sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O risco

"Sim, correu bem e, nesse sentido, pode Bruno Lage puxar dos galões; e se tivesse corrido mal? Como explicar tanta mexida?

Arriscou Bruno Lage muito, ontem, na Turquia, ao escolher um onze cheio de jovens para este regresso do Benfica à Europa depois do insucesso na Liga dos Campeões? Sim, arriscou. Foi uma espécie de jogador de casino, disposto a jogar na fé e na sorte. Arriscou demasiado? Na minha opinião, sim, arriscou demasiado. Mas ganhou. E pode, por isso, puxar os galões.
Bruno Lage não se ficou, afinal, apenas pela surpresa de deixar em Lisboa os titulares Grimaldo e Pizzi e o regressado e muito talentoso Jonas. Se alguém, como eu, supôs que o risco de Lage se ficasse por aí, espanto maior foi ver o onze escolhido pelo treinador dos encarnados: aos jovens Rúben Dias (21 anos), Ferro (21 anos) e João Félix (19 anos), todos previsivelmente titulares, Bruno Lage resolveu juntar ainda de uma só vez mais os jovens Yuri Ribeiro (22 anos), Gedson (20 anos) e Florentino Luís (19 anos).
Uma autêntica equipa de bebés que jogou, lutou e foi feliz e que acaba por trazer para Lisboa não apenas uma surpreendente e fantástica vitória (nos tempos que correm, é sempre fantástica uma vitória europeia fora de casa), como ainda uma vitória que não pode deixar de ser considerada extraordinária tendo em conta o terreno onde foi obtida, o sempre dificílimo campo do Galatasaray mais o seu ambiente muito hostil para os adversários.
Mas se tivesse corrido mal? Como explicaria Bruno Lage a quantidade de surpreendentes opções que fez e o surpreendente número de jovens que decidiu, sem qualquer motivo aparente, incluir no onze?
Pode o treinador do Benfica falar, como falou no final do jogo, de gestão do plantel, de fadiga muscular, de não querer, nesta altura, perder mais jogadores para as leões e, portanto, ter considerado melhor optar por jogadores muito menos rodados - muitíssimo menos rodados a este nível, é uma realidade, como Corcia, Yuri Ribeiro, Florentino Luís ou até mesmo Franco Cervi e Salvio.
Mas foi ou não foi um grande risco prescindir, de uma assentada, de seis mais habituais titulares?
E, já agora, têm Samaris e Gabriel assim tantos jogos nas pernas que não justificassem continuar a dar no onze da águia a boa resposta que têm vindo a dar desde que Lage chegou ao comando da equipa? Era preciso, ao mesmo tempo, mudar os dois laterais - depois de deixar Grimaldo em casa, o treinador dos encarnados também deixou André Almeida no banco?
Como se diz atrás, Lage não se limitou a deixar em Lisboa os titularíssimos Grimaldo e Pizzi, mais um Jonas que é só o melhor jogador da equipa e acaba de regressar à competição. Fez muito mais. Fez um onze para a equipa principal do Benfica que não há muito tempo parecia sempre muito mais um onze da equipa B do Benfica do que a equipa A.

Não sei - sem qualquer ironia - se o que Bruno Lage fez ontem na Turquia foi também para agradar ao presidente do clube, fanático da ideia de que um Benfica made in Seixal será mais do que suficiente para ter sucesso em Portugal e na Europa. O que sei, volto a sublinhar, é que ao deixar também de fora do onze jogadores como André Almeida, Samaris e Gabriel, o treinador das águias fez o que provavelmente nenhum outro treinador teria feito, chamem-lhe a isso coragem, ousadia ou simplesmente... um disparatado risco.
Sim, Lage ganhou a aposta que fez. E, nesse sentido, não valerá a pena bater mais no ceguinho ou especular sobre o que poderia ter acontecido se a coisa lhe tivesse corrido para o torto.
Creio que deverá, no entanto, Bruno Lage reconhecer que apostou muito alto. E, especulando ou não, com mais ou menos subjectividade, a verdade é que não tivesse sido aquele punhado de boas (e uma ou duas fantásticas) defesas de Vlachodimos e o Benfica talvez não estivesse realmente a esta hora a celebrar ter vencido pela primeira vez na Turquia com seis jogadores da formação do clube no onze.
Foi um Benfica tão jovem que a exibição não podia deixar - era quase uma inevitabilidade - de o reflectir. Teve a equipa coisas realmente muito boas - irreverência, espírito colectivo, genica, intensidade, compromisso, agressividade ofensiva mas também coisas más: mais frequentes perdas de bola do que seria esperado, irregularidade defensiva e, sobretudo, pouca posse de bola, muito em resultado da previsível inexperiência.
Foi o Benfica, nalguns momentos, ao mesmo tempo uma equipa criativa e a procurar jogar rápido e igualmente imatura no modo como nem sempre conseguir ter controlo sobre o jogo; repito, não fosse aquele conjunto de defesas de Vlachodimos, duas delas, que me recorde, absolutamente fantásticas, e poderia o regresso da águia a Lisboa ter sido difícil de digerir.
É verdade que também não está este Galatasaray tão forte como no passado e, nesse sentido, também isso contribuiu de algum modo para a feliz noite dos encarnados na Turquia. Em todo o caso, o que fica para a história é, queira-se ou não, o sucesso num jogo difícil de uma equipa do Benfica que certamente não deixará de surpreender a Europa pela quantidade de jogadores com menos de 22 anos no onze que iniciou o jogo e, sobretudo, pela quantidade de jogadores (nada menos de seis, sublinhe-se) da formação do clube. E ainda mais Jota, que estava (e ficou) no banco, e vai ter de continuar a esperar pelo momento, sempre assinalável, de se estrear na principal equipa das águias.

