sexta-feira, 25 de maio de 2018

O Sporting e o cinema

"Actual universo verde e branco projecta-me para o mundo de Chaplin, recuperando o extraordinário mas patético 'Grande Ditador'

Hoje vou falar de cinema. E também, como é natura, do Sporting Clube de Portugal. Duas paixões que, desde muito novo, venho acalentando e que, ainda hoje, são susceptíveis de me surpreender quer pela positiva quer pela negativa. Suscitam e potenciam os mais diversos e multifacetados sentimentos por força, sobretudo, de forte impacto que conseguem criar no sempre extraordinário ecran da vida através de expressões cénicas e décors de indiscutível qualidade. No fundo, quer queiramos quer não, como que sentimos uma plena identificação entre as nossas vivências e as histórias e sentimentos que os mestres da 7.ª arte e os actores nos proporcionam, sendo também evidente a felicidade de todos aqueles momentos em que voltamos a ser os meninos a quem todo um mundo de fantasia, glória e aventura é permitido. Os mesmos meninos que, em Alvalade, vitoriavam e incentivaram os seus ídolos, esperando, com ansiedade, à porta 10-A, por um autógrafo ou por um mero sorriso daqueles que, em circunstância alguma, perdiam a qualidade de heróis tanto na vitória como na derrota. Por isso, recuo no tempo e sinto saudade do Cinema Paraíso, lembrando, sobretudo, a inocência que o reino do leão parece já não contemplar. Tenho de confessar, porém, que o actual universo verde e branco me projecta para o mundo de Chaplin, recuperando o extraordinário mas patético Grande Ditador que, de uma forma grotesca, brinca com um mundo que sabe estar perdido. Por isso, temos de reconhecer, por muito que nos curte, que o nosso leão (não o da MGM) se debate com um mar de vagas alterosas, a exigir bonança, mas não uma bonança qualquer, pois, não gostaria de, em breve, voltar a dizer que Há Lodo no Cais ou que uma nova Revolta na Bounty havia eclodido. É que na Janela Indiscreta que persistimos em não fechar, mantemos a mesma preocupação que nos vem assaltando desde há algum tempo, em particular, desde a projecção em Alcochete dos célebres Feios, Porcos e Maus. De uma vez por todas temos de estar cientes de que urge lutar por um futuro melhor e não ficar, serenamente. À espera de um milagre. Terão lugar, como é hábito, diversas movimentações com Os Suspeitos do costume em especial destaque, mas temos consciência de que o tempo de é Tudo Bons Rapazes já acabou. Prosseguir os nossos sonhos será um propósito inquestionável. Uma obrigação colectiva em favor do interesse geral. A razão? A Vida é Bela."

Abrantes Mendes, in A Bola

De cadeirinha...

"O Sporting é um projecto falhado, sabotado inadvertidamente pelos próprios sportinguistas. Não me interpretem mal, este texto não é um exercício de comiseração, antes pelo contrário. É com incontida satisfação que chego a esta conclusão.
É preciso recuar aos primórdios do Sporting para se entender a falência do ideal leonino. Produto de uma iniciativa individual, motivada por uma birra, o Sporting foi fundado com o propósito do seu fundador jogar à bola com os amigos, razão primordial, também, do vincado elitismo característico no etos sportinguista. Mas jogar não era suficiente, ganhar fazia igualmente parte da equação e cedo os amigos foram substituídos por entusiastas mais aptos, a grande maioria do Sport Lisboa.
Por, à época, não se tratar de uma questão técnico-táctica, mas de paixão pelo jogo, rapidamente o Sport Lisboa se reergueu e até acrescentou Benfica ao nome. Os anos passaram, a cobiça leonina aos melhores praticantes do Benfica tornou-se recorrente e o resto é história. Nem mesmo no seu período de maior fulgor desportivo, o Sporting conseguiu ser mais popular que o Benfica. A sua grandeza indiscutivelmente assinalável, viu-se sempre aquém da ambicionada. O Sporting tornou-se popular, mas nunca o Benfica.
Não haverá um único sportinguista que coloque a questão nestes termos, mas o poder do subconsciente é inegável e é por isso que qualquer sportinguista populista de meia tigela sabe que, para arregimentar os seus correlegionários, bastará a ilusão de conquistas e a diabolização do Benfica.
Benfiquista, quer confundir o seu amigo sportinguista? Critique Bruno de Carvalho!"

João Tomaz, in O Benfica

Boomerang

"Esse objecto é mundialmente conhecido, essencialmente pela sua característica de retornar ao local de onde foi arremessado. O formato abaulado de asa é o que mantém o boomerang voando após o arremesso. O ar que passa por baixo, onde o objecto é recto, tem de percorrer uma distância menor que o ar que dá a volta por cima, onde ele é curvo. Fazer essa curva aumenta a velocidade do ar. Quanto maior a velocidade, menos a pressão: ou seja, pressão por baixo resulta maior que a de cima. Isso gera a chamada força de sustentação, que impede a queda imediata do boomerang.
Complicado? Sim, mas tudo se descomplica.
No jantar de Natal do Sporting, Bruno de Carvalho falou à Sporting TV e, em apenas 25 segundos; conseguiu juntar fruta, e-mails e vouchers, numa ironia com alguns casos polémicos do futebol português nos últimos anos...
Pois! O problema é que, à imagem de muitos portugueses, quando esteve na escola não estudou aerodinamismo. Aliás, a explicação para este fenómeno do boomerang insere-se mais no âmbito da engenharia mecânica, ou mesmo da engenharia aeronáutica. É verdade! A educação desde o princípio dos anos 90 passou a ser um tema 'crashante', onde todos mandam vir, mas ninguém tem razão. A verdade é que quanto mais a ofenderam, mais ela se tornou numa diversão, mais do que num ensinamento. Daí que, aliada a uma preguiça natural e muitas vezes a uma omissão neuronal, só passa ter dado no que deu.
- André Filipe Geraldes (dirigente desportivo), é acusado de vários crimes agravados de corrupção activa, p. e p. pelos arts. 2.º a), 9.º n.º 1 e 12.º n.ºs 1 e 2 da Lei n.º 50/2007, de 31 de Agosto, na redacção introduzida pela Lei n.º 13/2017, de 2 de Maio, a cada um dos quais corresponde, em abstracto, pena de prisão de 30 dias até 4 anos pelos factos indiciariamente cometidos até 3/5/2017 e de 30 dias até 6 anos e 8 meses, pelos indiciariamente cometidos após esta data.
Não há fuga possível!"

Pragal Colaço, in O Benfica

Somos todos Rúben Dias

"Devo confessar que senti um misto de alívio e surpresa após conhecer a lista de Fernando Santos para o Mundial. A chamada de Rúben Dias deixou-me mais descansado. Não só por ver a equipa portuguesa mais bem servida, mas também pelo fracasso de nova campanha suja e desonesta contra um jovem jogador formado no Seixal. Há dois anos, o alvo foi Renato Sanches.
Desta vez, a artilharia insurgiu-se contra Rúben Dias e a sua exagerada agressividade. Afinal, o Rúben Dias é ou não um jogador combativo? Sim, é. E ainda bem! O Rúben é um fantástico defesa central, porque, ao invés de se limitar a acompanhar as investidas dos adversários com o olhar, encosta-se a eles e não cede um milímetro de espaço para pensar ou executar. Claro que nem todos são assim. Na final da Taça de Portugal, no lance do 2-0, o incómodo causado por mim e pelo Coates ao Guedes foi exactamente o mesmo. A única diferença é que eu assistia ao jogo em casa pela TV e o Coates estava mesmo no relvado. Oxalá a presença do Rúben Dias no Mundial seja tão decisiva como a do Renato no Europeu - se possível, com desfecho idêntico.
Por outro lado, fiquei espantado com a ausência do Nélson Semedo. Não discuto a qualidade do Ricardo Pereira, de quem até sou fã, no entanto considero que o Nélson é de outro nível. O dono da lateral direita do campeão espanhol em mais de metade dos jogos não mereceu mais crédito do que o lateral do campeão português. Tenho por hábito confiar em Fernando Santos, pelo que me parece que quem andou a dormir foram os seleccionadores de Espanha e Brasil. Escolheram o Piqué, o Thiago Silva e o Filipe Luís e esqueceram-se por completo do Marcano, do Felipe e do Alex Telles."

Pedro Soares, in O Benfica

Só agora?

