quinta-feira, 28 de junho de 2018

A falta do Ederzito

"Não, os Mundiais já não são o que eram. Já não há grandes equipas, nem futebol de ataque, nem os resultados desnivelados dos tempos pré-globais. Só vemos fogachos individuais, tácticas de contenção e penáltis televisivos.

O calculismo, já muito presente nas últimas edições do Mundial, veio para ficar. E não é só o de Fernando Santos, é de todos.
Vão longe os tempos em que as melhores equipas do mundo eram simplesmente prodigiosas. Jogavam à bola como se estivessem a pintar um quadro, com a paixão e a mestria que encantam os espectadores. Foram assim as grandes selecções brasileiras, sobretudo a do México 1970, talvez a melhor equipa de futebol de sempre, recheada de craques como Pelé, Jairzinho, Tostão ou Rivelino, num tempo em que os astros não se comportavam como vedetas.
Depois vimos uma grande equipa italiana no Mundial de 1982, quando Rossi e os seus pares, após um apuramento pífio, destroçaram todos os adversários, incluindo o superfavorito Brasil, com um futebol pleno de harmonia, arte e eficácia. O futebol que, confessou-mo ele um dia, mais encantava o nosso Eusébio. E vimos excelentes selecções da Argentina (em 1978 e 1986), da França (em 1998), da Espanha (em 2010), para os apreciadores do estilo impressionista tiki-taka, e da sempre temível Alemanha, com o seu futebol possante e geométrico. Sem nunca terem logrado o título de campeões mundiais, outras se distinguiram - como a Holanda, a União Soviética ou Portugal (sim, esse Portugal que, já no actual milénio, chegou a praticar o futebol mais vistoso do planeta).
A última edição do Mundial mostrou-nos uma Alemanha a anos-luz de todos os rivais. A sua flagrante superioridade fazia antever um período de domínio na cena futebolística internacional, mas não foi o que se verificou. Batida no último Europeu, vê-se agora em sérios apuros para garantir o apuramento na fase de grupos. Mas se passar, perante a pobreza geral, será finalista.
Muitos acreditam que, a partir dos oitavos, o nível dos jogos melhorará. Nada indica que tal venha a acontecer. Em circunstâncias normais, nenhuma das selecções presentes na Rússia venceria uma equipa do top ten europeu de clubes. Habituemo-nos a esta realidade, que progride à medida que os organismos internacionais do futebol vão dando largas à sua avidez pelo dinheiro e pelo protagonismo. Nos próximos mundiais, no Qatar e na América do Norte, veremos aumentar o desinteresse dos adeptos. Que importa, desde que a FIFA aumente as receitas?
No meio deste desconsolo, os nossos rapazes lá fizeram os mínimos - qualificarem-se para os jogos a eliminar. Não se esperaria menos da que dantes se chamava "Selecção de Todos Nós" e que agora só é acarinhada por alguns. Mas não se espere muito mais. Não porque o seu estilo sonolento e calculista se distinga pela negativa dos demais, mas porque a equipa é curta e as opções limitadas. Ao contrário do que tenho lido, esta formação não é melhor do que a que se sagrou campeã europeia, pela simples razão de os jogadores que fazem a diferença serem os mesmos, só que dois anos mais velhos. E falta o Ederzito.
(...)"

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