Querer muito e desperdiçar mais

"Num jogo táctico carregado de amarras, o domínio foi mudando de 'pés'

Cenário difícil
1. Jogo equilibrado, mas com sinal mais para o Benfica, a sentir a necessidade de vencer para se posicionar de outra forma na corrida pelo apuramento. Cenário muito complicado, pois trazia três derrotas seguidas e este cenário difícil agudizou-se com as saídas forçadas de Jonas e Salvio, os dois jogadores mais determinantes no momento ofensivo da equipa. Dificuldades previstas e concretizadas e tornadas reais no teatro de guerra com um adversário disposto a explanar o seu jogo associativo e de cariz eminentemente ofensivo.
O Benfica trazia Jonas e Gabriel e, apesar de não exibir fulgor exibicional, respirava vontade e procurava atingir o adversário nas poucas investidas que criou ao longo de uma primeira parte pouco rica de futebol e muito marcada por imperativos tácticos e banhada de imensa falta de ideias dos dois lados. Depois de falhar uma oportunidade por defesa de Onana, Jonas aproveitou um erro do guarda-redes e trouxe alguma justiça ao marcador, pois o Benfica exibiu qualidade superior no momento defensivo mercê de bom jogo posicional e pressão agressiva sobre os canais de circulação dos holandeses. O Benfica revelara eficácia no aproveitamento das poucas oportunidades criadas e demonstrava enorme coração para exorcizar fantasmas recentes.

Penalização
2. As expectativas para uma reacção dos holandeses ao intervalo era enorme e concretizou-se na reentrada, acabando por penalizar os encarnados. Se era normal a entrada mais agressiva dos visitantes, assente numa melhor circulação da bola e ideias mais oxigenadas e buscando outras vias para comunicar o seu jogo, valia ao Benfica o grande acerto defensivo, a concentração superior evidenciada no momento tapar as linhas, juntar os sectores e o esclarecido primeiro tempo da defesa/transição defensiva.

Sem fortuna
3. Este acerto foi traído quando, no momento em que os holandeses, escondendo a bola ao Benfica, aproveitaram a profundidade criada pela alta defesa dos águias: um lançamento longo nas costas da defesa trouxe a nu o que Vlachodimos já revelou noutras ocasiões - a capacidade de fazer grandes defesas e a seguir borrar a pintura com uma má abordagem e grande distância guardada para os seus companheiros da linha de quatro - e o golo do empate apareceu. Associado ao maior arrojo visitante, à equipa sentia o golpe e da perda das suas duas unidades mais experientes e decisivas no momento ofensivo, o cenário tornou-se cinzento e as contas complicadas. Num jogo táctico, carregado de amarras e de duas partes em que o domínio foi trocando de pés apesar de maioritariamente prevalecer o equilíbrio, faltou um pouco de fortuna aos encarnados para, em 180 minutos dos dois jogos com os holandeses, poder aproveitar as oportunidades criadas e fazer mais pontos."

Daúto Faquirá, in A Bola

Sim, Rui Vitória fala verdade

"Nenhuma dúvida: o problema desta equipa do Benfica não é nem a falta de vontade, de querer, de profissionalismo dos seus jogadores, nem, tão pouco, qualquer atitude de contestação, rebeldia ou simples oposição ao seu treinador.
Quando Rui Vitória anuncia que o grupo está unido e tem conversas aglutinadoras, fala verdade. Vê-se em cada lance, em cada momento de desespero, em cada momento de descrença, que a angústia e a fragilidade e sentida numa dor solidária.
Porém, não deixa de ser angústia, não deixa de ser tristeza, não deixa de ser dor, nem deixa de ser uma imensa e colectiva fragilidade emocional.
A isso, Rui Vitória não tem conseguido responder da melhor maneira, o que, sinceramente, me parece natural vindo de alguém que precisa, ele próprio, de ajuda no difícil controlo das emoções. Era suposto que o líder não se deixasse influenciar pelo rumo menos feliz dos acontecimentos e conseguisse ser exemplo numa solidez de rochedo? Sim, mas há sempre que contar com a condição humana, até mesmo nos tempos de hoje.
Com um pouco mais de lucidez, organização e pragmatismo, o Benfica teria, ontem, ganho facilmente ao AJax, mesmo confirmando-se que é uma equipa em séria recuperação do seu antigo prestígio europeu. Não conseguiu melhor do que o empate, ficou praticamente afastado da qualificação para os oitavos de final da Champions, mas, ao contrário da época passada, deu um passo em frente na continuidade competitiva europeia. Será na Liga Europa? Provavelmente, mas na prova que é mais à sua medida."

