terça-feira, 26 de junho de 2018
Elogio da coerência (e do aborrecimento)
"Os jogos de preparação criaram um problema a Fernando Santos. As boas exibições de Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Gelson e Gonçalo Guedes antes da partida para a Rússia vieram baralhar as contas do seleccionador. Para quem aposta (quase) tudo nos equilíbrios da equipa e na capacidade de Cristiano criar desequilíbrios, acomodar na ideia de jogo – que tão bons resultados tem dado – todo este talento e irreverência não era fácil.
E, como se tem visto no Mundial, a Selecção ficou numa espécie de terra de ninguém. Continua a não encantar, mas também não revela os equilíbrios que a caracterizaram no Euro. Sintomaticamente, depois de um jogo falhado com Marrocos, ontem, Fernando Santos regressou ao sistema do passado. Com resultados assim-assim.
Na hierarquia de talento individual, Bernardo, Gelson, Guedes e Bruno Fernandes vêm logo depois de Cristiano. Mas Quaresma dá mais profundidade do que Bernardo (e não necessita de tanto apoio para atacar), André Silva é mais forte nas disputas de bola do que Guedes e Adrien parece regressado à forma de há dois anos. Com eles em campo, a Selecção ganhou em coerência com a ideia de jogo do seleccionador o que perdeu na capacidade de criar desequilíbrios. Com o Irão, Portugal entrou bem no jogo e vimos, de novo, a Selecção personalizada de Fernando Santos. Uma equipa que, no Mundial, na relação entre eficácia e cinzentismo estético não tem adversários à altura.
Durante a primeira meia hora, mesmo sem assustar um ultra-equilibrado Irão, Portugal conseguiu ter mais posse e controlar a partida com bola (até ao momento em que William deixou de gozar de alguma liberdade de movimentos). Depois de um golo de mágico de Quaresma, e é aí que reside a estranheza, a equipa sofreu mais do que o habitual a defender e saiu mal a construir desde trás. Quando em vantagem no marcador, uma vez mais, foi quando Portugal ficou mais intranquilo.
E agora que o Mundial entra numa fase diferente? Claramente o contexto tornou-se, de novo, mais propício ao jogar de Portugal. Uma selecção que se tem mostrado vitoriosa e mais letal quando pode ser mais aborrecida, não tendo de assumir a iniciativa, e lhe é permitido aguardar pelo erro do adversário. Precisamente o que temos de fazer, já no sábado, com um Uruguai forte a defender (ainda não sofreu golos) e, essencialmente, muito contundente a marcar."
Não se troca génio por Bombo
"Aquele portentoso lance aos 45 minutos (em que Adrien deixou de fazer o óbvio e o fácil, assistindo para a ‘trivelada’ exótica e assombrosa de Quaresma) poderia ter funcionado como uma tréplica certeira aos que, como eu, torceram o nariz ao onze inicial. Mas uma olhar global à prestação de Portugal acabou por não confirmar o desregramento da crítica, que, infelizmente, continuava a fazer sentido no final do jogo. De facto, nos dois jogos anteriores, Portugal acusara diversas debilidades: cobertura defeituosa das laterais, deficiente saída de bola, problemas na primeira fase de construção e dificuldades em ligar o jogo. Boa parte resultavam de uma má ocupação dos espaços, mais do que da falta de agressividade (ou de ‘bombo’, para usar a terminologia errónea que esteve na moda durante a semana). Com a Espanha e Marrocos, os jogadores estavam sempre longe uns dos outros, o que resultou no número exagerado de maus passes.
Frente a um adversário como o Irão, que faz parte daquele lote de equipas que parecem sempre mais ambiciosas quando perdem a bola do que quando a têm, Portugal teria necessariamente de ter mais bola e mais facilidades na circulação nos primeiros dois terços do campo (mesmo levando em conta a marcação individual a que foi sujeito William). É certo que houve sinais de melhoria, principalmente nos 15 minutos iniciais, aqui em função de um efeito surpresa chamado Quaresma. Portugal foi mais paciente e criterioso. Mas o ‘upgrade’ terá de ser relacionado também com um adversário que defende lá atrás com uma primeira linha de seis e outra de quatro. O resto não melhorou suficientemente. Continuou a faltar criatividade, fluidez e as triangulações necessárias para desmontar a caixa-forte de Carlos Queiroz. E, aqui chegados, é impossível não discutir a titularidade de Adrien e a saída da equipa de Bernardo Silva. O primeiro até fez um jogo interessante e esteve no golo, que surgiu numa altura em que o Irão crescia. Mas, não estando João Moutinho nas melhores condições, Bruno Fernandes ou Manuel Fernandes ofereceriam uma variedade de soluções superior naqueles 30 metros finais em que as coisas se decidem. E tirar Bernardo Silva de uma selecção que mostrava dificuldades na construção fez tanto sentido como, num exemplo mal comparado, abdicar de John Lennon, de McCartney ou de Harrison para confiar que as ‘batucadas’ de Ringo Starr nos tambores e nos pratos é que iriam salvar a honra do Beatles… Bernardo não esteve brilhante nos dois jogos anteriores, mas será que isso aconteceu principalmente por culpa própria ou por ter estado sempre isolado e rodeado de adversários? A resposta parece óbvia, quase tão manifesta como a oportunidade perdida por Portugal: poder defrontar uma selecção russa em processo de conserto em vez de um Uruguai voraz e à procura de mais uma façanha levada a cabo por homens competitivos e com sede de vitórias.
VAR na Rússia pior do que o português
O vídeo-árbitro trouxe mais justiça e verdade ao Mundial. Mas nem tudo está a correr bem na Rússia. A meio da prova, o adepto está cada vez mais confuso e até aqueles que sabem de cor o protocolo do VAR sentem dificuldade em entender o que pode e deve ser considerado um erro manifesto ou somente um lapso de interpretação. É difícil entender, por exemplo, como é que foi ignorada a falta de Diego Costa sobre Pepe no golo da Espanha frente a Portugal; como é que foi validado o segundo golo do México frente à Coreia (há uma falta evidente de Herrera na recuperação da bola que permitiu o contra-ataque); ou como ficaram por marcar penáltis claros contra a Suíça (frente à Sérvia) e a Alemanha (frente à Suécia). O VAR parece ter recebido indicações para ter um critério largo, mas até essa ideia perde força quando se olha para o penálti assinalado e posteriormente anulado sobre Neymar, no Brasil-Costa Rica. A decisão final foi correta, mas será que neste caso houve mais erro manifesto do que nas situações atrás referidas? Claro que não. E já não restam dúvidas de que o VAR funcionou de forma bem mais criteriosa em Portugal do que agora na Rússia, onde estão os melhores árbitros e os especialistas…
Por outro lado, o VAR contribuiu para que não haja, até agora, nenhum jogo sem golos. Mas cerca de metade terminou com vitórias mínimas e a média de golos não tem sido entusiasmante, perdendo, na comparação com o Mundial do Brasil (cerca de menos 25%). Os lances de bola parada resultaram em mais de metade dos golos. E já vamos em 20 penáltis, novo recorde , sendo que já há mais cinco do que no Brasil, no que tem de ser relacionado com o vídeo-árbitro, que fez aumentar o tempo de jogo em 4,4 minutos.
FIFA não deve ser mais papista do que o Papa
A FIFA faz muito bem em não aceitar que a política seja misturada com o futebol, mas também não pode querer ser mais papista do que o Papa. Isto a propósito da decisão, que irá ser tomada hoje, de castigar ou não os suíços Shaqiri e Xhaka com dois jogos de suspensão, o que os impediria de defrontar a Costa Rica, num encontro que pode valer a passagem dos helvéticos aos oitavos-de-final. O processo resultou de os dois jogadores, filhos de refugiados albano-kosovares, terem comemorado o golo suíço da vitória frente à Sérvia fazendo gestos que representavam a águia de duas cabeças, símbolo da Albânia. Os sérvios e Putin não gostaram, mas a comemoração esteve longe de poder ser considerada ultrajante. Até porque o Kosovo pode não ser reconhecido pela Sérvia, mas já é independente desde 2008. E – o gesto – não é assim tão diferente de ver (como já vimos) Nani com a bandeira de Cabo Verde ou Deco com a do Brasil, no final dos jogos. Mais ainda: a Suíça é uma espécie de Torre de Babel, com jogadores de 12 procedências diferentes e o seleccionador até é um bósnio com ascendência croata. O facto de os jogadores, nos momentos mais dramáticos e emocionantes em campo, não esquecerem as suas raízes não os impede de ter sentimentos patriotas em relação às nações que representam, como de resto dois ministros suíços já tiveram o cuidado de defender. A FIFA deve é castigar severamente os cânticos homofóbicos e estar atenta, por exemplo, às ameaças de morte de que está a ser alvo Jimmy Durmaz, o sueco de origem síria que cometeu a falta sobre Werner que esteve na origem do maravilhoso golo de Toni Kroos."
Já estamos vacinados
"Decididamente, não conseguimos ser felizes sem sofrimento. Apesar de já estarmos vacinados, nunca deixa de ser complicado conviver com este sentimento que tem o seu quê de sádico. Ontem, com o Irão, as coisas estavam bem encaminhadas, mas pronto, lá nos cruzamos com o nosso habitual fantasma que nos empurra para a fatalidade que frequentemente nos atormenta.
