quinta-feira, 28 de junho de 2018

Começou hoje...

Início oficial dos trabalhos da equipa principal do Glorioso. Apesar de alguns jogadores já terem feito os habituais exames médicos nos últimos dias!
Com o Mundial nas primeiras páginas, com o Circo dos vizinhos do lado ainda no 'rescaldo'... e sem contratações nos últimos dias, este terá sido nas últimas épocas o 1.º dia de trabalho mais discreto que me recordo... Não é bom nem mau, é só uma constatação de um facto!

O plantel ainda não está definido, já contratámos muitos jogadores, mas acredito que ainda haverá mais algumas 'entradas'... E se algumas contratações estão dependentes de potenciais vendas, outras nem por isso...

Sendo assim, a 'notícia' dos últimos dias, é mesmo a confirmação dos 'putos' na pré-época: Félix, Gedson... pelo menos estes têm possibilidade de ficarem...!!!

Odysseias, Svilar(?), Varela(?), A. Ferreira(?)
Dias, Jardel, Conti, Lema, Lisandro(?), Luisão(?)
Almeida, Ebuehi, Grimaldo(?), Yuri, Alex Pinto(?)
Fejsa, Alfa(?), Samaris(?)
Pizzi, Krovinovic, Zivkovic, Gedson (?), Parks (?), Chiquinho(?), D. Tavares(?)
Salvio(?), Rafa, Cervi, Heri (?), Willock(?), Amaral(?), Ola(?), Carrillo(?)
Castillo, Jonas, Ferreyra, Félix(?), Seferovic(?)

Como se pode ver as dúvidas são muitas. Os Mundialistas virão atrasados (Ebuehi e o Zivko devem chegar antes do estágio em Inglaterra... o Rúben provavelmente depois...), sendo que o Seferovic e o Carrillo quase de certeza serão transferidos. O Salvio está no 'mercado'...  Ao contrário do que alguns pensam, o lateral nigeriano Ebuehi é mesmo para ficar no plantel. Depois temos os jovens, com a maioria a passar para a equipa B, ou então para um empréstimo... Ainda existe a indefinição na baliza, só o Odysseias parece estar 'fixo'...; a questão da renovação (ou não) do Luisão... que poderá ser o 5.º Central no plantel!!!
O Grimaldo esteve praticamente vendido, mas a indefinição no Nápoles com a questão do treinador, abortou o negócio... O Samaris, estará dependente da renovação ou não...
Independentemente das vendas, creio que virá mais um médio centro, e um extremo... até porque o Krovi só em Outubro deverá estar a 100%.
Aparentemente o Ferro e o Kalaica não estiveram presentes, o que quererá dizer muito provavelmente que serão emprestados, pelo menos o Croata...

Além da apresentação oficial dos equipamentos, a grande novidade do dia acabou mesmo por ser a Eusébio Cup, no Estádio do Algarve, contra o Lyon, no dia 1 de Agosto, inserido na ICC, substituindo o jogo com o Sevilha na Suíça, que se irá manter, mas fora da ICC.

Mundial, dia 14: O futebol são 11 de cada lado e no final até a Alemanha pode perder

"Tirando Kroos e o desgastado Thomas Müller, do meio-campo para a frente acabaram as referências com a reforma de Lahm e Schweinsteiger. Ou seja, está na hora de mexer com profundidade no quadro habitual de jogadores. Talvez, até, de debater Löw

Teoricamente, a Alemanha tinha um jogo simples pela frente. Bastava-lhe uma vitória, face à já eliminada Coreia do Sul, para continuar a lutar pela revalidação do título mundial que ostenta. Pelas alterações que mais uma vez introduziu na equipa, talvez até Joachim Löw tenha acreditado nisso. Não me parece que seja homem para ter perdido um segundo a pensar na casualidade, lembrada até ao enjoo por jornalistas do mundo inteiro, dos dois campeões anteriores não terem conseguido passar a fase de grupos na prova imediatamente seguinte – a Itália, na África do Sul’2010 e a Espanha, no Brasil’2014.
Sobretudo depois da forma como Kroos levara a equipa a vergar a Suécia nos últimos segundos do jogo anterior, recuperando do susto (e derrota) inaugural face ao México, parecia mais inevitável que nunca a ‘sentença’ de Gary Lineker: “O futebol são onze contra onze e no final ganha a Alemanha”. 
Pois já não é bem assim.
O Mundial acaba de registar uma das maiores surpresas de sempre, talvez ao nível da final perdida pelo Brasil, a jogar em casa, para o Uruguai, em 1950.
A última vez em que a Alemanha tinha sido derrotada de uma forma tão inesperada fora na ‘banheira’ de Roterdão, corria o verão de 2000 e eu assisti ao vivo. A selecção portuguesa já tinha a qualificação garantida e Humberto Coelho, então treinador, fez descansar os titulares. Figo, Rui Costa, João V. Pinto, Vítor Baía, os líderes da altura, ficaram no banco. Humberto dispôs sobre o terreno um esquema raro no futebol da selecção, com três centrais. Colocou ainda um desconhecido chamado Pedro Espinha na baliza. Na ala direita, fazendo o corredor todo, estava Sérgio Conceição. As pessoas que acompanham o futebol sabem o que aconteceu. Portugal ganhou 3-0 à Alemanha, todos os golos apontados pelo actual treinador do FC Porto.
O que muitos não se lembrarão é que do outro lado estavam jogadores como Matthäus, Ballack, Oliver Kahn, Nowotny, Hässler… Para muitos desses 23 foi o fim da carreira na selecção. Começou aí uma renovação que levaria rapidamente a Alemanha à final perdida do Mundial 2002, com o Brasil (dos três ‘R’s’ – Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo), e daí, evoluindo sempre sem dramas, vendo partidas e chegadas de jogadores em função da idade, caminhou até esta surpreendente eliminação decretada pela equipa ‘número 46’ do ‘ranking’ da FIFA, a Coreia do Sul.
Esta derrota é tão inesperada e pesada que dificilmente a selecção germânica escapará de novo a algumas mudanças, porque é nestas alturas que os fantasmas costumam aparecer à luz do dia.
De repente, há gente que se questiona como Manuel Neuer, que passou grande parte da época lesionado, foi directamente para a baliza, passando Ter Stegan que fez uma boa época em Barcelona. Acima de tudo, como foi possível prescindir de Sané, titular para Guardiola no City, quando alguns jogadores convocados até nem estavam na melhor forma, a começar por Ozil e Khedira, que já não são propriamente os jogadores que um dia o Real Madrid requisitou. Tirando Kroos e o desgastado Thomas Müller, do meio-campo para a frente acabaram as referências com a reforma de Lahm e Schweinsteiger. Ou seja, está na hora de mexer com profundidade no quadro habitual de jogadores. Talvez, até, de debater Löw, apesar do presidente da federação, horas antes do fatídico jogo, ter dito que o treinador iria continuar independentemente do que acontecesse.
O futebol alemão foi à Rússia para tentar empatar com o Brasil no número de títulos mundiais (5), aproveitando a ausência do outro tetra, a Itália, e regressa com uma surpreendente e original eliminação precoce. É duro. E foi relativamente injusto face ao jogo. A Alemanha fez o suficiente para ganhar. Os dois golos nos descontos, quando foi tempo do tudo ou nada, acabam por ser um castigo demasiado duro.
Hoje, como a crónica é curta, só há espaço para apenas mais umas breves notas: grande exibição do guarda-redes coreano Jo Hyeonwoo, intransponível; Augustinsson jogou de forma soberba e marcou o primeiro golo da clara vitória (3-0) da Suécia sobre o México, que correu riscos apesar dos seis pontos que tinha; o Brasil está sólido com Coutinho & Neymar à frente de uma companhia de combate; a Suíça, como se previa, segue em frente, mesmo empatando com a Costa Rica (2-2), uma qualificação merecida; e nas casas de apostas, que ontem devem ter lucrado bastante com a Coreia, a Espanha, porque está no lado ‘mais fácil’ do quadro, já é a equipa cuja vitória paga menos."