Vítor Serpa, in A Bola

Benfica, quo vadis?

"Ser responsável pelo Benfica será das funções mais exigentes de Portugal. Existirão outras igualmente exigentes, mas esta tem as suas peculiaridades. No Benfica nunca se trata de ganhar o presente. Impõe-se preservar o passado, ganhar o presente e transmitir a certeza de ganhar o futuro. É, de facto, muita ponderação em simultâneo, mas não é menos que isto continuar o Benfica que amamos. A responsabilidade no Benfica e pelo Benfica tem de ser partilhada. Não poderia ser de outro modo numa organização profissional que agrega mais de mil pessoas. É, sobretudo, para os responsáveis anónimos, para esses benfiquistas de primeira que fazem o Benfica acontecer, que vai o meu primeiro apelo: nunca esmoreçam, vocês contam muito e o Benfica conta convosco. A responsabilidade nas áreas visíveis é de outro tipo, mais relacional: a máxima responsabilidade para a máxima recompensa. Não me refiro apenas ao elemento patrimonial, por si só muito significativo, tenho em mente a realização superior de ser, incondicionalmente, o Benfica e do Benfica.
É nesta tensão de corda esticada que vivem Luís Filipe Vieira e Rui Vitória. São os comandantes chefe e operacional. Deles se espera o impossível e se exige o possível, a eles se recorre nos piores momentos porque nos bons a glória é colectiva. Nunca serão desculpados se falharem. Serão eternizados se conseguirem. Rui Vitória não conseguiu o ano passado. E desse mau momento é difícil livrar-se. Não está condenado, mas presume-se culpado e vão-se esgotando argumentos abonatórios. 
Luís Filipe Vieira tem outro lastro, tem assegurado o seu lugar na história do Clube. Aqui chegados, olho muito mais para o conjunto que estes dois representam do que para aquilo que cada um pode fazer individualmente. O falhanço de Rui Vitória será um falhanço de Luis Filipe Vieira. Será uma prova de que a gestão não resolve tudo. Será questionada a competência de muito boa gente, dessa estrutura, alguns julgados intocáveis. Dir-se-á que as enfatizadas competências transversais não tapam o buraco da incoerência na gestão do futebol nos tempos mais recentes.
Serão julgados pelo que se sabe e pelo que se possa deduzir. Serão escrutinadas parcerias. Virá um período de instabilidade que afastará o foco dos pontos estratégicos: as eleições da Liga de Clubes no próximo ano e o projecto da superliga europeia. Mesmo a desejada separação entre o judicial e o desportivo formará uma amálgama de interrogações: quem? Como? Porquê?
Quanto a Rui Vitória, enfrenta o anátema da incapacidade se chegar a Dezembro com uma tendência de repetir, ou superar, o registo negativo da época passada, afastado de tudo o que queríamos que ganhasse e, por isso, afastado de todos. Não são, pois, apenas dois jogos, contra o Ajax e Tondela. São os jogos do futuro próximo do Benfica e do valor da sua marca. Depois destes virão outros desafios, mas estes são para ganhar. Sem hesitações nem desculpas de qualquer espécie."

Rui Vitória: não és tu, sou eu

"Isto não está a resultar, Rui.