Passámos, que era o que interessava, o que para Fernando Santos não é novidade, pois com a Grécia e com Portugal logrou sempre chegar à segunda fase dos torneios. De resto, a fiabilidade de Santos conjuga-se bem com a da Selecção. É que, independentemente do sofrimento, Portugal é desde 2002 um dos quatro países europeus (ao lado da Alemanha, Espanha e França) que não falha uma fase final de campeonatos da Europa e do Mundo. Pois.
Caímos agora nos braços do Uruguai. A última vez que nos cruzámos com a Celeste foi na Mini Copa disputada no Brasil. Curiosamente, também por lá apanhámos o Irão. O Uruguai de então era de gente rija: Manero, Ubiñas, Masnik davam corpo a uma equipa que também tinha o elegante Esparrago. Agora, não é muito diferente. Mas é claramente melhor. Vai ser um grande duelo no qual ao sofrimento será necessário juntar capacidade de superação. Vamos lá!"
Novas tecnologias avariadas
"Tivemos ontem, no nosso grupo de qualificação, a prova provada de que nem tudo está a correr bem com o designado vídeo-árbitro, ou VAR. A discussão sobre a utilização das novas tecnologias no futebol não é nova e promete mesmo intensificar-se após este Mundial, em que está a ser utilizada pela primeira vez. Se, no caso do chamado ‘olho de falcão’, que permite confirmar rigorosa e inequivocamente se a bola ultrapassou ou não completamente a linha de golo, não se regista qualquer tipo de contestação, no uso do VAR as vozes críticas são muitas e tendem a aumentar. E a confusão também, como vimos no empate de Portugal com o Irão.
E esta tendência não tem directamente a ver com a existência do tal vídeo árbitro, sistema que, bem utilizado, poderia de facto trazer mais verdade desportiva ao futebol, como aliás traz a outras modalidades, nomeadamente ao râguebi, onde é peça importantíssima para o esclarecimento das dúvidas existentes para quem arbitra. E, no futebol, o sistema pode ser de facto muito útil se as regras da sua utilização forem claras, objectivas e aplicadas por todos uniformemente.
Ora, não é isso que está a suceder. Antes pelo contrário, a sucessão de casos que as transmissões televisivas diariamente nos mostram e os diversos comportamentos e decisões que deles resultam dão ideia de que o sistema está é avariado. Ou pelo menos desafinado. Há agarrões, puxões e empurrões que são vistos e assinalados e há os que o não são; há penáltis por mão na bola e outras há que não originam castigo máximo; há porradões que são amarelados ou avermelhados e outros há que apenas deixam a cor negra nas canelas do adversário… Em resumo, há critérios muito diversificados, o que é mau.
Acredito que a FIFA tenha procurado criar, junto dos vários árbitros que se sentam diante dos monitores, critério uniforme no julgamento das situações vistas ou não pelos outros árbitros em campo, mas não me parece que o tenha conseguido. Tal como me parece errado ter-se imposto limitações ou reservas ou lá como queiram chamar-lhe à utilização das imagens de lances faltosos que o árbitro não viu mas que todos nós vemos em casa. Porque ou o VAR é, de facto, para tornar o jogo mais limpo e punir aqueles que o sujam ou então…acabe-se com ele.
O que não é aceitável é verificarmos que, em certos jogos e para determinados árbitros, há lances em que o recurso à tecnologia é utilizado, anulando ou confirmando a decisão inicial, e noutros esta possibilidade nem sequer é equacionada. O que, naturalmente, provoca aplausos ou apupos, consoante sejam beneficiados ou lesados. Exige-se, por consequência, que o debate seja mais profundo e as decisões daí resultantes sejam mais claras e, sobretudo, mais igualitárias."
Incompetência e juiz a cair na choradeira Iraniana
"O empate foi um resultado justo para Portugal?
Sim e não. O futebol tem momentos cruéis e Portugal sentiu ontem na pele a conjunção de vários factores que redundaram na igualdade que nos levou ao 2.º lugar. Primeiro a incompetência na gestão do jogo, no penálti falhado de Ronaldo e na incapacidade de marcar o segundo. Por outro lado, a sensação de injustiça por um penálti ridículo, que nos leva a questionar para quê o VAR, levando o árbitro a cair na choradeira de Queiroz.
O que faltou a Portugal?
Para além de pontaria a Cristiano Ronaldo no penálti falhado, maior agressividade, maior capacidade de manter a cabeça fria após o disparo falhado por CR7 e uma estranha incapacidade para segurar o resultado fazendo a bola circular. A Selecção Nacional deixou-se cair no jogo físico e directo dos iranianos, com muito menos talento mas com um fé inabalável. Maior competência mental seria vital.
A Selecção Nacional jogou melhor do que frente a Marrocos?
Em alguns momentos, claramente. Mas há factores que diferenciam muito os dois jogos. Primeiro, o Irão de Queiroz é uma equipa muito mais defensiva e que apostou na maior parte do tempo, até à pressão final, num bloco baixo, que permitia maior circulação ao meio-campo português. Ainda assim, diria que Portugal teve vários momentos interessantes. Esta equipa de Fernando Santos nunca fará a delícia dos adeptos pela exibição. O seleccionador é um resultadista. E não vai mudar.
Carlos Queiroz queria vermelho para Ronaldo...
E não só. Foi triste ver o espectáculo degradante que foi o comportamento do banco iraniano durante o encontro. Compensou pelo penálti que lhe foi oferecido pelo árbitro, que cedeu à pressão feita por treinadores e jogadores durante os 90 minutos, mas ainda assim não chegou. Quanto ao vermelho, é apenas mais um pedido ridículo do técnico português. O ódio que tem à Selecção e a Cristiano Ronaldo leva a estas declarações infelizes.
Como se explica a desorientação da equipa após o penálti falhado por CR7?
Não é fácil de explicar. A perda de controle emocional da equipa foi visível em vários momentos, nomeadamente até no amarelo visto por Quaresma, que ‘obrigou’ Fernando Santos a retirá-lo do jogo. Fica por entender se junto a esta perda de clarividência se juntou alguma quebra física, visível, por exemplo, em William Carvalho. Um fenómeno preocupante por ter sido um dos nossos pontos fortes no Europeu em França.
André Silva fez esquecer Guedes?
Nem sim, nem não. As unidades ofensivas da equipa portuguesa têm sido as que têm tido vida mais complicada devido ao menor rendimento do jogo ofensivo do nosso meio-campo. Talvez por isso tanto Guedes como André Silva mostrem dificuldades em afirmar-se.
O calor prejudica o rendimento de Portugal?
Acredito que os factores climáticos não podem ser utilizados como desculpa. É verdade que foi evidente que o clima mexia com o comportamento das equipas, mas as condições eram as mesmas para Portugal e Irão. Foi visível a existência de uma estratégia de paragem e tonificação constante, aproveitando até algumas quedas dos jogadores, que ‘ficavam’ mais tempo para que água fosse distribuída. Um exemplo. No fundo, um estratagema inteligente de ambos os técnicos."
Coerência...
"Atribuir à Rússia a organização da fase final do Campeonato do Mundo gerou alguma controvérsia. O seu posicionamento no quadro político internacional, em que assumem relevância negativa a anexação da Crimeia e os muitos atropelos aos direitos humanos (serão muitos os presos políticos no país) muito contribuiu para essa controvérsia. Dito isto e analisando de diferentes ângulos, esta mesma organização tem vindo, contudo, a revelar-se muito agradável. Como já tivemos oportunidade de referir, e queremos acentuá-lo, até por comparação com aquilo que se vive no nosso país, o convívio sem incidentes de relevo entre os muitos milhares de adeptos das mais diferentes origens, o fair play que se manifesta mas, e sobretudo, o futebol de qualidade e uma organização impecável superam o que seria expectável.
Sem inovação, alguém disse que no futebol tudo estava já inventado, o nível técnico elevado, a diversidade táctica/estratégica, as jogadas bem urdidas e também os erros comprometedores, propiciam que estejam presentes todos os factores que tornam o futebol a modalidade desportiva mais apaixonante deste nosso Mundo.
Num momento em que não estão ainda encontradas todas as equipas que passarão à segunda fase, são já visíveis confirmações, decepções e revelações. Os seleccionados francês, espanhol e brasileiro fazem jus ao seu propósito, legitimando a sua candidatura ao título, pela qualidade das individualidades, competência colectiva, dinâmica e intencionalidade do jogo apresentado. Já lideram os respectivos grupos.
A solidez e eficácia da equipa russa, não esquecendo que joga em ‘casa’, a imagem muito positiva deixada pelo México, a afirmação da Bélgica e o ressurgimento da boa escola dos Balcãs, corporizada pela Croácia, relevam a possibilidade de estes países chegarem longe na prova.
Os campeões mundial e europeu em título, Alemanha e Portugal, com resultados diferentes mas exibindo-se abaixo do esperado, aos quais se junta a Argentina, potência do futebol sul-americano mas em dificuldade para o confirmar, pelo que arrastam do seu histórico, são aqueles que menos têm correspondido com vista ao cumprimento dos seus desideratos.
Se a vida dos outros e os seus problemas a eles dizem respeito no que a Portugal concerne, cabe dizer, e numa só palavra, o que nos define: Coerência.
Somos coerentes na escolha dos jogadores, já que o grupo é de continuidade. Somos coerentes pelo discurso pragmático, objectivo e ambicioso. Somos coerentes na priorização do resultado em detrimento do espectáculo e da qualidade exibicional. Somos coerentes nos modelos tácticos adoptados – 4x4x2 pouco ortodoxo ou uma variante 4x4x3. Somos coerentes na estratégia seguida, bloco baixo e ataque rápido.