"Escrever sobre os nossos vizinhos e rivais não é tarefa fácil. Os acontecimentos sucedem-se dia a dia, hora a hora, e o que hoje é verdade, no momento em que o jornal chegar às mãos do leitor, pode já ser mentira.
Muita gente parece agora surpreendida. Até há pouco tempo, em demagogo sem escrúpulos congregava cerca de 90% dos sócios do clube. Provocava o Benfica? Assim é que é! Insultava toda a gente? É o estilo! Apertava os jogadores? Eles merecem! E, de caso em caso, cegava os seus apaniguados, merecendo da parte da comunicação social (também ela reiteradamente atacada) um tratamento institucional que uma personalidade doente não justificava. Já então sócios e antigos dirigentes era perseguidos e humilhados. Já então se criara um clima insuportável, que levou a rivalidade para os terrenos do ódio, e com o qual talvez nem estivéssemos preparados para lidar. Foi preciso chegar-se a limites inimagináveis para se fazer luz. Uma demora com custos titânicos, antes de mais para o próprio clube de Alvalade. Pena que tenha sido preciso esperar tanto tempo. Os sinais estavam todos lá, e era fácil perceber o óbvio: o grande problema do futebol português tem nome.
Muito está ainda por desvendar, mas era bom que aprendessem a lição. As rivalidades situam-se no campo, e transportá-las para a provocação e para o ódio é caminhar para a violência sem retorno.
Se uma perspectiva mais primária seria tentador assistir de poltrona à desagregação do rival, para a saúde do futebol português é desejável que o Sporting se reconstrua. Para tal, terá de afastar rapidamente quem o empurrou para o abismo."

Luís Fialho, in O Benfica

FT

"O êxito no Futebol formação soma e segue - voltámos a ser Campeões Nacionais de Juniores A, com um lote de talentos de excepção. A nossa equipa de Hóquei em Patins feminino só sabe ganhar e o hexacampeonato só surpreende quem nunca falou ou viu jogar Paulo Almeida! Mas é o Benfica Olímpico que quero abordar. As quatro medalhas conquistadas para Portugal, pelos nossos canoístas, Fernando Pimenta, Teresa Portela e Joana Vasconcelos, no passado fim-de-semana, enche-nos de orgulho. E só de pensar que deste lote magnífico faz parte o extraordinário João Ribeiro, creio que todos os Benfiquistas sentem um carinho muito especial pelo projecto liderado por Ana Oliveira. Mas houve um momento chave que permitiu ao SL Benfica dar um salto qualitativo - o dia em que o presidente Luís Filipe Vieira desafiou Fernando Tavares (FT) a regressar à Direcção do Clube. A experiência de FT nas modalidades é sobejamente conhecida. Todos nos lembramos do trabalho realizado durante cinco anos e jamais esqueceremos duas contratações - Telma Monteiro e Ricardinho. Neste novo mandato, FT tem nas mãos alguns dos dossiers mais complexos, como por exemplo a construção do Centro de Alto Rendimento, a nossa futura Academia das Modalidades, em Oeiras, um equipamento que irá revolucionar o desporto nacional. Além disso, o vice-presidente está a ultimar o Futebol Feminino, esse projecto ambicioso que visa catapultar o Glorioso para altos voos internacionais. FT marcou dois golos ao contratar o triplo saltador, Pedro Pichardo, e o melhor canoísta português de todos os tempos, Fernando Pimenta, dois dos nossos maiores embaixadores. Os resultados falam por si."

Pedro Guerra, in O Benfica

Jovens de valor

"Com esforço chega-se longe. Esse poderia ser o lema dos jovens do 'Para ti Se não faltarei!' a caminho do intercâmbio na Holanda. Lembram-nos deles pequenos e irrequietos à chegada do projecto, mas, se há coisa de que podemos estar certos acerca dos jovens, é que eles crescem e muito rapidamente aos nossos olhos. Mais cedo do que tarde, os jovens do projecto fortalecem a sua personalidade, capitalizam esforços, consolidam resultados e quando se apercebem passaram-se os três amos do contrato e então para lá do 9.º ano, que consideravam intransponível.
Por isso, para os nosso jovens, ainda que o projecto da Fundação Benfica dure 3 anos e passe num ápice, deixa neles memórias inesquecíveis que rapidamente se transformam em saudade porque a passagem pelo projecto 'Para ti Se não faltares!' é tão importante na sua carreira educativa como na sua valorização pessoal e fica para a vida.
Por isso, também, é frequente ouvir jovens do 9.º anos a dizer, com ironia e uma pontinha de tristeza, que até lhes dá pena passar de ano porque vão deixar de ter projecto. Só que na verdade o 'Para tu Se não faltares!' estará sempre lá, porque eles são o projecto, mas para o relembrar e inspirar os outros, a Fundação vai encontrando soluções de continuidade para os mais destacados, continuando a premiar o seu percurso e dando-lhes a oportunidade de devolver aos colegas mais novos e que eles próprios receberam. Assim desde há vários anos que muitos colaboram como voluntários no projecto e servem de modelos que os mais pequenos admiram e em quem se projectam. Além disso, junto com outras fundações da EFDN (European Football for Development Network) que promovem projectos destinados a outros jovens como eles por essa Europa fora, organizamos um projecto de intercâmbio de jovens para troca de aprendizagens e experiências na primeira pessoa.
Sabemos que tudo irão multiplicar e por isso ficamos felizes de os ver felizes por essa Europa fora a celebrar quem são e a provar que os nossos jovens são de valor."

Jorge Miranda, in O Benfica

Títulos. Para o Benfica do futuro

"Agora que está morta e enterrada a época do futebol, passam para notório primeiro plano as mais recentes conquistas e vitórias, como, por exemplo, em hóquei em patins feminino (da equipa do genial Paulo Almeida), canoagem (com Fernando Pimenta e as princesas Teresa Portela e Joana Vasconcelos), no futsal feminino, no judo (com a rainha Telma), no atletismo (com Tsanko e Pichardo, entre outros), ou em iniciados e nos juniores do futebol.
Permitam-me todos os restantes atletas e equipas do Benfica, actuais vencedores nestas e em outras modalidades, considerar que o poderoso desempenho dos nossos futebolístas juniores, sob condução competente do prof. João Tralhão, ao recuperarem o título nacional que, nas últimas cinco épocas, literal e teimosamente nos fugia, por razões e em circunstâncias da mais diversa natureza, adquire, um simbolismo muito, muito especial, podendo dizer-se, mesmo, que representa mais do que a conquista de um campeonato.
Mais do que coroar o talento e o esforço do grupo de trabalho, a categórica vitória dos rapazes pode, por si só, significar a consistência de todo um projecto que verdadeiramente voltou a adquirir alma já no séc. XXI, quando Luís Filipe Vieira assumiu os destinos do Sport Lisboa e Benfica e logo preparou e fez construir o Caixa Futebol Campus, para aí centrar a 'fornalha' da alquimia em que agora se estão a produzir os craques do futuro do Clube.
Os jovens juniores do Benfica - campeão pela 24.ª vez, enquanto que os rivais apenas inscreveram os seus registos em 22 e 17 títulos no mesmo escalão, desde 1939 - estão no topo de um ciclo formativo tão absolutamente decisivo para as suas próprias vidas como para a própria grandeza do Glorioso. E uma das razões para o êxito reside precisamente, não apenas nas excepcionais condições de trabalho que o Sport Lisboa e Benfica proporciona aos seus jovens profissionais e a toda a competente estrutura de técnicos que os rodeia, no Seixal, como, sobretudo, na força e na consistência de uma ideia que subjaz na arquitectura formativa levantada pelo presidente visionário.
É importante que os rapazes - e, futuramente, as meninas futebolísticas do Benfica, certamente - disponham do impressionante edificado no Seixal. Mas mais importante ainda é que a ideia fundacional de todo o sistema se aperfeiçoe, época a época, e assim se reforce com as sucessivas vitórias e os títulos que sedimentarão o maior Benfica do futuro."

