quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O efeito Pizzi

"1. O Benfica mudou de sistema e, para surpresa dos cépticos, as melhorias em campo não tardaram. Como sempre acreditei, ficou provado que, individualmente, os jogadores eram bem melhores do que pareciam e que o plantel, mesmo com alguns equívocos, era suficientemente profundo. Se todos melhoraram, há dois que não só melhoraram, como têm sido decisivos para a melhoria colectiva do Benfica: Gabriel e Pizzi.
O brasileiro, uma espécie de 'quarterback', que recua para melhor ler o jogo, aproveitar a profundidade e circular a bola, fica para outro texto. Concentro-me no bragantino, que beneficiou muito da nova posição. A actuar como falso extremo, regressou o melhor Pizzi - o da época do tri. Agora, como então, os movimentos da direita para o centro são determinantes para o futebol atacante do Benfica. Se no passado, era a profundidade oferecida por Nélson Semedo, a jogar por fora, que complementava as deslocações de Pizzi, desta feita são as trocas posicionais com João Félix. É aí que reside parte significativa do potencial desequilibrador do Benfica.
Bem sei que as estatísticas não encerram toda a discussão, mas os números de Pizzi recolhidos pelo sempre proveitoso Goal Point dizem-nos alguma coisa. Para o campeonato, o médio leva já oito golos - e ontem podiam bem ter sido mais dois - e 12 assistências (são 16 em todas as competições), precisamente o dobro de um dos melhores e mais decisivos jogadores da nossa Liga, Bruno Fernandes - já agora, em segundo lugar deste ranking, está outro benfiquista, André Almeida. Para termos um termo de referência, se recuarmos à época do tri, quando foram muito propalados os números de Gaitán, o argentino fez 19 assistências. Estando ainda a época sensivelmente a meio, o que Pizzi já alcançou impressiona. Aliás, se às assistências somarmos as ocasiões flagrantes, consolida-se a importância do bragantino - são 20, precisamente o dobro de António Xavier do Tondela. Na comparação europeia, Pizzi lidera o ranking de assistências (o,64 por cada 90 minutos) e é segundo, depois de Messi, em ocasiões flagrantes criadas.
Claro que Pizzi podia ser mais intenso a defender e mais decisivo contra equipas mais fortes. Contudo, estes 'mas' estão longe de desvalorizar o muito que o número 21 contribui para o futebol colectivo do Benfica. Por alguma razão, nas últimas sete temporadas, em Espanha, primeiro, e agora em Portugal, fez sempre para cima de 30 jogos oficiais. Pizzi, em campo, vale bem mais do que parece à primeira vista.

2. Ontem ficou demonstrado que, de facto, Tiago Fernandes sabe tudo sobre futebol. Até sabe que, a perder desde cedo, era preferível manter-se fiel à 'estratégia colectiva' que anunciou antes do jogo: renunciar a jogar futebol, apostar tudo numa defesa a 11 e na dose justa de antijogo."

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