Fernando Santos trouxe-nos isso, só não vê quem não quer. Sabemos que os mais exigentes gostariam que de uma coisa pudesse resultar outra, mas sabemos também que, em muitas situações, tal não é possível.
O empate frente ao Irão e consequente apuramento para a 2.ª fase da prova, legitima a opção, que a manter-se, esperamos, possibilite a Portugal repetir o sucesso alcançado no último Europeu."
Mundial, dia 12: Quaresma esfregou a lâmpada de uma equipa sem génio
"O jogo de Portugal foi medíocre. Fernando Santos procurou jogar com o resultado do Espanha-Marrocos. Quando quis mexer já era tarde para ganhar o grupo. Nunca saberemos se foi uma oportunidade perdida, mas todos vimos que a qualificação esteve por um fio. Assim sendo, não foi mau de todo...
O golo de Quaresma foi o único raio de talento que iluminou o jogo medíocre da selecção de Portugal. Excepto esse lance, tudo foi mau, lento e previsível na exibição da equipa de Fernando Santos, na qual até Cristiano Ronaldo, que desta vez pouco se viu, imitou Messi falhando um penalty (52).
A noite de mau futebol podia mesmo ter terminado com um descalabro. Já no período de descontos, num momento Portugal vencia por 1-0, era primeiro do Grupo B porque a Espanha perdia por 1-2 com Marrocos, e ia jogar com a Rússia no melhor lado do quadro; no momento seguinte o VAR dava como legal um golo de Yago Aspas para a Espanha, que empatava (2-2), e descobria um penalty num lance de Cédric. Mau? Não, podia ter sido pior: Taremi, frente a Rui Patrício, descaído pela direita, rematou às malhas laterais nos últimos segundos. O empate (1-1) resistiu por muito pouco.
Incrível a falta de capacidade da equipa de Portugal para liquidar o jogo quando o poderia ter feito. Salvou-se a qualificação, que era o mais importante, mas para jogar (com a eficaz equipa do Uruguai, que ‘limpou’ o percurso com três vitórias e 5-0 em golos) no lado do quadro em que estarão, presumivelmente, a maior parte dos ‘tubarões’ se a lógica se impuser nas jornadas finais dos vários grupos.
Este jogo vem deitar um balde de água fria nas aspirações portuguesas. A equipa podia e devia ter feito bastante melhor, por muito que este grupo fosse perigoso, como ficou demonstrado. Marrocos é uma equipa de qualidade. O Irão tem menos capacidade de chegar à frente mas é muito evoluída tacticamente e fez uma boa prova.
Na abordagem ao jogo, Fernando Santos adivinhou que o Irão não iria deitar fora as rotinas habituais contra equipas superiores: esperar lá atrás, onde costuma construir uma espécie de jaula para fechar o adversário. Por isso apareceu André Silva em vez de Gonçalo Guedes e até a surpresa de Quaresma no lugar que tem sido de Bernardo Silva. A intenção foi abrir a frente o mais possível. Arranjar bom serviço para os homens na área. A ideia ficou no papel.
Adrien em vez de Moutinho pode ter sido consequência do desgaste imposto por Marrocos no confronto anterior. Pode ter sido melhor pelo lado físico mas a equipa sentiu a falta dos passes de ruptura que Moutinho de vez em quando descobre. Adrien é melhor para jogos que exigem mais recuperação. E desta vez o médio do Leicester não conseguiu meter um único passe que desequilibrasse ou rasgasse as linhas adversárias.
A selecção portuguesa está com um défice de criatividade. É muito previsível na sua forma de jogar. Talvez por efeito de não ter conseguido ter bola no jogo anterior, utilizou uma espécie de tic-tac elementar, com os jogadores demasiado parados, que nunca conseguiu descobrir fissuras na teia defensiva do Irão ou retirar de posição os seus jogadores. O único momento em que isso aconteceu foi no lampejo de mais uma trivela de Quaresma, a esfregar a lâmpada com o seu décimo golo na selecção. Um lance saído do nada.
A segunda parte teve um VAR muito protagonista, com o árbitro a ajuizar as imagens sempre bem – no penalty que Cristiano Ronaldo perdoou; na apreciação de uma eventual agressão de CR, que não o foi mas mereceu o cartão amarelo pela tentativa impetuosa com que tentou ganhar posição; no penalty concedido ao Irão (sim, Cédric não podia ter a mão àquela altura).
De repente os astros viraram-se contra a falta de nervo da selecção nacional, de onde Quaresma saiu mal disposto com a substituição, na qual o cartão amarelo deve ter pesado. Quaresma com amarelo não é a mesma coisa que Raphael Guerreiro. Teoricamente, sim; na prática pode sempre ser um desastre. Fernando Santos evitou esse mas não conseguiu evitar o do resultado. Aguardou durante demasiado tempo, jogando com o marcador do Espanha-Marrocos. Normalmente resultaria, é verdade. Mas esta foi a excepção que confirma a regra. E quando o treinador nacional quis mexer – fez entrar Gonçalo Guedes, para aproveitar o tudo ou nada do Irão – já era tarde (para ganhar o grupo).
Fernando Santos não fez nada de mal. Sempre foi um conservador, não é um revolucionário. E agora também não vale a pena chorar sobre o que este jogo poderia ter sido. O melhor é esquecer e começar a tentar perceber como se ultrapassa a sólida equipa uruguaia, adversário intransponível para a Rússia (3-0), que brilhou face a adversário menores mas que já foi devolvida ao estatuto que tinha antes deste Mundial: uma equipa média, sem demasiados rasgos. Já o Uruguai tem uma das melhores duplas atacantes da prova, com Luis Suarez e Cavani. Portugal tem de melhorar e conseguir fazer um jogo mais fluído. Sinceramente, depois de termos visto em acção os médios quase todos (só falta Manuel Fernandes) torna-se difícil imaginar como se pode conseguir isso. Mas pode ser que haja de novo Cristiano Ronaldo. Contra o Irão não houve."
Trivela ex machina e Karma Keiroz
"Era uma péssima altura para que o cosmos se lembrasse de punir Cristiano Ronaldo por se ter limitado a dizer o que a maioria dos seus compatriotas pensou na altura: sim, “perguntem ao Queiroz".
Todas as histórias possíveis antes do jogo passavam obrigatoriamente por uma frase proferida por Cristiano Ronaldo há oito anos, na Cidade do Cabo, na noite em que Portugal foi eliminado do campeonato do mundo pela Espanha. “Perguntem ao Carlos Queiroz”, disse o homem que na altura só tinha uma Bola de Ouro. Hoje, de Saransk a Lisboa, ficámos todos suspensos da resposta do Carlos. Ou do Karma.
O Karma é um termo complexo do budismo e de outras religiões que, no uso popular, foi simplificado para uma espécie de justiça cósmica em que as nossas acções, boas ou más, não passam despercebidas ao universo. Na tradição profana portuguesa temos conceitos equivalentes como o Kassefazem Kassepagam ou o Ka Kalharaz. Há ainda o lema das comunidades marítimas que assegura haver mais marés que marinheiros e a ameaça vaga, espiritualmente consoladora, do “não perdes pela demora”. Todos estes cultos se baseiam na crença de que o universo está mais atento às ofensas que sofremos que nós próprios, que vai registando pacientemente num livrinho de balanço esses agravos e que há de colaborar connosco, ou mesmo sem a nossa contribuição, para retribuir aos nossos inimigos os danos que nos infligiram.
O peso daquelas palavras pairava sobre o espírito de todos, como uma cúpula invisível a tornar o ambiente do jogo particularmente abafado. Era uma péssima altura para que o cosmos se lembrasse de punir Cristiano Ronaldo pela húbris e por se ter limitado a dizer o que a maioria dos seus compatriotas pensou na altura: sim, “perguntem ao Queiroz”. O que aconteceu depois ao treinador, de certa forma reabilitou-o aos olhos dos portugueses. O despedimento pela Federação foi uma manobra vergonhosa, na senda das mais vis e subterrâneas tradições do nosso futebol. Como se não bastasse, Queirós ainda foi arrastado pela ruína do BES, tendo perdido uma parte das poupanças. O estatuto de vítima era preocupante. Analisando os factos, até uma pessoa sem tendência para as teorias da conspiração fica com a mania da perseguição na terceira pessoa, ou seja, desenvolve a mania que uma terceira pessoa, neste caso, Queiroz, está a ser perseguida. Para o adepto que tende a valorizar todos os factores que possam determinar o curso de um jogo, era óbvio que o universo nunca teria uma oportunidade tão gloriosa para ressarcir Carlos Queirós dos prejuízos causados pela Federação, pelo sistema bancário e por Cristiano Ronaldo.
Foi então sob o signo de um possível ajuste de contas cósmico que os jogadores subiram ao relvado. O jogo começou com William aos comandos da nave, a controlar confortavelmente as manobras, a tal ponto que até os jogadores iranianos pareciam esperar as indicações dele para se movimentarem. Na baliza iraniana o guarda-redes não segurava um cruzamento e chegou a desentender-se com um defesa. Discutiram de um modo muito persa e, pouco depois, já estavam enervados por outro motivo qualquer. A reacção dos iranianos a cada bola perdida era de total descontrolo emocional, como se estivessem à beira de um colapso nervoso. Neste período inicial, Portugal teve a virtude de nos fazer ver o Irão tal como é e não do tamanho dos nossos medos: uma equipa abnegada, disciplinada na defesa e com a famosa “intensidade”, mas mediana, com uma estratégia de ataque assente em lances de bola parada e na esperança de um auto-golo. Porém, aos poucos, as coisas começaram a inverter-se. O ponto de viragem terá sido uma cueca de bairro que Adrien Silva levou nas imediações da nossa grande área. Queirós destacou um jogador para atrapalhar William e a missão foi bem sucedida. Portugal insistia nos cruzamentos, mas agora que o guarda-redes já conseguia segurar a bola, era o mesmo que entregá-la ao adversário. O Irão crescia. As nuvens prenunciadoras de uma tempestade kármica adensavam-se. Até que, quase a acabar a primeira parte, Quaresma tirou o coelho da cartola, a trivela ex machina. Além das qualidades futebolísticas, Quaresma revelou inesperados dotes de dramaturgo clássico que proporcionaram a todos os portugueses um intervalo inesperadamente tranquilo.