Já chega, Engenheiro

"Portugal joga mal, muito mal. Jogou mal contra a Espanha, contra Marrocos e contra o Irão. Não foi superior a nenhum dos adversários com que jogou na fase de grupos do Mundial, a ronda teoricamente mais acessível, e a qualificação para os 'oitavos' é uma verdadeira dádiva tendo em conta o que se viu nos três desafios. O maior culpado é Fernando Santos, claro. O Engenheiro não tem conseguido tirar toda a qualidade do plantel, seja por que motivo for, e tem de ser responsabilizado.
Chega a ser triste perceber que os jogadores em maior destaque na equipa lusitana no conjunto dos três jogos da fase de grupos foram, para além de Cristiano Ronaldo, Rui Patrício e Pepe. Se o campeão da Europa e cabeça de série no sorteio do Mundial tem um guarda-redes e um defesa-central entre os três melhores jogadores da equipa na fase de grupos (onde os adversários são mais acessíveis), algo não está a ser bem feito. Há vários atletas em sub-rendimento, como Bernardo Silva, Gonçalo Guedes ou Bruno Fernandes, e o meio-campo português, apesar de recheado de vários talentos individuais, está a ser o ponto mais fraco da formação lusa. As bolas chegam em más condições ao ataque e, quando a ganhar, Portugal não consegue segurar a posse. As consequências dessa atitude são óbvias: os oponentes ganham força e Portugal fica mais longe do 2-0.
O problema da Selecção Nacional não é o facto de ser influenciada pela forma de Cristiano Ronaldo. Isso é normal e acontece com todas as equipas onde estão os grandes jogadores, os melhores do planeta. O problema é que Portugal leva essa tendência ao extremo. No duelo ibérico isso foi disfarçado por um super CR7, mas viu-se bem nos restantes encontros. Ronaldo até marcou contra Marrocos, mas não foi tão influente como contra Espanha e Portugal, sem um Cristiano inspirado, faz pouco ou nada. Até foi preciso uma enorme defesa de Rui Patrício para que os africanos não conseguissem o merecido empate. Já contra o Irão, Cristiano Ronaldo falhou um penálti e passou ao lado do jogo, o que voltou a fazer com que Portugal criasse muito pouco a nível ofensivo. Valeu a obra de arte de Quaresma.
Dir-me-ão alguns que o mais importante é ganhar e passar, independentemente da qualidade exibicional. Não podia estar mais de acordo até um certo ponto. O mais importante na competição ao mais alto nível só pode ser ganhar, que não se tenha dúvidas, mas Portugal podia estar muito mais perto de cumprir esse objectivo se tirasse o melhor rendimento da equipa. Não faço ideia qual vai ser o resultado contra Uruguai, mas sei que os sul-americanos têm um conjunto muito forte, uma dupla atacante das melhores do torneio e dois centrais de excelência que treinam juntos todos os dias. Por isso, é melhor que Fernando Santos faça alguma coisa.

PS - Se, por acaso ou não, Portugal voltar a levantar o caneco a jogar desta maneira, ficarei muito feliz em admitir que Fernando Santos é um verdadeiro génio. Espero ter esse gosto."

Carlos Queiroz: o mal-amado

"Sinceramente, não entendo tanta animosidade em Portugal, contra Carlos Queiroz. No passado passaram-se coisas lamentáveis na FPF, em que não se pode assacar culpas à sua pessoa. Carlos Queiroz é um estudioso do futebol, a quem se deve muito da nossa evolução e mentalidade ganhadora. Em Portugal, temos muito a mania do esquecimento e da ingratidão. Fernando Santos foi correcto e cavalheiro para com Carlos Queiroz, e, é assim, que todos deveriam ter procedido.
Carlos Queiroz, licenciado em Educação Física e mestre em Metodologia do Treino Desportivo, chegando a ser assistente na Faculdade de Motricidade Humana, é um estudioso do futebol. Quanto esteve à frente das selecções jovens, foi o responsável pelo aparecimento de jogadores como Luís Figo, Rui Costa, Vítor Baía, Paulo Sousa, Abel Xavier, Fernando Couto e João Pinto.
Foi campeão do Mundo Sub-20, por duas vezes, títulos que marcaram o futebol português e a mudança de mentalidade, jogadores que passaram a ser dos melhores do Mundo, com capacidade para singrarem em equipas estrangeiras e atingirem o topo. Figo chegou a ser Bola de Ouro.
Com este excelente desempenho ascendeu a treinador principal da selecção nacional, aproveitando a qualidade e o talento do seu trabalho. Todavia não conseguiu apurar Portugal em 1994 para o Campeonato do Mundo.
Carlos Queiroz é polémico, insultou um dirigente, quis varrer a "porcaria" da Federação e trocou socos com um comentador. Mas, em muitas destas situações anómalas, teve a sua dose de razão. 
Carlos Queiroz é honesto intelectualmente e percebe de futebol. A sua passagem na selecção nacional teve tanto de infeliz como de problemática.
A sua saída da selecção deveu-se à polémica dos testes anti-doping aos jogadores da selecção portuguesa. Mas toda a sua actuação foi em defesa do grupo de trabalho.
O caso, na altura, teve imenso mediatismo, sendo, que o Conselho de Disciplina afastou Carlos Queiroz. Nesse processo, Carlos Queiroz não se ficou e foi defendido por algumas reconhecidas figuras do futebol português e mundial : Alex Ferguson; Luís Figo; Pinto da Costa ; entre outros.
Foi absolvido pelo TAS (Tribunal Arbitral do Desporto) de todas as acusações que lhe foram imputadas, revelando-se estas como uma manobra do Governo da época e da FPF para arranjarem justa causa para o seu despedimento.
Todavia no estrangeiro é alguém amado e reconhecido pelo seu trabalho. Passou pela selecção dos Emirados Árabes Unidos, a apurou para o Mundial, a África do Sul em 2002, o Irão em 2014 e 2018 e chegou a apurar Portugal em 2010. Não é qualquer um, que apura uma selecção quatro vezes para o Mundial por três selecções diferentes!
Foi treinador em vários clubes como o Sporting, Real Madrid e adjunto de Alex Ferguson no Manchester United. Muita gente esquece-se que ajudou à integração de Ronaldo e Nani no Manchester. Carlos Queiroz pode ter um feitio difícil, mas como treinador é dos melhores do mundo, na planificação e metodologia.
Os diferendos com alguns jogadores da selecção nacional em tempos idos deveriam ser sanados. 
Carlos Queiroz é um líder e não gosta que se sobreponham a ele. Com ele à frente da selecção seria impensável algumas atitudes de Ronaldo para com Fernando Santos, às vezes, parece que é Ronaldo que é o treinador.
Paulo Bento também teve problemas com jogadores: Ricardo Carvalho; Bosingwa; entre outros. É normal, quem não é convocado, ou não joga mostrar insatisfação. Gerir personalidades e egos de jogadores não é fácil.
O ambiente na selecção portuguesa é bom, mas vamos ver quando começarmos a perder.
Sempre achei que tudo estava ultrapassado. Carlos Queiroz goste-se ou não contribui para a evolução do futebol português e tornou-o capaz de ombrear com os melhores do Mundo. Portugal é muito melhor ao nível de selecções do que ao nível de clubes, essa virtude deve-se ao trabalho de base desenvolvido por Carlos Queiroz.
Lamento, a forma como Carlos Queiroz foi tratado pela FPF, depois das polémicas que rodearam a selecção nacional no Mundial 2010. Carlos Queiroz é uma pessoa mal-amada e incompreendida, foi prejudicado e traído por dizer as verdades. Em Portugal não se gosta de ouvir dizer as verdades, gosta-se mais de meias-verdades ou silêncios tácticos.
Carlos Queiroz, no final do jogo contra o Irão exagerou ao desejar a expulsão de Ronaldo e mostrou ser mau perdedor ao acusar o árbitro pelo resultado. Todavia tem razão quando se mostra magoado pelos jogadores que não o cumprimentaram, ao contrário, de Fernando Santos, um senhor que sabe estar. A sua irritação tem razão de ser, só foi cumprimentado por Adrien, Bruno Alves, Cédric e Beto. Não foi bonito e não ajuda ao desanuviar este ambiente que dura há muitos anos.
Carlos Queiroz limitou-se a defender os interesses de quem representa e lhe paga – a selecção do Irão. Anteriormente Fernando Santos também foi treinador da Grécia e defendia os interesses dos gregos.
Não podemos confundir profissionalismo com nacionalidade. Nesse caso, a FIFA não deve deixar ser treinador de uma selecção alguém que é estrangeiro.
O Governo, da altura, presidido por Cavaco Silva condecorou Carlos Queiroz com a Ordem do Infante D. Henrique, que distingue personalidades que prestaram serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro.
Está na hora da FPF fazer as pazes com Carlos Queiroz e passarem a ter uma relação normal e cordial, reconhecendo o seu contributo inestimável para a evolução do futebol português."

