quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Bons indicadores...

Avanca 22 - 36 Benfica
(13-16)

Primeira parte cinzenta, mas com o regresso do Seabra no 2.º tempo, tudo foi diferente...
O Nyokas também voltou após lesão, e estreou-se a marcar... e com uma excelente atitude.

Na próxima jornada vamos ter o derby com os Lagartos, que estão a jogar melhor do que na Supertaça, mas como ficou provado, temos equipa para eles...

Sabe quem é? Anarca e sindicalista - Manuel da Conceição Afonso

"Não foi só presidente do Benfica, foi pedra no sapato de Salazar; Tiraram-lhe emprego, morreu em A Bola

1. Nasceu algures por 1890 e ao ir como encadernador para a Imprensa Nacional envolveu-se na União Operária que, em 1919, se transformou na Confederação Geral do Trabalho, criando, pelo caminho, A Batalha jornal lido em voz alta nas cantinas (para que os operários analfabetos pudessem apanhar a sua política mensagem).

2. Por entre a fama espicaçada de sindicalista (e de anarca), ao abrir-se a campanha para o financiamento da construção do Estádio das Amoreiras, correu a inscrever-se como sócio do Benfica, gastando as suas poupanças nos «títulos para ajuda à missão». Foi em 1923, deram-lhe o número 4595 - e, sem grande tardança, o clube indicou-o para a direcção da Federação Portuguesa de Hóquei e Patinagem.

3. Notável pela fluência e pela paixão dos seus discursos, em 1926 subiu à vice-presidência da Assembleia Geral (por lá se manteve dois anos). Em 1930 tomou a presidência da Associação de ,Atletismo de Lisboa (e, claro, não deixara de ser o que se esperava que fosse: um feroz opositor de Salazar...).

4. À polémica com a FPF, a AFL exigiu que os seus filados boicotassem o Campeonato de Portugal, Ávila e Melo, o presidente do Benfica, concordou - os demais directores não por julgarem imoral que o clube não defendesse o seu título, opuseram-se. Ávila demitiu-se, para o lugar lançou-se a escrutínio Félix Bermudes. Recolheu 275 votos, achou-os expressão de «alguma desconfiança», recusou tomar posse. Como operário anarca e sindicalista, colhera 409 votos para vice de Bermudes, subiu ele à presidência (estava-se em Agosto de 1930).

5. Arthur John perdeu o campeonato de Portugal de 1930/31 e como ele se recusou pagar-lhe o que o Sporting lhe oferecera: 16 pontos por ano - John foi para o Lumiar. Ribeiro dos Reis, seu vice-presidente, regressou a treinador - sem receber um tostão do clube.

6. Herdara 650 contos de dívidas e letras para além dos 43 (e preço médio dum carro andava pelos 18 contos) - e, em Setembro de 1931 e em Agosto de 1932, reelegeram-no por «aclamação e braço no ar». Largou a função com a dívida esquartejada (não, não chegava a 950 escudos - apesar dos 60 contos que gastara em benfeitorias nas Amoreiras, dando-lhe duches de água quente e até telefone no balneário.

7. Chegou 1934 e apesar de bombas a rebentarem, de linhas de comboio a cortarem-se e da instalação de um «soviete» na Marinha Grande (que ao desfazer-se atirou de operários para campo de concentração de Angola), Salazar conseguiu o que queria: em vez de sindicatos atrevidos, dóceis «corporações». Ele, livrando-se da prisão e do desterro, teve ideia (que foi uma finta): transformar o Sindicato do Pessoal da IN em Grupo Desportivo e Recreativo da IN para que assim não perdesse a sede e os haveres. Criou-lhe uma secção desportiva e uma cultural (com palestras até com Alves Redol já proscrito pelo regime).

8. Em Novembro de 1936, regressou à presidência do Benfica - ganhou dois campeonatos da Liga. Ao passá-la a Ribeiro da Costa, voltara a amortizar a dívida em mais de 117 contos (e colhera pela primeira acima de 800 contos em quotas). E 27 contos de lucro deu o futebol, apesar de ferida cada vez mais aberta dentro de si: «O clube está deficientissimamente instalado nas Amoreiras. As receitas do campo são insignificantes em comparação com outros adversários, o público foge de lá Amoreiras porque de antemão sabe que ali não tem comodidades - e nem sequer já boa visibilidade...»

9. A sexta  eleição para presidente foi a 19 de Janeiro de 1946 na sequência de demissão de Félix Bermudes - e de pronto solicitou a Augusto Cancela de Abreu, o Ministério das Obras Públicas, medidas para «resolução do problema do estádio». Sugeria-se que fosse nas cercanias do Hospital Júlio de Matos, não era o que queria, conseguiu que o ministro lhe prometesse: «O Benfica é de Benfica e para Benfica deve voltar!» (Sim, voltou...)

10. Em Julho de 1947, com o Benfica já de caminho garantido para a Luz, ele passou a presidência a João Tamagnini Barbosa. Afastado pelo governo de Salazar da Imprensa Nacional. Para que não ficasse desamparado e sem emprego - Cândido de Oliveira levou-o para os serviços administrativos de A Bola e organizar o seu arquivo fotográfico foi das últimas devoções da sua vida (e em Maio de 1966 morreu)."

António Simões, in A Bola

Luisão, o adeus 538 jogos depois...