Rui,
Precisamos de falar. Vou ser directo: as coisas não estão a resultar entre nós. Não é que eu não quisesse que resultassem, quis muito. Mas simplesmente chegámos a um ponto em que só nos estamos a destroçar aos dois se continuarmos a insistir neste engano. 
Não te quero magoar. Recordar-te-ei sempre como alguém com um bom coração, com quem não me importaria de jantar daqui a uns tempos, quando a poeira assentasse. Ambos sabemos que, ultimamente, as coisas têm sido para lá de terríveis, mas não me esqueço dos momentos incríveis que vivemos. A vitória em Madrid, o golo do Mitroglou em Alvalade, os quartos da Champions, aquele tetra consagrado com goleada ao Guimarães. E nos maus momentos, quando a minha ex te insultou e te disse que estavas a aproveitar-te da inteligência emocional que ela diz que me deixou a mim, estive sempre ao teu lado porque sempre soube que valias a pena e que ias dar a volta por cima.
O amor são resultados. E isto não está a resultar, por muito carinho que às vezes ainda nutra por ti. Eu sei que sou difícil, exigente demais talvez, mal habituado, mimado. Admito tudo isso. No entanto, quando nos juntámos já sabias dessas minhas falhas. Eu não quero que isto te magoe, mas até tu tens noção que nós, nestes últimos meses, apenas nos tolerávamos. No primeiro ano, cheguei a estar perdidamente apaixonado por ti.. Depois, fui ignorando bandeiras vermelhas que não devia ter ignorado, como a derrota em Basileia ou o Felipe Augusto. Sinceramente, devia ter acabado contigo com os zero pontos na Champions. Na sexta-feira, chegámos a um ponto sem retorno. Desculpa, Rui, mas eu não posso aceitar estar com alguém que me valoriza tão pouco que permita que leve três na pá do Moreirense. Não dá mais. Acabou.
Sei que as pessoas andam a falar sobre nós. Dizem que eu vou voltar para a minha ex, que ela vai largar o emprego de hospedeira na Arábia para voltar para mim. Soube que isso te chegou aos ouvidos e que te causa uma dor dilacerante. Em primeiro lugar, Rui, percebo que isso te leve a odiar-me, mas não podes pensar que o meu futuro te continua a pertencer. Sabes que cortei relações com a ex enquanto estivemos juntos porque tu me pediste, mas agora não tens nada a ver com quem eu ando ou deixo de andar. Sim, eu sei que voltar para alguém que se tornou numa pessoa tóxica para mim, muito provavelmente não irá resultar. Sei lá, ela é uma besta, mas ainda me dá uma certa tus… esquece, Rui, não tens de ouvir isto.
Espero que sejas feliz no caminho que escolheres. Tenho esperança que o Arnaldo perceba a situação, ele é um porreiro e não tem culpa nenhuma disto - gostava de ficar amigo dele, mas sei que não vai dar. Vais ter de ser tu a sair, porque a casa ainda é minha, mas eu prometo que te pago o dinheiro que gastaste em garrafas de água do teu bolso. Podes vir cá buscar as tuas gravatas quando quiseres. Sei que é um momento difícil para ti, mas temos de assumir e saber conviver com o insucesso.
Outrora teu,
Benfica."

Num passo maluco voaram na sala

"Na praça de touros de Arenas, em Barcelona, Francisco Peiró, o bovino poeta, acabou com a invencibilidade de Beni Levi