José Nuno Martins, in O Benfica

Um sonho que nasceu em 1906

"O Sporting vai para uma assembleia geral, marcada para 23 de Junho, onde os sócios decidirão sobre a destituição do actual Conselho Directivo. Caso essa proposta tenha proveniente, serão convocadas eleições antecipadas. Este cenário, grave em qualquer circunstância, mas com acrescida relevância durante o defeso do futebol e na constância de uma negociação financeira importante, pode ser ainda pintado em tons mais escuros perante a convicção, ontem manifestada por Bruno de Carvalho, de que há matéria para impugnação judicial, lançando o clube num impasse de proporções bíblicas. Perante tudo o que está a acontecer, a pergunta, única, que deve ser feita, é qual a melhor fórmula para defender os superiores interesses do Sporting, o seu futuro e a sua sobrevivência? Aqui chegados, a solução é simplificar e aceitar os fundamentos da democracia. A voz deve ser dada ao povo que, na sua máxima sabedoria, decidirá. Porém, aquilo que se verifica é uma obstinação e um apego ao poder, que contraria a ideia de democracia e se barrica numa irredutível aldeia gaulesa, alimentada por uma poção mágica feita com estratos de essência de autoritarismo.
Anteontem, o mesmo do Sporting era de extrema gravidade. Ontem, os destinos dos leões passaram a ser manifestamente incertos. Hoje, ficar-se-á a saber se os interesses individuais continuarão a sobrepor-se ao que é melhor para o clube. Amanhã, é bom que os sócios e adeptos do clube fundado em 1906 perceberam o que pode estar realmente em causa. Um Sporting em estado de guerra civil será apenas uma fracção do que foi sonhado pelos seus fundadores, há 112 anos..."

José Manuel Delgado, in A Bola

O caos, ou muito perto disso

"O resultado da reunião de ontem ao final da tarde entre os órgãos sociais do Sporting já se sabia mesmo antes de começar o jogo. Jaime Marta Soares queria que, à luz dos últimos acontecimentos no clube, Bruno de Carvalho se demitesse. O presidente do Conselho Directivo - cada vez mais curto - garante que não sai pelo seu próprio pé e fica, convocando depois os jornalistas para mais uma extensa conferência de imprensa na qual apresentou as suas razões para a continuidade.
Marta Soares marcou, entretanto, para 23 de Junho uma Assembleia Geral para discutir a continuidade dos órgãos sociais. À saída de Alvalade, desmentiu quase tudo o que o presidente do Conselho Directivo disse na conferência.
Uma AG nos mesmos moldes poderia ter acontecido em 2013, quando o movimento Dar Rumo ao Sporting recolheu as assinaturas necessárias para uma reunião magna com o mesmo propósito. No entanto, na altura, os órgãos sociais tiveram a lucidez de se demitirem em bloco e evitar a realização de uma reunião magna que poderia decorrer em clima absolutamente escaldante.
Desta vez não. Pelo visto, haverá a AG, que o Conselho Directivo de Bruno de Carvalho promete impugnar - para já, não se sabe se a sua realização se o resultado desta.
O futuro, em Alvalade, e uma incógnita. Mas, no meios do caos - ou muito perto disso - instalado, há já algumas certezas. Independentemente dos culpados, tudo isto é profundamente lamentável, com o nível a ter baixado imenso nos últimos dias. O clima de guerrilha está instalado e não se sabe quem vencerá. Pode-se não saber quem ganha, mas, pelo menos para já, há um derrotado incontestado: o Sporting Clube de Portugal. Mas, como sempre, vai-se reerguer. Resta saber é quando."

Hugo Forte, in A Bola

O desporto e a transcendência

"O poncio-pilatismo de alguns e a ignorância de muitos, liderada por uma oligarquia da mediocridade, tem permitido que uma certa ideia de desporto monopolize tudo o que a prática desportiva é e vale. O fisiologismo, o economicismo, o consumismo (e muitos mais “ismos”) informam qualquer diálogo galvanizante sobre o “fenómeno desportivo”. É da alta competição, que reproduz e multiplica as taras do neolioberalismo imperante, que se trata, quando se fala, hoje, de desporto. O desporto, assim se estuda nos mais rigorosos manuais da especialidade, é jogo e movimento e competição e projecto, tudo isto imbuído de “fair-play”, de incontida satisfação pelo esforço, de respeito pelos outros e por nós mesmos, de busca pela excelência, de reconhecimento de que não há actividades, físicas tão-só, mas actividades onde se encontram presentes, dialecticamente relacionados, todos os elementos que constituem a complexidade humana. Para mim, o desporto é um dos aspectos da motricidade humana, quero eu dizer: é um dos aspectos do “movimento intencional e em equipa da transcendência” (a minha definição de motricidade humana), ao lado do jogo desportivo, da dança, da ergonomia, da reabilitação, do circo, da motricidade de todas as idades, da gestão do desporto, etc. Três palavras dominam a minha definição de motricidade humana e portanto de desporto: movimento, intencionalidade e transcendência - definição que não se confunde com a conduta dos bandos de descamisados e rufiões que emergem das “claques”, nem com o discurso (que exala um cheiro a cadáver) de alguns “entendidos”, dirigentes ou não, que enxameiam a Comunicação Social. A imagem do desporto, para a esmagadora maioria das pessoas, esgota-se no espectáculo desportivo, publicitado pelas grandes centrais de manipulação, de intoxicação da opinião pública, ao serviço do integralismo economicista e de um clubismo próximo da loucura.
Portanto, se bem penso, a ideia de desporto mais em voga exige a presença de campeonatos e de campeões, de recordes e de árbitros e nada (nada mesmo) dos valores, sem os quais não há desporto. “A FIFA, cuja fundação data de 21 de Maio de 1904, em Paris, historicamente é a maior entidade congregadora de nações que já existiu. Reúne mais países associados do que qualquer outra instituição de qualquer natureza já conseguiu, mais até do que a ONU, que é de 26 de Junho de 1945, e o próprio Comité Olímpico Internacional, de 23 de Junho de 1894. Sua força política é conhecida e reconhecida” (Maurício Murad, A Violência e o Futebol, FGV Editora, Rio de Janeiro, 2007, p. 15). Deverá não esquecer-se que o próprio Hitler instigou baldadamente a que a sede da FIFA se transferisse para Berlim, a “capital do Reich de mil anos”, no intuito de conquistar um meio de invulgar poder que publicitasse a sua ideologia que hoje se esvai em senectude e descrédito. Para mim, o desporto, nomeadamente o futebol, é o fenómeno cultural de maior magia e de maior popularidade, no mundo contemporâneo. “Em consequência, estudar as actividades esportivas é um auxílio importante para a compreensão geral das sociedades humanas e para o entendimento de nossos sistemas simbólicos. Mais ainda, quando seus impactos colectivos são muito profundos, como é o caso do futebol (idem, ibidem, p. 16) – o futebol que é bem um “facto social total” e portanto reproduz e multiplica as taras do capitalismo dominante e, pela ausência de determinados valores, uma histérica mística clubista, capaz de deitar fora (um exemplo, entre muitos) os sonhos e os anseios, de intocável honestidade, dos criadores do Sporting Clube de Portugal. Fui dirigente do Belenenses, em meados do século passado, durante 28 anos. Conheci sportinguistas, como o Dr. Salazar Carreira, como o Prof. Mário Moniz Pereira, como o presidente João Rocha e o Jorge Vieira e o Fernando Peyroteo, o Álvaro Cardoso, o Otávio Barrosa (e tantos mais) que nunca fizeram do seu Clube uma sepultura dos mais lídimos ideais desportivos…
O desporto é, para mim (quantas vezes eu já disse isto?) um dos aspectos da motricidade humana, ou seja, do movimento intencional e em equipa da transcendência – transcendência de ordem físico-biológica, mas também social, sentimental, intelectual, política, moral, cultural e espiritual. É o homem todo, no movimento da transcendência, que está em jogo, na prática desportiva. Para conhecê-lo, portanto, há que integrar conhecimentos advindos da biologia e da psicologia e da medicina e das ciências cognitivas e da filosofia, etc., etc. O método, para conhecer o ser humano, é multidisciplinar. E portanto, como multidisciplinar deverá ser o treino desportivo, que prepara o atleta para transcender e transcender-se (quem não se transcende “dura”, mas não “vive”). Mas… o que significa a transcendência? Para mim, a transcendência diz-nos que o ser humano não é tanto um imitador, mas um criador; e, porque um criador, capaz de superação, de ruptura, de abertura ao Absoluto; e, ainda como um criador, informado em todas as circunstâncias, como já o disse Roger Garaudy, há muitos anos, mais por uma filosofia da fé e do ato (ou da motricidade humana, digo eu) do que por uma filosofia do “ser” e do “logos”. Há um magnífico livro do Prof. José da Costa Pinto (A Emergência da Subjectividade em Roger Garaudy, Publicações da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, Braga, 2003) onde se analisa o conceito de transcendência, em Garaudy. Quer esta palavra dizer, neste filósofo, que o futuro do homem não se deduz somente da sua herança biológica, social, cultural ou educativa; que a liberdade nasce com a possibilidade de projectar vários atos possíveis e que portanto a opção, para o ser humano, não se faz entre dados, mas entre possíveis” (p. 81). No caso do desporto, portanto, o positivismo e o neopositivismo, que fecham o pensamento na conduta motora, e que fazem da ação um simples reflexo da ordem estabelecida, afastando-a de qualquer projecto qualitativamente novo, serão de questionar e rejeitar. O “desporto pelo desporto” e os seus fervorosos defensores não devem ter lugar num desporto de excelência.
O máximo de transcendência esplende, na História, com a Ressurreição de Cristo. Com a Ressurreição, Cristo ultrapassou as hipóteses aterradoras da morte e proclamou que é possível o impossível, ou seja, que o ser humano é bem mais do que o tempo e o espaço e que a vida tem o sentido que uma vida puramente material não poderia dar-lhe. No meu modesto entender: se somos criadores da História e responsáveis pela História, somos, com certeza, mais do que o espaço e o tempo da história humana. Se tenho a certeza racional do que venho de escrever? Não, não tenho. Só que, no humano, nem tudo se reduz ao conhecimento racional. O amor é bem mais do que razão. Quem ama conhece e… não pensa muito! Mas acredita, tem fé! E afinal o amor é a primeira das “razões” de qualquer iniciativa histórica. A transcendência é também um ato de fé de um ser que não é “algo”, mas “alguém” capaz de superar o reflexo do mundo em que vive e criar o movimento do projecto, onde Deus cabe como realidade fundante. Com efeito, na Natureza, nada surge como acabado e definitivo. Mas de tudo emerge o mistério, porque nada possui propriedades objectivas, independentes da razão humana. E a razão humana alcança sempre, em todas as coisas, após o movimento intencional da transcendência, o mistério… que não resolve! A filosofia e a ciência de Galileu e Descartes e Newton e Kant relegaram o mistério para bem longe do discurso científico, onde não cabe portanto tudo o que se sente e não se sabe explicar, como o amor, o sonho, o êxtase, a poesia. Aqui, caminha-se, pela transcendência, do reflexo ao projecto, da quantidade à qualidade, da explicação à compreensão, mesmo que em mancha de informes difusos. Aqui (ou seja, no amor, no sonho, no êxtase, na poesia) mergulhamos num sentimento inenarrável de plenitude, também sem se saber bem porquê. Será o campeão um místico? Quem, tanto como ele, se transcende?"

