segunda-feira, 29 de abril de 2019

Os estupefacientes de Rúben, a condição oftalmológica de Pizzi, a verdade desportiva de Félix - e um copo para Adel

"Odysseas
Depois de uma primeira parte em que foi obrigado a utilizar os pés demasiadas vezes, Vlachodimos passou a segunda metade do jogo a ver os seus colegas darem a volta ao resultado. Só faltava o seu momento. Surgiu aos 78', com o resultado em 1-3, com o grego a defender sem espinhas um pontapé de bicicleta de Dyego Souza. Vlachodimos segura o esférico com firmeza, quase parece atacá-lo para dizer ao mundo inteiro que esta é sua. Levantou o rosto e apontou o olhar na direcção dos colegas, como quem diz "não tenham medo, o Odysseas está aqui", ao que Rúben Dias retorquiu com um seco "deixa-te mas é de merdas e passa a bola".

André Almeida
A sobriedade não recebe medalhas do Presidente da República, mas devia. Cometeu o erro de procurar Seferovic demasiadas vezes, algo que nesta fase da temporada poderá afastá-lo da primeira posição no ranking mundial de laterais direitos. Inteligente como é, André Almeida saberá encontrar outros caminhos para ajudar a equipa a chegar aos 100 golos esta época.

Rúben Dias
Apesar de a sua abordagem no lance do penalty do Braga ser digna de um titular do Aliados Lordelo sob o efeito de estupefacientes, também ele tem sabido trilhar este caminho duro da reconquista e não espantou por isso que se tivesse reconciliado na segunda parte com meia dúzia de intervenções cruciais e um golpe de cabeça que colocou o Benfica numa situação de vantagem que permitiu finalmente a milhões de benfiquistas fecharem os olhos por breves instantes e imaginarem-se encharcados em álcool no Marquês de Pombal. Ainda não ganhámos nada, mas é um bom começo. 

Ferro
A malta do Seixal pode dizer o que quiser acerca do nosso centro de treinos, mas a classe de Ferro é uma coisa que não se ensina nos livros, não se adquire na caixa 360 e não vem na dieta rigorosa. É mais do que isso. É de feitio. Corre-lhe no sangue. Esqueçam o orgulho imenso de ver um miúdo assim vestir de encarnado. É imperativo que os pais de Ferro partilhem os seus ensinamentos com o Caixa Futebol Campus. É que é simplesmente o facto de ler bem a maioria dos lances e chegar primeiro à bola, abordar os confrontos físicos de modo socialmente responsável ou de conseguir passar a bola quase sempre bem aos colegas. É o modo como faz tudo isto repetidamente desde que entrou no onze que me leva a crer que Ferro nasceu para ser capitão do Benfica. Veremos se fica cá tempo suficiente para cumprir esse desígnio ou se regressa aos 35 anos para a volta olímpica. 

Grimaldo
Muita diabrura faz o nosso lateral espanhol, com e sem a bola coladinha no pé. Às vezes passam despercebidas porque "apenas" permitem aos colegas fazerem das suas enquanto Grimaldo fica a assistir, que nem aquele meme de uma pequena menina que sorri diabolicamente enquanto a casa pega fogo atrás de si. Se rebobinarmos e virmos com atenção, vimos que metade das situações de superioridade no meio campo contrário passam por ele. É este o nosso piromaníaco favorito. 

Florentino
Começou com os nervos do aluno nota 20 que achava ter a matéria toda decorada e esbarrou na primeira questão do exame. Perante este bloqueio, Florentino fez exactamente o mesmo que nós: aproveitou uma ida à casa de banho para consultar a sua cábula, lavar a cara, pregar a si mesmo duas ou três estaladas em frente a um espelho e regressar à sala de aula, onde arrancaria para um 17 sem espinhas. A confirmação chegou quando fez um daqueles cortes em carrinho que se estão a tornar a sua marca registada. Como aluno nota 20 que é, vai ficar irritadíssimo e tudo fará nos jogos que faltam para atingir a perfeição.

Samaris
A proposta de renovação, que Samaris irá assinar porque os benfiquistas e ele merecem-se, deverá ainda assim incluir uma cláusula de penalização salarial em caso de primeiras partes como a de hoje. Isto não pode ser só dar dar dar, Andreas.

Pizzi
Fiel a si mesmo, Pizzi avançou decidido por duas vezes, com um olho na baliza e outro na desejada festa do Marquês. Tiago Sá bem tentou adivinhar o lado, mas nada podia fazer perante a condição oftalmológica do nosso maestro, cuja confiança inabalável no regresso para a segunda parte permitiu ainda somar mais uma assistência e sair metaforicamente em ombros, perante aplausos de milhares de benfiquistas que compraram uma garrafa de CRF no Pingo Doce em Braga para garantirem entrada no jogo, e neste momento dão por si a suspeitar que deviam ter comprado mais.

Rafa
Notável leitura de jogo e capacidade individual. Rafa percebeu desde logo que Seferovic ia falhar na cara do guarda redes, e que a bola iria cair junto aos pés de um cadáver da equipa adversária. Depois foi só contornar os restantes corpos e pedir desculpa aos presentes por ter profanado o cemitério dos sonhos bracarenses. No fundo é bom saber que não temos de ver jogos do Barcelona para assistir a lances como este.

Seferovic
Mais um jogo a marcar passo, como se tivesse medo de ser feliz. O que receias, Haris? Caminha na direcção da luz, meu amigo. Hoje em "minha nossa senhora, o que é que se passa com este gajo?", Seferovic conseguiu a proeza de impedir um golo feito, num remate que bateu em si já a contagem ia em 3 ou 4. Nunca o melhor marcador de um campeonato falhou tantos golos, o que talvez explique o seu já excelente entendimento da língua portuguesa, em especial asneiras, que em Seferovic são usadas como elogio ou insulto. Só depende de ti miúdo.

João Félix
Andou muito escondido do jogo, optando na primeira parte por desempenhar o papel de jogador algo displicente que nos tira um bocadinho do sério. Regressou do balneário apostado em demonstrar que isto era mais uma noite em Frankfurt ou em Alvalade, mas sim uma tarde de folia em Braga. Quando demos por nós já a pedreira tremia com os festejos do país, depois de reposta a verdade desportiva: do jogo, do miúdo e deste campeonato.

Gedson
Entrou muito bem. Este miúdo faz-se.

Salvio
Entrou mais ou menos. Já não é nenhum miúdo.

Taarbat
Este entrou com aquela gana de quem precisa desesperadamente de um pretexto para voltar a beber. Quem nunca?"

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