Não perguntem mais nada ao Carlos

"Ao contrário de muitos jornalistas da minha geração, que sempre o olharam de lado, tenho genuína admiração e respeito por Carlos Queiroz. Não tenho dúvidas sobre as suas qualidades, a sua inteligência, o quão à frente esteve do seu tempo e o quanto o futebol português lhe deve. Mais: em distintas ocasiões, acho que Portugal – e Portugal são pessoas em concreto, na Federação e no Estado – o destratou e lhe faltou ao respeito, mesmo que ele tenha procurado o confronto por ser essa a sua natureza.
Queiroz, um emigrante de muitas vidas, foi sempre mais feliz e reconhecido fora de portas e às vezes em estranhas latitudes do que na sua terra. Falámos disso – eu e ele –, voando noite dentro de Joanesburgo para o Dubai. O facto de ser um cidadão do Mundo, nascido em África e habituado a superar obstáculos, reforçou essa capacidade de adaptação. E de se levantar depois de cair ou de o atirarem ao chão.
Ora, dito isto, todo o seu comportamento no pós-Portugal-Irão foi miserável. Escrevo sobre o pós-jogo intencionalmente. Antes da partida, Queiroz fez tudo para desestabilizar o opositor, usando o seu acesso privilegiado aos media portugueses. Fez o que devia. Falou, fingindo não falar, do problema com Ronaldo em 2010, colocou pressão máxima e chegando a lembrar que tinham ficado fora dos convocados de Fernando Santos "jogadores do Barcelona, do Mónaco ou do Inter".
O opositor era Portugal, campeão da Europa, e podendo não gostar dos mind games e de uma ou outra referência, é preciso entendê-las à luz do que ia acontecer. O Irão podia fazer história. Durante o jogo foi o que se viu. Um comportamento de pressão permanente e vitimização sem sentido mas, mesmo isso – que em Queiroz jamais seria inocente – ainda se poderia enquadrar no calor do embate. 
Depois, não. E depois ninguém lhe pedia patriotismo. Apenas bom senso e sentido de justiça. A sua voz foi uma voz isolada, não em Portugal. Em geral. Ora, o que é ridículo é que Queiroz que definiu e executou uma estratégia cega de confronto do início ao fim – não tendo dúvidas, por exemplo, no facto de Portugal ter sido beneficiado em todos os lances –, se queixou amargamente que a maioria dos seus compatriotas não lhe dirigiram a palavra, e muito menos o agradecimento devido ao facto de ele ser um alguém tão especial. A sério? Naquele momento? Naquelas circunstâncias?
O tema para Portugal está fechado. E, em nome do que de melhor foi feito, gostaria que para Carlos Queiroz também, mas não sei. Prefiro, na verdade, guardar o bom espírito do Irão e a grande entrevista, sobre futebol, que deu ao jornal espanhol ‘El País’ poucos dias antes do Mundial."

Como é que se diz eliminação em alemão?

"Este campeonato tem demonstrado uma particular habilidade em arruinar reputações proféticas, a subtil frustração das expetativas criadas pelos jogos anteriores.

Um leitor atento lembrou-me, com laconismo caridoso, as palavras que escrevi após a pesada derrota da Argentina frente à Croácia, em que profetizava, com algumas reservas, a eliminação da albiceleste e o final da carreira internacional de Messi. Estive a cinco minutos e a um remate bissexto de Marcos Rojo de ganhar as minhas credenciais de Zandinga, mas aceito com humildade o reparo. No entanto, direi em minha defesa que não estava na posse de toda a informação relevante. Após o jogo com a Nigéria, Lionel Messi, logo ele e nenhum outro, confessou que sabia que Deus estava com a Argentina. Ora, se eu estivesse a par das preferências divinas teria sido mais prudente no meu prognóstico. Apostar contra a Argentina, esta Argentina, é uma coisa. Apostar contra o Todo-Poderoso, o Senhor dos Exércitos, é outra, e nem eu, agnóstico militante, me atreveria a tanto. 
Acontece que este campeonato, mesmo se descontarmos as intervenções divinas e as do VAR, tem demonstrado uma particular habilidade em arruinar reputações proféticas. Não se trata de escândalos, de resultados chocantes, mas da subtil frustração das expectativas criadas pelos jogos anteriores. Depois da vitória agónica contra a Suécia, os adeptos alemães foram varridos por uma daquelas ondas latinas de optimismo e previram o esmagamento da Coreia do Sul por não menos de 3-0, o que, dado o historial da sua selecção, até não era das previsões mais descabidas. E, no entanto, veja-se o que aconteceu. Mas sobre o cataclismo germânico já me debruçarei.
Numa escala de imprevisibilidade de zero a Bruno de Carvalho este Mundial é um 9,5. Só que às vezes também é um 2. Por isso é que é imprevisível. O caso do grupo F é paradigmático. O México chegou à última jornada com seis pontos, uma vitória histórica (e imprevisível) contra a Alemanha, outra razoavelmente confortável (e previsível) contra a Coreia do Sul, um futebol vertiginoso e reptos para sonhar coisas chingonas, que deve ser a versão mexicana das coisas bonitas de que há séculos falava o professor Artur Jorge. Por sua vez, a Suécia ultrapassou com dificuldade a Coreia, soçobrou no último suspiro perante uma Alemanha que lhe foi superior e tem apresentado o género de futebol com o qual todas as mães desejam casar as filhas, certinho, trabalhador e educado q.b., um futebol de funcionários públicos e sociais-democratas a que falta, para ser amável ou até mesmo para se reparar na sua existência, o exotismo de um Henrik Larsson ou o carisma de Zlatan Ibrahimovic.
Não me perguntaram nada, e eu também não disse, mas antes do jogo seria capaz de jurar que a Suécia caminhava para uma saída discreta e silenciosa, daquelas que anos mais tarde nos levariam a perguntar a um amigo “olha lá, a Suécia esteve no Mundial da Rússia ou não?”Ao que ele responderia “Não, pá, isso foi a Noruega.” O México entrou chingón, em modo Acapulco-daiquirí, e quando ajeitou o sombrero estava a levar aquilo a que na gíria se chama três secos. Pavor no campo e incredulidade nas bancadas: seria mesmo possível voltar a casa depois de um início tão auspicioso? Não haveria nenhuma lei internacional que o impedisse? Pressentindo que o destino deles já não estava nas suas mãos, os mexicanos deixaram os corpos em campo, devidamente equipados, uniram-se aos compatriotas na bancada e transferiram-se espiritualmente para Kazan, onde as boas novas dependiam agora da improvável ineficácia dos alemães ou de um inesperado milagre coreano.
E é em Kazan, caros leitores, que o mito da eficácia germânica repousa agora em paz num mausoléu e onde os crentes sul-coreanos passarão a rumar em peregrinação. Pela primeira vez, a Coreia do Sul venceu a Alemanha. Pela primeira vez, a Mannschaft foi eliminada na fase de grupos de um campeonato do mundo. Em Berlim, uma adepta resumiu o estado de espírito colectivo, num daqueles formulações que fizeram a fama da filosofia alemã: “foi uma merda.” Nas bancadas da Kazan Arena assistimos a um fenómeno cultural e humano raramente visto e, lá está, completamente imprevisível: alemães a chorar. Ainda assim, eram poucos. A maioria, desabituada destes vexames, dava mostras de não saber muito bem como reagir. Estavam ali sentados e perplexos, mas não tão desesperados como Manuel Neuer que, na menos prussiana das atitudes, resolveu jogar os derradeiros minutos como guarda-redes avançado, decisão que, noutros tempos, lhe teria valido uma ida a tribunal marcial ou um contrato vitalício com o Hansa Rostock.
A postura de alguns adeptos sugeria que esperavam que o jogo fosse reatado a qualquer momento, que uma decisão de secretaria viesse anular os dois golos dos coreanos e decretasse a passagem burocrática da Alemanha directamente para as meias-finais. É possível que optem por ficar ali a viver até que a tragédia seja assimilada pelo espírito ou até que chegue o inverno. Entretanto, o resto do país já discute, em termos robespierreanos, que cabeças devem rolar. A de Joachim Löw será certamente uma das primeiras, e não pelo seu modelar penteado. Os 7-1 de Belo Horizonte e a taça conquistada no Brasil são agora uma memória longínqua. O futebol alemã está oficialmente em crise, graças a Deus (acreditando em Messi).
À noite, como se a implosão da Alemanha fosse suficiente para agitar as águas, a vitória do Brasil voltou a pôr o universo nos eixos. Philippe Coutinho continuou a exibir classe e Neymar Jr. continuou a exibir-se a si mesmo. Depois de um festival de imprevisibilidade, o regresso à terra foi tão suave como uma queda de Neymar."