CR7... porque há futebol

"Faça-se um intervalo na turbulência leonina dos últimos dias. A situação do grande clube tem dominado quase que exclusivamente o quotidiano desportivo – Portugal já começou a preparar o Campeonato do Mundo, Sérgio Conceição renovou com o FC Porto, Ricardo Pereira já é jogador do Leicester, o Benfica já contratou vários futebolistas e até o Sporting fez regressar Augusto Inácio e confirmou as entradas no clube de Marcelo e Raphinha -, mas não se deve perder de vista tudo aquilo que ao futebol diz respeito. Nesse sentido, impossível passar ao lado de mais uma final da Liga dos Campeões, outra vez com a presença de um cliente crónico, Real Madrid, mas também de um grande que regressa aos grandes palcos: Liverpool. E falar de Real é falar do melhor jogador da actualidade, Cristiano Ronaldo, e da esperança que uma larga maioria de portugueses tem em vê-lo conquistar pela quinta vez a mais prestigiada competição de clubes. À partida, o Real dispõe de algum favoritismo, porque tem CR7 e mais experiência, mas o conjunto inglês tem Klopp no banco de suplentes e um tridente ofensivo fenomenal: Salah, Roberto Firmino e Mané. Ou seja: espera-se um jogo aberto, vertiginoso, empolgante. Se possível, sou eu que o peço, com o melhor do presente, a levantar o caneco.
Mas, o Sporting continua a dominar. Uma AG vai definir o futuro de quem lidera e existe desde já uma garantia: Frederico Varandas já se posicionou e sabendo-se da disposição de Bruno de Carvalho… deveremos ter eleições muito concorridas."

Pela reforma urgente dos estatutos do Sporting

"É imperiosa para a salvaguarda da honra do clube que a queda do actual conselho directivo aconteça só e pela vontade dos sócios.

A crise que se vive no Sporting Clube de Portugal não irá terminar a 23 do próximo mês, dia da Assembleia Geral da pretendida destituição de Bruno de Carvalho, porque o tempo que lhe é dado vai dar-lhe oportunidade para alistar tropas que possam vir a inverter os dados deste jogo. Mas, além da vantagem temporal, Bruno de Carvalho goza também de uma vantagem de ordem jurídica.
Decorre dos estatutos deste clube que os titulares dos órgãos sociais mantêm funções até à data da Assembleia Geral comum extraordinária que, com justa causa, venha a deliberar revogar os seus mandatos. Cabendo ao presidente da Mesa da Assembleia Geral, no caso de efectiva revogação, proceder à designação de uma comissão de gestão ou uma comissão de fiscalização, ou ambas, por período não superior a seis meses, que passe a gerir o clube.
Quer isto significar que Bruno de Carvalho poderá decidir o que quiser pelo menos até ao próximo dia 23, não estando condicionado às medidas correntes ou de carácter urgente como se verificaria numa administração de mera gestão, que seria o mais adequado a este caso. Mas mesmo na eventualidade de os sócios se decidirem pela destituição do conselho directivo, Bruno de Carvalho poderá sempre usar do instituto da providência cautelar que tenha por fim a suspensão das deliberações sociais com base em eventuais irregularidades e vícios materiais que, uma vez atendida judicialmente, terá efeitos suspensivos, repõe a situação anterior e, até ser julgada a substância da própria providência, Bruno de Carvalho manterá o seu mandato.
Perante este aberrante cenário não estará na altura de, uma vez fechada esta crise, se reverem imediatamente os estatutos e serem os mesmos alterados, para evitar situações similares no futuro? Com um claro défice de legitimidade, Bruno de Carvalho vai-se mantendo, prejudicando dia a dia a imagem, os activos e a credibilidade do clube.
Juridicamente ainda haveria a hipótese de recurso a um processo disciplinar como forma de obrigar à saída de Bruno de Carvalho e até de impedi-lo a uma recandidatura, mas seria a pior das soluções pela morosidade que implicaria e pelo facto de o conselho fiscal e disciplinar, uma vez que renunciou praticamente em bloco, estar muito fragilizado para liderar este processo.
É imperiosa para a salvaguarda da honra do SCP que a queda do actual conselho directivo aconteça só e pela vontade dos sócios, daí o meio mais adequado ser aquele que está em curso. Restarão sempre as consequências negativas que se espera não sejam irreversíveis para o bom-nome do clube e para o valor da marca.

Já são muitos dias tristes

"Aconteceu o que era previsível. Bruno de Carvalho não se demitiu e Marta Soares marcou uma assembleia geral para os sócios votarem a destituição (ou não) da direcção. Os minutos que se seguiram após a reunião e durante os quais o presidente da Mesa da AG teve que se refugiar na garagem do estádio para comunicar a decisão tomada são demonstrativos do clima de tensão que está instalado no Sporting.
Bruno de Carvalho classificou de "bomba atómica" a decisão da AG cujas consequências põem em causa os acordos com os bancos, a preparação da época, a reestruturação financeira, reconhecendo ainda os problemas de tesouraria que o Sporting vai enfrentar. Ou seja, o clube fica quase paralisado, ingovernável.
Apesar desta visão apocalíptica, ainda há quem esteja disposto a avançar para a presidência. Frederico Varandas foi a primeira ‘bomba’ do dia ao manifestar-se disponível para ser candidato em cenário de eleições. Uma surpresa, mas um nome que pode ser mobilizador entre os sócios como foi no balneário.
O presidente dos leões considerou que viveu um dos dias mais tristes do ponto de vista institucional desde que está no clube. Já são muitos dias tristes. E não se adivinham dias felizes nos próximos tempos."

A peste do futebol

"Os deuses do estádio são os representantes de formas extremas de escravidão, que a nossa época recalca e não ousa pensar.