Para a segunda parte, o Irão trouxe uma única ideia, certamente gizada pela argúcia táctica de Keiroz: reforço das marcações cerradas aos jogadores portugueses e ao árbitro paraguaio. A partir daí só deu VAR. Um penálti claríssimo sobre Cristiano Ronaldo teve de ser confirmado pelo VAR. (Quando CR7 chutou para a defesa do guarda-redes iraniano deve ter regressado por instantes àquela noite na Cidade do Cabo. Viria aí o Karma Keirós?) Os iranianos entusiasmaram-se (se é que ainda era possível) e a cada decisão do árbitro, melhor, a cada fôlego do árbitro, saltavam todos do banco como se tivessem à frente deles a embaixada dos Estados Unidos. Keirós, com ar de sonso, exigia a intervenção do VAR até para avaliar os lançamentos: VAR para as botas dos portugueses, VAR para determinar a legalidade da cor do equipamento de Rui Patrício, VAR para o cabelo do Pepe. Tanto pediu que foi recompensado. Uma disputa de bola mais mais musculada acabou com cartão amarelo para Ronaldo, depois de o árbitro ter sido coagido a rever as imagens, e, já em período de descontos, uma bola acidental no braço de Cédric Soares levou Enrique Caceres, em modo José Pratas, a assinalar penálti.
Os últimos minutos, em que o Irão desperdiçou uma grande oportunidade para passar aos oitavos-de-final e mandar Portugal de regresso a casa, foram mais uma eloquente prova de que esta selecção não só sabe sofrer como o sofrimento parece ser-lhe tão essencial como a bola e a relva. Se o prazer que sentimos no fim fosse distribuído equilibradamente pelo resto do jogo chamar-se-ia masoquismo. Assim, é sofrimento pelo sofrimento. Mas antes isso que o Karma Keiroz para nos estragar a festa."
Cristiano Ronaldo vingou-se de Queiroz
"Portugal parou ontem para ver um jogo que determinava o nosso futuro no Campeonato do Mundo de Futebol. Uma derrota obrigava-nos a regressar a casa mais cedo mas, depois de muito sofrer, a equipa acabou por empatar e garantir o segundo lugar do grupo, que nos possibilitará jogar com o Uruguai nos oitavos-de-final da competição.
No sábado, logo veremos se os craques portugueses conseguem superar-se e seguir em frente ou se voltam para Portugal.
Mas o jogo de ontem tinha muito mais em disputa do que a passagem à fase seguinte. É sabido que Carlos Queiroz, o treinador do Irão, não saiu a bem da selecção portuguesa e as suas quezílias com Cristiano Ronaldo não estão ultrapassadas, por muito que o agora treinador iraniano diga o contrário.
Queiroz é daquelas personagens chatas que adoram queixar-se de tudo. Começou a ganhar fama com dois títulos mundiais dos sub-20 portugueses mas, tirando o trabalho em selecções nacionais, nunca conseguiu nenhum feito digno de registo à frente de um clube. Por todos os motivos, a vitória de Portugal frente ao antigo seleccionador nacional teve um sabor especial, embora o Irão tenha jogado de igual para igual e até não merecesse perder. Cristiano Ronaldo, que tem sido a garantia de pontos na selecção, ontem falhou uma grande penalidade e não conseguiu marcar a diferença, mas é indiscutível que Portugal passou mais uma fase de grupos num campeonato do mundo.
A Espanha, que estava no nosso grupo, viu-se e desejou-se para empatar com Marrocos e ficar em primeiro lugar. O futebol, à semelhança de muitas outras actividades, está muito diferente e os países cada vez mais se equiparam. No entanto, não deixa de ser meritório que um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes esteja sempre, pelo menos nos últimos anos, na linha da frente das melhores selecções.
Já lá vai o tempo das vitórias morais e, hoje, Portugal joga de uma forma muito mais cínica, mas consegue resultados que no tempo de outros craques nem sonhávamos serem possíveis. Esperemos que o Uruguai seja apenas mais um degrau até à final..."
Amar(o) Mundial. Trivelada de emoção!!
"Trivela é um pontapé dado na bola com a parte exterior do pé, para criar um efeito de rotação à bola. Ricardo Trivela, que me perdoe o Quaresma, mas vai ter que mudar de nome! Alguém vai ter que fazer uma petição por favor.
Trivelas à parte, hoje foi dia de sofrimento, melhor dizendo, este grupo foi um sofrimento atroz!!! Muita emoção é verdade, muita imprevisibilidade, é verdade, mas acima de tudo muito sofrimento (demasiado) para todos, inclusivamente para os espanhóis que quase, miraculosamente no mesmo minuto que Portugal sofre o golo, eles chegam ao empate, garantindo o tão desejado 1.º lugar.
Em relação ao jogo, Portugal melhorou e dominou obviamente, foi astuto e inteligente até aos 60 minutos, circulou muito mais rápido, foi muito mais objectivo a circular, procurando rapidamente “abrir” o campo e jogar no 1x1 desequilibrando e cansando o adversário - o Irão estaria preparado para um Portugal que circulasse a bola no corredor central de forma paciente e Fernando Santos trocou as voltas, juntando a isso um gigantesco Adrien ( jogaço!!!), uma melhoria na pressão mais alta de William, um corredor central a defender melhor, proporcionando logicamente um ataque melhor.
Quaresma foi decisivo e a chave do desequilíbrio enquanto teve pilhas. Ronaldo falhou o penálti mas desequilibrou e assumiu mais, saiu do corredor central, forçou o 1x1 e o 1x2, acelerou e teve mais mobilidade; André Silva a fixar e Ronaldo a arrastar os adversários, falta mais contundência na área e resolver o “problema” do ala esquerdo; João Mário tem que fazer muito mas muito mais, não basta classe é preciso jogar, acho sinceramente que Portugal acabará a jogar com William, Adrien e Moutinho, Guedes, Ronaldo Quaresma com variantes entre o 4x4x2 e o 4x3x3.
Parabéns Irão, magnífico sob o ponto estratégico, conseguiu quase sempre esconder as suas debilidades e exponenciar as suas virtudes. Johann Cruyfft dizia: “ Olha sempre longe, o primeiro passe se possível é sempre para o jogador mais longe e perto da baliza”, o Irão levou à risca esta tese, bola esticada ao máximo, subida rápida dos médios e remate à baliza, sob o ponto de vista organizacional, táctico e físico este Irão superou-se, que espectáculo! E quase quase que dava...
Pragmatismo, eficiência, solidez e controlo têm que ser estes os pergaminhos, a espectacularidade vem depois, tem que ser assim necessariamente, esqueçam a conversa da posse, do jogo interior, do controlar do jogo. O grande objectivo dum jogo de futebol é marcar golos e não sofrer, os meios para se chegarem aos fins são muitos e sinceramente a conversa da posse e de controlar o jogo com bola já começa a ficar muito desinteressante... Que o diga o Uruguai, “querem bolinha? Querem jogo interior? Querem posse? Perfeito”.
Não vá nessa cantiga engenheiro, não vai porque o Mister sabe muito disto! Pela Pátria Lutar!"
Mia Wallace no Irão-Portugal
"Portugal ganhou direito a mais um dia de vida, num jogo em que “As 1001 Noites” encontraram o “Pulp Fiction”. Ninguém sabe como a história acaba, mas, para já, a trivela venceu o quadrado.
Dizem que a Pérsia inventou o suspense. “As 1001 Noites” começam quando Xariar descobre que a rainha o traíra com um escravo. Louco, o rei manda matá-los a ambos e determina que, dali em diante, nunca mais será enganado por mulher alguma. Casará com uma nova todos os dias, dormirá com ela nessa noite e matá-la-á na manhã seguinte. E assim sucede, de casamento em casamento e de crime em crime – até chegar a vez de Xerazade.
Tragicamente ciente do destino que a esperava, a jovem recorre a um poder inesperado: depois de partilharem o leito de núpcias, começa a contar uma história ao rei, de modo tão envolvente que, ao nascer-do-sol, estava o drama enredado no auge e o desfecho inteiramente em aberto. Xariar caía de sono, mas não podia matar a mulher sem saber como acabava a história. Então, decide que lhe pouparia a vida, que descansariam, ela terminaria a história no dia seguinte e, então, se voltaria ao plano original. Mas, na outra noite, Xerazade repetiu a magia: começou uma nova história, que levou até ao pico do suspense e deixou ao nascer-do-sol no gancho que prendia o rei à sufocante curiosidade pelo desenlace. E assim, noite após noite, após noite, após noite, conto após conto, Xerazade salvou a vida.
Todas as culturas são fundadas sobre histórias, mas talvez nenhuma como a persa reconheça de tal forma o seu tremendo poder. A história do Portugal-Irão do Mundial de 2018 não teve o encantamento d’ “As 1001 Noites”, mas não lhe faltou suspense. E teve tiques de “Pulp Fiction”, que é uma fantástica demonstração contemporânea e ocidental do poder das histórias em mosaico.