"Luisão pendurou as botas. O peso dos anos e a implacável concorrência acabaram por ditar o fim de uma carreira que fica gravada a letras de ouro na história do Benfica. Desde a fundação, em 1904, só um jogador vestiu mais vezes a camisola do clube da Luz que Luisão, o eterno, incontornável e irrepetível Nené. Mas o que torna mais especial ainda o percurso do Girafa em Portugal é o facto de ter permanecido na Luz num contexto de liberdade contratual, ao contrário dos seus antecessores até 1974, no âmbito nacional, a 1995, no plano internacional, que estavam limitados pela famigerada lei da opção. É certo que por vezes fez um braço de ferro com Luís Filipe Vieira, mais no género de agarrem-me senão vou-me embora do que propriamente baseado numa vontade firme de partir. No fim das contas, são 15 anos de ligação ininterrupta, 538 jogos disputados (127 dos quais na UEFA, mais 50 do que o segundo dessa lista, Veloso) e seis títulos nacionais, num palmarés sem rival nas últimas três décadas da vida benfiquista. Nos dias que correm, casos de permanência alargada num clube português de topo, como o de Luisão, são cada vez mais improváveis. Quando se vislumbra um jovem de grande potencial, vindo da formação, a pergunta que se faz não é se vai sair, mas sim quando sairá. Mas que ninguém duvide que jogadores como Luisão, com estatuto, autoridade e muitos anos de casa, são fundamentais para unir as equipas e fazer crescer os mais jovens. São âncoras inestimáveis que impedem que as naus naveguem à deriva. Luisão vai continuar, noutras funções, na Luz. O Benfica sabe que os clubes que não respeitam o passado não têm futuro."

José Manuel Delgado, in A Bola

Recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa ter recebido no dia de hoje a decisão proferida pela Dispute Resolution Chamber (Câmara de Resolução de Disputas) da FIFA no processo que envolve o despedimento com invocação de justa causa do seu ex-atleta Bilal Ould-Chikh. Por não se conformar com a decisão proferida, requereu de imediato os fundamentos da mesma com vista a interpor recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) de Lausanne.
A SL Benfica – Futebol, SAD mantém a convicção de que o despedimento do referido atleta se justificou face ao comportamento desportivo e social deveras censurável e, como tal, é legalmente sustentável, não deixando, por isso, de reclamar a devida indemnização junto do Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne."

A moda do disparate

"No Benfica, gente a gabar-se de boas ideias é o que mais se vê, mas quando cheira a problemas fica só o presidente para os resolver

O Benfica tem estado no olho do furacão, numa zona de aparente acalmia em consequência das questões que se conhecem e a justiça investiga. É normal num Estado de Direito e apesar de o presidente ter dito já mil vezes que não lhe pesa a consciência e o bom nome da águia vingará, a verdade é que aos 'juízes de tasco', os mestres da propaganda ardilosa, tudo serve para debitarem sentenças nas vielas da má-língua.
Surpreende, por isso, que, servindo-se de uma conta 'SL Benfica Press', a comunicação encarnada, presumivelmente oficial, acerca do Vitória de Setúbal - FC Porto, tivesse lamentado o «golo limpo» que o árbitro anulou à equipa sadina. No meio de tão rica troca de galhardetes entre rivais ainda deve sobrar paciência para avaliar o grau de asseio dos golos que cada um marca, sendo certo que, em rigor, esse foi mesmo pouco limpo.
A isto chama-se mensagem ridícula e ineficaz. Como não tem identificação de autor, compromete o próprio emblema, porque é o Benfica que diz e não um funcionário irresponsável, alegadamente, por ele. Quando João Gabriel era o defensor da imagem do Benfica isto não acontecia. Era ele quem dava a cara, sempre. Com escritos curtos, irónicos, mas certeiros. Não como agora, em que parece dar-se mais importância à moda do disparate.
O que, segundo fonte bem colocada, suscita outro tipo de dificuldade para Vieira de maneira a salvaguardar o prestígio da instituição que lidera: no Benfica, gente a gabar-se de boas ideias é o que mais se vê, mas quando cheira a problemas fica só o presidente para os resolver.
(...)

A realidade não engana. O extinto Saraiva nunca fez falta em Alvalade, assim como o truculento Marques no Dragão ou o omisso Bernardo na Luz, tal como actuam, se tornam figuras dispensáveis.
No futebol que desejo, verdadeiramente importantes são o Paulo Cintrão no Sporting, o Pedro Amorim no FC Porto, o Ricardo Lemos no Benfica, o André Viana no SC Braga e todos os que executam idênticas tarefas em emblemas de menor dimensão, com o mesmo denodo e a mesma preocupação de fazer bem."

