quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Sporting-Porto: contra quem?

"Será que houve uma manobra concertada de oferta de 'vouchers' de ingressos e tremoços para o Benfica encher o Estádio de São Miguel?

1. «És uma encomenda. Vieste aqui encomendado pelo Benfica!» foi o que árbitro do Tondela - Sporting ouviu a si dirigido e que valeu a expulsão nos momentos finais ao seu autor, ex-jogador e agora, pomposamente designado, team manager, Beto. Dado o facto de tal interjeição em forma de asserção ter acontecido muito perto do momento em que o jogador Acuña viu o quinto cartão amarelo - assim ficando impedido de defrontar o Porto - é provável que tenha havido alguma relação de causa-efeito.
Naquele singelo momento de jogo floral, eis-nos perante duas faces da mesma moeda (se quiserem, em vez de moeda, podem chamar-lhe outra coisa): por um lado, tudo o que de mal há ou haverá é culpa do Benfica, qual visão mefistofélica da águia; por outro lado, tudo o que de comovente existe passa pela união de facto entre leões e dragões. De um lado, a maldição; do outro lado, a mansidão.
Então não é que a decisão (entre outras) do árbitro - obviamente encadeado pela Luz - ao entender que o pobre argentino Acuña foi merecedor de um cartão amarelo, teve, afinal, o 'dedo' do Benfica! Será que Beto achou que, ardilosa e intencionalmente, 'a encomenda' do Benfica queria livrar o Porto do argentino para que, assim, os nortenhos tivessem a vida facilitada?
Tanta fantasia, tamanha obsessão!... haja ao menos lógica, mesmo que em tais devaneios.
Nesta última jornada, não me admiraria de ouvir ou ler mais umas tantas quimeras, a propósito da compulsiva culpabilidade do Benfica. Por exemplo:
- Será que Fábio Cardoso, em Ponta Delgada, pediu ao árbitro para trocar um penálti contra o Santa Clara pela sua expulsão, tudo, evidentemente, porque o rapaz andou alguns anos pelo Estádio da Luz?
- Será que houve uma manobra concertada de oferta de 'vouchers' de ingressos e tremoços, para o Benfica encher o Estádio de São Miguel com 12.500 espectadores, bem como antes de outros 'vouchers' para sportinguistas e portistas não irem a este estádio quando as suas equipas lá jogaram, com se poderia induzir dos números então verificados (SCP, cerca de 7.000 e FCP, pouco mais de 4.000)?
- Pergunto-me, ainda, se terá havido uma tramóia de uma qualquer senhora viúva intermediária do Benfica para pagar aos jogadores do Porto para perderem em Alvalade. Ou para empatarem. Ou para ganharem. É que 1X2 sempre é mais seguro...
E, tempos atrás e lembrando o jogo que detonou a crise de Alcochete, será que Rui Patrício ao dar o frango da época no Funchal, no derradeiro e decisivo momento, foi 'desiluminado' por uma qualquer fada benfiquista?

2. Volto ao ambiente tão amigo e festivo do clássico Sporting - Porto. Abraços, beijos, salamaleques, comentaristas unidos, comentadores distraídos, Sport TV de braços abertos, autocarros das equipas quase a chegar em jeito de atrelado (ou de side-car?), claques apáticas, tudo sob um céu azul luminoso.
Prélio enfeitado com estatísticas para todos os gostos e não esquecendo o tão almejado recorde de vitórias seguidas. A propósito, tanto alarido e tão sôfrega excitação por causa de se poder bater o número que Jesus alcançou no SLB (18 jogos), que, embora seja uma bitola significativa, não se compara ao mais notável e quase inigualável recorde que pertence exclusivamente ao Benfica. Refiro-me às 29 vitórias seguidas no Campeonato Nacional (1971-72 continuadas, ininterruptamente, em 1972-1973), que é também recorde europeu. Sim, ao campeonato, isto é, sem contar com joguinhos da Taça e da Taça da Liga que, apesar de tão maldita, é, para efeitos de recorde, aproveitada para somar ao campeonato.
Estive a ver o sonolento e cinzentão clássico: resultado nulo, como é habitual e era previsível. A considerada, até há pouco, máquina de fazer golos,  SCP de Keizer, não marcou e o Porto concluiu 180 minutos contra adversários de capital sem ter 'molhado a sopa'. Um resultado que maximizou os pontos perdidos por ambos (4), que deixou o FCP um pouco menos longe e o SCP um pouco mais longe.
Ao observar o antes, o durante e o depois desta partida, veio-me à memória uma história que se conta sobre o último Arquiduque dos Habsburgo, Oto von Habsburg (1012-2011), que tive a honra de conhecer. Indiferente ao futebol, ter-lhe-ão perguntado o que ele acharia do encontro que se iria disputar numa certa noite entre a Áustria e a Hungria, ao que ele respondeu «contra quem?». Pois não é que unidos pela obsessão até ao tutano de anti-benfiquismo, imagino já uma reacção idêntica perante a pergunta de que iria haver um Sporting - Porto. «Contra quem?». Aqui respondo eu: contra o Benfica...