Tal como na antiga Pérsia, tudo começou de véspera e com alguém que não nos deixava dormir (e se a nossa equipa é boa a fazer dormir) – não foi pelas histórias; foi pelo barulho que os iranianos foram fazer para a porta do hotel da selecção portuguesa. Seguiu-se aquela bonita primeira meia hora de jogo – ou, como também lhe podemos chamar, o casamento –; depois, veio alguma turbulência e o golo de Quaresma – o amor, no fundo; o romance. Mas, a partir daí, o Irão tinha de fazer pela vida, e então começaram os golpes de suspense… É penalty sobre o Ronaldo ou não é? É. O Ronaldo vai marcar e isto vai ser uma vitória tranquila? Não vai. O Ronaldo vai para a rua ou não vai? Não vai. Espanha perde e fica em segundo? Não fica. É mão do Cédric ou não é? É. O jogo acaba ou não acaba? Não acaba. Nunca mais acaba. Até que lá acaba.
Porém, não se vislumbrou Xerazade; antes, Mia Wallace. De uma baliza à outra, sector a sector, não havia às tantas jogador que não desenhasse no ar o célebre quadrado de Uma Thurman. Dir-me-ão que solicitavam o recurso ao vídeo-árbitro. Quem sabe? Eu digo que diziam uns para os outros: “Don’t be a square”. “Não sejam quadrados”. Um apelo nobre. Não sejam chatos. Joguem à bola. Parem com as fitas. Metam groove nesta choradeira.
Como em “Pulp Fiction”, tínhamos um infiltrado: Maria de Medeiros na fita de Tarantino, Oceano Cruz na do Ayatollah. William Carvalho, com um fato preto e umas citações de Ezequiel, que Jules não daria. E Ronaldo, se repararem bem, ajeita o cabelo à Vincent Vega, mesmo antes de nos esganipar os nervos e falhar o penalty.
Dirá: a história não foi fantástica. Não foi. Mas, como Xerazade, lá salvámos a pele. Ganhámos mais um dia. E bem vistas as coisas, ao ficar em segundo, enfrentamos o Uruguai, em vez da Rússia, que é quem organiza estas 31 noites e tem um rei chamado Putin que não sei muito bem como lida com a derrota.
Devemo-lo a um homem chamado Ricardo Quaresma, a quem já chamaram de Harry Potter, mas que até tem mais rosto de Aladino. E que faz trivelas, que, como toda a gente sabe, são o oposto do quadrado.
Nem uma palavra para Carlos Queiroz? Acabámos de a dizer: quadrado."
Nós e o Mundial
"Se vivêssemos em tempos decentes, todas as selecções de países da NATO, pelo menos, teriam imediatamente boicotado a sua participação no evento. Não vivemos.
Organizados por uma organização que faz da corrupção a sua actividade principal e fonte de rendimento quase exclusiva, os Campeonatos do Mundo da FIFA tornaram-se nos últimos anos num instrumento de engrandecimento e encenação de normalidade usado por regimes igualmente corruptos para fingirem que não são o que são.
Em 2010, a África do Sul e o seu pouco honesto governo viram no “primeiro Mundial em África” uma oportunidade de promoverem a imagem do país, objectivo em nome do qual raptaram e esconderam milhares de sem-abrigo dos olhos dos turistas.
Em 2014, foi a vez do Brasil do Mensalão, da Lava-Jato, da Petrobras e todos os outros casos que os limites da memória humana não deixam ter na ponta da língua, gastar milhões em estádios que hoje estão a cair aos bocados para tentar mostrar que os seus duvidosos governantes o tinham transformado num país desenvolvido.
Em 2022, será o Qatar a usar o trabalho de milhares de escravos para fazer propaganda enquanto se sujeitam os jogadores (figuras irrelevantes num Campeonato do Mundo de Futebol) a temperaturas pouco convidativas até à mais pachorrenta corrida.
Este ano, como toda a gente sabe, a sorte coube à Rússia e como seria de esperar, aos jogos, resumos dos jogos, comentários aos jogos e “notícias” acerca do que aconteceu antes e depois dos jogos, têm-se juntado as inúmeras reportagens que pretendem mostrar como é a vida na Rússia. Realizar um “Mundial” pode ser um péssimo investimento segundo critérios “normais”, mas para alguém como Vladimir Putin, a cobertura “noticiosa” do que rodeia o torneio faz com que cada cêntimo dos muitos milhões de rublos desperdiçados em estádios de futebol que nunca mais serão usados tenha valido a pena ser gasto.
Num excelente artigo no The Ringer, Andrew Helms nota como “eventos como o Mundial ou os Jogos de Sochi” são “actos calculados que forçam a comunidade internacional a interagir com a Rússia como se esta fosse um actor normal”, esquecendo a sua “beligerância no palco internacional e a sua repressão autoritária interna”, para não falar do programa estatal de doping que o regime patrocina, ou da corrupção que lhe permitiu conquistar o direito a organizar o próprio Mundial (o artigo menciona como Miguel Poiares Maduro terá sido afastado do lugar que tinha na FIFA para não hostilizar o governo russo) bem como encher os bolsos de Putin e seus protegidos.
O comportamento interno e externo do regime russo não só não foi suficiente para que lhe fosse retirada a organização do Mundial, como não desencoraja alguns políticos de países democráticos, que deviam ter mais juízo, de caucionarem com a sua presença tudo o que o regime russo faz e a propaganda com que pretende mascarar a sua verdadeira natureza.
Como bem lembra Helms, ainda recentemente a Rússia foi responsável por uma tentativa de assassinato de um antigo general russo tornado agente do Reino Unido. Tendo tido lugar em solo britânico, e sido realizado com armas químicas (que vitimizaram pelo menos um cidadão inglês), o acto constituiu um ataque ao próprio Reino Unido, e como tal deveria ser tratado.
Se vivêssemos em tempos decentes, todas as selecções de países da NATO (pelo menos) teriam imediatamente boicotado a sua participação no evento. Como não vivemos, Theresa May garantiu que o seu país não enviaria qualquer representante oficial às festividades, mas só a Islândia lhe seguiu o exemplo, enquanto todos os outros continuam a comportar-se como se nada se passasse.
O “nosso” Marcelo, por exemplo, com a falta de vergonha e desejo de aparecer na televisão que o caracterizam, até se deu ao luxo de ir dar uns abraços a Putin, um acto insultuoso para com um aliado como os britânicos e de uma irresponsabilidade só mesmo ao alcance do “Presidente dos afectos”.
A culpa, em parte, também é nossa. Marcelo e os da sua laia fazem questão de se mostrarem a assistir ao Mundial porque este lhes oferece uma oportunidade de também eles (como Putin) fazerem propaganda. O Mundial oferece aos políticos uma oportunidade única de parecerem “próximos” de nós, porque nós assistimos ao Mundial, porque nós prestamos atenção a tudo o que rodeia o Mundial, porque nós, durante um mês, não conseguimos prestar atenção a outra coisa que não ao Mundial.
Eu próprio, embora menos do que em anos anteriores, tenho passado os últimos dias a ver jogos, a ler sobre os jogos, a falar sobre os jogos. Se também nós não fechássemos os olhos ao carácter do regime russo e, em consonância, votássemos o seu Mundial ao merecido esquecimento, os políticos fariam o mesmo, e a máfia que governa aquele desgraçado país não teria o que queria.
Tal como os apoiantes russos de Putin que por causa de umas quantas vitórias militares contra inimigos fracos vêem o “regresso” da “grandeza” da Rússia e esquecem a pobreza que afecta grande parte da sua população, também nós deixamos que baste que nos ofereçam o espectáculo do circo futebolístico para esquecermos tudo o resto. Como escreveu Simon Kuper num outro excelente artigo sobre o assunto, “no futebol, como no resto, o mundo é dos autocratas”."
#TeamBrave: a equipa com melhor defesa no Mundial de Futebol da Rússia
"José Mourinho disse um dia sobre a forma como se associa a uma das suas maiores causas – os seus jogadores: “Jogador meu que esteja no buraco ninguém lá vai calcá-lo, vamos todos lá dar a mão e puxá-lo para cima”.
Temos visto neste mundial de futebol que o desporto colectivo tem estas metáforas absolutamente maravilhosas para a vida, para o trabalho em equipa, para a união de pessoas em torno de um objectivo.
Ver onze pessoas e a sua equipa técnica a trabalharem unidas dentro de campo, nas suas diferentes funções a trabalhar para o mesmo, com o todo colectivo a pensar como um só e em perfeita harmonia de objectivos é a metáfora mais bonita de como o mundo podia ser.
A equipa é essencial no momento da superação das dificuldades, no momento em que é necessário mais um punhado de esforço, mais uma nota de sacrifício e persistência para alcançar objectivos. É uns dos outros que dependemos - em equipa - para enfrentarmos com sucesso os desafios que o mundo nos apresenta.
Na defesa dos direitos humanos é o mesmo. Temos de jogar sempre em equipa, especialmente com quem carece de protecção, com quem tem a coragem de defender os seus direitos e os dos demais, com toda a sociedade civil e com quem está no poder e exerce a autoridade de Estado. Cada qual na sua posição em campo e todos a jogar – e a jogar limpo – para que se marquem todos os golos de todos os direitos para todas as pessoas.