Fernando Guerra, in A Bola

O cão do Jorginho dos view-masters

"Os antigos contam sobre ele histórias extraordinárias e eu nunca duvido da palavra dos antigos. Os antigos são o meu pai e os seus amigos lá de Águeda que conheceram o Hernâni ainda garoto. Muito tempo antes de eu ser, pela minha vez, garoto de Águeda, do adro ao rio, da Venda Nova ao Alfusqueiro, e ter visto jogar o Fanfas, o Telha e o Manuel Joaquim, e o Pincho de Timor dos confins do Império - onde ficava o Pico Ramelau, o ponto mais alto de Portugal com 2963 metros de altitude - e o retinto Tito Lívio, negro azeviche no alto do seu orgulho tímido de historiador de Roma e dos Tarquínios.
O rapaz da Dona Aurora corria à desfilada com a bola de trapo nos pés e, de repente, num passo de bailarino, entalava-a entre os calcanhares e fazia-a passar sobre a cabeça e sobre a cabeça do adversário. Era, até certo ponto, uma magia. E os antigos viram e contam.
«Filho único a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera
‘O menino da sua mãe’».
Era Balreira do pai, mas ficou da Silva Ferreira, apelidos que o futebol português conjugou, depois, em Eusébio da Mafalala, Ferreira da Silva, como se fizesse questão da brincadeira, do calembour. Francisco Duarte, o pai do Manuel Alegre, levou-o a Coimbra e não o quiseram. Murmurou: «Enganaram-se...». Levou-o a Lisboa e ao Benfica, e responderam-lhe que igual a ele havia por lá muito. Cerrou os dentes e rumorejou: «Enganaram-se outra vez!».
Veio Soares dos Reis e o Porto foi o destino. Em Águeda fundara um clube, o FC do Adro, entre a escola, a igreja e o cemitério, campo de nós todos, antigos e não antigos, fazendo balizas do lado do cruzeiro onde havia um castanheiro-da-Índia com os seus ouriços que se transformavam em projeteis dolorosos depois dos jogos e no momento de assaltar o muro que ficava no fundo do meu jardim a dar para a Casa do Adro e à sombra sinistramente branca do edifício do CEFAS.
Alguém, não sei quem, chamou-lhe um dia O Furacão de Águeda. Hernâni cumpriu o futuro que lhe liam nos astros. Jogou na selecção, na civil e na militar, esteve no Estoril enquanto cumpria o maçador dever da tropa, um campeonato inteiro por dez contos, ele próprio o contou numa daquelas revistinhas que saíam ao domingo pela mão de Mário de Aguiar com o título de Crónica Desportiva. 
O Recreio de Águeda nunca foi um dos clubes de Hernâni, apesar de ele sempre ter confessado essa paixão. Passou por lá num repente tão repentino como as suas fintas velozes de entontecer defesas inóspitos. Correu sobre o pelado do Campo de São Sebastião, já sem a trapeira, para lá do muro de tijolo onde se dependuravam os curiosos que não se sentavam nas bancadas periclitantes de madeira encaixadas à força metálica de ferros pouco críveis. Havia o lajedo do basquete atrás da baliza leste e o baldio onde cresciam vinhedos selvagens no fundo da rua dos bombeiros. Havia a capela que nunca-pode-sair-do-seu-lugar porque traz consigo uma maldição qualquer. Havia a fábrica Silva & Irmãos. Havia a mercearia do Jaime. E havia o cão do Jorginho dos view-masters.
Águeda foi sempre uma terra muito rica em cães. Cães distintos, quero dizer. O Tom Mix, do tenente-coronel Lobão, um pastor-alemão tão militarizado que poderia ter servido nas Waffen-SS, sempre às ordens da caninha do dono, ora sentado, ora em pé, mas em pé mesmo, as patas dianteiras subidas e assente nas de trás, ou em marcha lenta acompanhando o trote ordenado que foi sendo cada vez menos firme até morrerem os dois. O Black, cão dos Searas, reconhecido como pastor-do-Biafra, esmifrado de fome e maus tratos mas jupiteriano dono do largo da Venda Nova onde também habitava o Chico, o corvo do café do Mário dos Táxis, a raspar o chão numa inquietação de vermes, as asas cortadas nas pontas para não voar, tropeçando nos sapatos dos clientes por debaixo das mesas a debicar migalhas de pão, cascas de tremoço e amendoins e a crocitar de quando em vez um - «Olá!» - roufenho que alguém lhe ensinou vá lá saber-se a que custos da paciência.
Não sei como se chamava o cão do Jorginho dos view-masters. Sei que de cada vez que o Recreio ganhava, subia ao seu trono de águas-furtadas e, lá de cima, equipado a rigor, com a camisola grená com o emblema em brasão, a bola de futebol castanha de travessas no centro, a cruzeta branca e azul num fundo de cor de vinho, as letras em redor - RDA, Recreio Desportivo de Águeda - ladrava um discurso petulante de amor ao clube e esperança renovada num futuro de glórias imarcescíveis.
Os domingos de Hernâni, a quem chamaram o Furacão, talvez também tivessem latidos como os que me canhoneiam a memória. Mas duvido que tenham sido sentidos como os que, pelo fins da tarde, vigiados pelo olho maldoso de um corvo paraplégico, se espalhavam a toda a largura de um céu de águas-furtadas."

O génio da bola que não gostava de marcar golos

"Na biografia agora publicada, o que me impressionou, para além do trágico final de Garrincha, foi sobretudo a sua forma de entender e jogar futebol.

