segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Futebol não é para românticos

"Vieira e Vitória terão, há um mês, acreditando em algo que todos sabiam impossível. E só adiaram um divórcio que se percebia ser inevitável

Rui Vitória não resistiu à primeira derrota depois de voto de confiança que Vieira lhe dera há pouco mais de um mês. De nada lhe valeram as sete vitórias que se seguiram - a que juntou o empate na Vila das Aves que garantiu presença na final four da Taça da Liga. Ao primeiro desaire o treinador caiu mesmo. O que mostra, por si só, quão frouxa era a luz vista pelo presidente naquele noite de insónia no Seixal. Sejamos claros: a saída de Rui Vitória era inevitável. O que Vieira fez há um mês foi apenas adiá-la, embora ninguém tenha ainda percebido bem porquê. Era - depois daquele desastre em Munique e da crise que o antecedeu - evidente que nem Vitória tinha condições para continuar a ser o treinador do Benfica nem o presidente tinha condições para segurá-lo, por muito que quisesse. Foi pena que nem um nem outro tenham percebido que chegara, ali, a hora de se despedirem. Acima de tudo porque, por tudo o que ganhou em três anos e meio na Luz, Vitória merecia uma saída bem mais graciosa. Culpados? Os dois, que terão acreditado em algo que todos os outros percebiam ser impossível. Ou a prova de que o futebol não se coaduna com romantismos.

Por falar em romance. Haverá, porventura, apenas uma falha que Vitória pode apontar a Vieira nesta relação de três anos e meio: a forma como nunca o conseguiu proteger da sombra de Jorge Jesus, fragilizando mais ainda (junto dos adeptos e, até, no balneário) a posição do treinador que lhe dera o tetra. Que fique, pelo menos, a lição para o futuro: seja quem for o treinador que escolha para o futuro, imediato ou mais longínquo (a não ser que seja José Mourinho...), tem Vieira de enterrar de vez esta história. Costuma o povo dizer que não há amor como o primeiro. Talvez seja verdade. Mas quando se está noutro casamento, é contraproducente andar sempre a falar de quão bom eram esses tempos ou, pior ainda, ser incapaz de descartar um possível regresso a outros braços. Pode até pensar-se. Dizê-lo à boca cheia é mais chato. Mais vale negar, mesmo que seja mentira. Que, ao contrário do romantismo, é coisa com que o futebol nem se dá mal.
(...)"

Ricardo Quaresma, in A Bola

1 comentário:

  1. Sim, mas a intuição do Vieira estava correcta. Tivemos 7 jogos seguidos com vitórias e um empate.
    Depois a intranquilidade que há muito tempo se tinha entranhado no plantel, trazida fora para dentro pelos próprios adeptos, teve as suas consequências, sem culpa nem do RV ou do Vieira.
    Pode ser que agora que a tasca com uma nova "gerência" a intranqüilidade importada acabe.

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