento no momento em que estava a pensar.
- Um espelho intelectual.
- Sim, um sujeito via à sua frente, nesse tal espelho de pensamentos, aquilo em que estava a pensar e corrigia, no próprio momento, o seu pensamento.
- Eventualmente com a ajuda de alguém no exterior.
- Sim, como um professor de dança, mas este professor corrigia o pensamento.
- Mais para cima, continue esse raciocínio, agora leve esse pensamento o mais alto possível. E etc.
- Possíveis indicações de um professor que corrigisse os pensamentos. Os pensamentos, não a fala.
- Isso.
- Mas faria mais sentido uma auto-correcção dos pensamentos. E para isso serviria esse espelho em casa, no quarto. Um espelho que reflectisse os pensamentos.
- Sim, tudo muito bem - mas também faz falta um espelho moral e ético. Etc.
- No fundo, é preciso reflectir. É o que falta.
- Como um espelho.
- Sim, como um espelho que pensa."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

A Lei Antidopagem

"A Lei n.º 113/2019, de 10 de Setembro, introduz a terceira alteração à Lei n.º 38/2012, de 28 de Agosto, que aprova a Lei Antidopagem no Desporto, adoptando na ordem jurídica interna as regras estabelecidas no Código Mundial Antidopagem.
De forma genérica, podemos dizer que as grandes alterações introduzidas prendem-se com o aumento da independência e das funções da ADoP (agência antidopagem portuguesa), bem como a retirada do poder disciplinar relacionado com dopagem do seio das federações desportivas.
Assim, a ADoP passa a estar funcionalmente na dependência do membro do governo responsável pela área do Desporto, deixando de estar integrado junto do IPDJ.
Foram também reorganizados os seus órgãos e serviços. Foi criado o Conselho Consultivo que emite pareceres não vinculativos, deixando o CNAD de ter essa competência. Por outro lado, a nova Direcção Jurídica terá como funções a instrução dos processos de contraordenação e dos processos disciplinares, competência essa que anteriormente pertencia às federações desportivas e que agora ficam com competências muito residuais nesta matéria.
O Laboratório de Análises Antidopagem e o Colégio Disciplinar Antidopagem, que irá decidir os processos disciplinares, são independentes da ADoP.
As alterações entram em vigor em 10 de Outubro de 2019, 30 dias após a publicação da Lei. Destaque ainda para uma norma transitória que determina que os processos que se encontrem, à data de entrada em vigor da Lei, em fase de instrução nas federações desportivas devem ser por estas instruídos e posteriormente remetidos ao Colégio Disciplinar Antidopagem para que seja proferida decisão."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Vinícius foi o ás de trunfo

"Gabriel deu um primeiro sinal de mudança, mas está só chegaria com a entrada de Vinícius

Gedson na frente
1. A colocação de Gedson em zona mais ofensiva foi uma surpresa apenas relativa e, talvez até por isso, não correu absolutamente bem ao Benfica. O Vitória de Setúbal, com uma linha defensiva de seis em vários momentos, deu pouquíssimo espaço e nos primeiros 20 minutos a equipa da casa foi quase sempre previsível. Os sadinos, sobretudo concentrados em defender, apostavam em Hildeberto, procurando aparecer nas costas de Grimaldo como principal aposta ofensiva. A defender, o Vitória apostava na energia de Semedo e, sobretudo, do central Artur Jorge, que assinou uma exibição de grande categoria no Estádio da Luz.

Gabriel primeiro
2. No início da segunda parte esperar-se-ia que o Benfica entrasse a jogar mais rapidamente, mas acabou até por ser o Vitória a dar bons sinais, passando a explorar também muito o espaço de André Almeida, que não parecia bem no jogo e acabaria por sair mais tarde.
O treinador do Benfica, Bruno Lage, não quis esperar mais e teve de apostar em Gabriel para tentar variar o jogo e acelerar a procura de espaços - Fejsa já não acrescentava tanto. Mas não foi necessariamente essa a grande solução para o jogo... Essa viria logo depois com a entrada de Vinícius.

A tremenda eficácia
3. Vinícius tem muito pouco tempo de jogo no Benfica, mas a verdade é que tem demonstrado uma tremenda eficácia e, ontem, foi capaz de resolver um jogo que crescia em dificuldade para as águias. O próprio golo nasce de um grande esforço individual e de um feliz exercício de criatividade. Um avançado de grande utilidade, afinal.