Na Rússia, que agora acolhe o Mundial de Futebol de 2018, não se joga, infelizmente, com fairplay fora dos relvados. As 32 selecções que participam neste Campeonato do Mundo estão num país onde os defensores de direitos humanos enfrentam constante intimidação e perseguição, onde muitos são detidos arbitrariamente e condenados injustamente a penas de prisão. Não há jogo limpo – nem justo, nem tão pouco bonito – quando as autoridades põem atrás das grades defensores de direitos humanos como o fazem na Rússia.
É com alguns desses defensores de direitos humanos russos que a Amnistia Internacional formou a #TeamBrave: uma equipa de 11 corajosos e conceituados activistas que trabalham em defesa dos direitos e das liberdades fundamentais na Rússia, permanentemente confrontados com intimidação, demonizados e que, em alguns dos casos, sofrem agressões e ameaças de morte.
Oiub Titiev é um dos “atletas” desta equipa. Chefe da ONG Memorial na Tchetchénia, tem sido alvo de numerosos ataques. Encontra-se em prisão preventiva sob acusações falsas que visam minar a sua reputação e o põem em risco de perder a liberdade por dez anos.
O activista Andrei Rudomakha, cuja denúncia dos danos ambientais e destruição da floresta ancestral em Krasnodar fez com que fosse brutalmente agredido, sem que as forças policiais tenham detido os suspeitos atacantes apesar de existirem abundantes provas.
É também o que acontece com Igor Nagavkin, um dos mais renomados defensores dos direitos dos presos na Rússia, e activista contra a tortura e a corrupção, que está encarcerado arbitrariamente há mais de ano e meio devido a acusações falsas.
Estas são apenas três histórias de três dos defensores de direitos humanos da nossa “equipa” sob risco na Rússia – não são casos únicos. Integram, de facto, um padrão mais lato e consistente de repressão de todo o tipo de críticas, dissidência ou protestos no país. As investigações feitas pela Amnistia Internacional apontam recorrentemente para o agravamento das restrições ao exercício da liberdade de expressão e de reunião na Rússia – em alguns casos com o Mundial de Futebol a ser usado como justificação pelas autoridades.
Esta foi a primeira vez que a FIFA atribuiu à Rússia o direito de ser anfitriã de um dos mais prestigiantes eventos desportivos do mundo, pondo naquele país os olhos de uma audiência global de milhares de milhões de pessoas. E desde que o anúncio foi feito, em finais de 2010, a situação no país só se agravou, com a aprovação de leis cada vez mais asfixiantes e limitadoras do trabalho das organizações não-governamentais e dos defensores de direitos humanos.
O argentino Jorge Valdano, que nos habituou a um futebol pleno de filosofia humanista, disse que “um ser humano ou uma equipa tem de dar sentido ao que faz, ter bem claro o porquê e o para quê das acções da sua vida quotidiana – o sonho não é um lugar em que se fique, mas sim um motor que nos põe em marcha”. A #TeamBrave é um motor para os direitos humanos na Rússia que se move a coragem e com o alento e solidariedade que são expressas por todos nós, que também queremos conquistar o sonho.
Estes defensores de direitos humanos, defendem-nos a todos nós. São da nossa equipa e não somos convocados à bancada. Somos convocados ao jogo, à vida, ao trabalho de equipa. Somos titulares nisso. Assinemos por isso a petição da #TeamBrave... ao fazê-lo estamos a fazer como faz o Mourinho: “em jogadores meus ninguém toca”."
Sporting. Uma vitória da democracia, da lei e da ordem
"Quando Vale e Azevedo foi condenado alguns ainda acreditavam nas suas teorias de conspiração. Um erro que os radicais de Bruno de Carvalho também cometem. Em breve, perceberão que foram enganados.
1. Vamos começar pelo fim. A estratégia, entre (muitas) outras matérias básicas de liderança, não é o forte de Bruno de Carvalho. Se fosse, o ex-presidente do Sporting ter-se-ia afastado após os ataques terroristas e cobardes à Academia de Alcochete e hoje, provavelmente, ainda estaria em condições de disputar as eleições.
O problema de Bruno de Carvalho é que parece viver numa espécie de realidade paralela a que só ele e o pequeno grupo de fanáticos que o apoia têm acesso. Nessa espécie de 5.ª dimensão leonina, BdC não foi humilhado numa Assembleia-Geral (AG) que lhe retirou as funções de presidente do Sporting (o que aconteceu pela primeira vez na história do Sporting), não foi derrotado em toda a linha nos tribunais onde ficou claro que violou os estatutos do clube e os jogadores que foram agredidos em maio por um grupo de 50 marginais depois de terem sido humilhados em público pelo líder do clube deveriam ter ‘comido e calado’. E, claro, o resultado da AG deste sábado foi manipulado e não corresponde à ‘realidade’ da claque ruinosa, agressiva e violenta que tentou manipular o sentido da reunião magna dos sportinguistas.
Nesse mundo de fantasias perigosas, há um facto que é indesmentível: a recandidatura de Bruno de Carvalho às eleições de Setembro, anunciada poucas horas depois de ter dito que abandonava o clube como sócio, e até como adepto, e de ter sido destituído com mais de 70% dos votos dos sócios presentes na Assembleia-Geral, vai voltar a unir a oposição e fomentar o aparecimento de um candidato credível e agregador que una as diferentes tendências do Sporting.
Ou seja, parece que a lição clara de democracia, civismo e cidadania que foi dada pelos sócios do Sporting no último sábado não foi suficiente para BdC ir descansar para casa.
A única explicação possível para esta teimosia passa por aqueles actores que, quando iniciam o seu declínio, recusam-se a abandonar o palco por narcisismo puro e duro. Estão viciados em ser o centro das atenções e não compreendem que têm de dar o lugar aos outros.
2. “Portugal é considerado, por avaliações internacionais, como o terceiro país mais seguro do mundo e isso é essencial antes de mais para os portugueses (…) mas também é fundamental para a economia, porque só um país seguro atrai turistas, investidores e novas populações”. Só estas declarações proferidas por Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, em Novembro de 2017, bastariam para que o Governo de António Costa tivesse iniciado procedimentos para retirar o Estatuto de Utilidade Pública ao Sporting Clube de Portugal logo após o ataque a Alcochete e as lamentáveis (entre muitas outras) declarações de Bruno de Carvalho sobre esse ato criminoso.
Mas não foi nada disso que aconteceu numa passividade que é difícil de compreender. O Governo preferiu refugiar-se nos pormenores técnico-jurídicos do conceito legal de Estatuto de Utilidade Pública para não intervir no Sporting, mas não podia ignorar a mancha que aquele ataque terrorista teve na imagem de Portugal como um dos países mais seguros do mundo. É que Bruno de Carvalho e os seus apoiantes radicais, muitos deles com assento nas claques ultras do Sporting, podem ignorar que Portugal é um dos países mais seguros do mundo — mas o Governo de António Costa não só tem a obrigação de manter esse estatuto como até de melhorá-lo.
É certo que o Executivo reagiu a tempo e horas no dia do ataque à Academia de Alcochete por mais de 50 marginais mas não o fez ao mais alto nível — como a situação obrigava pelos danos na reputação internacional do país e como Marcelo Rebelo de Sousa e Ferro Rodrigues (as duas primeiras figuras do Estado) perceberam desde a primeira hora.
António Costa só falou um dia depois para anunciar ‘à Guterres” uma nova Agência e lei contra a Violência do Desporto — que já tinha sido anunciada em abril. Enquanto o próprio ministro Eduardo Cabrita falou genericamente num caso “gravissímo”.
Curiosamente, apenas dois meses antes, Costa não via qualquer problema de violência no futebol. A sua definição de violência era a grega: “Aí houve um dirigente que entrou de pistola no meio do campo… Ainda não chegámos a esse ponto”, afirmou Costa.
3. Esta questão, a do Estatuto de Utilidade Pública, pode parecer mas não é de somenos. É o instrumento ideal para que o Governo ‘seduza’ todos clubes desportivos profissionais e não profissionais para a seguinte ideia: a violência e os negócios ilícitos nunca serão aceite pela comunidade — e merecem mesmo um cartão vermelho directo.
As cenas de violência associadas aos fenómeno desportivo têm subido nas últimas épocas desportivas, como especial destaque para a última. Isto, isto, isto, isto, isto, isto e isto não são comportamentos inadmissíveis num país que quer continuar a ser dos mais seguros do mundo. Nem assistir na televisão, nos sites ou no youtube a imagens de grupos vândalos a investirem com cadeiras e paus contra outro grupo de adeptos pode passar a ser uma coisa corrente.
Em sintonia com a Federação Portuguesa de Futebol, cujo presidente já alertou para os perigos da actual situação, e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o Governo tem de tomar medidas para matar o problema pela raiz. É essa a obrigação de António Costa.
4. A situação de Bruno de Carvalho começa a ter cada vez mais paralelismos com a de Vale e Azevedo. Ambos populistas, ganharam o poder com discursos contra o inimigo imaginário das elites, fizeram dos media um adversário e tentaram contrariar a realidade dos factos até ao máximo das suas forças.
João Vale e Azevedo foi eleito presidente do Benfica em 1997 mas três anos depois, quando já estava a ser alvo de diversas investigações criminais, perdeu as eleições contra Manuel Vilarinho. Mesmo assim ainda recolheu 38% dos votos — o que equivaleu a mais de 96 mil votos.
Pouco mais de um ano depois, foi preso pela Polícia Judiciária a propósito do caso Ovchnnikov. Viria a ser condenado em 2002 nesse processo, onde era suspeito de se ter apropriado de fundos do Benfica, a quatro anos de prisão efectiva. Mesmo naquele momento, Vale e Azevedo ainda tinha o apoio de cinco fanáticos que acreditavam nas suas teorias conspirativas.