A década de oitenta

"O desporto altamente competitivo precisa sempre de um clima heróico, para perpetuar-se. Desde muito cedo o entendi quando, na década de 40, percorria as Salésias de uma ponta à outra, na quotidiana banalidade da minha vida de garoto pobre do bairro pobre da Ajuda, em Lisboa.
Por vezes o “Manel do campo”, o segurança do campo das Salésias, um tipo de personagem policial, olhos astuciosos e vivos, que não permitia à rapaziada ultrapassar determinados limites, ainda chegou a questionar-me: “Não tens que fazer os trabalhos da escola? O que andas, aqui, a fazer?”. Respondia-lhe familiarmente, como se falasse a um velho amigo: “Gosto de ver o Belenenses a jogar à bola”. E assim fiquei o resto da vida: a gostar de ver o Belenenses a jogar à bola! O “Manel do campo” era de uma simplicidade encantadora e bonacheirona e, por fim, com o andar dos anos, já nem me questionava, quando me via. Piscava-me um olho, sorridente e nascia em mim a certeza que, uma vez mais, podia ver o Belenenses a jogar à bola. Na minha velhice, polvilhada de recordações, não esqueço as horas e horas que passei nas Salésias e aquela paz que subia das entranhas da terra e do verde da relva, onde saltitavam bolas que os pés dos meus ídolos acariciavam. E escrevo “acariciavam” porque foi preciso chegar à velhice para conceber um jogo de futebol, na convulsão e na incerteza do intervalo entre duas batalhas. Naquele tempo, não! Eu via um jogo de futebol, com um fulgor de entusiasmo nos olhos e uma tranquilidade tão absoluta que só, no Céu, se lá chegar, a voltarei a sentir! Nos treinos da década de 40, a ginástica antecedia sempre o jogo-treino – uma ginástica que poderia fazer suas as palavras de Kant (1724-1804): “Ginástica é a educação daquilo que, no Homem, é Natureza”…
Até que, em Outubro de 1968, a convite do Dr. Armando Rocha, director-geral dos Desportos (e depois um Amigo que não deixarei de lembrar até ao fim dos meus dias) “disse adeus” ao Arsenal do Alfeite, onde trabalhara 13 anos e ingressei no Centro de Documentação e Informação do Fundo de Fomento do Desporto. situado no INEF (Instituto Nacional de Educação Física). E, aí, em contacto quase diário com o Prof. Nelson Mendes e alguns alunos que intelectualmente o acompanhavam e, portanto, com o ambiente de preocupada atenção pelos problemas pedagógicos e científicos daquela Escola – senti-me obrigado a revisitar a fenomenologia que estudara na Faculdade de Letras, designadamente o Maurice Merleau-Ponty que o Nelson Mendes e o aluno Vítor da Fonseca sentiam uma necessidade quase instintiva de citar, nas nossas conversas. Por outro lado, pela leitura de Bachelard e Althusser e Adérito Sedas Nunes e Armando Castro, eu começava, por essa altura, a estudar epistemologia e a lidar com os conceitos que seriam depois fulcrais, na minha tese de doutoramento, como o corte epistemológico, o obstáculo epistemológico e esta ideia que nunca mais esqueci: “não temos o direito de separar os factores intelectuais do seu enraizamento concreto. As condições históricas reais que possibilitaram o nascimento da ciência moderna temos de procura-las no nascimento do capitalismo; no progresso do sistema bancário; na aceleração, cada vez mais rápida, da técnica; na promoção social dos engenheiros e dos artistas; nos Descobrimentos Marítimos e na Contra-Reforma”. Está aqui, se bem penso, o chão, o terreno fértil que permitiu o surgimento da ciência moderna. Ocorre-me, neste momento, Galileu, no início de um dos seus Discorsi: “Senhores Venezianos, que grande campo de reflexão parece abrir-se aos espíritos especulativos que frequentarem o vosso famoso arsenal e, de modo muito particular, os vossos inumeráveis trabalhos mecânicos”. Não se esconde, ou rejeita, a fundamentação teórica da ciência, mas não se esquece também que, sem prática, a teoria para pouco serve…
Em 1980, já com doze anos de estudo e de convívio com inúmeros professores e alunos do INEF e do ISEF e a informação que podia colher, nos meus diálogos soltos (mas atentos) com os treinadores que trabalhavam no Belenenses, e ainda os meus contactos periódicos com o talento multiforme, curioso de José Maria Pedroto e as minhas leituras, sem conformismos ou conservadorismos, de Bachelard, Althusser, Foucault, Popper, Kuhn e Feyerabend – em 1980, já eu concluíra que a “pedagogia da certeza” que o cartesianismo e o positivismo instalaram no conhecimento científico deveria ceder o seu lugar relevante à “pedagogia da incerteza”, pois que, nas ciências, não há “Verdade”, há “verdades”; que era necessário formar e desenvolver um corte epistemológico na Educação Física, donde surgisse uma nova ciência hermenêutico-humana, a Ciência da Motricidade Humana (CMH), que poderá integrar o jogo desportivo, o desporto, a dança, a ergonomia, a reabilitação e mesmo a gestão do desporto; que a motricidade é o movimento intencional de um sujeito, que forceja por transcender e transcender-se; que, porque o conteúdo de uma ciência humana é o ser humano, o treino desportivo deverá repensar-se, dando especial relevo às sínteses Natureza-Cultura (onde incluo, também as artes e as humanidades), Razão-Fé, Ciência-Tecnologia e Teoria-Prática; que a história das ciências é contínua e descontínua e, nas fases descontínuas, crescem, diante do Passado, inevitáveis rupturas. Tudo isto me veio à lembrança, durante o Portugal-Irão do Mundial que está a decorrer na Rússia, ao ver o Carlos Queirós (um treinador que conta, no seu currículo, com triunfos inesquecíveis, chegando mesmo, duas vezes, a campeão do mundo de juniores) - ao ver o Carlos Queirós, como seleccionador e treinador da equipa de futebol representativa da República Islâmica do Irão.
A propósito do Portugal-Irão, a equipa lusitana foi (é) tecnicamente superior. Mas a equipa iraniana, abrasada do supremo culto nacional e animada de uma crença religiosa que lhe aumentava as qualidades físicas e exacerbava a vontade de vitória, jogou, (quase) de igual para igual com os portugueses e não escandaliza, de facto, o resultado final: um empate. O Carlos Queirós não soube perder: na ironia, levemente desdenhosa, como classificou o trabalho do árbitro e noutras atitudes que bem se dispensavam, durante e após o jogo. No entanto, os abraços que, no fim do jogo, trocou com o engenheiro Fernando Santos constitui um dos belos momentos que eu recordo daquele encontro internacional. Foi o abraço entre dois desportistas, quero eu dizer: entre duas pessoas que devem primar pela delicadeza e simpatia, que decorrem da compreensão e da generosidade do ideal desportivo. O Desporto é isto e não os espectáculos de ódio e de violência que, sofreando o vómito, vezes demais tenho contemplado na alta competição desportiva nacional. Impossível qualificar de Desporto ou reconhecer o ideal desportivo, nos anti-benfiquismos, ou anti-sportinguismos, ou anti-portismos, todos eles primários, pela poluição auditiva que nos fazem sofrer. E pela ruidosa chinfrineira da mais lamentável despolitização, coonestada aliás por alguns dirigentes desportivos, sempre em arroubos de uma excitabilidade espetacular! Topa-se, aqui e além, no nosso clubismo, principalmente futebolístico, o fulgor malévolo de verdadeiros patetas, que se julgam nas alturas dignas dos visionários, ou dos profetas. O Futebol Clube do Porto, o Sport Lisboa e Benfica, o Sporting Clube de Portugal foram e deverão ser, hoje e sempre, verdadeiros templos onde se cultiva o que de mais humano e humanizante a vida tem. Como eu o comecei a aprender, na década de oitenta…"

Sempre o melhor de sempre – parte II

"O ano de 1994 viu um Mundial que, ex-aequo com todos os outros, foi o melhor Mundial de sempre. O campeonato realizou-se num país maioritariamente avesso ao futebol (versão soccer) e às extravagâncias das espiritualidades orientalizantes. É, por isto, curioso ver o quanto os Estados Unidos se contrariaram: no Verão de 94 albergaram, não apenas uma espécie de Siddhartha, mas um Siddhartha de chuteiras. Falo de Roberto Baggio, indiscutivelmente uma das figuras do Mundial norte-americano, senão mesmo “a” figura.

