"Com treinador privado voltou ao destino que Zidane lhe pusera à janela; Dominicano, não quer que lhe digam que é
1. Amiúde o afirmou: «Vários vezes, ao ver resumos na televisão, o ouvi: Golo do dominicano... Boa jogada do dominicano. Não me sentia mal, mas não gostava, não era assim porque eu não sou dominicano, nasci em Madrid, joguei por todas as selecções de Espanha até aos sub 19». Sim, nasceu em Madrid (em Outubro de 1994) e a «confusão» tinha uma razão: «Da República Dominicana é a minha mãe. Veio para Espanha, conheceu o meu pai, logo começaram a trabalhar juntos numa escola de condução».
2. O pai jogara futebol e, chamando-se Raúl como ele, também era avançado. Não passou, porém, de equipas da segunda B: o Yeciano, o Tomelioso, o Torrevieja - e ao abrir a sua própria escola de condução em Algete colocou o filho no CD San Roque EFF, escolinha de futebol na zona de Barajas. Dois anos após a sua chegava ao CD San Roque EFF, o olheiro que se aventura-se a partida contra o Alameda, convidou-o a ir a um teste ao Real. Estava a caminho dos 9 anos - e jogava como médio, tentando imitar seu ídolo: o Zinedine Zidane.
3. O Real pô-lo a estudar num colégio interno e mudou-lhe a posição: para ponta de lança. «A cada ano que passava, via 10 jogadores a saírem, 10 novos a chegarem - e só pensava: não quero que isso me aconteça». E não, não aconteceu: ainda júnior saltou para o Real Madrid B, o Castilla (a estreia foi por Abrl de 2012, contra o CF Pozuelo de Alarcón, na III Divisão). Desatou a marcar golos - só saiu da equipa por causa de cartão que o levou a suspensão: «Puseram um brasileiro, o William José, no meu lugar, ele fez hat-trick e a partir daí tudo se torceu para mim». Pior foi, contudo, lesão num ombro que o atirou, por semanas, para o estaleiro. Voltou ao seu furor (e aos golos) na temporada de 2013-2014.
4. Ancelotti levou-o à pré-época do Real nos Estados Unidos e, em Outubro de 2014, chamou-o a jogo com o EU Cornellà para a Taça do Rey (e entrou a substituir Benzema): «Foi sensação incrível. Como fora o ter entrado pela primeira vez no balneário da equipa principal, estar entre todas as estrelas, ali onde qualquer jogador gostaria de estar - e ir lá mais duas vezes para ser suplente com Celta e Real Sociedad».
5. Com a época de 2014-2015 à vista, passou-lhe pela cabeça pedir que o emprestassem, mas ao soltar-se a notícia de que Zidane passaria a ser treinador do Castilla - tirou de lá a ideia: «Pensei que seria grande ano para mim. Zidane, deu-me confiança extrema - não lha retribui, as coisas não me saíram como tanto queria».
6. Como se o tivesse decepcionado, assumiu-o, amachucado: «Uma das janelas da sua sala no Castilla dava para o campo de treinos da primeira equipa do Real - e um dia em que fui falar com ele, Zidane, apontado para lá, disse-me: Quero ver-te ali em baixo! Meti esse papel em mim - e o ano não me sair bem. De qualquer forma, nunca esquecerei o que Zidane me disse ao despedir-me dele: És um grandíssimo jogador, centra-te nisso e verás que te correrá bem...»
7. Deixou o Castilla emprestado ao Córdoba - e para regressar ao futuro contratou Pablo Arias, PT que para além de lhe dar treino privado de ginásio todas as tarde, lhe criou uma dieta especial: «Também se tornou psicólogo: motivando-me, ensiando-se a suportar a pressão, a ignorar até insultos e ataques nas redes socais».
8. Do Córdoba foi para o Valladolid - e não tardou que se desatassem a notar-se os efeitos da transformação a que Pablo Airas o atirou: «Fui ficando com o corpo cheio de músculo, sem perder rapidez. Pelo contrário - ganhei a velocidade que, em dois ou três metros, pode fazer a diferença entre um golo ou não». Se sou capaz de correr os 100 metros em 11 segundos? Não sei, nunca corri numa pista, mas a velocidade encanta-me, dela vivo também no meu trabalho...»
9. Largou o Valladolid - e no Rayo Vallecano começou a tocar o paraíso (sempre com Arias a seu lado): fez 24 golos e foi determinante para a vitória no campeonato da II Divisão. Lopetegui não quis de volta ao Real (que lhe prolongara contrato até 2023) - e, ao sabê-lo, Sousa Cintra lançou-lhe, em vão, canto da sereia. Na época passada continuou de fogacho no pé no Rayo Vallecano, Zidane ainda cogitou abrir-lhe o plantel do Real - e o Benfica dispôs-se a dar 20 milhões de euros para o ter na Luz."
António Simões, in A Bola
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