Maó-Mahón é uma cidadezinha na ilha de Menorca: ponto mais oriental de toda a Espanha. Dizem que foi lá que se inventou a maionese, mas também não será motivo para fazer da terriola património universal da UNESCO. Para o que aqui me traz, registo uma forte influência britânica vinda lá dos confins de 1708 por motivo da Guerra da Sucessão entre Habsburgos e Bourbons. Vai daí, tornou-se o berço do boxe espanhol. Como de Maó-Mahón a Barcelona é um passo, ou melhor, uma braçada, não é de espantar que o primeiro clube de boxe a surgir na região tenha sido o Barcelona Boxing Club, assim, à inglesa.
Por cá, o início dos anos 40 dava-se valor aos grandes palcos catalães do boxe: Gran Price, Olympia, e até a praça de touros Arenas. Foi precisamente nas Arenas que o bovino Francisco Peiró desancou sem dó nem piedade o nosso infeliz Beni Levi que uns meses antes esmurrara francamente o italiano Toni Cesari, no Coliseu de Lisboa. Isto em 1943.
Chegaram por essa altura à metrópole uma remessa de boxeurs que prometiam tardes e noites escaldantes nos ringues da capital. Os empresários esfregavam as mãos. Carlos Gomes, Luís Eugénio (o Xangai), Carlos Wilson, Fernando Matos, Valente Rocha, Alfredo Oliveira, Jorge Tofoy e, evidentemente, Benjamim Levy, enfileiravam-se para sessões de porrada de criar bicho. Era o que a malta queria.
Carlos Gomes não era moçambicano, nascera no Lumiar, passara a adolescência em Lourenço Marques, fora treinado por um sul-africano, despachara o serviço militar em Macau, e despachara também o terrível Calembourne numa sessão contínua de sábado no Clube Ferroviário. Era um brincalhão com atitudes de fera. Mal regressou a Lisboa foi atirado para o meio das cordas à mistura com Quintino e foi de tal ordem que resolveu em três rounds o que deveria ter sido resolvido em seis. Não tardou que lhe passassem a licença de profissional.
Mas voltemos à vaca fria, isto é, ao combate entre o boi catalão Peiró e o até aí invencível Benjamim. «Quer-nos parecer que a primeira derrota de Levi vai ser uma coisa séria», previa o misterioso Argonauta, na revista Stadium. «É que as multidões, como as mulheres, só aplaudem e admiram aqueles que triunfam, e Levi não pode vencer sempre nem sempre que o público queira».
Na mouche! A primeira derrota de Beni foi uma coisa séria.
Francisco Peiró tinha fama de boémio e cantava tangos afinados. «He sido siempre un soñador», diria já depois de retirado. «Me agradaban las cosas más dispares. Cantar, recitar, escribir versos, boxear, los bailes exóticos... Quería abarcar demasiadas aficiones y no habia tiempo para dedicar-se a una concreta».
Foi esse diletantismo que feriu profundamente Beni Levi, muito mais do que as quatro punhadas recebidas em cheio no rosto durante o histórico primeiro round da sua estreia nos palcos internacionais. A praça de touros silvou como se assistisse a uma faena. Levi aguentava como podia, e podia muito, era admirado pela sua resistência, mas todos em redor do ringue ansiavam pela sua queda. Sérgio Godinho podia cantar: «Num passo maluco/voamos na sala/qual uma estrela/riscando o céu/e a malta gritou - Aí Benjamim!».
Sempre que se referiu ao combate de Las Arenas, Peiró afirmou que tinha atirado o português ao tapete por diversas vezes e que essa tinha sido a explicação para a decadência súbita de Levi. «Trouxeram-me um adversário que prometia vir a ser um grande campeão. Depois de o ter vencido, esfumou-se como uma vela ao vento. E logo contra mim, que nunca fui campeão de nada».
Beni Levi estava à beira do KO e houve KO extraordinários logo ao primeiro assalto, como os de Ted Kid Lewis frente a Carpentier, o Homem Orquídea, de Ledoux face a Criqui ou de Ferrer perante Cerdan. Os golpes apanhados a frio, quando os músculos ainda estão a iniciar a acção, têm sempre efeitos duplos, dizem os entendidos.
Nos assaltos seguintes, Benjamim acautelou-se. À volta dos dois pugilistas que só se viam um ao outro, mais de trinta mil pessoas uivavam possessas de sangue. Por uma, duas vezes, Peiró cambaleou. Foi ao chão durante breves segundos. Mas não iria desperdiçar a oportunidade de vencer o invencível. «Não é aquele boémio cantador de tangos que tantos apregoam mas sim um autêntico batalhador, o homem que pela primeira vez bateu o nosso campeão sem ter sido no cabaré ou a cantar», sublinhava o Argonauta.
Exausto, dorido, Beni Levi estava mais ferido no orgulho do que nos sobrolhos abertos à custa de murros crus. Meio grogue, Peiró erguia os braços, talvez preparado para recitar um poema. Da sua autoria, pois era um poeta."