A minha comparação entre Baggio (jogador budista italiano) e Siddhartha (personagem budista de Herman Hesse), não se detém apenas no budismo genérico. Em ambas as figuras há uma demanda solitária e tortuosa, e mesmo o futebolista parece rumar a um esclarecimento que só os ascetas alcançam. Baggio era tão despojado de bens materiais que até conseguiu não levar uma taça para o seu país. A frase anterior pretende ser menos uma piada cruel do que uma constatação trágica – o avançado italiano estava fadado a contrariar os intentos ganhadores e materialistas dos seus colegas. Baggio afigura-se como uma espécie de entidade espiritual errática em contraste com o pragmatismo carnal da “Squadra Azzurra” e do seu seleccionador Arrigo Sacchi.
Olho para esta história como se dum trajecto pessoal rumo ao esclarecimento se tratasse. Nessa visão, o destino de Roberto Baggio faz mais sentido: era o jogador que menos merecia falhar aquele penálti decisivo, mas talvez fosse o único jogador que merecesse ter o poder de decidir um Mundial, mesmo mediante uma falha. Saiu-lhe o pontapé para a atmosfera, chuto para um estado superior, remate para o Nirvana.
Não percebo assim tanto de budismo, nem tampouco sei as regras das reincarnações. Mas se já avancei alguns budismos daquele campeonato de 1994, vou reforçá-lo nalgumas reincarnações que por lá se notaram. Por exemplo: Maradona (que levou mais escândalo do que futebol ao Mundial dos Estados Unidos) reincarnou em Saeed Al-Owairan, médio ofensivo da Arábia Saudita que marcou um dos melhores golos do torneio: o tento apontado contra a Bélgica parecia obra do 10 argentino. 
Outra reincarnação de relevo situa-se no alfa e no ómega do Mundial de 94. O evento começou com um falhanço de penálti embaraçoso e terminou exactamente da mesma maneira. Então vejamos: enquanto cantava na cerimónia de abertura, Diana Ross rematou à baliza num penálti encenado; falhou-o de forma clamorosa e humilhante. Tendo em conta que o Campeonato do Mundo encerrou do mesmo modo – com a falha clamorosa e humilhante dum penálti – é justo dizer que a Diana Ross reencarnou no corpo do Roberto Baggio. O italiano entregou a vitória ao Brasil com um erro tão inesperado que mais parecia um cantor famoso a engasgar-se na letra do tema de maior êxito.
O exemplo final não é uma reencarnação, mas antes uma encarnação literal; vai ligar o Mundial de 94 ao tempo presente. Se tivéssemos de escolher o momento visualmente mais marcante de toda a competição, seria quase indiscutível seleccionar-se a celebração do golo de Bebeto frente à Holanda. O craque brasileiro correu para a linha lateral e, sendo logo acompanhado e mimetizado pelos colegas Romário e Mazinho, fez o gesto contínuo de quem embala um bebé imaginário nos braços. Esta coreografia deveu-se ao nascimento, poucos dias antes, do filho mais novo de Bebeto (a partir daqui, o festejo tornou-se no modelo imitado por qualquer goleador recém-pai). O bebé simbólico que o avançado brasileiro levara para aquela comemoração nos Estados Unidos, estava encarnado no Brasil, na forma de criança real; um bebé chamado Matheus Oliveira. 24 anos depois, mais do que “o filho do Bebeto”, Matheus é conhecido por ser um dos poucos jogadores que não rescindiu com o Sporting Clube de Portugal durante a Primavera Brunista de 2018.
É quase indigno falar do Mundial dos Estados Unidos sem referir a Suécia, a Bulgária, a Nigéria ou a Roménia. Vou, portanto, ser quase indigno. Estou a entrar num ritmo de contenção de palavras para, na próxima semana, não ter de falar muito do Mundial de 1998 – que embora tenha sido o melhor de sempre, foi aquele cuja não-qualificação de Portugal mais me custou.
(continua)"

A falta do Ederzito

"Não, os Mundiais já não são o que eram. Já não há grandes equipas, nem futebol de ataque, nem os resultados desnivelados dos tempos pré-globais. Só vemos fogachos individuais, tácticas de contenção e penáltis televisivos.

O calculismo, já muito presente nas últimas edições do Mundial, veio para ficar. E não é só o de Fernando Santos, é de todos.
Vão longe os tempos em que as melhores equipas do mundo eram simplesmente prodigiosas. Jogavam à bola como se estivessem a pintar um quadro, com a paixão e a mestria que encantam os espectadores. Foram assim as grandes selecções brasileiras, sobretudo a do México 1970, talvez a melhor equipa de futebol de sempre, recheada de craques como Pelé, Jairzinho, Tostão ou Rivelino, num tempo em que os astros não se comportavam como vedetas.
Depois vimos uma grande equipa italiana no Mundial de 1982, quando Rossi e os seus pares, após um apuramento pífio, destroçaram todos os adversários, incluindo o superfavorito Brasil, com um futebol pleno de harmonia, arte e eficácia. O futebol que, confessou-mo ele um dia, mais encantava o nosso Eusébio. E vimos excelentes selecções da Argentina (em 1978 e 1986), da França (em 1998), da Espanha (em 2010), para os apreciadores do estilo impressionista tiki-taka, e da sempre temível Alemanha, com o seu futebol possante e geométrico. Sem nunca terem logrado o título de campeões mundiais, outras se distinguiram - como a Holanda, a União Soviética ou Portugal (sim, esse Portugal que, já no actual milénio, chegou a praticar o futebol mais vistoso do planeta).
A última edição do Mundial mostrou-nos uma Alemanha a anos-luz de todos os rivais. A sua flagrante superioridade fazia antever um período de domínio na cena futebolística internacional, mas não foi o que se verificou. Batida no último Europeu, vê-se agora em sérios apuros para garantir o apuramento na fase de grupos. Mas se passar, perante a pobreza geral, será finalista.
Muitos acreditam que, a partir dos oitavos, o nível dos jogos melhorará. Nada indica que tal venha a acontecer. Em circunstâncias normais, nenhuma das selecções presentes na Rússia venceria uma equipa do top ten europeu de clubes. Habituemo-nos a esta realidade, que progride à medida que os organismos internacionais do futebol vão dando largas à sua avidez pelo dinheiro e pelo protagonismo. Nos próximos mundiais, no Qatar e na América do Norte, veremos aumentar o desinteresse dos adeptos. Que importa, desde que a FIFA aumente as receitas?
No meio deste desconsolo, os nossos rapazes lá fizeram os mínimos - qualificarem-se para os jogos a eliminar. Não se esperaria menos da que dantes se chamava "Selecção de Todos Nós" e que agora só é acarinhada por alguns. Mas não se espere muito mais. Não porque o seu estilo sonolento e calculista se distinga pela negativa dos demais, mas porque a equipa é curta e as opções limitadas. Ao contrário do que tenho lido, esta formação não é melhor do que a que se sagrou campeã europeia, pela simples razão de os jogadores que fazem a diferença serem os mesmos, só que dois anos mais velhos. E falta o Ederzito.
(...)"

As grandes duplas do Uruguai

"É muito normal ouvirmos falar das hipóteses de sucesso das equipas em Campeonatos do Mundo tendo como base de análise o currículo ou uma ideia mais ou menos pré-concebida e não tanto por aquilo que realmente valem.
A Inglaterra, campeã mundial no longínquo ano de 1966, é algumas vezes apontada como candidata ainda por causa de uma memória difusa, mesmo que não tenha o cimento de uma regularidade recente que sustente essa ideia. A Croácia, terceira classificada em 1998, fica quase sempre fora das apostas mais seguras, apesar de ter um conjunto de jogadores que permite sonhar com nova entrada no pódio. Estes até são dois exemplos de selecções que têm tido, neste Mundial russo, um percurso que permite antecipar uma trajectória de qualidade (apesar da diferença em relação à valia dos adversários que encontraram até agora), mas que surgem com um perfil inicial diferente, pelo menos para muitos adeptos.
O próximo adversário de Portugal no mundial russo é uma espécie de eterno romântico candidato, ancorado em títulos conseguidos na primeira metade do século passado. O Uruguai foi duas vezes campeão do mundo e ainda hoje é olhado quase como um membro ancião de uma família real, afastado dos grandes palcos, mas orgulhosamente empoleirado na parte de trás da galeria.
Só que a "Celeste Olímpica" que Portugal vai defrontar é uma equipa que exibe uma tradição recente de bons resultados em mundiais e qualidade na forma como coloca em campo as esperanças de regresso à glória dos tempos de Schiaffino, Obdulio Varela ou Alcides Ghiggia, os heróis do célebre "Maracanazo" de 1950.
Ao olhar para este Uruguai, não podemos apenas valorizar o somatório de jogadores talentosos e fiáveis que compõem o "onze" de Óscar Tabárez, o seleccionador que comanda esta formação desde 2006 e que nunca deixou a equipa fora da fase a eliminar de um campeonato do mundo. Na mesma linha, por muito que se valorizem os dois "monstros" que enchem o ataque uruguaio (Edinson Cavani e Luis Suárez), vale a pena começar por destacar a eficácia da defesa.
No coração do sector mais recuado estão dois nomes: Godín e Giménez, uma dupla de centrais do Atlético de Madrid que transporta para a equipa uruguaia um casamento de muita conveniência para a baliza de Muslera. Lá atrás, perto das redes, a fiabilidade do guardião do Galatasaray ajudou a formação de Tabárez a manter a contabilidade negativa a zero. Os uruguaios são caso único neste torneio, mas agora vão ter pela frente o melhor finalizador do planeta. E não, não é nada a que Godín e Giménez não estejam habituados, nos muito intensos dérbis de Madrid. No fundo, o Uruguai tem (no mínimo) duas grandes duplas.
A outra, mais célebre, está no ataque. A dupla Cavani/Suárez soma muitos golos (96 em conjunto, ao serviço da "Celeste", 15 só na fase de apuramento) e tem nas costas uma equipa que tenta muitas vezes empurrar o adversário para a parede defensiva, um cenário que Portugal poderá ter de enfrentar em algumas parcelas do jogo de sábado. Até agora, o Uruguai marcou cinco golos, todos em lances de bola parada. Em Sochi, Portugal precisa de garantir que os livres não se vão tornar numa espécie de ataque aéreo à baliza de Rui Patrício.

P.S. - Depois de uma passagem demasiado sofrida aos oitavos de final (à semelhança do que aconteceu com Espanha e Argentina, por exemplo), a opinião publicada nas redes sociais tratou de encontrar em William Carvalho o escape para os nervos que o jogo de Saransk provocou na nação futebolística nacional. Lentidão, apatia, falta de velocidade e de intensidade foi o mínimo que se escreveu sobre o médio português, atirado de forma injusta e exagerada para a fogueira eterna da internet.
Uma visão mais atenta do jogo ajudaria a perceber o papel fundamental de William Carvalho no processo de construção da equipa portuguesa, aportando critério, qualidade de passe e muito mais segurança na saída de bola. Só que a emoção do jogo leva a que surjam medições em velocidade de ponta daquilo que deveria ser avaliado através de critérios futebolísticos, aqueles que verdadeiramente contam."