No único Mundial de Futebol em que Portugal deu cartas e esteve a um passo de vencer, o de 1966, não me lembro de ter visto jogar Garrincha. Recordo-me, mais pela caderneta de cromos do que pela televisão, de Pelé, literalmente trucidado pelo nosso Morais, do guarda-redes Manga, muito responsável pelo primeiro golo português, e do então jovem Jairzinho que haveria de revelar-se mais tarde no Mundial do México.
Soube agora que Garrincha esteve sentado no banco de suplentes. Havia jogado contra a Bulgária e contra a Hungria, terminando aí a sua participação no mundial britânico e na selecção brasileira. Nessa época, o genial jogador das pernas tortas e bicampeão do mundo havia iniciado a sua fase descendente marcada pela bebida e pelas mazelas físicas.
Ora, tudo isto resulta da leitura da extraordinária biografia de Mané Garrincha, de Ruy Castro, editada agora em Portugal mas já com quase 25 anos, intitulada “Estrela Solitária: Um brasileiro chamado Garrincha”. Extraordinária a duplo título: pela vida extraordinária de Garrincha e pela qualidade da escrita de Ruy Castro. Quase tão boa como essa obra-prima biográfica que é a vida de Nelson Rodrigues, também escrita por Ruy Castro. O registo é similar: uma narração cativante, viva, que solta a anedota e o drama e faz prevalecer o discurso directo.
O biografado é-nos apresentado no verdadeiro contexto social e cultural da época em que vive, sem particulares tons apologéticos mas recheado de pormenores do dia-a-dia. Porém, o que me impressionou, para além do trágico final de Garrincha, foi sobretudo a sua forma de entender e jogar futebol.
Para a época a sua atitude seria rara, mas apesar de tudo plausível. Hoje soa a ficção científica. Não é tanto a questão do estatuto, do prestígio, da fama ou do dinheiro. Ou melhor, da ignorância e inocência com que Garrincha lidava com essas questões. Também isso está a anos-luz dos nossos Ronaldos e Messis. Garrincha encarava o jogo da bola – fosse no Maracanã, no Pacaembu ou nas peladas na sua terra natal – de forma idêntica.
E o impensável acontecia, como naquele Botafogo-Vasco em que Garrincha perante um defesa esquerdo vascaíno continuou em fintas e dribles sucessivos muito para além das linhas de jogo, já na pista de acesso ao exterior. E só parou porque o árbitro lhe chamou a atenção. Como se o seu único objectivo no futebol fosse fintar uma e outra vez o adversário esquecendo-se dos golos.
Em outra situação, num particular entre o Brasil e a Fiorentina, Garrincha fintou toda a defesa italiana, guarda-redes incluído, e entrou tranquilamente com a bola na baliza. Não festejou sequer. Agarrou a bola com as mãos e transportou-a para o centro do terreno para poder rapidamente recomeçar o que verdadeiramente lhe dava prazer: driblar os adversários!"

Aplaudir o Renato?

"Recupero o apelo que Nélson Rodrigues deixou aos jovens: "Envelheçam depressa." Uma recomendação condenada ao fracasso que, na verdade, o dramaturgo brasileiro dirigia a si próprio, com a esperança de se libertar da dependência pueril do futebol. Nas bancadas, não envelhecemos e estamos sempre atentos a qualquer sinal de uma representação suspensa da infância.
Não me esqueço do lugar onde estava no dia 4 de dezembro de 2015. Na Luz, mais um jogo do nosso Benfica, uma equipa que se reerguia lentamente, depois de ter agonizado durante um par de meses. Em campo, o Renato havia transfigurado o jogar do Glorioso: bola na frente, corridas em repelões, a insolência tresloucada de quem não quer envelhecer. Num final de tarde de inverno, jogo contra a Académica e, já bem no final da partida, um remate portentoso, vindo de um lugar desconhecido e bola no fundo das redes. Para a memória de quem viu na televisão, fica o sorriso pueril do Rui Costa, a incredulidade dos colegas no banco e a antecipação da conquista de um tri que, então, parecia impossível. Na bancada, ainda a tentar restabelecer-me da felicidade infantil com que celebrei o primeiro golo do Renato na Catedral, logo amadureci para, em tom paternal, confirmar ao meu filho que tínhamos de aproveitar. Era certo: no verão, o Renato seria vendido.
Três anos volvidos, a mesma Luz intensa. Longos meses de desaparecimento do Renato, que todos vamos seguindo semanalmente, na esperança incontida de que, lá fora, nos devolva o futebol de rua, imponderado e capaz de desarranjar todos os arranjos tácticos, os do adversário e os da própria equipa. Pois nada. O Renato foi desaparecendo, ora entregue ao futebol de régua e esquadro em que não se sente confortável, ora preso a irritantes lesões, que lhe retiraram o vigor físico de que depende. Pois na quarta-feira, vislumbrámos um lampejo do Renato que se anunciou na Luz. Arrancada no meio-campo, uma correria incontida e, no fim, o golo, sem celebrações.
Desta vez, como era de esperar, o golo era contra nós. O Vicente, que há três anos celebrou o remate contra a Académica, levantou-se para aplaudir. O pai, que sente cá dentro o espectro das palavras do Nélson Rodrigues e quer envelhecer devagar, seguiu o exemplo e, timidamente, primeiro aplaudiu, para depois se pôr de pé. Mas a Maria Leonor, que só agora se estreia de Red Pass, com a maturidade feminina própria dos 9 anos, logo se ergueu para, num gesto eficaz e silencioso, lançar as mãos sobre os braços do pai e do irmão e conter os nossos festejos. "O nosso destino é o de vencer" e na Luz só se celebram os nossos golos. Se a questão é saber quem tem razão, não restam dúvidas."

