terça-feira, 21 de maio de 2019

Lage, até o leão do Marquês aplaudiu...

"As feridas de anos a fio de guerras insanas ainda vão levar muito tempo a sarar. Mas a proposta de Lage é um óptimo ponto de partida.

Bruno Lage tem revelado uma enorme capacidade para aproveitar as oportunidades que a vida lhe dá. A 18 jornadas do fim, quando o Benfica estava em quarto lugar, a sete pontos do líder, e tinha uma segunda volta de meter medo ao susto, aceitou pegar na equipa e, 17 vitórias e um empate depois, estava no Marquês a celebrar o 37 perante uma plateia de meio milhão de almas, a que se juntavam outras mais, muito mais, pela televisão. Aí, na noite da consagração, Bruno Lage voltou a agarrar com as duas mãos a oportunidade e enviou, naquele estilo despretensioso e desprendido, que é simples sem ser simplório, a mensagem que o país, desportivo e não só, precisava de ouvir. O treinador do Benfica, pelos vistos adepto da ideia de Arrigo Sacchi de que «o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes», começou por lembrar que tudo deve estar em perspectiva, e que faz falta, em todas as áreas da sociedade, uma militância cívica mais activa e interveniente. E passou, a seguir, para uma ideia que pode mudar mentalidades, exortando os adeptos benfiquistas e darem valor ao que os adversários fazem, única forma de verem reconhecidos os méritos próprias. Bruno Lage, ao escolher fazer pedagogia junto dos 500 mil adeptos do futebol que tinha à frente, do Marquês à Fontes Pereira de Melo e à Avenida da Liberdade, e a todos os outros que, pelas televisões, rádios e jornais, tomaram contacto com a mensagem, merece o nosso respeito, pela coragem de não dizer o óbvio e procurar transformar, quem o ouvia, em pessoas melhores. O futebol português deixou-se arder, até chegar a esta terra queimada civilizacional, por culpa de líderes que se limitaram a capitalizar o que há de pior em cada um, forjando criaturas que começam a fugir ao controlo do criador. A mensagem de Lage vai em sentido inverso: pertencer ao futebol, amar o jogo, vibrar com os clubes não pode ser sinónimo de ódio e de intolerância. Os adversários são para respeitar e reconhecer mérito, os rivais devem ser factores de motivação e crescimento e não faz sentido que haja inimigos no Desporto.
As feridas provocadas por anos a fio de guerras insanas entre os clubes vão levar ainda muito tempo a sarar. Mas é preciso começar por algum lado e a proposta de Lage, na noite de consagração no Marquês de Pombal, parece ser um óptimo ponto de partida.

Ás
Luís Filipe Vieira
Quando, há mais de 400 anos, Shakespeare escreveu a peça Tudo Está Bem Quando Acaba Bem, não imaginaria, por certo, que o título se colaria como uma luva à época de 2018/19 do líder do Benfica. Entre dúvidas, hesitações e passos à frente e atrás, acabou por acertar com a medida perfeita, vencendo um desafio impossível.

Ás
Haris Seferovic
Herói improvável na gesta do 37, ganhou a imortalidade ao inscrever o nome na lista de benfiquistas que venceram a Bola de Prata. Num ano de muitos golos (103, uma média de 3,03 por jogo, longe porém dos 103 de 1963/64, que traduziram uma média de 3,96 por jogo) o suíço foi decisivo na caminhada para o titulo.

Ás
Geyse
Não é da família de Eusébio, embora se chame Geyse da Silva Ferreira. Tem 21 anos, é internacional pelo Brasil, e ajudou, com um futebol empolgante, o Benfica a conquistar a Taça de Portugal feminino. Foi o ponto mais alto do ano zero das encarnadas, que raras vezes tiveram adversárias à altura. Parabéns.

Os números que contam o 37.ª título do Benfica
O Benfica venceu o campeonato porque foi o melhor dos maiores, ao conquistar, nos seis jogos que disputou com FC Porto, Sporting e SC Braga, 16 dos 18 pontos que estiveram em disputa. E ainda marcou 103 golos mais 29 que os dragões, 31 que os leões e 47 que os arsenalistas. Números que explicam tudo...

Não sei se estão a ver bem a gravidade...
«Acreditamos que uma instituição como o FC Porto não se pode rever neste triste episódio e que irá apurar responsabilidades»
APAF, comunicado
A tarja exibida pelos Super Dragões no último clássico, além de um empresário, ofende oito árbitros, o que sendo grave, não é novidade; ofende também, de forma leviana, o primeiro-ministro, o que faz subir a fasquia para a classe política e coloca muita coisa em causa; mas, inaudito, constituiu uma afronta, pela humilhação a uma juíza, ao sistema judicial. E agora? O que se segue?

Fim de semana português
Correu muito bem, a vários portugueses, a jornada do último fim de semana. Bernardo Silva conquistou a Taça de Inglaterra (que juntou à Supertaça, à Taça da Liga e à Premier League) e, por arrasto, catapultou o contingente luso do Wolverhampton, comandado por Nuno Espírito Santo, para a Liga Europa; Renato Sanches teve mais minutos do que o costume (uma hora em campo) e marcou um golo na vitória do Bayern no jogo do título; Gonçalo Guedes ajudou o Valência a vencer em Valladolid e a aceder à fase de grupos da Liga dos Campeões; Leonardo Jardim, com o auxílio de Adrien, Gelson e Rony Lopes, bateu o Amiens e deu passo decisivo rumo à manutenção; e Paulo Fonseca foi tricampeão ucraniano pelo Shakthar. Uff..."

José Manuel Delgado, in A Bola

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