quinta-feira, 18 de julho de 2019

Hóquei e sorteios (e Jonas)

"Simpatizo mais com o sistema inglês, em que o sorteio da primeira volta é um, e o sorteio da segunda volta é outra separado

1. Portugal, campeão do mundo de hóquei em patins. E logo na Catalunha!... Grande e saborosa vitória, com uma equipa coesa e bem treinada, e com o guardião Girão absolutamente insuperável. A esta conquista voltarei proximamente com mais detalhe, como bem merecem a nossa Selecção e a modalidade, que têm sido submetidas injustamente à ditadura do futebol. Nestes dias em que Portugal jogou, a RTP fez verdadeiro serviço público, nas mesmas horas em que os outros canais noticiosos empanturravam os espectadores com mais milhões das transferências, quezílias previamente formatadas entre certos comentadores, marcado e transferências alimentados por não notícias, rumores e recados. Até por isso me soube ainda melhora vitória de David-hóquei sobre Golias-futebol.


2. Aproxima-se o início oficial da nova época futebolística, ainda que sujeito a todas as servícias próprias de um defeso que acaba quando se estiver já a disputar a 4.ª jornada do campeonato!
Para os adeptos de um clube, o primeiro sinal de nervosismo miudinho de uma nova temporada é dado pelo sorteio das competições nacionais, agora objecto de uma cerimónia publicamente cuidada. Desta vez, não houve enganos e o sorteio inicial doi mesmo o definitivo, ainda que, neste modelo, sem uma pinga de emoção, feito que é por frios computadores e programas informáticos, apenas com algumas restrições, mormente de proximidade geográfica. Também aprecio a não existência de limitações nos jogos entre os três grandes que, durante alguns anos, existiu para impedir estes clássicos logo no dealbar do campeonato.

Pensando racionalmente, um sorteio destes deveria ser olhado como neutro para o decorrer da competição. No fim de contas, todos têm de jogar contra todos (excepto contra os próprios, o que às vezes até acaba por acontecer por outras vias...). Mesmo assim, simpatizo mais com o sistema inglês, em que o sorteio da primeira volta é um, e o sorteio da segunda volta é outro separado, não se limitando à reprodução da primeira volta.
Olhando para o sorteio, destacaria alguns pontos ou pormenores que me chamaram a atenção:
- A última jornada com os 4 melhores clubes a jogarem entre si. O Benfica recebendo o seu rival Sporting (não me recordo de alguma vez ter assim acontecido, pelo menos nas últimas décadas) e o Porto indo a Braga. Jogos decisivos ou talvez não... mas se o forem em simultâneo, já imagino muitos corações a pulsar de nervos e as benzodiazepinas a aumentar do consumo:
- Também relativamente incomum, é um Benfica - Porto ainda em pleno mês de Agosto (e defeso!), com uma vantagem para os dois clubes: a de não ter um carácter decisivo para o título, nem na primeira, nem na segunda volta. O Sporting já não pode dizer o mesmo porque nas últimas três jornadas vai no Dragão e termina na Luz;
- Acontece ao FCP o que aconteceu ao Benfica no ano passado: a situação de defrontar um dos principais rivais em regime da sanduíche competitiva, isto é entre duas partidas decisivas do play-off para acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Recordo que, há um ano, houve um Benfica - Sporting entre os dois jogos decisivos na Champions. Tratando-se de um momento importante para um clube português no contexto das competições europeias (para um clube e para o delicado ranking dos clubes portugueses na UEFA), deveriam acautelar-se estes caprichos de um sorteio. Agora é o adversário do Benfica que foi atingido, mas se assim pensei quando o visado foi o meu clube, tenho, evidentemente, a mesmíssima opinião agora.