Eleven Sports: o irritante disruptivo

"A par do E-Toupeira e dos emails, a Eleven Sports é o outro tema que domina o arranque da época, por razões bem diferentes dos primeiros. A uni-los há o potencial disruptivo que podem ter no futebol.
A Eleven Sports é uma pedrada no charco da compra de direitos e distribuição de conteúdos desportivos em Portugal. A maior onda de choque até ao momento foi criada pela aquisição dos direitos da Liga dos Campeões para Portugal, que há 20 anos pertenciam à Sport TV, incluindo os jogos das equipas portuguesas na prova. A estes soma-se os campeonatos espanhol, alemão e francês, além da Fórmula 1 nos motorizados.
Sim, a Eleven Sports veio trazer concorrência a um mercado até aqui essencialmente dominado por um operador. E isso é suposto ser bom para os consumidores. Mas, até aqui, criou apenas um "irritante" para os fãs de futebol.
O primeiro irritante é o "como". Quando se começa a escrever no campo de pesquisa do Google "Como ver", a primeira sugestão que recebemos é "Eleven Sports". O que testemunha que os portugueses estão ainda "à nora" sobre como lá chegar.
O outro irritante é o custo. Ver todo o futebol passou a custar, no mínimo, 44 euros mensais. Isto sem contar com a mensalidade da operadora. Caro demais para os nossos bolsos, portanto. Para já, os consumidores estão pior.
Os responsáveis da empresa têm noção do perigo deste irritante. "Se nós não tivermos 50% de distribuição em Portugal existirá uma revolução entre os fãs", assume Danny Menken, o director-geral, numa entrevista ao Observador.
Para a Eleven Sports é uma operação de elevado risco. O preço que pagou pelos direitos obriga-a a conseguir uma base ampla de subscritores. Tal como os outros serviços de "streaming", caso da Netflix, a ofensiva inicial obriga a contrair dívida e aceitar prejuízos nos primeiros anos. Mas depois a empresa está obrigada a dar rapidamente a volta. É uma corrida contra o tempo.
É por isso que, mais cedo ou mais tarde, a Eleven Sports acabará por fazer com a Meo, Nos e Vodafone o mesmo acordo que fez com a Nowo, reduzindo, pelo menos em parte, o irritante. A luta poderá chegar aos direitos do campeonato português, que são os que podem decidir para que campo cairá a bola, quanto expirarem os actuais contratos.
Inegável é que o paradigma está a mudar e também na Europa. A Amazon pagou mais de 4,5 mil milhões de libras pelos direitos de um conjunto de jogos da Premier League durante três anos, que vai passar através do seu serviço de "streaming". Irá a Netflix juntar-se à festa?
A visão de Andre Radrizzani, o empresário italiano de direitos de autor que é o maior accionista da Eleven Sports, é tentadora: ter os jogos disponíveis em qualquer écran e facilmente acessíveis por partida, época ou equipa através de um serviço de "streaming". "O preço unitário por cliente poderia ser mais baixo: o montante total ainda assim seria maior", disse ao The Telegraph. Será mesmo possível ter o melhor de dois mundos?"

Sport sem TV

"Na passada semana fomos confrontados com uma realidade que já tínhamos todos esquecido. Querer ver um jogo de futebol e não saber nem onde nem como.

Aquilo que há décadas era normal, quem quisesse assistir a um jogo de futebol tinha de se deslocar ao estádio, voltou agora a acontecer. Teremos regredido ou, pelo contrário, estaremos a avançar para um novo paradigma na disponibilização da informação e dos conteúdos desportivos?
O advento da Eleven Sports, a criação pela Federação Portuguesa de Futebol do canal 11 (a utilização do mesmo número será apenas uma coincidência?), a negociação dos direitos televisivos centralizada na Liga de Clubes entre outras novidades, parece estar a revolucionar por completo o mercado das transmissões desportivas. Algumas consequências são já evidentes. Novos "players" estão a conquistar o espaço dos mais antigos e nem todos vão resistir. O acesso ao mercado através de plataformas digitais vem limitar enormemente a capacidade de manter monopólios ou estruturas concorrentes apenas na aparência. Os "artistas", leia-se os clubes, procuram organizar-se e lutam pela sobrevivência tentando que não se acentue ainda mais o fosso entre os maiores que tudo podem e os mais pequenos que tudo têm de aceitar. E o consumidor, ou no caso o adepto, fica a saber uma coisa. Seja qual for a solução que vier a ser encontrada, serão certamente os assinantes destas novas plataformas de venda de conteúdos que vão pagar a revolução. E não ficará barato.
E por falar em custos para os assinantes o que dizer da atitude "tipo avestruz" da Sport TV. Depois de perder os direitos de transmissão de diversas competições de grande audiência (como a Champions ou a Liga espanhola), e que garantidamente terão estado na base da decisão de subscrição dos espectadores, eis que nos querem convencer de que o produto de substituição (se é que isso é possível) é de idêntica qualidade. Pois esta temeridade vai-lhe custar bem caro. Tratar os consumidores como se estes não tomassem decisões racionais e adoptar a política do "assobiar para o lado" a ver se o povo não dá por isso são a pior forma de gerir uma crise.
A Sport TV tem dois caminhos. Ou reformula por completo a sua estratégia comercial e adapta as condições à sua oferta actual ou, temo bem, os custos reputacionais em que já está a incorrer serão de tal forma elevados que chegará rapidamente à irrelevância no campeonato das audiências."