Consumada a futebolização do país, chegados ao estádio último de um ininterrupto matraquear futebolístico do espaço público, já os ideólogos desportivos se parecem com hooligans e os hooligans se parecem com os ideólogos desportivos. Todos primos, todos irmãos. Para prosseguir a crónica de uma intoxicação voluntária, aproprio-me do título de um livro que não li, de dois sociólogos franceses. Basta-me o título: Le football, une peste émotionnelle (“O futebol, uma peste emocional”). Em vez de peste, o futebol-espectáculo organizado também pode ser um lugar de formações sociopatológicas. Ou uma obsolescência desportiva. O que não devemos fazer é naturalizar o que nele e à sua volta se passa. Tal como não devemos tratar como meros desvios ou derivas aquilo que já constitui a própria substância do espectáculo. E não é preciso ter ocorrido um episódio de violência real para percebermos o que tem sido uma continuada violência simbólica, exercida como uma injunção colectiva através do empreendimento dos media. A crónica de uma violência normalizada, ou mesmo da banalidade do ódio, é aquela que nos fala dessa peste emocional promotora da barbárie nos estádios e à volta deles, que difunde o racismo, o populismo, os nacionalismos xenófobos, os regionalismos atávicos e os ódios identitários, dando origem a uma regressão cultural generalizada. O futebol-espectáculo não é simplesmente um jogo colectivo, tornou-se uma organização para o enquadramento pulsional das multidões: e os estádios de futebol são lugares concentracionários, modelos de totalitarismo. É preciso abdicar da ideia de que são os grandes acontecimentos que determinam essencialmente os homens. Pelo contrário, são as catástrofes minúsculas de que é feita a vida quotidiana que têm uma influência maior e mais duradoura. Ora, o futebol, que é uma crónica ininterrupta de catástrofes minúsculas, dramatizadas de maneira enfática através da mediatização e da espectacularização exacerbadas, propõe de maneira ideal a violência da competição desportiva. O bárbaro — escreveu Claude Lévi-Strauss — é sobretudo o homem que acredita na barbárie. No futebol-espectáculo instalou-se a barbárie da competição desportiva e a barbárie originada pela peste emocional. Lutas, enfrentamentos, guerras, conflitos, rivalidades, provações, desafios agonísticos: o mais extremo campo semântico do darwinismo social transferiu-se para aqui. E os media praticam o incitamento à guerra e montam o palco das baixas contendas. Não fazem jornalismo desportivo: são, digamos assim, especialistas de polemologia do futebol.
E os jogadores, no meio de tudo isto? Os deuses do estádio são os representantes de formas extremas de escravidão, que a nossa época recalca e não ousa pensar. Há uma pequena parte com ganhos tão astronómicos que tudo o resto é esquecido. E o resto é a instrumentalização dos indivíduos no mais alto grau, estritamente reduzidos à sua função específica: espera-se que eles sejam um apêndice da performance absoluta. E, por serem isso e nada mais, não podem falar para além daquilo que lhes é consentido pelo clube, não podem protestar contra os patrões, mal são “comprados” ficam destituídos de todo o direito e têm como única condição serem “activos” dos clubes. Têm de abdicar de toda a autonomia e da vida privada. São inteira propriedade do clube, da empresa desportiva que os compra, os vende, os empresta. E quanto mais valem como desportistas, menos valor têm como pessoas. Chegámos aqui ao grau último da mercadorização da existência. Não há nenhum deus do estádio que não seja ao mesmo tempo uma criatura que se defronta com o inferno."

Até onde vai o Liverpool?

"Amanhã joga-se a grande final, a tal que consagra o maior da Europa. O Real Madrid tem mais detalhe, mais estirpe de Champions acumulada nos tempos mais recentes ao longo do eixo Lisboa-Milão, mas o Liverpool também se faz à estrada com alta cilindrada.
Esta foi a temporada em que se viu com mais nitidez a ideia geral que Klopp queria ver transmitida no jogo dos Reds, acoplando alguns laivos daquilo que fizera em Dortmund. Depois de alguns meses de indefinição e ineficácia na concretização do ‘gegenpressing’ no pós-Rodgers, o Liverpool finalmente joga à séria e sem tantas quebras ao longo dos jogos e da época. Os períodos de oscilação são menores e até a preparação física parece mais evidente, não só no ritmo obtido no jogo como também na sua relação com a diminuição da propensão para lesões.
Este é um dado importante e que mereceu algum cuidado estratégico da parte de ‘Kloppo’ na gestão dos jogos, de modo a não ver a equipa rebentar na ponta final dos jogos e também da temporada. O Liverpool começou a racionar, com mais ponderação e menos sofreguidão, a frequência com que decidia tentar ganhar a bola à frente. Falhando na primeira linha de pressão mais adiantada, mais estendida a equipa ficaria, facilitando a tarefa do adversário em perfurar a zona defensiva dos Reds. E tendo ficado sem Coutinho, transferido para Barcelona, ao mesmo tempo que Lallana passou uma eternidade a recuperar problemas físicos, mais depauperada ficou a equipa para poder pensar em jogar mais vezes em ataque combinativo que aumentasse o volume de posse de bola. A posse de bola não é, naturalmente, vista como um fim. Mas até para Klopp podia ser, em determinados momentos, uma via útil para a equipa serenar e não sobrecarregar o motor com as acelerações constantes em transição defensiva.
Foi a partir da saída de Coutinho que o plano ficou mais claro e que o Liverpool passou a conviver melhor com a ideia de recuo ocasional. Defendendo mais atrás em alguns momentos, permite-se ganhar fôlego para que, minutos mais tarde, se volte à carga com mais eficácia na pressão alta a abafar a fase inicial de construção do oponente, como Klopp mais preconiza.
Na teoria, faz sentido. A principal inquietação em torno da maior frequência dos momentos de recuo incide no facto de a equipa não ter propriamente a maior vocação para interpretar o momento de organização defensiva, quando a maioria dos seus jogadores está posicionada de frente para a bola, perto da grande área de Karius. Henderson vai fazendo os possíveis por melhorar o seu contexto, mas não é dos trincos mais genuínos para pensar muito mais nas coberturas do que nas incursões, ao mesmo tempo que Lucas Leiva já não tinha pedalada e foi para Itália, isto enquanto Melwood já tem lugar reservado para Naby Keita, enérgico centrocampista do Leipzig que se junta ao Liverpool na próxima época.
Robertson e Alexander-Arnold, os laterais, foram melhorando bastante o discernimento na fase defensiva. Se bem se recordam, Moreno começou a época como titular e Lopetegui até o testou a central-esquerdo numa linha de três defesas, percebendo-se que as noções defensivas do sevilhano estavam francamente melhores e que, por isso, Robertson teria poucas hipóteses. Mas Moreno lesionou-se, tal como Clyne.
Garantidamente que, mesmo sem a fantasia carioca de Coutinho, houve Milner e Oxlade-Chamberlain para fazer o Liverpool investir mais seriamente no tom que Klopp mais enaltece: o da incrível capacidade de pressão e de cobertura na zona média para reconquistar a bola. E quando ganham a bola, aumentou igualmente a capacidade para dar esticões e levar a bola rapidamente até à baliza, aproveitando-se a movimentação frenética dos três atacantes que variam de posição: Salah, Firmino e Mané.
O tridente diabólico do Liverpool tem um contexto quase perfeito. Sendo verdade que a equipa não manifesta total segurança em organização defensiva quando o adversário troca a bola pacientemente perto da área de Karius, a questão é que esse recuo, confiando que o Liverpool vai acabar por interceptar ou recuperar a bola em zona defensiva, também permite aos Reds desferirem contra-ataques fulminantes. E é nesse domínio que o Liverpool melhor se exprime e que se pode vulnerabilizar o Real Madrid, contando, por exemplo, que Marcelo também se aventure. Salah está à espreita."

Gerir e liderar equipas: quanto vale o treino emocional?