E depois de Taarabt
4. Com o golo marcado pareciam estar criadas condições para que o Benfica serenasse, eventualmente até marcasse mais, pois o Vitória teria de desdobrar-se e passar a jogar sem tantas cautelas defensivas, opção que forçosamente tornaria o jogo diferente. Em todo o caso, a expulsão de Taarabt confundiu o Benfica e deu aos setubalenses a confiança necessária para se lançarem ao encontro de outro forma.
O Benfica porém, mesmo com o nervosismo aceitável de quem tinha apenas um golo de vantagem e estava a jogar com dez, controlou o jogo dentro do esperado, ainda que tenha sido forçado a defender de uma forma como talvez não estivesse à espera. Mas fê-lo de forma concentrada."

Vítor Manuel, in A Bola

Festival...!!!



"De Tiago Martins já aqui dissemos tudo praticamente. É uma questão de dar uma vista de olhos nos nossos posts do ano passado. Aquele penalti que marcou sobre o Bas Dost em Alvalade num jogo contra o Chaves foi das coisas mais escandalosas de todos os tempos. Ao que acrescentou uma expulsão de um jogador do Chaves nesse mesmo jogo tão ou mais escandalosa que esse penalti. Por isso, como lagarto fanático, já sabemos que o seu anti-benfiquismo primário pode vir à tona a qualquer momento, o que aconteceu ontem na Luz de forma absolutamente penosa tal a viciação que tentou imprimir ao jogo.
Gozou à grande nos tempos de compensação (intervalo e final de jogo).
Deu amarelo a Vlachodimos por demorar uns segundos na reposição, quando do outro lado Makaridze fez o mesmo 2465784392 vezes, o que lhe serviu de um tímido aviso.

Deu vermelho directo ao Taarabt numa disputa de bola , quando o Rafa sofreu uma entrada incomparavelmente pior e o jogador adversário foi admoestado com cartão amarelo apenas.
Ignorou o penalti cometido sobre o Rafa na segunda parte...
E fez dos 10 minutos finais uma das histórias mais vergonhosas que algum dia se viu no Estádio da Luz.
Um festival de roubar sem qualquer tipo de pudor. Isto está a atingir limites nunca antes imaginados e o Apito Dourado começa a ser uma brincadeira ao pé disto que se tem passado desde o ano passado. 
Já se sabe qual o próximo AF Porto e VAR AF Porto nomeado para o jogo do Calor da Noite em Vila do Conde?"

Sobre ontem?

"1- Incrível como mandamos nisto tudo... Com o regresso do Gabriel iria surgir a dúvida de quem saía do 11 para a entrada do Brasileiro. O árbitro expulsa o Taarabt e assim está resolvido. Só não vê quem não quer.
2- Depois da vergonha que se passou na véspera, o golo decisivo foi marcado por um jogador contratado sem o aval do Treinador e por um Presidente que assume publicamente nada saber de bola. Estrelinha antes do Natal.
3- O Vitória de Setúbal veio jogar com 12 gajos atrás da linha da bola. 12 porque o Seferovic estava lá sempre a cortar aquilo que a defesa não conseguia.
4- E eu que cheguei a achar o Ghilas um jogador razoável. Depois do Porto foi Córdoba, Levante, Gaziantepspor, Goztepe, e agora Vitória de Setúbal. Ah, e tem o peso do Taarabt há 1 ano.
5- Acho estranho o Benfica continuar sem comentar a ausência do Pizzi na equipa, depois do Samaris mais um desaparecimento por justificar.
6- O Gedson foi boa ideia, sou sempre a favor da competitividade e jogar com o miúdo junto ao Ponta de Lança foi muito útil para equilibrar o jogo fingindo estarmos com -1.
7- O Bruno Lage finalmente admite que não jogámos um charuto nos últimos jogos e acrescenta para aqueles maluquinhos tipo Rui Vitória que aplaudem todas as jogadas de merda nem que sejam cruzamentos para trás da baliza: “falei aos jogadores sobre a importância de perceberem o que é o adepto do Benfica. Se há uns meses foram os primeiros a ajudar na reconquista quando estávamos a perder com o Rio Ave, neste momento somos nós que temos de ter paciência com eles e entender. Ser benfiquista é ser família e eles não estão contra nós. Querem o melhor de nós e exigem-no!”
8- Champions para a semana e mais 3 semanas de férias com um joguito da Taça da Liga pelo meio. Malta dos Casamentos: aproveitem estas paragens e não nos obriguem a ser Inácios durante as vossas festas...
PS: Teresa...oh Teresa... Teresa... viu o vermelho por mostrar ao Mansilla que de manso tem pouco? Teresa... até o O Jogo viu."