3. Concluída a primeira volta, o FC Porto parte com uma significativa vantagem, há que reconhecê-lo. Bem sei que não vale a pena chorar sobre leite derramado, mas bastaria o Benfica ter ganho ao Belenenses em campo neutro e ao Moreirense na Luz e estaria líder neste virar de página. Mesmo com alguns empurrões de VAR ou do seu apagão, os portistas foram mais estáveis e regulares, elementos primordiais para liderar uma classificação. Não que tenham feito uma categórica primeira volta (ganharam 7 vezes por um golo de diferença,ou seja 50% das vitórias e perderam 5 pontos em Lisboa), mas apresentaram uma melhor defesa e um meio-campo de combate. Já o Benfica que é a equipa com mais golos marcados (37, isto é, 3 à frente do FCP, 4 e 5 do SCP e Sp. Braga), revelou uma irregularidade danosa e uma vulnerabilidade incompreensível entre o meio-campo e o sector defensivo. A mudança de treinador poderá vir a revelar-se positiva e encorajadora, ainda que na segunda volta tenha de defrontar seis dos sete primeiros classificados fora da Luz, para o que não é despiciente saber-se haverá ou não reforços (literalmente falando) durante este mês.
Nesta primeira metade, o Benfica foi perdulário com os mais 'pequenos' e amealhador com os mais 'grandes', ainda que devamos considerar que já fez todos os jogos em casa com estes últimos.
Vejamos, então, a classificação seccionada:

Jogos entre os quatro primeiros classificados
1 - Benfica, 7 pontos; 3 jogos em casa
2 - FC Porto, 4 pontos; 1 jogo em casa
3 - SC Braga, 3 pontos; 1 jogo em casa
4 - Sporting, 2 pontos; 1 jogo em casa

Jogos com as restantes equipas
1 - FC Porto, 39 pontos; 8 jogos em casa
2 - SC Braga, 34 pontos; 8 jogos em casa
3 - Sporting, 33 pontos; 8 jogos em casa
4 - Benfica, 31 pontos; 5 jogos em casa

4. Uma vitória confortável nos Açores, onde os outros grandes tiveram manifestas dificuldades e beneficiaram de erros arbitrais. Gostei do modo como Bruno Lage montou a equipa. Gostei da pressão à saída da bola imposta sobre o Santa Clara. Pareceu-me uma equipa menos tensa e menos tolhida psicologicamente. Não fora a manifestação ineficácia na segunda parte do jogo e o resultado teria sido bem mais dilatado.
Hoje, há um teste sério à 'nova equipa': o mata-mata em Guimarães a contar para a Taça de Portugal, uma espécie de antecâmara do jogo de sexta-feira para a Liga entre as mesmas equipas, que não é um mata-mata, mas onde há o risco de vir a ser um ata-ata. Curiosamente, uma dose dupla entre um treinador interino que, afinal, acaba por não o ser e um treinador não interino de quem muitos falaram para o Benfica

Contraluz
- Treinadores: Aprecio a forma e o conteúdo das declarações do técnico Marcel Keizer. Sem alardes, quando ganhou copiosamente, sem desculpas parvas quando as coisas não lhe correm bem. Foi assim em Guimarães onde disse uma 'blasfémia' para os nossos hábitos, qual seja a de que o Sporting mereceria ter perdido por mais, foi assim em Tondela, foi assim contra o Belenenses e, há dias, contra o Porto. Longe da piromania ou dos aparvalhados jogos de palavras (alguns muito elogiados pelo tribo) que por cá abundam.
- Permutas: Agora há definitivamente outro desporto em Portugal: o jogado entre o círculo fechado de apresentadores e apresentadoras televisivas, com direito a, em plena guerra de audiências, serem sempre notícia (!) nos noticiários. Ora agora é a senhora A a entrevistar o senhor B na tv x, ora agora é o senhor B a entrevistar a senhora A na tv y. E assim sucessivamente, num conjunto restrito de sumidades. Sempre todos com umas lagriminhas ao canto do olho e - quem sabe - com direito a um telefonema presidencial. Portanto no seu mais saloio aparato, a que se junta a música pimba dos fins-de-semana com artistas mendicantes e duas rapariguinhas a manear a bunda... Que tristeza!
- Excelente: Significativa capacidade do voleibol português que consegue, em masculinos e femininos, apura-se conjuntamente pela primeira vez para os Europeus! Isto não é só futebol..."

Bagão Félix, in A Bola

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