Fake promessas geram fake news

"Se houvesse menos gente defraudada nas suas expectativas devido às falsidades com que lhes acenam, haveria menos pasto para a circulação de “fake news”

1. Um dos temas atuais é a invasão e multiplicação das chamadas “fake news” que em tempos não longínquos se espalhavam numa forma que se designava de boatos credíveis. Portanto, hoje, estamos fundamentalmente confrontados com uma nova roupagem e novos veículos para uma prática antiga. Claro que a existência de redes sociais, a falência dos jornais, a morte do jornalismo de rigor e o facilitismo com que as pessoas procuram informar-se estimulam enormemente o papel dos produtores de notícias falsas, mas credíveis.
A multiplicação desta praga não tem apenas a ver com o definhar dos média impressos e audiovisuais clássicos, nem com a sofisticação comunicacional proporcionada pelas redes sociais e o seu acesso, sem hipótese nem vontade de escrutínio por gente mais impreparada.
Esta nova realidade advém de grupos de interesses diversos que aproveitam a desinformação geral e o estado de desânimo e desinteresse das populações para fabricar “fake news”, a fim de alcançar os seus propósitos, manipulando a opinião pública e desvirtuando a verdade.
É preciso, no entanto, ter a capacidade de reconhecer que, em grande medida, as “fake news” são uma óbvia decorrência de uma prática que hoje está cada vez mais generalizada: “as fake promessas”, ou seja, a mentira, a demagogia e a corrupção de toda a espécie que mancha, nomeadamente mas não só, a atividade política por todo o mundo, seja em democracia ou em ditadura. Se houvesse decoro em áreas como a política, os negócios, o comércio, o mundo financeiro, a religião, a cultura e os espetáculos também haveria menos pasto para as campanhas de calúnias. Isto sem esquecer o campo da inveja pessoal, um mal tão antigo como a própria humanidade.
O sucesso das falsidades resulta muito do clima de hostilidade dos povos em relação aos políticos e às suas mentiras que são cada vez em maior número e cada vez mais sentidas pelo cidadão comum, que espera uma coisa e recebe exactamente o seu contrário, depois de ter eleito fulano ou beltrano. 
Também não vale a pena falar só de países como os Estados Unidos, o Brasil ou o Reino Unido para estudar este fenómeno. As “fake news” estão por toda a parte, dos grandes estados aos pequenos universos tipo freguesia. As falsas promessas e falsas expectativas dadas às pessoas são devastadoras da credibilidade política, do sistema democrático e da justiça. São elas, as falsas esperanças e as tiradas demagógicas, que, em primeiro lugar, destroem e a confiança. São elas que alimentam as mentiras que, hoje, atingem proporções inimagináveis há poucos anos.
As “fake news” não são exclusivas da política. Multiplicam-se em todos os sectores da actividade humana. Mas é obviamente no campo político que as falsidades são mais perigosas porque influenciam directamente a vida quotidiana de milhões de cidadãos. Essas mentiras são e serão cada vez mais possíveis, cada vez mais numerosas e cada vez mais credíveis, quanto mais se verificarem discursos de “fake promessas” deliberadas, frustrando expectativas e destruindo a credibilidade que ainda resta. Objectivamente, só há uma forma de minorar o flagelo devastador das “fake news” e os danos que ele causa. É através da eliminação e denúncia das “fake promessas”. É preciso criar uma prática em que só passa, só cresce, só é reconhecido quem falar verdade e cumprir a maioria das coisas que prometeu, sabendo explicar com frontalidade porque falhou num ou noutro ponto.
Nos Estados Unidos, deu-se agora início à transmissão dos últimos episódios de “House of Cards”, uma série emblemática que lançou o Netflix. Há quem assegure que foi o comportamento devasso e amoral de Kevin Spacey que precipitou o fim da série. Talvez não. Porventura a razão está na circunstância da mentira, dos jogos de bastidores e das jogadas baixas da vida real terem ultrapassado aquela ficção. E não só nos Estados Unidos. Há também muita coisa parecida ou pior na nossa Europa e pelo mundo fora.

2. (...)"

Em defesa do desinteressante

"Como uma competição abjecta do ponto de vista desportivo e altamente comercial pode ajudar a melhorar o futebol europeu.