O Benfica - Bayern e o neoliberalismo

" “O neoliberalismo é o paradigma político definidor da economia dos nossos tempos, tendo como referência políticas e procedimentos que permitem que uns poucos interesses privados controlem o mais possível a vida social, por forma a maximizar o seu lucro pessoal (…). As consequências económicas destas políticas tiveram praticamente os mesmos resultados, onde quer que tenham sido aplicados: um aumento maciço da desigualdade social e económica; um assinalável incremento da forte dependência das nações e dos povos mais pobres do mundo; um desastre ambiental global, uma economia global instável e uma bonança sem precedentes para os ricos. Ao serem confrontados com estes factos, os defensores da nova ordem liberal argumentam que os restos do que é bom, invariavelmente sobejam para a generalidade da população, desde que não se encontrem em oposição às políticas neoliberais”. O texto com que iniciei o meu artigo, de hoje, é da Introdução do livro de Noam Chomsky, Neoliberalismo e Ordem Global (Editorial Notícias, Lisboa, 2000). Já há muitos anos venho escrevendo que o actual desporto de alta competição, reproduz e multiplica, demasiadas vezes, as taras, o desequilíbrio mental e moral do neoliberalismo dominante. Ou seja, a competição sem freios, onde o adversário não se estima e pouco se respeita, porque a concorrência é implacável; um rendimento, onde o ser humano é meio e o lucro é o objectivo indiscutível e primeiro; o predomínio da quantidade sobre a qualidade, típico de um positivismo, onde há factos, mas não há valores, onde há “performance”, mas não há princípios; a exploração do mais pobre e portanto, neste caso, dos países periféricos – tudo isto, que o neoliberalismo obstinadamente defende, emerge triunfante, com frequência, do desporto de altíssima competição, pois que o neoliberalismo penetrou em todos os domínios da vida social.
A televisão, as redes sociais, por seu turno, vivem em permanente e espasmódica concorrência. E assim o espectáculo desportivo (que a televisão e as redes sociais publicitam e exaltam) parece aprovar uma ideologia que não é a sua. “O Espírito Desportivo encerra em si mesmo um conjunto alargado de valores e princípios que deverão ser assimilados e vivenciados, na prática desportiva. Trata-se de um conjunto de valores que têm a função de imprimir um sentido positivo à actividade desportiva e que, sem os quais, esta perde a sua finalidade primordial: contribuir. Para o desenvolvimento harmonioso e universal da pessoa humana. O Espírito Desportivo deve ser vivido por todos os agentes, elementos-chave no sentido a dar aos mais jovens. Deve ser concretizada dentro e fora da competição desportiva, devendo nortear a sua prática e constituir a “espinha dorsal” da mesma. O Espírito Desportivo é pois respeitar códigos, regulamentos, honrar a palavra dada e os compromissos assumidos, recusar o recurso a quaisquer meios ou métodos, ainda que legais, no sentido de vencer ou tirar vantagem, bem assim como repudiar esses comportamentos ou atitudes, junto daqueles que prevariquem ou que influenciem terceiros nesse sentido” (Código de Ética Desportiva, PNED/IPDJ/SEDJ). Impossível, portanto, qualificar de Desporto uma prática que para pouco mais serve do que para adormecer as pessoas à recusa da sociedade injusta estabelecida. Sou então contra o espectáculo desportivo? Não, sou a favor! Considero mesmo o desporto de alto nível o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo. Mas, sem a poluição auditiva das claques; nem o grau zero de pensamento de alguns dirigentes; nem o culto fanático, pelo “homo oeconomicus”, do deus-lucro; nem a exploração típica do neoliberalismo, que também é evidente no futebol…
Os jornais do dia 20 de Setembro de 2018 foram unânimes a noticiar: “Foram 18 os clubes estrangeiros que enviaram emissários à Luz. O encontro entre o Benfica e o Bayern de Munique revelou-se montra bastante apetecível, para alguns tubarões de todo o mundo, tendo sido 18 os clubes que enviaram olheiros à Luz, para tirar algumas notas. A saber: Eintracht Frankfurt, Manchester United, , Watforf, Chelsea, Atlético de Madrid, Inter de Milão, Leipzig, Newcastle, Valência, Liverpool, Roma, Aston Villa, Juventus, Hudersfield Town, Arsenal, Bournmouth, Real Sociedad e Sevilha. A título de curiosidade refira-se que de Portugal o único clube que se fez representar foi o SC Braga”. O discurso dos “tubarões” distingue-se pelo triunfalismo, pela espera e pela esperança. O mundo é deles – o mundo e os melhores jogadores do mundo! Portugal, país periférico, tudo o que tem de melhor, no que ao futebol diz respeito, é para vender e para vender-se. Já se escutam os pios agoirentos dos que vaticinam campeonatos europeus, onde só por misericórdia poderão entrar qualquer uma das melhores equipas portuguesas. E, porque o poder imenso dos “tubarões” está em constante crescimento, dado que o modelo sócio-económico dominante poucos sabem e podem questioná-lo e transformá-lo – este futebol de ricos e pobres (e Portugal é um dos pobres!) está-ai para durar, deitando um olhar lateral de indiferença à nossa retórica de arrebatamentos patriopatetas. Reproduzindo e multiplicando as taras das nossas “sociedades de mercado” (eu estou entre os que defendem “sociedades com mercado”) o futebol português apresenta “belíssimas escolas de formação”… para os outros! Os nossos treinadores de futebol conseguem altos desempenhos, no estrangeiro, não porque tenham muito saber (ou o saber que os outros não têm) mas, como a etnologia já o tentou provar, se adaptam com mais facilidade aos mais estranhos ambientes e são afectivos, bondosos e de grande perspicácia e dinamismo. Porque “são”, chegam a ultrapassar os que mais “têm”.
Aproveito a oportunidade para sublinhar o nome de 5 (cinco) treinadores portugueses que eu conheci e com quem dialoguei e aprendi: José Maria Pedroto, Fernando Vaz, José Mourinho, Artur Jorge e Jorge Jesus. Quando em finais de Maio de 1979, durante um Congresso de Medicina Desportiva, em Espinho, onde participei com o tema “O erro de Descartes, na Medicina e na Educação Física” e Mestre Pedroto me questionou porque dizia eu que o treino desportivo era bem capaz de estar errado – a partir desse dia, ganhei um Amigo e um Mestre de apaixonado culto pelo futebol como conhecimento científico. Por essa altura, também, já eu começava a estudar o desporto, no âmbito das ciências sociais e humanas. Por essa altura, começava eu a escutar nas aulas que recebi do Mestre: “Não ligue muito aos que dizem que, num jogo de futebol, o mais importante é a táctica. O mais importante são os bons jogadores… que são raros e custam muito dinheiro!”. E rematava: “Eu, com grandes jogadores, que acreditem na minha liderança e num clube que satisfaça as minhas propostas, apresento-lhe sempre uma boa equipa, com qualquer uma das tácticas mais em voga”. Durante o jogo Benfica-Bayern, de 19 de Setembro de 2018, muitas vezes me lembrei das palavras sábias do inesquecível José Maria Pedroto. De facto, foi, pela força e perspicácia de uma táctica desconhecida, que o Bayern superou o Benfica? O treinador Niko Kovac tem “segredos tácticos” que o Rui Vitória desconhece? Tenho alguma autoridade (porque o li e com ele demoradamente dialoguei também) – tenho alguma autoridade para adiantar que o actual treinador do Benfica será sempre um grande treinador, em qualquer parte do mundo. Mas com iguais critérios de competitividade e eficiência, quero eu dizer: com um “plantel” de superdotados e não tão-só com dois ou três superdotados. E até aqui, no radical fundante do espectáculo desportivo, há causas políticas."