O nosso VAR

"Se o VAR se aplicasse ao modo austero como a selecção nacional tem jogado neste futebol, diríamos que Portugal ainda não saiu da tutela da troika. Portugal não investe, poupa.

Imaginemos, por momentos, que havia um VAR na política nacional. Que, após uma decisão qualquer, intervinha, e deixava ministros, deputados e cidadãos em suspenso. Sobre se existia um fora-de-jogo num concurso público, um penálti duvidoso numa nomeação, uma simulação na distribuição de fundos públicos. O VAR, no futebol, prometeu o fim dos fingimentos e a nobre vitória da verdade sobre a mentira. Repara-se, neste Mundial de futebol, que ele democratiza o erro. Tentando acabar com os erros, erra tanto como os mortais árbitros. E, além disso, destrói a emoção e a dúvida, a sorte e o azar, que são a essência do futebol. E que, de alguma maneira, também o são da política. Se o VAR se aplicasse ao modo austero como a selecção nacional tem jogado neste futebol, diríamos que Portugal ainda não saiu da tutela da troika. Portugal não investe, poupa. E, muitas vezes, esquece-se de jogar futebol. Não arrisca, não tem fibra, defende em vez de ousar, atacar. Fernando Santos, ao colocar Ricardo Quaresma em campo, tinha uma ideia: que ele cruzasse para que a cabeça de Ronaldo marcasse golo. Não aconteceu assim.
No sábado defrontamos um tenaz Uruguai, também ele sôfrego em busca da bola, e com melhores talentos do que o Irão ou Marrocos. Se contra estes Portugal viu jogar, teme-se o que aí vem. Sofrimento e fado, como é habitual. E crença em Ronaldo. Só que Portugal não sabe jogar ao ataque, dentro da engenharia conservadora de Fernando Santos: Bernardo Silva, por exemplo, está mais preocupado em defender do que em criar rupturas ofensivas. Não há desmarcações, nem fibra. Portugal gere o jogo de longe, sem pôr o pé, à espera que Ronaldo, num dia sim, resolva. Mas esta foi sempre a táctica do seleccionador. Uma cultura táctica que não é diferente daquela que encontramos na política portuguesa: o tempo, ou a sorte, há-de resolver os problemas mais sérios. O caso do Infarmed é exemplar: decisões tomadas a medo são potenciadoras de desastres futuros."

Não há Sibéria no Mundial vermelho

"Os russos são, no geral, uma gente tão desmesurada como a sua terra

Penza – O Mundial da Rússia dispensou a Sibéria. Não sei se, em tempos que lá vão, poderia ser uma afronta à unidade sagrada do povo soviético. Eu tenho pena que não haja Sibéria neste universo diário de futebol de todos os cantos de uma Terra sem eles, apenas ligeiramente achatada nos polos. Nada para lá de Ekaterinburgo, a cidade dos Velhos Crentes, os dissidentes ortodoxos.
Para compensar, este Mundial é vermelho. Faz sentido. A Rússia é vermelha, nem poderia ser de outra forma. Portugal é vermelho e a Bélgica também, com rabiscos amarelos. E o Egipto e a Espanha e Marrocos são vermelhos; a Dinamarca é vermelha, e a Croácia vermelha aos quadradinhos; o Peru ou é vermelho ou tem lista vermelha. A Sérvia e o Panamá são vermelhos; a Suíça alterna vermelho com o branco. A Coreia do Sul e a Tunísia vestem de vermelho, a Polónia pode fazê-lo, a Inglaterra tem-no feito com frequência. A Costa Rica é inevitavelmente vermelha. 
Krasni, a palavra em russo, tinha o significado de belo, altivo, bom, honrado. O vermelho é a cor da alma russa, por mais escura que seja a gruta em que vive encarcerada, segundo dizia Dostoievski que, esse sim, esteve enterrado vivo na Sibéria, em Omsk, nas margens do rio Irtysh.
Krasivi quer dizer bonito e tem a mesma etimologia. Como prekrasni: excelente.
A língua russa é extensa como a Sibéria e não apenas pelas suas seis declinações, que passam a ser sete com a não muito frequente utilização do vocativo.
“À noite, o vermelho canta nas roupas, nas maçãs do rosto, nos lábios das mulheres de má vida”, escreveu Aleksandr Blok, o poeta que começou por apoiar os bolcheviques e que morreu dois dias antes de receber a autorização para deixar o país.
Para os bolcheviques, o exército era vermelho. O sangue do povo, camponeses e operários, unidos ou não. Blok desiludiu-se com a revolução vermelha de 1917. Deixou de ser poeta: “Já não ouço mais sons. Não reparas que deixou de haver sons?”
Nem Gorki conseguiu dar-lhe resposta. 
Ah! Como acontece com todos os poetas, primeiro matam-nos e depois veneram-nos.
Antes de deixar de ouvir os sons, Aleksandr Blok vivia encantado com o vermelho: “Os dias estão cada vez mais repletos de gritos, de bandeiras vermelhas ondulando ao vento; à tardinha, a cidade, por um instante meio adormecida, cobre-se de vermelho pelo crepúsculo.”
Os russos são, no geral, uma gente tão desmesurada como a sua terra. Como a Sibéria, por exemplo, só por si o maior país do mundo.
Jack Reed, o jornalista que escreveu “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, tornou--se vermelho. Warren Beatty dedicou-lhe um filme. Infalivelmente, chamou-se “Reds”.
Reed teve direito a ficar sepultado na Praça Vermelha, privilégio de que só mais dois americanos gozaram: os fundadores do Partido Comunista Americano.
Praça Vermelha: Krasnaya Ploshad. O lugar onde o belo e o vermelho se encontram em Moscovo. Um vermelho anterior ao comunismo, do tempo de São Basílio, quando o vermelho era a cor daquela grandeza que se tornava perigosa se não fosse acompanhada por uma genialidade especial.
“Estrelas, estrelas, de onde vem esta minha angústia?”, perguntava Blok, o poeta do vermelho que ficou sem sons. Poeta finalmente preso. 
Deixaram-no morrer fechado na ditadura do vermelho.
“Estrelas, estrelas, contem-me a razão do meu sofrimento!”
As estrelas contaram-lhe tudo. Estrelas vermelhas."

À distância de um silêncio

"Viajar tem sido, para mim, ao longo de tantos anos, uma actividade frequentemente solitária

Penza – Viajo à noite. Uma lua amarelenta dependurada nos céus da Mordóvia enquanto o carro vai devorando quilómetros de uma estrada esburacada envolta num universo sem estrelas. Vamos calados e cansados. Do trabalho e dos caminhos esconsos. De vez em quando uma raposa serpenteando na berma, de outra talvez apenas um gato pelo reflexo dos olhos.
Fico absorto em pensamentos recentes misturados com fluxos de memórias. Há ainda toda a movimentação do jogo de Saransk e aquela inquietação do que foi escrito e ficou por escrever por via da pressão do fecho do jornal. Gosto de trabalhar sob essa pressão, sempre gostei, mas há coisas que me fugiram por entre os dedos e pelo meio das teclas do qwert. Por isso calo-me. Encaixá-las-ei em crónicas que já me surgem quase completas, de supetão.
Viajar tem sido, para mim, ao longo de tantos anos, uma actividade frequentemente solitária. Gosto de estar sozinho, gosto de percorrer o mundo de mão dada comigo próprio. Foi sozinho que tropecei em dezenas de estações de comboio na Índia, de Amritsar a Tiravannatapuran, de Bhuj e Rajkot a Kishanganjo; foi sozinho que atravessei a Indonésia e cheguei a Timor; foi sozinho que aprendi as estradas poeirentas de Bobo Diolasso a Ougadougou, de Saly Portugal a Ouidha, de Timbuktu a Lomé.
O meu querido amigo, irmão, José Manuel Mesquita é, certamente, a pessoa que mais viajou a meu lado. Como companheiros muito antigos, aprendemos desde miúdos, a importância do espaço de cada um. De vez em quando dizíamos qualquer coisa para nos sentirmos à distância curta de uma palavra; ou então não dizíamos nada para nos sentirmos à distância ainda mais curta de um silêncio."