Talvez envergonhados pela pouca popularidade com que foi recebida a ideia de um plano para a formação de uma Superliga Europeia e o completo arraso mediático que a competição sofreu, por parte de media e adeptos, rapidamente os maiores clubes envolvidos na situação se demarcaram da mesma. O Bayern Munique, por exemplo, ameaçou mesmo o Der Spiegel com acções judiciais pela disseminação daquilo a que chamaram “fake news”.
As “fake news” são um problema do jornalismo e da sociedade. Sempre o foram. Não é de hoje que os meios de comunicação se escudam na “liberdade de expressão” e no direito à anonimidade das fontes para escrever o que bem lhes apetece. Algo que, enquanto jornalista, me incomoda. O que durante anos de jornalismo não teve propriamente uma nomenclatura ou uma definicação, ganhou nos últimos meses um conceito associado e as “fake news” passaram a ser, realmente, um problema concreto.
O Football Leaks e, por consequência, todos os meios de comunicação que investigaram a nova leva de documentos tornados públicos, porém, em nada estão relacionados com “fake news”. Eles existem e os planos para a criação de uma SuperLiga Europeia realmente aconteceram. Esta não pretende, ainda assim, ser uma discussão relativa a um desafio dos tempos que correm - em muito exponenciada pela Era das redes sociais em que vivemos -, ou uma discussão relativa às práticas do jornalismo. Haverá tempo e espaço para isso noutro contexto.
Dentro do completo desinteresse que tenho pela criação de uma Superliga Europeia, é possível encontrar-se racionalização para que ela exista, de um ponto de vista desportivo, até, mesmo que as razões que a ela levam sejam a ganância financeira dos clubes em questão, há muito em pé de guerra com a UEFA devido aos prémios e vagas atribuídos aos clubes das maiores ligas europeias nas competições do organismo que tutelam o futebol europeu.
Sim, a Superliga Europeia seria uma competição altamente capitalista, mas que até poderia ajudar o futebol europeu no seu todo. E diz isto alguém que nem sequer é particularmente adeptos das competições internacionais, é um fiel defensor das competições nacionais - sejam de que país forem - e mais facilmente se apanha a ver um jogo de um campeonato periférico - principalmente se forem divisões inferiores de Inglaterra - do que um jogo da Liga dos Campeões e, seguramente, do que um jogo da Liga Europa, se assim o calendário permitir.
A Superliga Europeia, porém, mesmo sem a presença dos clubes portugueses, permitiria ao futebol europeu ganhar todo um outro fulgor. Razão principal pelo meu desinteresse pelas grandes ligas europeias é a sua falta de competitividade e total dicotomia entre clubes de topo e clubes de fundo da tabela, que me levaram a procurar outras competições onde o futebol praticado pode ser igualmente bom e cuja valência entre equipas é quase universal. Não é por acaso que o Championship ou a Liga MX, segunda divisão inglesa e primeira divisão mexicana, respectivamente, são as minhas duas ligas preferidas.
Pessoalmente não sinto qualquer fascínio em ver uma equipa campeã nacional durante vários anos seguidos, não sinto particular fascínio no estabelecimento de dinastias, não me entusiasmo com atropelos sucessivos dos grandes clubes sobre os seus concorrentes mais modestos e muito menos me entusiasmo com os constantes “autocarros” estacionados por estes para que tal não aconteça. A competitividade, sim, é o grande desafio do futebol actual e a criação de uma Superliga Europeia e, numa análise racional, permitiria que as principais ligas europeias se tornassem mais competitivas. 
Dificilmente me apanhariam a consumir os jogos dessa competição, é certo, mas ao mesmo tempo o meu interesse por muitas das restantes competições nacionais poderia crescer e é por isso que apesar de não defender propriamente tal alteração tão profunda na estrutura do futebol europeu, até consigo compreender o êxodo dos maiores clubes europeus de um ponto de vista desportivo. Não porque o meu interesse pela competição em si exista, mas por aquilo que pode significar para os campeonatos nacionais.
Não é, sequer, certo, que a perda dos maiores clubes locais para uma liga europeia signifique o colapso financeiro das competições nacionais devido a uma aparente menor atractividade da competição. Estou seguro de que há uma larga parte do público do futebol que se identifica com a minha linha de pensamento, e competições como as ligas desportivas americanas, o Championship e a Liga MX são exemplos comprovados disso. Ligas que fazem da sua competitividade imagem de marca e que prosperam em função dela, tornando-se atractivas exactamente devido a essa competividade. Foi, aliás, assim, que a Premier League se vendeu ao ponto de hoje ser a liga nacional mais popular no Mundo, mesmo que a competitividade desta seja algo ficcional - tal qual a própria Liga dos Campeões. Produtos de marketing, do que verdadeiros sucessos desportivos e competitivos. 
Apesar da cultura do ídolo e da hegemonia, que faz parte do desporto, e do futebol em particular, creio ser a competividade o factor diferencial para o sucesso de uma competição desportiva. Exceptuando Espanha, onde as figuras Real e Barça vendem a liga por si só, é a ausência de competividade que anula a possibilidade da Bundesliga e em especial da Liga Francesa darem o salto definitivo para serem competições verdadeiramente populares a nível internacional. A própria Serie A é um exemplo disto. A hegemonia da Juventus retirou popularidade à competição, além de tudo o resto, e ainda hoje se suspira por aquela Serie A dos anos 90 que fazia dela a melhor liga do Mundo. 
A razão, para isso, era uma: competitividade. É isso que as pessoas querem, que as pessoas ainda procuram e é isso que a criação de uma Superliga Europeia permitiria. Pouco me importa a competição em si, como digo. É o que ela poderia representar para o futebol a nível europeu que me leva a defender o desinteressante. Até lá? Vou-me ficando pelo Championship e pela Liga MX, claro."