Um erro que muitos dos fanáticos que apoiam Bruno de Carvalho também cometem. Em breve, muitos deles perceberão que foram enganados."
Geringonça (e) Sporting: bem-vindos ao “Portugalho”!
"O caso Bruno de Carvalho mostra-nos a tendência portuguesa para se concentrar no acessório, em detrimento daquilo que é essencial. Hoje somos a “República da bola” - e da “bola rasca”
1. É o assunto que continua a animar os portugueses, pelo menos a comunicação social pátria, que encontrou no futebol o seu filão cimeiro de audiências: as tentativas sucessivas de resistência de Bruno de Carvalho na liderança do Sporting Clube de Portugal. Note-se que este “fenómeno” (não estamos certos de qual o epíteto mais adequado para descrever as ocorrências das últimas largas semanas: se fenómeno, se novela, se drama, se comédia…) ultrapassa largamente o estrito fenómeno desportivo; na verdade, o Sporting apenas consubstancia o culminar de uma tendência, que se tem desenvolvido em Portugal, de total simbiose entre futebol e política.
2. Política, aqui, não significa apenas uma identidade entre protagonistas (dirigentes desportivos que são políticos; políticos que se transformam em dirigentes desportivos) ou de práticas partidárias: política, para estes efeitos, significa todo o universo com incidência na política, incluindo jornalistas, agências de comunicação e formas de comunicação. Mais do que saber de futebol, importa saber falar do futebol. Mais do que ter consciência do que se afirma, importa criar a aparência de que se tem conhecimento daquilo de que se fala. Muitos têm desvalorizado o caso Bruno de Carvalho; no entanto, ele merece ser analisado na medida em que espelha o estado a que o nosso país chegou. Que o mesmo é dizer: o estado a que nós - enquanto povo - chegámos.
3. Antes do mais, registemos o protagonismo claramente desmesurado que foi atribuído a Bruno de Carvalho nos média portugueses. Ser presidente do Sporting Clube de Portugal é um cargo cujo relevo social é indisputável - falamos de uma associação desportivo-empresarial que move milhões e que muito tem contribuído para o desenvolvimento do desporto português. No entanto, o Sporting, por si só, não representa um assunto de Estado: o presente e o futuro do referido clube não consubstanciam uma prioridade nacional, uma matéria com incidência no desenvolvimento económico e social da nossa nação ou uma tragédia digna de conduzir a uma situação de emergência nacional ou de estado de sítio permanente. Estado de sítio - foi assim que parecemos viver em Portugal, devido às mudanças de humor de Bruno de Carvalho. Foi publicado mais um post no Facebook? Sim? Então, as televisões dedicam o dia, com painéis sucessivos, compostos por adeptos, sócios, ex-dirigentes, dirigentes atuais e até dirigentes futuros do Sporting, a discutir sobre qual será o próximo passo do presidente (presidente suspenso? ex-presidente? presidente suspenso ao mesmo tempo que é presidente-candidato? Que confusão…) leonino.
4. O pai de Bruno de Carvalho publicou um novo post? Convoque-se já mais um exército de adeptos, sócios e dirigentes do Sporting para se discutir a autoria (material e moral) do novo post: terá sido mesmo o pai? Ou terá sido o próprio Bruno de Carvalho a surripiar a conta social do seu progenitor? Nesta discussão (ridícula!) gasta-se mais uma semana inteira de tempo de antena televisivo e páginas de jornais. Ao mesmo tempo que se poupa em assuntos que são verdadeiramente relevantes, mais complexos e dispendiosos de cobrir: a maioria dos jornalistas não têm paciência para se dedicarem a matérias de tratamento difícil (até porque o salário não justifica) nem estão dispostos a correr os riscos que o escrutínio da actividade política implica; os “patrões” dos média tradicionais não querem despender dinheiro em trabalhos de grande fôlego, extremamente relevantes (sem dúvida), mas excessivamente desinteressantes para as massas (com toda a certeza). Falar do futebol (que não de futebol, como notou, inteligentemente, o treinador Sérgio Conceição) é um garante de audiências: as massas ouvem com atenção; os patrões ganham dinheiro; os jornalistas trabalham menos (porque é só deixar o Bruno, os sócios, os adeptos e os protossócios botarem faladura horas a fio); a publicidade interessa-se e paga; evitam-se as chatices próprias que os assuntos da vida política, nacional e internacional suscitam. Infelizmente, os capitalistas portugueses - já devidamente seguidos pelos seus pares internacionais, que são logo aculturados - têm receio de investir em projectos que marquem a diferença.
5. Que tenham a ousadia de desafiar o politicamente correto: daí que o jornalismo (não exclusivamente entre nós) se tenha convertido em mero instrumento de propaganda ou estratégia empresarial para potenciar outros setores de negócios. O caso Bruno de Carvalho mostra-nos, pois, a tendência portuguesa para se concentrar no acessório, em detrimento daquilo que é essencial. Hoje somos a “República da bola” - e da “bola rasca”. As polémicas, os telefonemas de Bruno de Carvalho, em direto, para os programas televisivos ofuscaram quase por completo o Mundial da Rússia, aquela que era tida como a última esperança para levar os debates sobre o futebol a não olvidarem o seu objecto: o futebol, o “jogo jogado” nas quatro linhas. Sejamos claros: um país que dedica uma parte significativa dos seus dias a debater os humores do sr. Bruno de Carvalho; que anda neste circo mediático há meses; que vive obcecado com as incidências do clube leonino é um país em decadência civilizacional. Não conhecemos fenómeno idêntico em qualquer outro ponto do globo: nem mesmo na tão badalada América Latina.
6. Por outro lado, quem são os adeptos, sócios e ilustres sportinguistas que pululam nas nossas televisões e jornais para comentar a publicação, a edição e a reedição dos posts de Bruno de Carvalho? Praticamente, sempre os mesmos. Às 21h vão à SIC; às 22h vão à TVI; às 23h vão à CMTV. Sempre para dizer o mesmo; e, no dia seguinte, repetem o ritual. Religiosamente. Quem são os gurus do Sporting? Ricciardi e Miguel Relvas. Quem são os gurus do sistema financeiro-político português? Ricciardi e Miguel Relvas. Pelo meio surgem uns deputados que ninguém conhece pelo seu trabalho político - apenas pelos seus dislates televisivo-futebolísticos. Por exemplo, sabia que há um deputado chamado André Pinotes Baptista? Não? Nós também não - mas é uma estrela do comentário futebolístico que se notabilizou na sequência do caso Bruno de Carvalho. Conhece o deputado Hélder Amaral? É um político muito esforçado, é certo - mas só logrou obter reconhecimento generalizado pelo facto de ser o único comentador que defende cegamente Bruno de Carvalho. Corre até nos corredores a informação (maldosa para a liderança do CDS, lisonjeadora para o visado) de que Hélder Amaral já só trabalha para os likes e os retweets: afinal de contas, o seu número de seguidores já supera os de Assunção Cristas…
7. Enquanto a novela Bruno de Carvalho segue o seu guião, com os tribunais a entrarem, em breve, em palco, António Costa e a sua geringonça respiram de alívio. A dívida pública está a tornar--se ainda mais insustentável? Isso não interessa. A economia portuguesa apresenta sinais (óbvios e expectáveis) de desaceleração? Vamos ignorar: olhem a assembleia-geral do Sporting! Olhem as novas diatribes de Bruno de Carvalho! António Costa também já participou nesta telenovela (com Ferro Rodrigues, o qual protagonizou uma rábula de antologia no parlamento), propondo… a criação de uma comissão contra a violência no desporto! Já o secretário de Estado que tutela o desporto, João Paulo Rebelo, serve apenas (não obstante o inúmero staff que emprega) para decorar o ambiente das idas do primeiro-ministro à bola… E parece que o próprio João Paulo Rebelo foi apoiante de Bruno de Carvalho!
8. Enfim, irresponsabilidade de muita comunicação social, a utilização do futebol como manobra de distracção política e de alienação do povo, conjugada com a promiscuidade entre políticos e dirigentes desportivos - eis o retrato da República Portuguesa em que vivemos. A nossa pátria (parece!) já não é Portugal: sejam bem-vindos ao “Portugalho”, ao país em que só existe Bruno de Carvalho. Ah, temos de acabar, vamos para o Facebook… Bruno de Carvalho já terá publicado mais uma bomba! Joana Ornelas já encontrou o anel? Chame-se o Dias Ferreira para comentar!
P.S. Agora muito a sério: quando poderemos discutir assuntos que interessem aos portugueses, para além da propaganda deste regime caduco?"
A aposta na formação
"Sempre que o Benfica vende o passe de uma das suas pérolas da formação, há benfiquistas que, em tom crítico, se interrogam se valerá a pena a aposta no Seixal. Do meu ponto de vista, a questão é simples.
O objectivo primordial de qualquer decisão no Benfica, seja estratégica ou operacional, deverá ter em vista a solidificação do projecto desportivo do clube, que passa pela capacitação das suas equipas seniores de competências e condições que lhes permitirão a conquista de títulos de forma continuada. No caso particular do futebol, tendo em conta o contexto nacional, nomeadamente se inserido nas dinâmicas do futebol internacional, em que predomina uma capacidade de investimento inalcançavel aos clubes portugueses (e irrecusável a qualquer futebolista incluindo os nossos), parece-me indiscutível que a aposta na formação é essencial.