o Sporting de Keizer continua a sua peregrinação em busca de voltar ao plano que viveu até ao final do ano, no primeiro mês e meio, sensivelmente, de orientação do treinador holandês.
A derrota de ontem, em casa, diante dos espanhóis - a terceira nos últimos cinco jogos - já quase pode diluir por completo o impacto do sucesso que a equipa teve (porque teve) na Taça da Liga, na parte final do último mês de Janeiro, há, portanto, apenas três semanas.
Os sportinguistas estarão zangados e com total razão e o risco é sempre o mesmo: o de verem a insatisfação transformar-se em descrença, desânimo e desilusão.
E esses são muitas vezes sentimentos que arrastam perigosamente as equipas e as impedem de recuperar com maior rapidez. Parece o caso do Sporting, cujo estado de espírito parece, agora, demasiadamente abalado para que o futebol da equipa possa exibir a alegria que já exibiu com este mesmo treinador.
O Sporting de Keizer parece realmente uma equipa a viver o conflito entre o que quer e o que pode. Parece uma equipa desconfiada de si própria e das próprias capacidades e que naturalmente acaba por se entregar mais facilmente à frustração à medida que acumula insucessos.
Mesmo quando parece ter ainda alguma alma o leão mostra não ter cabeça, como foi o caso da exibição de ontem, frente a um Villarreal que está, na Liga espanhola, verdadeiramente pelas ruas da amargura.
Mesmo considerando mais ou menos certas ou mais ou menos erradas algumas opções que Marcel Keizar tem vindo a fazer nos últimos tempos, a verdade é que todos reconhecerão com maior ou menos facilidade que o Sporting não tem, na verdade, um plantel à altura dos desafios que deve enfrentar, em Portugal e na Europa.
Claro que podem discutir-se, sublinho, algumas das decisões do treinador, claro que pode analisar-se com mais profundidade o rendimento deste ou daquele jogador. Mas, infelizmente para o Sporting, serão sempre os resultados a ditar a circunstância e o modo como se avalia trabalho de treinadores e equipas.
E depois do que sucedeu ontem, qualquer mau resultado, este domingo, com o Sporting de Braga (e um empate já será um mau resultado para os sportinguistas), num jogo que inevitavelmente será jogado num clima de excepcional intensidade, poderá colocar Keizer e jogadores num plano de incontornável desespero emocional.
Não sei, com toda a sinceridade, se o Sporting, interna e externamente, estará devidamente preparado para o viver!

Consegui, por seu lado, o FC Porto um animador resultado em Roma, que lhe confere, pelo menos, o direito de sonhar com uma fantástica qualificação para os quartos de final da Champions. E sonha, ironia das ironias, graças, muito em especial, ao desempenho de um jogador já tantas vezes dado como definitivamente acabado no universo portista, e cuja contratação o próprio presidente dos portistas qualificou de «péssimo negócio... a não repetir», quando à contratação do espanhol se referiu, em detalhe, numa entrevista dada... em 2016!
Pois foi esse Adrian Lopez, que custou uma pequena fortuna e, como se compreende, muito custou ao FC Porto pagar, que esta semana reacendeu ao FC Porto a chama destes oitavos de final e que pode valer mais de 10 milhões em caso de passagem aos quartos de final.
O futebol é isto mesmo!"

João Bonzinho, in A Bola

PS: O Bonzinho está mesmo com dificuldade em 'lidar' com o Lage!!! Numa crónica anterior, escreveu centenas de palavras, criticando a resposta do Lage a uma pergunta torta da CMTV!!!
Neste caso, até parece que o Bonzinho, começou a escrever a crónica, quando ficou a conhecer o onze do Benfica... e depois, após o apito final, teve que 'alterar' o conteúdo!!!

1 comentário:

  1. bastou-me ler o início do artigo para já não me interessar. "e se"... por aqui, diz-se que "se" a minha avó tivesse tomates, era o meu avô. haja paciência.

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