Valores: Evolução ou degenerscência?

"Na Piscina Oceânica de Oeiras deparamo-nos com um painel onde se afirma que a prática da Vela “procura aprofundar valores de cidadania, companheirismo, amizade, tolerância, confiança e auto-estima em cada um dos participantes”.
É mais que comum no Karaté recorrer-se a cinco máximas, afirmando-se que a prática do mesmo aperfeiçoa o carácter (1), cultiva a sinceridade (2), incentiva o desenvolvimento do esforço (3), fomenta o respeito pelo próximo recorrendo à etiqueta (4) e promove o autocontrolo (5).
Não há modalidade desportiva que não alarda a existência de valores no seu seio durante a fase de formação dos seus praticantes.
E se podemos estabelecer uma comparação entre a ontogénese e a filogénese da motricidade do ser humano, também nos deparamos com um paralelismo entre a evolução axiológica do desportista e a evolução dos valores do e no desporto…
Se na fase de iniciação e formação do praticante o modelo pedagógico pretende inculcar valores no mesmo, o objectivo principal do desporto até à primeira grande guerra mundial era a moral e a educação.
Na fase da especialização do desportista o resultado começa a ser sobrevalorizado, isto é, sobrepõe-se a qualquer um outro valor - treina-se e compete-se com vista a um determinado resultado tendo-se em conta o espectador que assiste ao evento. Foi após a primeira grande guerra mundial que começou a emergir no desporto o objectivo espectáculo.
Quando o desportista se encontra na fase de rendimento, a vitória é a única coisa que conta, tentando-se alcançá-la por vezes sem se olhar a meios. O desportista começa a estar sujeito já não só ao seu desempenho mas também a pressões exteriores e o desporto metamorfoseia-se dado que o desportista tem de satisfazer o treinador, o clube, o patrocinador… Compara-se à fase do desporto moderno em que “Ganhar não é o mais importante, é a única coisa que importa!” (como referiu Vince Lombardi) e muitas vezes, para além da vitória, importante é também o recorde. Foi a partir da década de 80 que o desporto começou a ser mais uma indústria geradora de comércio e de comunicação.
Por fim chega-se à fase da profissionalização. O desportista é peça de uma engrenagem da qual já não se consegue libertar e, por isso mesmo, tem de fazer parte da mesma. Estamos então no desporto pós-moderno: tudo se quantifica, tudo se negoceia, tudo é mercantilizado. Entram em cena no desporto nesta etapa os mass media, a alta tecnologia, a publicidade, o direito, a economia e a política.
Parece assim haver em toda esta evolução uma degeneração de valores… Se no primeiro caso se pode considerar essa degeneração como adaptação a um sistema em constante mudança, no segundo existe um processo intencional e planeado onde as disputas de poder acabam por programar mudanças de comportamento.
Como refere Mihir Bose em “The Spirit of the Game – how sport made the modern world” (2012, London, Constable), “o desporto adquiriu uma filosofia antes de ter sido adequadamente organizado e, em grande medida, o principal problema do desporto moderno é esse choque entre sua filosofia do século XIX e o subsequente desenvolvimento de muitos jogos, já que eles tiveram que reagir a um diferente, e em constante mutação, mundo”.
As consequências dos acontecimentos acima referidos levam em primeira instância a uma reprodução. Em segunda instância levam a uma inovação, ou a constantes inovações, onde uma análise abrangente das mesmas nos remete para aquilo a que Jack D. Forbes (1998, “Colombo e outros canibais”, Lisboa, Antígona) chamou de “patologia uética” – o desprezo pelo ser humano, a exploração do trabalho de outrem em função de objectivos ou lucros privados. Poderemos dizer pois que a patologia uética invadiu o desporto.
A reprodução torna-se então madre dessa inovação.
Lev Tolstoi dá-nos um exemplo muito concreto em “A morte de Ivan Ilitch”, quando a personagem principal, juiz, é atendido pelo médico: “Ivan IIich foi-se. Passou-se tudo como ele esperava, e como sempre se passa. Longa espera, ares solenes e doutorais, bem conhecidos dele – porque fazia o mesmo no tribunal –, auscultação, as perguntas do costume, exigindo certas respostas antecipadamente determinadas e evidentemente inúteis, um ar importante que queria dizer: não tem mais que nos obedecer e nós arranjaremos tudo; estamos fartos de saber, sem dúvida possível, como as coisas se arranjam, sempre da mesma maneira, seja qual for o paciente. Tudo se passava exactamente como no tribunal. Tal como ele representava no tribunal diante dos acusados, o célebre doutor representava ali diante dele”.
A questão não são os que representam, porque aproveitando-se destes outros ditarão novas leis, gerirão novos destinos, administrarão novas organizações ou novas instituições. A questão coloca-se perante aqueles que não abandonando a sua zona de conforto permitem que surjam, para além dos danos centrais consentidos, danos colaterais.
Bose (op. cit.) salienta ainda que o desporto transformou-se num gigante económico que se tornou muito maior do que ele – mais do que um meio de passar o tempo, de se exercitar ou de ter um pretexto para uma aposta. Essa transformação levou a uma degenerescência dos valores do e no desporto."