A questão deverá ser, então, o que fazer com o produto dessa aposta. Aqui há que regressar ao ponto da partida. A ambição do Benfica não é, nem nunca poderá num clube formador. A formação deve, portanto, ser encarada enquanto uma das ferramentas, porventura a mais relevante, que permitem o acréscimo de competitividade da equipa sénior, tanto pelo rendimento desportivo dos jovens formados no Benfica como pela contratação de bons atletas com as receitas obtidas através da alienação de passes, incluindo dos formados no Seixal. O truque, sabendo-se que, trabalhando bem, as pérolas, com maior ou menos cadência, suceder-se-ão umas às outras, será maximizar o rendimento desportivo e financeiro da aposta. Infelizmente, mas é a realidade que temos e não creio que possamos alterá-la, resume-se a vender no tempo certo."
João Tomaz, in O Benfica
Ainda me lembro
"Em 1993, eu tinha 18 anos e senti aquilo como uma facada nas costas. O meu clube não estava nada bem, mas ninguém tinha agredido qualquer jogador. As constas não eram nada famosas, mas não soube de nenhum profissional do SL Benfica que passasse fome. Não havia accionistas nem SAD, nem perdões de dívida ou outras manipulações dos bancos, mas há havia abutres a rondar. E naquele verão de há 25 anos dois profissionais de futebol decidiram aceitar o aliciamento do presidente de um clube rival e mudaram de equipa. Reclamaram salários em atraso...
O que mais me custou foi ver dois bons jogadores a entrarem no número. O que não me espantou foi o carácter dos indivíduos envolvidos nas transferências. E até poderia ser bem pior, porque o Maestro e o Menino de Ouro também foram aliciados para trocar Benfica pelo Campo Grande. Acabaram por não ir, o que também demonstra o que valiam - e valem - como seres humanos.
Um quarto de século depois, fala-se em 'loucura' e até já há quem aponte a possibilidade de contratar amigos funcionários do Sporting Clube de Portugal como uma medida panfletária. Não o vejo assim, de nenhum dos prismas. Nem maluquices, nem eleitoralismo. Nós, benfiquistas, honramos e lembramos bem a nossa História - nos momentos bons e nos mais. Aprendemos com os erros, mas não podemos nunca esquecer quem nos quis fazer mal. Nesse campeonato de 1993/94 pagámos a dívida com meia dúzia em Alvalade e uma noite memorável. Agora é um bom momento para imprimir a factura detalhada."
Ricardo Santos, in O Benfica
Horários do Mundial: crime imperdoável
"Não conheço os senhores, mas desejo que um dia ardam no inferno. Não há como dizer isto um tom mais lisonjeiro. Refiro-me, claro, aos organizadores do Mundial 2018. Que raio de horários são estes? Portugal - Marrocos às 13h00? Era suposto levar uma mão ao peito para cantar o hino enquanto a outra transportava uma colher de sopa até à boca? Jogos que decidem a passagem aos oitavos de final às 15h00 durante a semana? Esta gente não sabe que eu trabalho? E a partir das 21h00, quando termina o último encontro do dia? Há algum botão para avançar o tempo quatro vezes mais rápido como nas gravações de 2014, quando às 23h00 decorria o Honduras - Equador e às 2h00 se disputava o Costa do Marfim - Japão. Aí, sim, havia espectáculo em horas decentes. Estar no local de trabalho privado de assistir ao Nigéria - Islândia despedaça-me o coração. Será que ainda vou a tempo de avançar com uma providência cautelar contra os (i)responsáveis?
Portugal vai defrontar o Irão de Carlos Queiroz, treinador que deixou tão boas lembranças aos portugueses quanto Angelos Charisteas. Embora tenha tentado com afinco, nunca consegui eliminar da memória o minuto 72 do embate dos 'oitavos' frente à Espanha, em 2010, quando Queiroz pensou que Pedro Mendes era o homem certo para saltar do banco e guerrear com Iniesta, Xavi, Xabi Alonso e Busquets. Sempre que revejo o golo espanhol dessa partida sinto-me revoltado. Não pelo fora de jogo, mas por atentar que o Ricardo Costa estava em campo.
A lateral-direito. Creio que segunda-feira temos boas hipóteses. Se Carlos Queiroz continuar igual a si próprio, é provável que o Irão entre com um ou dois lenhadores em campo."
Pedro Soares, in O Benfica
Notas de Verão
"1. Em juniores, somos campeões de futebol, futsal, andebol e voleibol, estando em boas condições para conquistar também o título de hóquei em patins. Escapou o de basquetebol, apesar da presença na final four. Eis uma prova de vitalidade do Glorioso. O futuro está pintado de vermelho e branco.
2. Não sei se o Benfica vai, ou não, contratar algum ex-jogador do Sporting. Se houver interesse desportivo, disponibilidade financeira, garantia jurídica e vontade dos próprios, não vejo motivos para não o fazer. Entre aqueles que rescindiram contrato com o clube de Alvalade, existem excelentes jogadores, que encaixariam bem na nossa equipa. A solidariedade deve ser reservada para pessoas, não para instituições, marcas ou empresas. Sobretudo quando são rivais, e, mais do que isso, quando nos desrespeitaram reiteradamente ao longo dos últimos anos. Se puder vir alguém, pois que venha. Não somos hipócritas, como outros.
3. No momento em que escrevo, desconheço o desfecho do Portugal - Marrocos. Mas pelo que se viu de Cristiano Ronaldo, e pelo que se viu das equipas tidas como principais favoritas na 1.ª jornada, este Campeonato do Mundo pode representar uma excelente e porventura irrepetível oportunidade para a Selecção Nacional.
A segunda fase é sempre um tanto aleatória, e muitos jogos serão decididos por penáltis. Mas, com metade da sorte que tivemos em França, somos candidatos.
4. André Carrillo nunca foi um jogador regular. E as bancadas da Luz nunca o compreenderam. No jogo com a Dinamarca foi o melhor em campo. A jogar sempre assim seria titular, de caras, na equipa de Rui Vitória."
Luís Fialho, in O Benfica
Cheios de Benfica
"Mais um Special Adventure Camp!
E mais uma vez um grupo de jovens atletas atravessa os céus da Europa para ir ao encontro de outras equipas dos grandes do futebol europeu envergando as cores do Benfica na camisola da Fundação. Estes jovens têm problemas e limitações que poderiam facilmente tolher-lhes a vontade. Mas andam a mil à hora, cruzam fronteiras e saem fora das organizações especializadas para que os acolhem no dia a dia para mostrar o que valem. Assumem com orgulho a responsabilidade de nos representar! Querem vencer e, mesmo que o não consigam, querem dar o máximo para fazer ver que, também eles, são capazes de fazer a diferença. Que outros virão de lá, mas para vencerem terão de os ultrapassar!
Nestes dias são o nosso orgulho, estes jovens que superam as suas deficiências e encontram a vontade e a força para se fazerem ao campo, para o que der o vier, em pé de igualdade com o Chelsea, o AC Milan e outros tantos cheios de emblemas admiráveis e nomes de meter respeito.
Mas do lado de cá está o Benfica, incarnado em cada atleta, incapaz de voltar a cara à luta e a sofrer pela vitória a que está sempre destinado. É assim todos os anos na Suíça. E é também assim agora nesta colaboração fantástica com a FIM - Football is More Foundation, que continua a convidar-nos para este evento a tem premiado e destacado a Fundação Benfica entre as Fundações dos grandes clubes europeus. Por isso, quando se trata de participar nos eventos promovidos por aquela prestigiada rede de fundações, procuramos sempre mostrar o melhor de nós próprios são sem dúvida estes jovens cheios de garra, cheios de ambição, cheios de Benfica!"
Jorge Miranda, in O Benfica
218 mil Sócios
"Os números não enganam - continuamos a crescer todos os dias, todas as semanas, todos os meses e todos os anos. Ultrapassámos, na semana passada, a barreira dos 218 Sócios. Leonor Serôdio de Oliveira nasceu, no passado dia 7 de Junho, e passados apenas quatro dias foi inscrita como Sócia do Sport Lisboa e Benfica pelo seu avô, João Serôdio, Sócio n.º 10020. A linda Leonor teve direito ao número 218063, a prova de que ultrapassámos mais uma barreira. Filha de Ana Filipa Pereira Serôdio (Sócia n.º 17668) e neta de Idália Serôdio (Sócia n.º 93305), a filha do benfiquista Luciano Oliveira nasce em plena década dourada do maior clube português. Esta é uma família exemplar de benfiquistas que está a viver, como todos nós, a melhor década da história da nossa centenária instituição. E se os resultados desportivos, económicos e financeiros falam por si, a quantidade de associados que se têm inscrito não pára de aumentar. Entre 2009/10 e 2017/18, o crescimento anual do número de Sócios impressiona. Os indicadores falam por si e deixo-os aqui para que não restem dúvidas - 2009/10: 22704; 2010/11: 14505; 2011/12: 7518; 2012/13: 6481; 2013/14: 6073; 2014/15: 12718; 2015/16: 13225; 2016/17: 27547 e 2017/18: 13671.
Na altura em que a Direcção entregou o Orçamento para 2018/19 tínhamos 21033 Sócios activos, sendo que recorriam ao pagamento por débito directo 70% sobre o total cobrado. Estamos em meados de Junho e já vamos nos 218063. Graças a uma política em que a prioridade têm sido os Sócios, orgulhamo-nos de continuar a ser o clube com mais associados do País, um dos maiores da Europa e do Mundo."
Pedro Guerra, in O Benfica