"O futebol actual é cada vez mais desgastante, com sobrecarga de jogos, com um arrasante desempenho físico, de pressão constante sobre a bola e incessante necessidade de se ser cada vez melhor e mais rápido. A dopagem põe em causa a imagem do desporto como uma escola de virtudes, onde os valores, os princípios e as regras têm de ser imaculadamente respeitadas, não sendo permitida a administração ou uso, por um futebolista, de qualquer substância estranha ao organismo ou de qualquer substância fisiológica em quantidade anormal, com o objectivo de aumentar de modo artificial e desleal o seu desempenho em competição.
O alemão Lotfi El Bousidi foi um futebolista profissional, com uma carreira algo despercebida, tendo jogado na Suíça, Espanha e Alemanha. Durante a sua carreira, Lotfi percebeu as enormes discrepâncias nos procedimentos de doping entre o futebol e os outros desportos, afirmando que ele e os seus companheiros de equipa raramente foram testados, enquanto que nos desportos como o atletismo e o ciclismo, os atletas são constantemente submetidos a verificações. Verificou que era muito estranho que num desporto que movimenta milhões raramente surjam notícias de resultados positivos.
Enquanto jogava pelo Mainz na segunda divisão da Alemanha, Lofti matriculou-se num curso de pós-graduação em Ciências do Desporto, elaborando o estudo: "Uma análise do comportamento de doping no futebol profissional" com a técnica de resposta aleatória, entrevistando 150 futebolistas profissionais, garantindo o anonimato absoluto das suas respostas. Com o objectivo de educar melhor os jogadores sobre os riscos para a saúde associados ao doping, Lotfi dedicou a sua tese final a descobrir o que eles sabiam sobre drogas para melhorar o seu desempenho desportivo. Para isso, ele entrevistou ex-colegas e os resultados de tal tese são surpreendentes. O ex-jogador concluiu através da sua pesquisa, que na Bundesliga cerca de 15% dos jogadores se doparam pelo menos uma vez. Em Espanha, tal percentagem chegou a 30%.
Ademais, muitos jogadores não sabem sequer o que é permitido ou não tomar e desconhecem o que consta da lista de substâncias proibidas da Agência Mundial Antidoping (WADA). Por seu turno, outros conhecem e conscientemente usaram tais substâncias. Assim sendo, refere que é preciso acabar com o conto de fadas que quase não existe doping no futebol.
Já para não falar do problema de que muitos jogadores jogam sob o efeito de analgésicos ou infiltrações, pois a pressão dentro dos clubes é enorme e os próprios jogadores para não perderem a titularidade jogam com problemas físicos, mesmo para além do limiar da dor. Grande parte dos jogadores estão focados apenas no sucesso e tomam o que o médico do clube lhes dá, confiam, sem fazer perguntas. Muitos ignoram os sinais de alerta do corpo, que exige uma pausa.
Refere ainda o estudo, concluído há cerca de dois anos, que os "aprimoradores" de desempenho não são proibidos antes do início da fase de competição, eles só precisam de estar fora do corpo quando os jogos começarem.
Lotfi El Bousidi afirma que só foi testado uma vez durante toda a sua carreira, enquanto alguns jogadores que conhecia nunca foram testados. Também recordou todas as histórias que ouviu sobre ex-jogadores dos anos 80 e 90 que foram injectados com todos os tipos de drogas, e agora estão a sofrer de uma série de problemas de saúde.
A afirmação do estudo é clara: o futebol tem um problema de doping! Diria que há mesmo um caso sério de amor proibido e clandestino entre o futebol e o doping. Segundo o autor de tal investigação, as chances de ser apanhado são infinitamente pequenas. É assim extraordinariamente importante o estudo e propostas de medidas legislativas e administrativas adequadas à luta contra a dopagem em geral e ao controlo da produção, da comercialização e do tráfico ilícito de substâncias ou métodos proibidos no futebol.
Em suma, talvez porque se aproxima o Dia dos Namorados, entendemos salientar nesta crónica a relação de amor proibido entre doping e futebol profissional. Na verdade, a história do Dia de São Valentim remonta ao século III D.C. O Imperador romano Cláudio II proibiu os casamentos, para assim angariar mais soldados para as suas tropas. Um sacerdote da época, de nome Valentim, desrespeitou este decreto imperial, realizando casamentos. O segredo foi descoberto e Valentim foi preso, torturado e condenado à morte.
No caso do desrespeito pela proibição de doping, descoberto o segredo de que alguém anda a falsear a verdade desportiva, as consequências jurídicas são graves (sanções disciplinares; desportivas e até criminais) e os malefícios orgânicos das substâncias e métodos proibidos (que podem ser lidos no site da ADOP - Autoridade Antidopagem de Portugal), podem levar a múltiplos problemas de saúde, em casos de excepção, à própria "condenação à morte" do atleta."
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