Os Três Toques de Messi

"No meu parágrafo preferido do melhor livro de sempre sobre desporto (A Sense of Where You Are), John McPhee descreve uma sessão de treino de Bill Bradley, futuro senador americano, mas na altura ainda um jovem prodígio da equipa de basquetebol da Universidade de Princeton. O recinto da Universidade fechara para obras, e a sessão realiza-se num liceu vizinho. Bradley começa o treino da maneira habitual: uma série de lançamentos em suspensão, a quatro metros do cesto. Nas seis primeiras tentativas, a bola bate na parte de trás do aro e não entra. Após uma pausa e um "ajustamento mental", converte os cinco lançamentos seguintes e desabafa com McPhee que o cesto parece uns três centímetros e meio mais baixo do que em Princeton. Depois do treino, McPhee pega num escadote e numa fita métrica e vai confirmar a suspeita: o cesto estava três centímetros abaixo da altura regulamentar.
Lembrei-me da história quando Marcos Rojo marcou, num remate de primeira com o pior pé, o golo que colocou a Argentina nos oitavos-de-final, pois foi lamentavelmente fácil imaginá-lo tão surpreendido pelo sucesso como Bill Bradley pelo fracasso. Muitos espectadores terão pelo menos colocado a hipótese de a baliza em apreço ser cinquenta metros mais larga; só faltou um incrédulo jornalista argentino entrar em campo com uma fita métrica.
O que o excerto do livro de McPhee ilustra é o grau de mecanização a que o talento atlético se submete voluntariamente antes de poder admitir variações. Os melhores lances num jogo de futebol (que são sempre os executados pelos melhores jogadores, mesmo que um jogador como Rojo consiga de vez em quando reproduzi-los) são os que nos permitem adivinhar, no mesmo gesto, a armação invisível da prática árdua a repetitiva, mas também o acto fácil e instintivo, inventado pelo céu em tempo real.
O Argentina-Nigéria foi, ao nível puramente técnico, um dos jogos mais feios do Mundial. Muito pouco do que aconteceu em campo foi consequência directa de uma intenção. Houve cantos que morreram ao primeiro poste, domínios deficientes, desmarcações abortadas, tropeções, passes para a linha final, remates para o Báltico, jogadores que tentaram jogar a bola de cabeça e a tocaram com o braço, guarda-redes que tentaram agarrar a bola com os braços e a afastaram com o peito. Mas também houve, no meio do caos, o golo mais bonito da competição até agora, que merece todas as repetições em câmara lenta e de múltiplos ângulos que se consigam encontrar.
Começou, para despacharmos o menos importante, num longo passe diagonal de Banega, um daqueles médios-centro sul-americanos que é menos um médio-centro do que um editorial exaltando solenemente a importância do médio-centrismo nesta sociedade sem valores. A bola sobrevoou a linha defensiva nigeriana e chegou às imediações de Lionel Messi, cidadão argentino e delinquente fiscal, que em pleno sprint e com o corpo torcido num ângulo de 45 graus, a consegue receber com a coxa esquerda (extinguindo-lhe a rotação), e adiantá-la com o pé esquerdo na medida certa para evitar um corte, antes de rematar com o pé direito (foi um dia contra-intuitivo em matéria de pés).
Cada um dos dois primeiros toques de Messi construiu a extensão mais confortável para o movimento seguinte. Nenhum reajustamento foi necessário; nem sequer precisou de desacelerar a passada. É raro conseguir impor a uma sequência de movimentos reactivos este tipo de fluidez, que fazem a jogada parecer a serena execução de um plano prévio: é como obrigar um problema de trigonometria a resolver-se sozinho, sem intervenção externa, só porque deixámos o lápis e o papel pousados no sítio certo.
Tornou-se banal dizer que Messi se auto-banaliza, pela frequência com que faz o mais difícil parecer fácil, e convence todas as fricções e resistências do jogo a assinar um tratado de cooperação com a sua vontade muscular. Mas é uma banalidade cuja reiteração se justifica: Messi faz isto tantas vezes, e há tanto tempo, que a banalização acaba por operar tanto nele como em nós, permitindo-lhe partir de pressupostos que noutro futebolista pareceriam uma hipertrofia de optimismo. Para ele, a realidade inteira está sempre à altura regulamentar: a confiança na sua invulnerabilidade à contingência está tão enraizada que a inspiração se reduz à capacidade para encontrar a linha recta mais próxima. Quando a categoria do que é "fácil" tem este perímetro, nem sequer é preciso imaginar o mais difícil."

O país suspenso em 90 minutos mais descontos

"A alucinação colectiva em torno do futebol mantém um país inteiro hipnotizado há quase dois meses. Primeiro foi o Sporting, agora é a selecção e o Mundial, sempre com muito Sporting pelo meio. Só. Não há espaço nem lugar para outros temas ou preocupações. É excessivo e é preocupante. Não podíamos apenas gostar de futebol?
O aumento dos combustíveis? Não, agora vai dar um directo com o autocarro de Portugal. A greve dos professores e os milhares de alunos sem avaliação? Hum,...a Fã Zone de Alfornelos é capaz de ser mais interessante. A mudança do Infarmed para o Porto? Nem pensar, só quando acabar a 374.a conferência de Imprensa do Bruno.
A caricatura peca, quando muito, pela moderação. Eu até gosto muito de futebol, vibro com os jogos do meu clube e do meu país e julgo mesmo que o desporto e o lazer deviam ocupar mais tempo na vida dos portugueses. Mas, como diz o povo, o que é demais é moléstia. Esta absorção prolongada em futebol não é saudável, desvia-nos do que é realmente importante e constitui mais um passo decisivo com vista à construção de uma sociedade de pão e circo.
Chega-se ao ridículo de termos o debate político centrado na soberana questão de saber quem irá à Rússia assistir ao próximo jogo. Será a vez de Marcelo, de Costa ou de Ferro? Atingimos o impensável de vermos, em directo e em todos os canais, o senhor presidente da República a fazer a antevisão do desafio e, hora e meia depois, outra vez em directo, a análise técnico-táctica ao mesmo. Há quem veja nisto a aproximação entre cidadãos e políticos.
Pelo que me toca, muito gostaria que a selecção ganhasse os seus jogos e que contribuísse de novo, como em tantas ocasiões, para o orgulho e para o prestígio nacionais. Mas gostaria ainda mais de perceber a posição portuguesa quanto à importante Cimeira Europeia de sexta-feira e o que pensa o Governo sobre o processo de reforma da Zona Euro. Como me parece fundamental, agora que o relatório do grupo de trabalho nomeado pelo Governo aponta claramente as vantagens da mudança do Infarmed para o Porto, que o primeiro-ministro nos diga como e quando essa mudança se vai processar. Ou que, depois de tantos atrasos e anúncios falhados, os ministros da Saúde e das Finanças nos informem quando é que finalmente vão avançar as obras na ala pediátrica do Hospital de S. João. Pelo que me toca, gostava que estes dois meses de anestesia futebolística não nos deixassem exactamente no mesmo ponto e nas mesmas circunstâncias em que estávamos antes.
Eu também gosto muito de futebol. É o novo ópio do povo. Mas o país e o Mundo não param. E a vida não se resume a 90 minutos mais descontos."

Que política de Juventude... e Desporto?

"O governo devia reagir e impedir que se continue a gerira geriatria como um negócio e até uma indústria

A Política de juventude deveria procurar ir ao encontro das necessidades, aspirações e soluções para os problemas da juventude.
Só que, ouvir os anseios da juventude não significa ficar, o poder político, refém dos “Jotas” só para angariar votos a troco de não implementar uma política de acordo com aquilo que representa a evolução natural de uma cultura e de uma civilização que procura ajustar o processo aos meios existentes, compatíveis com a resposta das Instituições, tendo em vista orientar a Juventude Portuguesa, de acordo com os objectivos políticos educativos, definidos pelo Governo, depois de ouvir e filtrar aspirações e desejos, sim, mas de modo a poder compatibilizá-los com a realidade. A isto chama-se política de juventude!!!
Misturar ou confundir isto com a palavra “desporto” e colocá-la ao mesmo nível da palavra “juventude”, é completamente errado e revela ignorância e, ainda por cima, falta de compreensão para uma actividade que deve estar integrada na educação da Juventude, sim, mas apenas como uma parte dela própria e que não pode sequer pretender competir com ela pois a “juventude, é que é o futuro do país, sendo o desporto apenas e tão só, um meio para a educação da juventude, e não um fim.
Por isso é erróneo apelidar uma secretaria de Estado de “Juventude... e Desporto”... não, chamem-lhe apenas da “juventude”!
O ser humano passa ao longo da sua vida por várias etapas, desde as três infâncias, a adolescência, a juventude, que vai até aos 30 anos, a maturidade, até aos 60 anos, e a velhice, que começa aos 65 anos, com os novos velhos(65/75) e velhos-velhos (75/85).
Para Portugal, e segundo as demógrafas Maria Filomena Mendes e Maria João Valente Rosa, para 2030, a esperança de vida à nascença para os homens, dos actuais 76.4 anos, passará para os 80 anos e para as mulheres, dos actuais 82.3 para os 86 anos.
Significa isto que o Estado ao ter que rever a idade das reformas, devido à esperança de vida, terá também de criar uma “Direcção Geral para Condição Física e Psicológica dos Cidadãos”, que terão de se manter activos (a trabalhar) até aos 70/72 anos de idade, ficando, ainda, com mais de uma década de reforma passiva...
O “Ministério da Educação”, em colaboração com o “Ministério do Trabalho”, deve começar a preparar um novo paradigma em relação à condição física e psicológica dos trabalhadores portugueses, já que a actividade física deverá ser exercitada até à última etapa da vida activa, poupando milhões de euros, ao Estado, na saúde dos portugueses.
É na Juventude que se prepara a maturidade, (30/60) e a velhice (65/85), daí a grande, a enorme responsabilidade do trabalho do Ministério da Educação e da secretaria de Estado da Juventude, que afinal é responsável pela preparação de um programa de acção para a maturidade e velhice de toda a população portuguesa, excluindo os “mirtilos”...
Isto interessa ao Ministério da Saúde, à Segurança Social, ao Ministério do Trabalho, às Forças Armadas e de Segurança e, muito particularmente, ao Ministério das Finanças.
É esta visão prospectiva que falta a este governo, a nosso ver, já que é o futuro que nos interessa assegurar, em condições dignas e com uma normal autonomia, por parte da totalidade da população, e não um futuro em cadeira de rodas e com recurso a substâncias para as depressões, à base de calmantes que “anestesiam” os velhos e idosos e enchem o “espaço” a que alguns chamam “lares” e outros “casas de repouso” mas que, no fundo, são “depósitos” aonde as famílias colocam os seus progenitores, para lá morrerem, sem lhes causarem grandes incómodos...
Contra isto o governo devia reagir e impedir que se continue a gerir a geriatria como um negócio e até uma indústria, e perceber que hoje, é possível trabalhar, sem tomar um único remédio, aos 80 anos de idade. Então de que estão à espera?.
É que se não fizerem nada contra este estado de coisas, acreditem, que acabam depositados num “lar para idosos”, a vegetar...
Bom dia, acordem, por que terão muito tempo para dormir, um dia."

