sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Dicotomia

"Ás vésperas do regresso das grandes competições nas áreas mais relevantes do desporto, enquanto se concluem os períodos de preparação dos atletas e equipas, os adeptos mais dedicados já manifestam saudades das grandes disputas oficiais nos planos nacional e internacional.
O final da época anterior já fora verdadeiramente extraordinário, pela intensidade com que os desafios se jogaram; e, no seu termo, os deuses do desporto pareceram castigar propositadamente os que insistiram em fazer da batota, da calúnia e do crime os atalhos mais expeditos para as suas pretendidas vitórias.
Mas, logo a seguir, os portugueses passavam a assistir incrédulos a uma das mais agitadas pré-épocas de todos os tempos. Julgo que não exagero se afirmar que os episódios ainda há pouco tempo inacreditáveis se sucederam nestes dois meses e meio, a uma cadência verdadeiramente vertiginosa; persistiram rumores e especulações de recorte inconcebível, metralhados por sistemas e protagonistas mediáticos não menos extravagantes; e, volta, não volta, até factos reais e notícias autênticas, por exemplo acerca de transferências de jogadores - outrora tidas como inimagináveis - ainda conseguiram surpreender mais do que os altos e baixos de pitorescos resultados de jogos e torneios de preparação...
No centro de tudo, no olho do furacão, sempre o Benfica. Evidentemente. Pelas boas e pelas más razões. Primeiro, nas mil maneiras de celebração do esforço, do talento e da competência dos seus, com a fantástica alegria dos benfiquistas a alavancar a infinita confiança com que, a cada dia, nos sentimos a partir para o futuro. Mas, muito tristemente, também, em resultado das diabólicas teias de inveja, da cobiça, do ressentimento, do rancor e do penoso recalcamento em que os nossos rivais se acabrunham e definham progressivamente, diante dos reiterados êxitos do Benfica.
Dantes, com outros protagonistas, a rivalidade desportiva baseava-se num espírito essencialmente competitivo, aqui e ali, apenas pontuado por um ou outro epifenómeno menos próprio.
Mas, hoje registo tornou-se impossível.
O Benfica é, cada vez mais, um clube cada vez maior, a caminho dos céus da glória que, em todo o caso, nós, prudentemente, sempre tomamos como efémera. Ao invés, infelizmente, eles não param de descer aos infernos. Mas, nessa vertigem, parecem sentir-se bem."

José Nuno Martins, in O Benfica

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