Benfiquismo (CMLXI)

O peso do Manto e da Ramon Carranza...!!!

Luisão, Girafa... O Gigante...!!!

Entre as muitas interpretações possíveis sobre a despedida do nosso Capitão hoje, realço dois momentos:
- Grande discurso do homenageado...
- Nestas últimas épocas, muito se discutiu sobre a relação contractual do Luisão com o Benfica... aquilo que a Direcção afirmou, com todo este processo, é que os 'nossos' serão sempre respeitados e protegidos... Podemos não 'pagar' tanto como outros, mas não vamos correr ao pontapé as nossas Glórias... Podem julgar que tudo isto é secundário, mas não é... A mensagem que fica para aqueles que ficam no plantel, é extremamente motivante...!!!

Nunca é fácil a decisão de abandonar a carreira, é mesmo contra-natura... A competitividade inerente aos grandes atletas, nunca os deixa aceitar com tranquilidade, que já não podem contribuir para o sucesso do grupo... admitir que os mais novos, são melhores, é uma daquelas constatações que ninguém aceita à primeira...
No Benfica, no nosso passado, os exemplos são muitos, de divórcios conturbados, mesmo com os nossos maiores de sempre... Podem criticar a nossa Direcção por muita coisa, mas a forma como as nossas Glórias são tratadas, tem sido exemplar...

Luisão, tem o seu nome cravado na história do Benfica. Só o Nené tem mais jogos, o capitão com mais jogos, 6 Campeonatos... e muitas outras Taças... Só faltou o título Europeu... mesmo que o tivesse merecido, dentro do campo!!!

Líderes...

Benfica 2 - 0 Cova Piedade


Mais uma vitória, num jogo com algumas 'surpresas' tácticas... e com muitos ex-Benfica no outro lado...e muitos Chineses!!!

Decisão de enorme gravidade

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD entende como séria e muito grave a decisão da Federação Portuguesa de Futebol, através do Conselho de Disciplina, de considerar improcedente o seu recurso do castigo aplicado de um jogo à porta fechada no Estádio da Luz.
Informamos que avançaremos de imediato com o devido procedimento cautelar, junto do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), com vista à suspensão dos efeitos da decisão em causa e posterior impugnação da mesma.
A Direcção do Sport Lisboa e Benfica tornará pública uma posição sobre esta matéria junto dos Sócios na próxima Assembleia Geral do Clube, que se realiza sexta-feira, dia 28 de Setembro."

Nota à comunicação social

"Informação da Direção do Sport Lisboa e Benfica e do Conselho de Administração da Benfica SAD.

A Direcção do Sport Lisboa e Benfica e o Conselho de Administração da Benfica SAD (em conjunto SL Benfica) vêm informar o seguinte:
Considerando os processos e investigações judiciais em curso e as melhores práticas de gestão observadas em organizações internacionais em contextos similares, torna-se imprescindível criar condições organizacionais que permitam a total concentração do Presidente e da gestão executiva do SL Benfica no seu core business, por forma a alcançar todos os resultados desportivos, económicos e financeiros fixados.
Considerando, ainda, que para o cumprimento do objectivo essencial antes mencionado torna-se imprescindível implementar um modelo de gestão abrangente dos assuntos jurídicos, comunicação pública e governance, tudo em relação a tais processos e investigações judiciais, que detenha as competências e recursos necessários à defesa da reputação e do bom-nome do SL Benfica, com integral respeito pelo funcionamento do sistema judicial.
Considerando, por fim, o volume e a complexidade das várias matérias jurídicas e processos judiciais em que, do lado activo ou passivo, o SL Benfica está envolvido, e a solicitação, entretanto recebida, do sócio fundador da CSA – Sociedade de Advogados, João Correia, no sentido de proceder a uma ampliação do apoio jurídico ao SL Benfica, torna-se essencial proceder à criação de equipas especializadas para assessorar o SL Benfica nas diversas matérias em causa.
Assim, após reunião da Direcção do Sport Lisboa e Benfica e do Conselho de Administração da Benfica SAD, foi deliberado, por unanimidade, implementar um modelo de gestão autónomo das matérias antes mencionadas, o qual, entre outras funções e objectivos, contempla a criação imediata de uma equipa independente de patrocínio judicial e aconselhamento jurídico estratégico, que incluirá, desde já, os advogados João Medeiros, Paulo Saragoça da Matta e Rui Patrício.
Mais foi deliberado manter na CSA – Sociedade de Advogados, cuja equipa é composta por João Correia, José Luís Seixas, Pedro Correia e Miguel Lourenço, a condução das matérias jurídicas do Sport Lisboa e Benfica.
O SL Benfica reforça, por último, o seu objectivo e fundamento principal com esta deliberação: permitir a total concentração do Presidente e da gestão executiva na obtenção dos resultados desportivos, económicos e financeiros fixados.

Lisboa, 25 de Setembro de 2018

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Anexo:
Breve nota biográfica sobre a equipa independente constituída no âmbito do modelo de gestão autónomo:
João Medeiros – Licenciado em Direito, Sócio coordenador de contencioso penal da PLMJ, fundador e membro do Fórum Penal.
Paulo Saragoça da Matta – Licenciado e Mestre em Direito, Sócio fundador da SMSB, fundador e membro do Fórum Penal.
Rui Patrício – Licenciado e Mestre em Direito, Sócio coordenador de contencioso penal e vogal do Conselho de Administração da MLGTS, membro do Conselho de Prevenção da Corrupção, fundador e membro do Fórum Penal."