"Qual é o nível de importância que atribui à qualidade da interacção nas equipas, neste preciso momento? Quer que as equipas e atletas consigam os melhores resultados possíveis? Deseja ter recursos para ultrapassar os obstáculos que as equipas enfrentam, de forma a ser bem-sucedido? Aspira a desenvolver equipas em que o todo é superior à soma das partes?
Tinha uns 16 anos e jogava basquetebol numa boa equipa, que disputava todas as provas em que entrava, para vencer. Havia uma equipa concorrente, que também desejava vencer todas as provas, contudo sempre que jogávamos com essa equipa, nos últimos 10 minutos parecia que “voávamos”, enquanto que essa equipa parecia que ficava “sem gasoline” e, por isso, acabávamos por vencer. Aprendi, nessa altura, que a componente física era determinante, no sucesso desportivo das equipas. 
Acredita que as questões físicas são essenciais, para o sucesso desportivo das equipas desportivas? 
Por altura dos meus 13 anos, tive a sorte do treinador da equipa de seniores, treinar simultâneamente a minha equipa de iniciados. Provavelmente, o melhor treinador português desse tempo e de muitos mais anos, era o nosso treinador. Num determinado treino, recordo como se fosse hoje, a determinada altura do treino, colocou-nos a jogar 5 contra 0 em meio campo e explicou-nos um conjunto de movimentos pré-estabelecidos, para coordenar as acções do ataque. A minha equipa repetiu esses movimentos, depois outros 5 jogadores repetiram os mesmos movimentos e passadas algumas repetições, começamos a jogar 5x5 em meio-campo. Nesse momento, como a minha equipa estava a defender e sabia o que é que os atacantes iam fazer, antecipava-me aos seus movimentos e “roubava” a bola. Como os adversários também já sabiam o que a minha equipa ia fazer, estavam igualmente à espera que seguisse a “letra da tática”, tal qual um pianista segue a sua “partitura” e prontos para antecipar os meus movimentos e “roubarem-me” a bola. Contudo, em vez de seguir a “letra da música” seguia o seu “ritmo”, atacando os espaços livres, em vez do que me era suposto e os adversários já esperavam. Surpreendia-os, mas ao mesmo tempo era repreendido, por me desviar do plano táctico. Por esta altura, aprendi que a tática era importantíssima, para o desempenho desportivo das equipas.
Considera a táctica decisiva, para as equipas desportivas serem produtivas?
Já enquanto treinador, a nossa equipa de seniores estava a jogar uma final da 2ª divisão. Um dos nossos jogadores era um excelente lançador. Já lá vão uns 15 anos e já treino equipas há 30 anos. Há muitos anos que realizo um exercício de lançamento em que se a pessoa que lança marca mais do que 30 é um excelente lançador, acima de 25 é muito bom lançador, acima de 20 bom lançador e abaixo de 20 necessita de melhorar a técnica de lançamento. Nos 30 anos de treinador, com experiências em vários países, vários níveis, vários escalões, com jogadores de várias nacionalidades, só tive (até ao momento) 3 jogadores que conseguiram marcar mais do que 30 lançamentos nesse exercício. Um desses três jogadores era o excelente lançador que estava na equipa que estava a disputar a final da 2ª divisão. Como era um excelente lançador, tinha como que “carta branca para lançar”. O jogo foi muito disputado, extremamente competitivo, mas acabámos por perder. No final, quando estava a analisar a estatística do jogo, reparei que esse excelente lançador tinha feito 0 em 9 de lançamentos de três pontos. Com esta experiência, aprendi que a técnica é outro dos componentes essenciais para o rendimento desportivo das equipas.
Para si, a técnica é importante para o sucesso desportivo das equipas?
Estes factores técnicos, tácticos e físicos eram determinantes e passeia estudá-los, fiz cursos de treinador, licenciei-me em ensino da Educação Física, tirei o Mestrado em Ciências do Desporto, frequentei clinics nos Estados Unidos, escrevi 2 livros sobre basquetebol. Ou seja, “tornei-me” num especialista nas questões físicas, técnicas e tácticas do basquetebol.
Parecia que tinha todas as ferramentas que necessitava, para as equipas serem bem-sucedidas.
A determinada altura, estava a treinar uma outra equipa de seniores da 2ª divisão e tinha 12 bons jogadores. A prova iniciou e começamos a vencer, a competição continuou e as vitórias iam-se somando, até que chegamos à final da zona norte, contra uma equipa que tinha 5 bons jogadores. Estava em causa uma subida de divisão. A vitória nesse jogo representava uma subida de divisão. O jogo foi muito equilibrado, mas no final não vencemos.
Queria muito vencer aquele jogo, tinha-me preparado, durante anos, do ponto de vista técnico, táctico e físico, tinha 12 bons jogadores e mesmo assim não vencemos esse jogo, contra 5 bons jogadores. 
Sabia que a técnica, a táctica e o físico eram, são, muito importantes, para o sucesso das equipas desportivas, mas que havia mais coisas importantes, para além destas, que influenciavam o sucesso das equipas.
Percebi que as equipas são sempre diferentes da soma das partes.
Como é que 12 podia ser inferior a 5? O que é que podia tornar 5 maior do que 12? Se fosse capaz de responder a estas duas perguntas, provavelmente da próxima vez que treinasse uma equipa com 12 bons jogadores, não os iria tornar em menos do que a soma das partes e quando estivesse do outro lado e treinasse uma equipa com 5 bons jogadores, poderia ter mais hipóteses de vencer as equipas que tivessem 12 bons jogadores.
O que podia fazer diferente, para obter resultados diferentes (melhores)? Como é que o todo pode ser mais do que a soma das partes? Como podia Desenvolver Equipas Eficazes?
Comecei a estudar teamwork, team building, sociologia, psicologia e descobri a área que tem por objecto de estudo o desenvolvimento das equipas. Percebi que havia muita informação sobre este tema, conheci o Professor Doutor José Miguez (especialista nesta área), fiz parte do Centro de Investigação e Treino para o Trabalho de Equipa da agora Porto Business School, fiz formação nesta área em Inglaterra e nos Estados Unidos e acabei por realizar um doutoramento na área do desenvolvimento das equipas, na Faculdade de Psicologia e de Ciências das Educação, da Universidade do Porto.
Durante estes anos de estudo e trabalho, as surpresas foram muitas. Por exemplo, verifiquei que haviam artigos publicados em revistas científicas, sobre o desenvolvimento das equipas, desde 1956 – há mais de 60 anos. Quando lia esses artigos ou livros, sobre a área do desenvolvimento das equipas, parecia que estava a ler relatos sobre situações por que tinha passado nas diferentes equipas que tinha treinado e em que tinha jogado. Como era possível pessoas nos anos 50 e 60, por exemplo, estarem a descrever situações que eu tinha vivido nas minhas equipas nos anos 90?
Aprendi várias coisas. Entre elas, que para as equipas se tornarem eficazes, há um processo ou jornada a “percorrer”, que simplificadamente, poderá envolver 4 fases. Que essas 4 fases têm 2 eixos estruturantes, numa perspectiva sócio-técnica, o eixo social e o eixo técnico. O eixo técnico ou tarefa, poderá incluir a técnica, a tática, a parte física, mas também a preparação de viagens, estágios, (…). O factor social, onde podemos incluir a interacção, o socio-afectivo, o sócio-emocional ou duas das sete inteligências, concretamente, a intrapessoal e a interpessoal. Enquanto na dimensão tarefa, o treinador gere esses processos da equipa, na dimensão interacção o treinador influencia ou lidera os aspectos sócio-emocionais. Assim o treinador gere e lidera equipas. Aprendi que, do mesmo modo que um barco, para chegar a “bom-porto”, necessita de tomar uma direcção, levantar velas e ter vento para iniciar a sua jornada; necessita de superar as tempestades; necessita de passar de um cruzeiro em que uns trabalham e outros desfrutam; e necessita de processos para navegar e manter-se a todo o vapor; também as equipas passam por uma fase de formação, de conflitos e de reorganização para serem eficazes. Ou seja, a dimensão sócio-emocional e portando as exigências ao nível social e emocional vão mudando ao longo do tempo e das circunstâncias. Aprendi que em cada uma dessas fases há coisas que aproximam o “barco do seu destino” e que há outras que retardam ou afastam as equipas do seu objectivo. Imagine-se a jogar o jogo da corda, em que duas equipas puxam cada uma para o seu lado. A força que a sua equipa realiza para vencer o jogo da corda, são as primeiras, as forças impulsoras, enquanto a força que a outra equipa faz são as segundas, as forças restritivas e que será mais fácil e eficiente, para uma equipa, chegar ao seu destino, objectivo, se enfraquecer as forças restritivas de cada umas dessas 4 fases de desenvolvimento, como se estivesse a jogar o jogo da corda com cada vez menos pessoas, do outro lado a puxar. Aprendi que existem 15 forças restritivas fundamentais a superar no plano sócio-emocional, para as equipas serem eficazes e aprendi que do mesmo modo que os treinadores têm conhecimentos e estratégias para influenciar a técnica, táctica e o “físico”, também há conhecimentos e estratégias para os treinadores influenciarem a interacção social e emocional das equipas.
Mas qual é o valor desses conhecimentos e estratégias, no plano sócio-emocional?
Num dos estudos do meu doutoramento, realizado com equipas desportivas, um dos dados encontrados foi surpreendente: quando comparamos a perceção da produtividade das equipas que estavam numa fase de desenvolvimento mais avançada com as equipas que estavam numa fase de desenvolvimento mais atrasada, observamos que as equipas mais desenvolvidas exibiam uma percepção da produtividade 31% superior e que essa diferença era estatisticamente significativa.
Ou seja, se a sua equipa esta época venceu 20 jogos e não fez qualquer treino de inteligência intrapessoal e interpessoal, poderia eventualmente ter vencido até 26 jogos, se tivesse incluído o treino da dimensão sócio-emocional nas suas rotinas de trabalho. Se, por exemplo, uma dessas vitórias fosse na liga dos campeões, poderíamos estar a falar que o treino sócio-emocional teria valido 1.5 milhões de euros.
Mas este treino e o seu impacto não se circunscreve apenas ao desporto. Qual seria o valor de aumentar a produtividade da nossa indústria, das nossas empresas até 31%?
Concluindo: o treino da interacção, do sócio-emocional ou da inteligência intrapessoal e interpessoal é uma realidade com conhecimentos e estratégias concretas, está disponível e poderá ter um impacto na produtividade das equipas até 31%.
Neste preciso momento, atribui a mesma importância à qualidade da interacção nas equipas?"

