"O croata Luka Modric foi eleito pela UEFA o melhor jogador europeu na temporada de 2017/2018. Quando a decisão do organismo que comanda a indústria continental foi tornada pública – anteontem, no decorrer de uma gala no principado do Mónaco – dedicou-se a imprensa cá do burgo a umas lamurientas considerações (razoável e patrioticamente aceitáveis, vá lá) sobre a injustiça de se premiar o croata em vez do português. Normal e inevitável esta entrega da comunicação social nacional a intermináveis debates de cariz científico sobre o facto ou factos que, alegadamente, terão influenciado o veredicto em favor do croata.
Eis a questão em análise: quem é que levou "mais" o Real Madrid às costas até ao seu 13.º triunfo na Liga dos Campeões, Cristiano Ronaldo ou Luka Modric? Trata-se de uma discussão tão apelativa como outra qualquer que diga respeito ao mundo do futebol, uma altercacção teórica que dá azo a horas de animadas conversas nos estúdios de televisão, nos transportes públicos e às mesas dos cafés. E todos sabemos como fazer triunfar pontos de vista subjectivos em coisas da bola depende mais da amplitude das vozearias do que da quietude das reflexões.
Ganhou Luka Modric. E ganhou bem porque, para lá de ter ou não ter carregado "mais" do que Ronaldo com o Real Madrid às costas na última Champions, carregou descaradamente com a selecção do seu país às costas até à final do Campeonato do Mundo no início deste Verão fazendo por artes mágicas, as suas, com que a campanha da Croácia na Rússia se transformasse numa sucessão de espectáculos aliciantes para quem ama este jogo e com ele vibra. Em linguagem despreocupada de café dir-se-ia que no Mundial das selecções Cristiano Ronaldo se contentou em marcar três golos aos espanhóis, o que muito gozo lhe deve ter dado, e que por aí se ficou enquanto o seu ex-colega de equipa em Madrid não se contentou até ver a equipa nacional croata na final em Moscovo.
Sejam os títulos em disputa colectivos ou individuais, perder ou ganhar "é desporto". Mas, não sendo desporto, aquele pormenor do saber-ganhar e do saber-perder também não deixa de ter o seu peso posterior nas balanças cruéis que atestam os ídolos. A ausência de Cristiano Ronaldo na cerimónia do Mónaco, os lamentos semi-insultuosos do seu agente, do seu staff e dos seus familiares perante a eleição de Modric não definem para a eternidade o super-futebolista português como um modelo insuperável de carácter, de carisma e de classe. Classe, então, é que nem vê-la.
Benditas lágrimas públicas de Eusébio em Wembley, em 1966, tão importantes que foram para a construção da sua lenda como todos os golos que marcou nessa já tão distante e fabulosa campanha de Inglaterra.
O Benfica conseguiu o que queria no jogo da Grécia mas os seus adeptos não lhe perdoarão se amanhã não vencer o Nacional na Madeira. É a ditadura dos resultados. Tudo normal."