terça-feira, 21 de maio de 2019

Rumo a Amesterdão


"Por terra, por ar ou por mar, todos os caminhos levavam à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1961/62.

Em Maio de 1962, o Benfica rumou a Amesterdão para disputar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Pela segunda vez consecutiva, o clube 'encarnado' classificava-se para a final da prestigiada prova europeia. Era um feito ímpar para o Benfica, para o futebol e para o desporto nacionais. Um feito que levou a que mais de 4 mil portugueses se dispusessem 'a sacrificar as suas férias, e os seus proventos, acumulados durante um ano de trabalho', para assistir ao vivo à partida.
'Todos os meios servem para chegar a Amesterdão', destacava o Record. Carro, autocarro, avião, comboio, não interessava como, o importante era conseguir percorrer os mais de 2 mil quilómetros que separam as duas capitais europeias a tempo de ver o grande jogo.
'De toda a parte surgiram organizações de excursões'. 'Benfica - Amesterdam Excursão em autocarro de luxo', anunciava o Diário de Lisboa. A CP - Comboios de Portugal concedia descontos a quem optasse por ir de comboio - embora muitos tenham utilizado esse meio só até Madrid, a fim de integrar 'excursões espanholas, beneficiando da apreciável diferença cambial na moeda'. Houve quem preferisse ir de automóvel e houve até quem quisesse ir de barco. O próprio Benfica resolveu fretar o paquete Índia para o efeito, porém a receptividade foi tal que o Clube rapidamente se viu 'a braços com outro problema: arranjar um barco com capacidade superior, pois a lotação do «Índia» já está largamente excedida'. Foi uma tarefa infrutífera, que obrigou a Comissão Central do Sport Lisboa e Benfica a desistir da iniciativa. Mas o avião - 'e na era do jacto outra coisa não seria de admitir' - foi o meio de transporte que concentrou o maior contingente de apoiantes. 'Enfim, uma autêntica romaria de fé e vontade inabalável'.
No dia 2 de Maio, nas bancadas do Estádio Olímpico de Amesterdão, encontravam-se milhares de portugueses, uns benfiquistas e outros que, 'embora partilhassem outra cor clubista', não quiseram deixar de prestigiar o Benfica. Quem por cá ficou pôde acompanhar o jogo através de 'um aparelho de televisão, ou mais modestamente (...) de um receptor de rádio'.
Roland Oliveira registou alguns desses adeptos. A fotografia, publicada no Record de 5 de Maio de 1962, mostra um grupo do Clube Oriental de Lisboa que, numa demonstração de fair-play, se deslocou de carro a Amesterdão para prestigiar o Benfica."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

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