A um Bruno Conhecido…

"Ao contrário do que diz Sobrinho, Carvalho não é um mero assalariado. É o responsável, pelo menos moral, pelo que se passa no Sporting e foi, com os sucessivos discursos de ódio, o instigador do actual estado do clube.

(Única sportinguista de quatro irmãos, mesmo após anos de silêncio envergonhado e imposto por mim mesma para não prejudicar terceiros, nunca me imaginei a escrever sobre o meu clube nestes termos. Quando me perguntavam porque sou do Sporting a minha resposta foi sempre a mesma: era o clube onde os fins não justificavam os meios e isso bastava-me. Até agora. Entre os designados “croquetes” e esta turba que invadiu o clube, embora legitimada por eleições, estou com os seus atletas e os verdadeiros adeptos do Sporting. Sempre. E, por pior que tenha corrido a Taça, deixo aqui o meu agradecimento aos que jogaram e aos que permitiram que jogassem, não obstante tudo. Obrigada.)
Procurando ser positiva, a única coisa boa que vislumbro no actual estado do Sporting é o desaparecimento do pequenino homem que diz ser seu Director de Comunicação e que nunca esteve à altura do seu cargo.
As últimas semanas ficarão para sempre na memória, quer pela brutalidade do ataque ao que é o principal activo do Clube, quer ainda pelo facto de um director, cuja carreira até ali chegar é desconhecida, ser suspeito nos termos em que o é, quer por último pelas lastimáveis cenas do Presidente. Uma alma que afirma que um ataque, cujos contornos são no mínimo estranhos, “foi chato” e que temos de estar habituados a conviver com o crime é alguém que nunca deveria ter chegado, sequer a sócio, quanto mais a Presidente do Sporting. Por seu turno, um Presidente de Mesa que diz uma coisa e o seu oposto num espaço de minutos é, também, alguém cuja credibilidade, num momento em que a mesma é especialmente precisa, se perdeu há muito.
A crise no Sporting é profunda e não se resolve com operações de cosmética, como as que se têm sucedido a um ritmo alucinante. É certo que Carvalho foi legitimado quando tudo indicava que não o deveria ter sido, não sem antes ter promovido a sua própria mulher. Também parece certo que alguns elogiam a gestão que fez no seu primeiro mandato, sendo que, a este título, não deixo de realçar que alguns dos despedidos por si foram substituídos pelas pessoas que temos visto ultimamente nas notícias.
Contudo, e ainda que a dita gestão do primeiro mandato fosse tão espectacular quanto dizem, o espectáculo degradante a que temos assistido não apenas justifica como impõe a demissão de Bruno de Carvalho. E para ontem porque hoje é, já, tarde demais. Ao contrário do que diz Sobrinho, Carvalho não é um mero assalariado (e, menos ainda, ao seu – dele, Sobrinho – serviço), sendo, ao invés, o responsável, pelo menos moral, pelo que se passa no Sporting e foi, com os sucessivos discursos de ódio, o instigador do actual estado do clube que lhe paga principescamente. Basta."

Sporting: o desporto ‘off’, a SAD ‘on’

"O que se está a passar é irreal, tanto do ponto de vista desportivo, como financeiro. Como é que perante um quadro de falência iminente, as acções sobem exponencialmente?

Queremos que o Sporting seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa”. As palavras de José Alvalade, em 1906, concretizaram-se muitas vezes ao longo destes quase 112 anos. Do atletismo ao futsal, passando pelo hóquei em patins, até ao futebol, os leões têm feito uma boa parte da história do desporto em Portugal e ocupado um lugar essencial enquanto instituição da sociedade portuguesa.
Infelizmente, nas últimas semanas, o Sporting tem feito história noutros domínios. Não tenho memória de episódios tão violentos como os que aconteceram a semana passada na Academia de Alcochete e nem preciso detalhá-los, porque também não conseguiria com a precisão que os meios de comunicação social já o fizeram vezes sem conta.
A violência do ataque dos 50 adeptos a jogadores e técnicos do clube foi uma consequência indirecta da notória e crescente falta de capacidade da SAD – Sociedade Anónima Desportiva, em gerir emoções com bom senso e razoabilidade. E o resultado, além dos danos físicos e psicológicos para as vítimas, traduz-se em mais instabilidade para o clube.
Desde logo, uma grande instabilidade financeira, agravada pela possibilidade dos jogadores se decidirem pela rescisão de contratos por justa causa. Isto para não falar das obrigações que estão a vencer, do perdão da banca de 90 milhões em juros e dívida, dos patrocinadores que estão a quebrar contratos publicitários e a afectar receitas.
Curiosamente, é neste cenário de quase catástrofe que as acções da SAD do Sporting valorizam, nos dois primeiros dias da semana, mais do que nunca. As cotações dos últimos dois dias cresceram no global 31% (negociando acima dos 0,825 euros por acção), ao ponto de ficarem suspensas.
No comunicado do passado domingo, dia da final perdida da Taça de Portugal, a SAD informou a CMVM que, na assembleia-geral de obrigacionistas, realizada nesse dia de manhã, foi deliberado “sobre a alteração da respectiva data de reembolso de 25 de maio de 2018 para 26 de Novembro de 2018”, adiando o pagamento da taxa de juro de 6,25%, e o reembolso de 30 milhões de euros.
É tão irreal o que se está a passar no Sporting do ponto de vista desportivo, como do ponto de vista financeiro. Como é que perante um quadro de falência iminente, as acções sobem exponencialmente? Como é que a SAD está cada vez mais valiosa? Estará à beira da ruína? São muitas as questões a merecer resposta célere. Os sportinguistas e os adeptos do desporto em geral agradecem."

Desbrunizar é preciso!

"O Sporting já tem novo director-geral, novo porta-voz, renovadas promessas de bom comportamento do chefe Bruno. Perante esta aparência construtiva, pouco importa se tem o novo director Inácio, mas não sabe se ainda tem alguns dos seus principais jogadores; se tem a grave voz de Fernando Correia (já tinha saudades de o ouvir decretar pena de silêncio aos jornalistas), mas desconhece-se se vai ter dinheiro para selar os pesados compromissos.
Hoje, está prometido, é o dia ‘B’ em Alvalade. Veremos como se passa mais um dia deste Bruno de Carvalho agarrado ao poder, aos segredos e à informação financeira, que o poderão comprometer.
O caminho para Bruno de Carvalho será sempre a descer até ao valor facial da sua irrelevância, de onde nunca deveria ter saído. A decadência destas estrelas cadentes é tão rápida como a das que rasgam os céus. Antes que Bruno se apague, cabe formular três desejos:
Que o Sporting reencontre o rumo e não entre numa rota de belenensização. Que os sportinguistas encontrem uma gestão onde a liderança tenha paixão clubística, mas também bom senso, moderação, clarividência e honestidade. Que o plantel do futebol profissional mantenha qualidade para se bater com os outros dois grandes e possa aspirar a conquistar títulos, com as bancadas repletas de sonho e esperança.
O dirigismo desportivo enferma no mesmo mal da actividade política. Num e noutro campo, as convicções clubísticas ou ideológicas não são suficientes para atrair os melhores, mais aptos, bem preparados. Num como no outro caso, os momentos de maior crise levam algumas figuras, por espírito de missão, a sair do remanso das suas vidas profissionais privadas para darem o peito às balas da responsabilização colectiva. Do escrutínio público severo. Do grave risco de falhanço.
A situação que se vive no Sporting deveria ser apelo bastante para que alguns dos melhores sportinguistas se entendam a fim de endireitar o clube.
O fenómeno Bruno de Carvalho só foi possível depois de anos de decadência e gestão duvidosa, com o pináculo na presidência de Godinho Lopes e de um seu inenarrável vice, ex-agente da PJ.
A última vez que alguém se candidatou ao Sporting com um par de ideias claras e sem demagogias ou utopias foi em 2013. Então, José Couceiro prometeu falar verdade aos sócios, mas os sportinguistas só lhe deram 45% dos votos e elegeram o filibusteiro Bruno de Carvalho.
Agora, muitos se viram de novo para Couceiro. É sportinguista, inteligente, sério, e manifesta saúde mental acima da média. Seria uma boa solução para pegar no leme do clube e da SAD, nesta fase conturbada. Outros haverá, também aptos. Urge que alguém dê um passo em frente. Que, de forma honesta e profissional, aponte um caminho de união e construção aos sportinguistas."

