terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Reconquista

"Assumo a ousadia de sugerir que, com a contratação de nova equipa técnica, o Benfica tenha uma só estrutura de comunicação

1. Hoje é dia de Reis. Tal como a origem dos Reis Magos escrevo do Oriente. Deslumbrante e vibrante. Exótico e caótico. Vendo de longe e ao longe a mudança de ano, a substituição de treinador no Benfica, as novas disputas nas televisões, decisões judiciais que ilibam e, logo, absolvem e o arranque deste período de Inverno para a contratação de jogadores. Já que a de treinadores é permanente! Ao longe e de longe tudo se relativiza. Não há a pressão do imediato. Não se salta de canal para canal como se este tempo de televisão fosse, como ontem, de canal único e não de múltiplos canais e diferentes plataformas de comunicação e de informação. De longe e ao longe, mesmo com apenas três horas de diferença horária, não estamos sujeitos à pressão da notícia ou do comentário, da última da hora ou do alerta proclamado. O que sabemos de longe ao longe é que este Benfica em mutação, diria que em transição tranquila, joga hoje na Luz frente ao Rio Ave e não pode perder pontos. Mais, este Benfica sabe que tem de terminar em grande a primeira volta da Liga e tem de fazer uma segunda volta extraordinária. E nas próximas jornadas quer o Benfica quer o Sporting de Braga - que também joga hoje e com o Boavista - jogam sempre antes do Futebol Clube do Porto e Sporting. Com a lembrança que no próximo fim-de-semana teremos a visita a Alvalade da equipa liderada, e bem, por Sérgio Conceição. Daí ser imperioso que o Benfica não perca pontos quer frente ao Rio Ave quer face ao Santa Clara. É que, apesar de tudo, e mesmo ao longe e de longe, a reconquista é uma palavra que tem de fazer todo o sentido nestes primeiros dias do mês primeiro deste novo Ano. E importa que a reconquista esteja presente nos balneários e nos relvados, nos corredores e nas bancadas do Seixal e da Luz. A estrela que acompanhou e guiou os Reis Magos, mais os seus emblemáticos presentes, todos os anos faz a mesma viagem. E nós benfiquistas, nesta unidade na diversidade que nos caracteriza e diferencia, temos de ter presente que a reconquista é o nosso objectivo. Que é possível. E que importa lutar! Suar! Agarrar!

2. Rui Vitória saiu do Benfica pela porta pequena. Entregou-se ao Benfica, com a sua equipa técnica, de alma e coração. Conquistou títulos, fez crescer jogadores e foi um permanente aliado da administração da SAD. Acreditou em finais do ano passado que teria uma nova oportunidade. No seu prisma cometeu um erro. Deveria ter assumido a ruptura. Quando não se é desejado deveremos ter a força interior para nos afastarmos. E essa força era, para mim, uma das essências da personalidade de Rui Vitória. Sabemos bem que não há uma segunda oportunidade para causar uma boa impressão. E também sabemos que no futebol o treinador, qualquer que ele seja, é o elo mais fraco. O relevante, aqui, é agradecer, reconhecido, a Rui Vitória pelas alegrias que nos proporcionou, os sorrisos que nos motivou, os abraços que nos impulsionou e as dores que a outros suscitou. Este agradecimento, extensivo a toda a equipa técnica, é reconhecimento pelo que foi feito, e muito foi feito.

3. Neste tempo de transição, e vendo de longe e ao longe, assumo a ousadia de sugerir que, com a contratação de nova equipa técnica, o Benfica, este concreto Benfica, tenha uma única estrutura de comunicação. O futebol é a essência do clube. E sendo-o,e perante os múltiplos desafios e as diferentes ameaças, o Benfica, este concreto Benfica, deve ser uma comunicação única. Forte e dura, ignorando certas disputas e ampliando determinados actos e factos. O Benfica, este concreto Benfica, tem de ter uma voz permanente. E a voz é som e presença. Diria que porta voz que amplifica e determina, motiva e suscita, provoca e informa. Este sinal também é relevante para a ambicionada reconquista. Não ter medo de mudar para além de mudança de equipa técnica é um acrescido sinal de uma revolução tranquila. E esta tranquilidade tem de se sentir. E não apenas pressentir. É um desafio. Dito e escrito de longe e ao longe. Com a consciência plena que só os homens - e as mulheres - calados é que não erram! E como benfiquista assumido - e hoje em dia sofrido - aqui deixo a minha modesta, mas sincera, opinião.

4. (...)

5. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

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