sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Perestroika

"Quando a coisa aperta, cada equipa encontra a sua forma de lidar com o insucesso. No SL Benfica aprende-se com os erros e trabalha-se mais. No SC Braga, contrata-se um treinador com provas dadas na luta livre. No Sporting CP despacha-se meia equipa ao preço da uva-mijona e sonha-se com milagres de vender jogadores ao Real Madrid. No FC Porto, inventa-se um inimigo externo (de preferência lisboeta para espalhar melhor a mensagem regionalista), dá-se uns murros na mesa e jura-se dedicação eterna a uma causa perdida.
Reestruturação? É um palavrão, mas não tão ofensivo como se escuta constantemente no seio das claques organizadas que atacam mais o adversário do que apoiam a sua equipa. Perceber que um estilo está fora de moda? Impensável para quem continua a vestir a mesma roupa das boutiques de Vigo dos tempos do Apito Dourado. Assumir falhas? Era só o que faltava, eles são tão perfeitos e diferentes, que vão para a segunda seca de 18 anos sem um campeonato. E ainda estamos a contar...
O futebol português e os seus agentes precisam de ser humildes. Precisam de entender que não sabem tudo e que os métodos dos anos 80 já só fazem sentido nas séries que retratam mafiosos e delinquentes de baixo nível. Precisam de entender a sua insignificância estatística. O número de espectadores nos estádios nacionais - com excepção da Catedral e nos jogos do Benfica nas Antas, Campo Grande e Pedreira - é ridículo. Na partida da equipa de Belém com o campeão nacional, no Jamor, estavam quase 18 mil pessoas. Mais do que no Vitória FC - Boavista FC, um potencial clássico com objectivos europeus. Equipas a mais, incompetentes em demasia e métodos ultrapassados. É assim a principal liga de futebol em Portugal."

Ricardo Santos, in O Benfica

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