PS: Explicar a um jornalista o conceito de fake news não devia acontecer, mas... infelizmente temos que o fazer!
Aquilo que o Bayern chamou fake news, foi a forma como o leak foi retirado do contexto, nas primeiras páginas dos jornais! O relatório existiu, mas o projecto da SuperLiga nunca foi um acontecimento iminente...

Saudade(s)

"Escrevo este texto a partir de (tente pronunciar à primeira sem se enganar) Jijoca de Jericoacoara, onde passo os meus últimos dias de férias (bem merecidas) de 2018. É daqui que parto para o título do meu segundo artigo de opinião, inspirado naquilo que a bola tem de melhor: a sua simplicidade e as saudades que tenho disso!
Desde que aqui cheguei, todos os dias às 16 em ponto, ali estão eles para fazer aquilo que mais gostam: jogar à bola, de pé descalço, até que o sol se ponha. É disto que tenho saudades!
- dos jogos de bola na praia do CCL, todos os dias dos meus 3 meses de férias no parque de campismo;
- dos jogos de bola no meu Bairro do Charquinho, mesmo quando ela saltava o muro do Cemitério de Benfica e quando um dos meus corajosos amigos se aventurava a ir buscá-la, sujeitando-se às chumbadas do guarda de serviço;
- saudades de ir à bola com o meu pai mesmo quando chovia a potes e quando os guarda-chuva eram permitidos, porque não eram tidos como armas de arremesso;
- e por último saudades do meu filho que ficou em Lisboa por causa da escola, mas também por causa da bola que o acompanha seis dias por semana (não treina à segunda-feira).
É de bola que eu falo, no seu estado puro: será que ninguém tem saudades, ou vamos continuar a assobiar para o lado e a falar todos os dias daquilo que não interessa para nada?
Eu tenho saudades e você, amigo do Maisfutebol?
Um abraço desde Jijoca de Jericoacoara (conseguiu agora sem se enganar?)."

Vermelhão: desesperante...!!!