A fórmula do sucesso: replicar o Euro 2016

"Diz-nos Csíkszentmihályi que as melhores performances ocorrem sob a influência de um estado emocional (Flow) que poderia ser caracterizado por "estar completamente focado numa dada actividade per si. O ego dilui-se, só a ação importa. O tempo voa. Toda a acção, movimento e pensamento seguem inevitavelmente dos anteriores, como se se tratasse de uma peça de jazz. O atleta está completamente envolvido, expressando as suas capacidades no máximo disfrutando, simultaneamente, e em igual intensidade, de cada acção”.
Recorrentemente, o estado de flow encontra-se associado às melhores performances dos atletas – seja pelo relato directo destes ou pela investigação produzida, este facto encontra-se sobejamente documentado na literatura científica especializada, nas ultimas décadas.
De posse desta informação, o desafio que, desde sempre, se impôs tem a ver como é que os atletas, de forma voluntária e inconsciente, conseguiriam ativar este estado emocional que potenciaria a exibição de desempenhos de excelência.

Flow de Equipa?
Se este é um desafio complexo para um atleta - porque implica ganhos crescentes de auto-consciência e auto-regulação, unicamente alcançáveis através de planos de treino de competências psico-emocionais específicas – imagine-se, a dificuldade que será, colocar toda uma equipa num estado emocional ótimo para a performance.
Assim, de repente, e não querendo fazer um exercício exaustivo, implica que o “maestro”, consiga criar as condições específicas para que: 1) ele próprio; 2) a sua equipa técnica; e, pelo menos, 3) os seus Atletas, consigam estar o mais próximo possível desta espécie de “estado de graça”.
De facto, em alta performance, a analogia mais justa será mesmo a de um Maestro que tem a seu cargo fazer com que toda uma “comitiva” (treinadores, equipa médica, dirigentes e outro staff) funcione numa harmonia quase perfeita... sem a mais parca presença de qualquer tipo de “desafino”. 
E esta é, uma tarefa infindável, onde todas as variáveis (e seus impactos) devem ser equacionadas(os).

A Fórmula do Euro 2016
precisamente dois anos presenciámos um conjunto de factores, no mínimo, interessantes:
1. Uma selecção fortemente criticada pelos seus adeptos dada a “pouca qualidade das suas exibições e a sua ineficiência do ponto de vista quantitativo;
2. Uma selecção reconhecidamente caracterizada por se traduzir numa fórmula 1+10 (sendo que este um carregaria a responsabilidade de tudo e mais alguma coisa)
Como resultado, e reportando meramente à final, constatámos um “Maestro” que soube afinar toda a “orquestra” e:
1. Um “1” que se lesionou + 10 que, muito possivelmente e da única forma possível, diluíram a responsabilidade do primeiro entre cada um dos elementos, envolvendo-se com maior intensidade em cada acção (fenómeno este, de resto, mais do que validado na área de investigação) e, consequentemente, elevando o nível de performance individual e da equipa;
2. Um guarda-redes claramente em estado de flow, assegurando um conjunto de defesas que viria, inevitavelmente, a criar um registo de ainda maior confiança nos colegas;
3. Um quase “desconhecido” que, num momento de clara inspiração (flow) viria a resolver o resultado a favor de Portugal;
4. E, por último, como resultado desta experiência, uma nação anteriormente crítica comemorou os agora Campeões Europeus que, merecidamente, viram o seu estatuto reconhecido (o qual, diga-se de passagem, no que respeita às suas competências, seria o mesmíssimo... ainda que não tivessem ganho absolutamente nada).
E agora?
Em boa verdade, algumas partes da “história” se estão a repetir, senão vejamos:
1. A fórmula 1+10 instalou-se desde o primeiro jogo - aqui, graças à capacidade de um atleta entrar em Flow, manifesta através de uma exibição de excelência (o que seria justo mas...) como se se tratasse de uma modalidade individual, removendo de imediato a capacidade de identificar as importantes ações desenvolvidas pela restante equipa e, consequentemente, a responsabilidade da mesma (o que, não é de todo interessante);
2. As primeiras críticas referentes à qualidade ou quantidade do futebol já se fazem sentir (porque uns não acertam na bola e deveriam acertar, porque outros não correm, porque alguns merecem porque rescindiram com o seu clube, enfim... mais umas quantas razões de natureza questionável);
3. Corremos o risco de ter o tal “1” indisponível para algum dos jogos de “mata-mata” que agora se avizinham, por uma possível “lesão” resultante da acumulação de amarelos...
4. E, até já tivemos um defesa que mais parecia um guarda-redes e um “golpe de génio” que nos garantiram a passagem aos oitavos de final...
Assim sendo, e deste ponto de vista, à partida seria plausível acreditar que, num cenário diferente e até com uma equipa diferente (dez campeões europeus estão ausentes), algumas das anteriores circunstâncias de sucesso estão a dar o “ar da sua graça” e, de novo, a acompanhar o percurso da nossa selecção.
Bom augúrio?
De forma planeada (por acção do treinador) ou por mera reorganização espontânea da equipa (que, não nos podemos esquecer, comporta atletas de competências e recursos elevados), o facto é que observámos em 2016:
* Um claro movimento de coesão de equipa, face às críticas exteriores, possivelmente alavancado pela forte convicção do Seleccionador de que a equipa permaneceria até à final – este tipo de acção, por si só, certamente activou um ainda maior compromisso individual e de equipa, face à confiança (e risco ao assumir essa postura de forma pública), assumidos pelo Seleccionador;
* Uma gigantesca capacidade de assumir, individualmente, um compromisso de equipa e, consequentemente, uma manifesta capacidade de sacrifício e superação;
Agora, e uma vez mais, encontra-se nas mãos do “maestro” (e na sua capacidade de entrar ele próprio em flow) a criação de uma nova “harmonia” que possibilite a elevação da performance da equipa para patamares de excelência.
Agora, a decisão não passa pela qualidade técnica dos jogadores, do desenho táctico planeado ou, até da vontade (que, em excesso, se transforma em pressão auto-induzida) mas sim, da capacidade de se entregar(em) a cada momento do jogo, de forma desafiada e sempre, sempre... com uma imensa capacidade em comemorar cada sucesso e se superar em cada adversidade."

Oportunidade desperdiçada... Finalíssima no Sábado!

Benfica 5 (0) - (2) 5 Sporting


Depois de tanto trabalho para recuperar a vantagem de decidir o título em casa, acabámos por desperdiçar a vantagem nos sempre ingratos penalty's!!!

Mais uma vez fizemos uma má 1.ª parte, oferecemos uma vantagem grande, e acabámos por recuperar na parte final... mas desta vez, faltou o golpe final...

Dois livres de 10 metros e dois penalty's falhados!!! Tudo fica mais complicado...

O Roncaglio esteve no banco, disponível pela 1.ª vez nesta Final... Se ele merece o 'castigo' devido às paragens cerebrais que já teve, prejudicando o Benfica, hoje se ele tivesse na baliza, se calhar tínhamos ganho no tempo regulamentar!

Já ganhámos no antro... mas como se viu hoje, a vergonhosa campanha de pressão fora do campo, resulta!!! Antecipo um ambiente dentro do campo, extremamente envenenado!!!