"A fisioterapeuta quase só entrava em campo por ele; Do erro que o Sporting cometeu à aventura no Feirense...
1. No Euro-2016, Fernando Santos deu-lhe menos de dois minutos de jogo contra a Áustria mas, por essa altura, já se percebera que bom futuro estava condenado a passar por si, pela sua rapidez, o seu frenesim - havendo até jornalista inglês a tratá-lo, na Four Four Two, como o Eden Hazard de Portugal. Aos primeiros raios dos seus brilharetes, Paulo Nunes, que o treinara no Alverca, dera-lhe outro sinal (e não, não lho dera mal): «Há nele algo de Chalana, desse Chalana que não era fisicamente impressionante, mas era fantástico, não tinha medo de nada...»
2. Tal como Chalana, nasceu no Barreiro (por Maio de 1993) - mas foi só por uma simples circunstância: a ginecologista da mãe trabalhava no hospital de lá, combinando o parto para quando estivesse de serviço. Cresceu no Forte da Casa, em Vila Franca de Xira - aos 9 anos, foi para o Povoense. Baixote e escanifrado, num ápice se lhe notou a habilidade e a velocidade - e Cristina Clemente, fisioterapeuta no clube da Póvoa de Santa Iria, contou-o à Sábado: «Sempre que íamos jogar fora, os miúdos das outras equipas perguntavam: 'Quem é o vosso avançado?' E quando percebiam que era ele, olhavam-no com desdém, diziam: 'É esse?! Ah, já ganhámos!'». Depressa se desenganavam.
3. Travá-lo (ou tirar-lhe a bola do pé) era um cabo dos trabalhos, o normal era fazerem-no à pancada - e Cristina Clemente também o revelou: «Havia jogos em que eu só entrava em campo por causa dele. Limpava-lhe as lágrimas, punha-lhe spray, dava-lhe um miminho e perguntava-lhe: 'Estás melhor?' Sorria e dizia-me: 'Sim, já passou' - e continuava a fazer das suas, impressionante». Do Povoense saltou para o Alverca - e foi graças a ele que os seus iniciados chegaram à I Divisão. Jogava, então sobretudo como n.º 10 - marcando golos a fio...
4. O pai fora guarda-redes, ele, simpatizando com o Sporting, a teste se aventurou a Alcochete - e o que lhe disseram foi que jogadores como ele «havia muitos». Continuou a correr atrás do seu destino - e quando o Sacavenense subiu à I Divisão Nacional de juniores, desafiaram-no para lá. Entusiasmando, disse-lhe que sim, mas o Alverca não deixou.
5. Nem um mês passado, melhor oportunidade lhe surgiu. Empresário ligou para o Feirense a perguntar se podia levar três miúdos à experiência: ele, o Cleto e o Cláudio. Apesar de Adolfo Teixeira, o treinador, se impressionar de pronto com ele, ficaram os três. O Feirense alugou apartamento onde os pôs a viver - pagando-lhe as demais despesas. O 12.ª ano fê-lo lá. Sempre muito atilado, chegava mais cedo ao estádio e ia ajudar ao treino dos benjamins (ou se houvesse outras coisas para fazer no clube, ele fazia - até tirar fotocópias...)
6. Estrela a faiscar nos juniores, Henrique Nunes chamou-o para a equipa principal do Feirense, então na II Liga. Jesualdo convenceu Salvador a ir buscá-lo - de Santa Maria da Feira o levou por €300m. Paulo Bento chamou-o à Selecção para jogo com os Camarões - e levou-o ao Mundial do Brasil. Não fez minuto que fosse - não deixou de ser peça decisiva nos sub-21 que chegaram à final do Euro 2015.
7. No SC Braga conquistou a Taça ao FC Porto. Continuava a mostrar o espírito comedido que lhe vinha de miúdo: pouco falador, pouco falastrão, sem ser do tipo de se fazer palhaço no balneário ou malandreco fora dele - a gostar de teatro de comédia e de ler. Os seus fogachos na Liga Europa já tinham posto clubes ingleses (do Leicester ao Tottenham) de olho nele. O FC Porto também entrou na corrida - ganhou-a o Benfica.
8. A conquista do Euro-2016 fez dele comendador, por ele o rodopio em torno de si, desinteressou-se de salário muito maior com que o Zenit lhe acenara - e telefonou a Salvador pedindo-lhe que o deixasse ir para a Luz. Para que ele fosse para a Luz o Benfica teve de gastar €16,4 milhões de euros (a maior transferência da história entre clubes portugueses).
9. Paulo Fonseca, seu treinador no SC Braga, não teve dúvidas: o Benfica contratara um craque. Demorou a ser o melhor de si (até por lesão muscular o obrigar a 71 dias de estaleiro), ainda assim deixou marca no campeonato de 2016/2017 (e na Taça e Supertaça) - e esta época tem-na feito em fulgor (mesmo antes de Bruno Lage - e não só no Benfica, na Selecção também...)"
António Simões, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!