Benfica 1 - 1 Ajax


Mais uma vez, um jogo bem razoável com o Ajax, com um último minuto desesperante!!!
Tal como escrevi nas crónicas anteriores, o problema do Benfica este ano, nem tem sido nos jogos com os adversários teoricamente mais complicados... porque jogamos com as linhas mais recuadas, e não ficamos vulneráveis aos contra-ataques adversários!!! Hoje, fomos sempre competentes na reacção à perda de bola... e como consequência um jogo onde o Odysseas teve muito pouco trabalho!!!
Até posso admitir os assobios ao treinador, mas os jogadores tem demonstrado atitude e união... e a forma como o jogo acabou é bem demonstrativo disso! O facto do Ajax ter tido mais posse de bola, é uma situação normal, que aconteceria mesmo com um Benfica em melhor momento, tem mais à ver com o estilo de jogo dos Holandeses... Sendo que hoje, essa posse de bola foi quase sempre inofensiva, a maior em zonas 'mortas'!!! O 'erro' do Benfica nesta situação de menos 'posse' foi não termos aproveitado as várias bolas que conseguimos recuperar em pressão alta, e nunca conseguimos transformar em golo!!!
A 1.ª parte foi dividida, com o Benfica a ser praticamente a única equipa a rematar à baliza... a excepção foi mesmo o livre directo, na última jogada antes do intervalo... numa altura que o Salvio estava a receber assistência médica!
A vencer, com as lesões 'confirmadas' do Jonas e do Salvio no arranque do 2.º tempo, o cenário mudou... O Rafa e o Seferovic são jogadores diferentes, não têm a capacidade de 'reter' bola, preferem jogar em velocidade, e o Benfica acabou por recuar ainda mais... e apostar tudo no contra-ataque... E o golo do empate acabou por aparecer, numa jogada absurda...!!!

O Ajax continuou a ter mais bola, mas sempre que conseguimos sair em velocidade criámos perigo, aliás todas as jogadas mais perigosas no 2.º tempo foram nossas, mesmo jogando 'sem bola'!!! E na última jogada, tivemos o golo da vitória nos pés do Gabriel...!!!
Bom jogo do Grimaldo e do Fejsa (o melhor jogo desta época, provavelmente). Jonas bem, até ter levado aquela cacetada... tudo é diferente com o Jonas em campo... Regresso do Cervi à titularidade deu consistência ao nosso meio-campo! O melhor jogo do Almeida esta época... Uma nota para o Gabriel, que com a bola nos pés tomou muitas vezes a decisão errada; mas 'sem bola' foi um dos jogadores mais importantes nas marcações e na pressão no meio-campo!
O Gedson esteve abaixo do normal... e o Odysseas voltou a cometer um erro fatal... e já no livre da 1.ª parte, foi 'enganado' pela trajectória!

Ainda não vi resumos, nem li crónicas, mas saí mais uma vez do Estádio, com a sensação que o senhor árbitro, tudo fez, para ninguém o acusar de ser 'caseiro'!!! Além da entrada sobre o Jonas... 'matou' completamente o jogo nos últimos 20 minutos, com a sucessiva marcação de faltas contra o Benfica por contactos ligeiríssimos... Com enorme dualidade de critérios a nível disciplinar!!!

A derrota em Amesterdão já tinha deixado os Oitavos pouco prováveis, o empate de hoje torna-os praticamente impossíveis! Dois jogos que depois de tantas variáveis, acabaram decididos após o minutos 90!!! Se tivesse caído para o nosso lado: empate na Holanda e vitória hoje, estávamos neste momento em 2.º lugar com 8 pontos e o Ajax com 7...!!!

Garra...

Benfica 3 - 3 Ajax


Jogo muito complicado - sem o Jota e sem o Umaro -, onde tentámos controlar a posse de bola desde início, para não dar posse e contra-ataque aos Holandeses... a coisa até começou bem com o 1-0, mas depois fomos perdendo consistência, e o Ajax foi ameaçando, até empatar praticamente na última jogada antes do intervalo...
Péssima entrada no 2.º tempo, com um 1-3 de rajada... O treinador mudou, a equipa reagiu, o Ronaldo e o Tiago Gouveia entraram muito bem... e com muita garra, chegámos ao empate... e estivemos quase a marcar o golo da vitória, mas a bola sai à malha lateral!

Estamos numa situação perigosa, uma derrota na Alemanha, ficamos a depender de terceiros (uma derrota do Bayern na última jornada em Amesterdão), como ficou demonstrado no Seixal temos equipa para bater o Bayern, mas...