3. Fui consultar os jogos de abertura dos três grandes nos últimos dez campeonatos (desde 2009/2010 até 2018/2019) e constatei que:
- o melhor desempenho é o do Porto com 8 vitórias e 2 empates (ambos fora de casa), seguido do Sporting com 5 vitórias, 4 empates (um em Alvalade) e 1 derrota (fora). O Benfica tem 5 vitórias, mas foi derrotado 2 vezes (uma em casa, com a Académica) e empatou em 3 (dois dos quais na Luz);
- Acontece que se o Benfica na primeira metade da referida década não conseguiu ganhar nenhuma vez (!), embora tenha jogado 3 partidas no seu estádio, na segunda metade, ou seja desde 2014/2015, venceu sempre, assim ultrapassando o trauma das falsas partidas;
- Nestes 10 anos, houve duas épocas em que nenhuma das 3 equipas venceu: em 2009/2010 e em 2012/2013, todas empataram, ainda que, em ambas as ocasiões, só o SLB tenha jogado no seu reduto;
- Aparentemente com algum significado é o facto de nas últimas 4 temporadas, os três rivais terem ganhado sempre a partida inicial;
- O Benfica voltará a entrar jogando na Luz, assim aumentando para 8 as vezes em que tal aconteceu nas 11 temporadas (já contando com a que se vai iniciar). Já o Sporting tem exactamente o registo inverso, o que se compreende pois uma das restrições ao sorteio é o da não coincidência dos jogos caseiros das equipas da 2.ª Circular. Por sua vez, o Porto regista 5 encontros em casa e 6 fora;
- A última vez que o campeão nacional de uma época não venceu o jogo inaugurou aconteceu com o Benfica. Foi em 2013/2014, com a derrota no campo de Marítimo por 1-2;
- Se olharmos para as derradeiras e decisivas 4 jornadas do próximo campeonato, e numa perspectiva histórica, é o Benfica que tem uma percentagem maior de favoritismo (Famalicão(f), Vitória Guimarães(c), D. Aves(f) e Sporting(c)). Já a equipa leonina enfrenta um itinerário aparentemente mais complicado (Santa Clara(c), Porto(f), Vitória Setúbal(c) e Benfica(f). Quanto ao Porto, a sua ponta final estará entre a maior ou menor dificuldade teórica dos clubes da capital (Tondela(f), Sporting(c), Moreirense(c) e SC Braga(f). Mas não nos esqueçamos de outras equipas, em especial do SC Braga...;
- Já quanto às primeiras 4 jornadas, parece-me que foi o Benfica que calhou o mais complicado início, tendo que defrontar em caso o Porto e jogando fora com SC Braga, na jornada seguinte (e viajando antes ao Jamor para defrontar o ainda chamado Belenenses SAD). Todavia, em comparação com a época transacta, em que também defrontou o Sporting, não tem jogos eliminatórios na Europa;
- Um aspecto de que não gosto no calendário anunciado é de haver quase um mês sem jogos para o Campeonato, entre a jornada n.º 7 (em 29 de Setembro) e a jornada n.º 8 (em 27 de Outubro), apesar dos motivos para tal (Taça de Portugal e jogos da Selecção). Acresce que haverá uma nova interrupção entre 10 de Novembro e 1 de Dezembro. No total, entre 29 de Setembro e 1 de Dezembro, isto é em mais de dois meses, jogar-se-ão tão-só 4 jornadas! Compreendo os motivos, mas parece-me excessiva esta fragmentação do campeonato, que, verdadeiramente, é o que mais vive da continuidade regular. Em contrapartida, aplaudo a interrupção por ocasião das férias natalícias, desde a jornada n.º 14, em 15 de Dezembro e a seguinte em 5 de Janeiro de 2020, neste caso a abrir com um Sporting-Porto;
- Em boa hora se acabará com a anomalia de os dois jogos das meias-finais da Taça de Portugal serem disputados com uma distância entre eles de dois meses! É pois bem-vinda a alteração que vai permitir que, em Fevereiro do próximo ano, e a meio da semana, aquelas se disputem em duas semanas consecutivas.

Contraluz
- Gratidão: Já sinto saudades do perfume e inteligência futebolísticas de Jonas. Foi, sem dúvida, um jogador que marcou a vida e a história do Benfica. Não creio que haja substituto à sua altura: na qualidade, na eficácia, no empenho, na conjugação entre a individualidade e o colectivo, na humildade e na sensatez. Fascinante a entrevista à BTV na passada quinta-feira conduzida por Hélder Conduto. Ali se revelou a pessoa em toda a sua dimensão: humana, profissional, familiar e ética. Ali e em todas as ocasiões, tem exteriorizado a gratidão ao clube, depois de inexplicavelmente ostracizado em Valência. E nós expressamos toda a gratidão a um dos melhores atletas que alguma vez jogaram no clube, num tempo em que a memória e o sentido de gratidão andam tão arredios do mundo do futebol, apenas concentrado na cor do dinheiro.
- Pronúncia: Desculpem-me a insistência. O nome Félix não se lê como se acabasse em cs, mas antes como a última palavra fosse um s. Curiosamente, na apresentação de João Félix, no Atlético de Madrid, ouvi o apresentador e jornalistas espanhóis sempre a dizerem o nome correctamente (além do próprio atleta). Por aqui, é um fartar de locutores e comentadores e insistirem no erro. Será assim tão difícil um esforço e atenção para se pronunciar correctamente este nome?"

Bagão Félix, in A Bola

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