"O programa de apoio do Comité Olímpico de Portugal a refugiados precisa de se transformar num esforço permanente e genuíno.
O Comité Olímpico de Portugal (COP) mantém desde 2016 um programa de apoio a refugiados. O objectivo tem sido o de mobilizar a comunidade desportiva no apoio a pessoas que fogem de países devastados pela guerra, aproveitando as potencialidades de um fenómeno global, como é o desporto, na provisão de recursos essenciais e que ajudem aqueles que procuram Portugal a refazer as suas vidas.
O desporto é reconhecido como uma via de promoção do desenvolvimento e à inclusão social, porém, a sua acção, neste domínio, está muito longe de se esgotar na gestão mediática dos seus intervenientes e dos eventos pontuais que se realizam com propósitos solidários.
Muitos dos exemplos mais mediatizados alertam-nos para a necessidade de auxílio em cenários de crise, mas não devem desviar o foco político das reais prioridades no que concerne ao papel do desporto no apoio social a situações de crise e de carência.
O programa de apoio que tem sido desenvolvido atingiu perto de um milhar de refugiados e deslocados em busca de asilo, através do apetrechamento dos centros de apoio a refugiados em material desportivo de diversas modalidades, do acompanhamento na integração no tecido associativo daqueles com capacidades desportivas para a vertente competitiva e nas comunidades locais dispersas pelo território nacional.
Nestes locais, uma bola, uma bicicleta, uns sapatos desportivos, o contacto humano que o desporto proporciona são experiências de um valor social inestimável. A alegria vivenciada contrasta com a amargura da chegada a um novo e estranho destino, rompendo com as barreiras linguísticas, étnicas e culturais na comunhão universal em torno de uma bola ou de uma outra actividade desportiva.
Estas experiências desportivas são, de há muito, o que de pouco positivo tiveram nos tempos mais chegados, e um elemento de coesão entre si e a comunidade de acolhimento, conferindo expressão efectiva à unidade na diversidade.
Num outro plano tem sido prestado apoio directo a dois refugiados com passado desportivo de mérito e que nas modalidades de atletismo e de boxe procuram garantir a participação desportiva nos próximos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
Este programa de apoio a refugiados tem tido o contributo financeiro da Comissão Europeia, da Solidariedade Olímpica e do próprio Comité Olímpico de Portugal.
Feliz ou infelizmente, estes apoios têm sido possíveis sem qualquer acompanhamento, político ou financeiro, das autoridades nacionais, de mecenas ou do tecido empresarial.
O desafio que se depara pela frente é bem mais difícil do que um simples impulso reactivo e uma resposta, por certo importante, a uma situação de emergência devida a um acontecimento extraordinário que salta para a ordem do dia. Mas que, no essencial, se dissipa na voragem da torrente informativa.
Este trabalho precisa de se transformar num esforço permanente e genuíno. De efectivamente transitar de um expediente assistencialista para uma visão solidária contínua, que exista com consistência e qualidade e que, sobretudo, exista independentemente do número de câmaras de televisão presentes.
Para tal, o reforço da cooperação com as autoridades desportivas, as organizações empresariais, as diversas redes e plataformas não-governamentais são o caminho a seguir em projectos locais e em acções humanitárias.
Lembrá-lo no dia em que se assinala o Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e a Paz é afirmar que o valor social do desporto não é uma simples retórica discursiva, que se esgota numa oportunidade ou que se usa numa circunstância, mas um bem que importa valorizar e proteger."
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