Futebol: entre popular e populista

"O futebol, ainda que travestido de negócio, continuará a apaixonar multidões. Mas não pode constituir um campo inesgotável de recrutamento para lideranças populistas.

A crise instalada num dos maiores clubes portugueses encarregou-se de voltar a trazer para a praça pública a forma como tem vindo a ser gerido o futebol-negócio.
Uma realidade recente e que pouco – ou nada – tem a ver com o futebol-jogo da bola. Um espectáculo que apaixonou multidões e a que, até à chegada da televisão, muitos assistiam apenas através da rádio e das imagens dos jornais – as crónicas dos jogos só acessíveis a quem sabia ler ou contava com a boa vontade de um leitor. Circunstância que não obstou ao desenvolvimento de paixões clubísticas que faziam de cada jornada um alfobre de discussões nas tertúlias habituais: o café, a taberna, o barbeiro, o sapateiro…
Uma realidade que sofreu enormes alterações quando o acesso aos media se democratizou e os grupos de interesse se aperceberam do potencial do fenómeno desportivo. Nessa conjuntura as ligações entre o futebol, enquanto desporto-rei em Portugal, e a política e a economia estiveram na origem de uma teia relacional muito complexa. Uma situação que exige uma reflexão de cariz sociológico.
Assim, alguns pensadores – como Gabriel Tarde e Ortega y Gasset – defendem a irracionalidade da acção colectiva. Dizem que as multidões não dispõem de opinião. Porém, outros pensadores – como Marx, Weber ou Durkheim – recusam que a acção social seja irracional. Afirmam que qualquer facto social encontra explicação noutro facto social.
Esta díade teórica ajuda a compreender o que tem vindo a acontecer em Portugal no que concerne ao futebol, ou seja, de que forma um fenómeno inicialmente popular se está a transformar em populista. 
Na minha definição, o populismo representa uma forma de articulação do discurso visando a luta pela hegemonia. Um conflito que pressupõe a criação de dois corpos antagónicos – nós e eles – e que recusa qualquer tipo de negociação.
É através dessa luta que o líder se aproveita da irracionalidade das massas e se alcandora ao Poder. Também é em nome dessa luta que o líder exige a destruição dos corpos intermédios, apresentados como os grandes inimigos. Alguém que está ao serviço dos outros. Aqueles que desafiam a afirmação do grupo.
No entanto, essa destruição dos corpos intermédios é acompanhada da criação de estrutura de suporte do líder. A sua guarda pretoriana chefiada por pessoas-de-mão. Tudo, oficialmente, em nome do interesse colectivo. A defesa do “nós”.
A actuação das novas estruturas é essencial para o sucesso do líder. São elas que se constituem como o executor da vontade do chefe. O único elemento que não pode ser acusado de irracionalidade. Pelo menos ao nível da definição do objectivo central: alcançar e capturar o Poder.
Finalmente, são essas estruturas que condicionam – alterando, limitando ou impedindo – a acção do “outro”. Sobretudo daquele que, segundo o líder, deixou de pertencer ao “nós”.
O futebol, ainda que travestido de negócio, continuará a apaixonar multidões. Cabe a quem de direito tomar as medidas necessárias para que continue a gerar paixões, mas deixe de constituir um campo inesgotável de recrutamento para lideranças populistas. A menos que a promiscuidade dite a lei."

Desporto e multinacionais, "paixão" desastrosa

"A torrente de notícias, com rara informação e uma imensidade especulativa, que submergiu o país a propósito de casos diversos que envolvem clubes e dirigentes, e que atingem algumas modalidades, nas quais sobressai o futebol, anatematizam todo o desporto. O volume é tanto que só com elevado grau de resistência crítica e distanciamento de leitura se lhe resiste.
Frustrando expectativas que já adivinham uma incursão pelos terrenos do "sangue e da exacerbação" nos parágrafos que se seguem, a opção não é essa. Desculpe-se a falta de ousadia, este desprendimento face à captação de audiências, mas para ir por aí já basta o que encharca o país. Invocando palavras de Montesquieu, ausentes na superficialidade do comentário jornalístico dominante, "não se trata de ler mas de fazer pensar". Haveria tudo a ganhar seguindo-as. Também aqui não encontrará o leitor, contrariando preconcebidos prognósticos, a verberação do desporto de alta competição, incluindo o futebol, o olímpico, o federado ou o profissional. O desporto é um factor do processo de desenvolvimento que compete ao Estado promover, quer quanto à democratização da sua prática quer quanto aos valores que o devem rodear. Uma actividade que, se praticada de forma justa e não discriminatória, integra o processo de responsabilização e integração na sociedade. A observação do que tem rodeado o ambiente desportivo exige reflexão mais profunda, rejeição da espuma mediática, busca aprofundada noutras paragens do que aquelas em que a aparência do óbvio tolda a razão.
Comecemos pela mercantilização do desporto, tornado desporto-espectáculo. Olhar para o que se passa, iludindo-a, só dá tropeço na análise. A súbita "paixão" das multinacionais pelo desporto, que se confunde com a paixão por tudo que lhes assegure lucros fabulosos, induziu alterações ao nível dos conceitos, do impacto na "indústria" e na publicidade, das formas como os Estados e o capital privado intervêm e suportam a actividade económica em torno do desporto, em particular do futebol. 
Não se confinem os problemas a desvios comportamentais ou actos de gestão danosa. O domínio não é apenas o de juízos morais, mas sim o que, no plano político, ideológico e legislativo e de auto-regulação das diversas modalidades, animou práticas condenáveis. A criação das sociedades anónimas desportivas, com o que transporta de espaço de voragem financeira, de investimentos duvidosos e especulação bolsista em torno de clubes e modalidades, abriu caminho a situações de que, em geral só emerge a ponta do icebergue. Clubes desportivos transformados em placas giratórias da especulação de direitos de jogadores, janelas de oportunidade para lavagem de dinheiro, promíscuas movimentações entre capital financeiro, imobiliário e clubes, disputas nebulosas do negócio de direitos televisivos, articulados com patrocinadores e o marketing, fomentam a corte de ambiciosos "empresários" que se fundem com corpos directivos, tudo sob os holofotes de uma comunicação social sedenta de audiências. A que se adiciona os problemas induzidos pelo mercado de apostas desportivas e as práticas a ele associadas. Conter e limitar a "indústria e mercados" do desporto não significa o fim do profissionalismo desportivo. Mas há todo um campo para intervir limitando investidores institucionais, regulando patrocínios publicitários, ou questionando a propriedade ou a co-propriedade dos clubes sobre media, como canais televisivos.
Transportemos para outro plano que, se não for convocado, faltará ao que se impõe aduzir em benefício da compreensão. A instrumentalização ideológica do espectáculo desportivo, assim como sua utilização para promoção pessoal, social e política não é de hoje. O que se tem assistido, da patenteada violência ao infindável rol de suspeitas de corrupção, com as dinâmicas específicas que os envolvem, não são também separáveis das expressões antidemocráticas disseminadas na sociedade. A exacerbação clubista tem-se assumido como factor de diversão e desvio dos reais problemas nacionais. A promoção da conflitualidade gratuita entre clubes, não raras vezes baseada no enfunar do populismo ou no incentivo ao ódio, são parte de um caldo onde se alimentam projectos que corporizam concepções fascizantes e que estão muito para lá de protagonismos individuais.
A paixão pelo ​​​​​​​espectáculo desportivo não é necessariamente factor de alienação, assim como o desporto de alta competição não é necessariamente contraditório com a prática generalizada do desporto pela população. O desporto é, ou deveria ser, essencialmente uma actividade cultural. No universo das suas expressões. Sem ostracização de modalidades. O futebol profissional não é todo o futebol e ainda bem menos todo o desporto. Do muito que há a fazer, comece-se pela responsabilidade do Estado, desde logo no que lhe caberia promover no plano do desporto escolar e da escola pública na formação de valores e comportamentos éticos, e no fomento do associativismo democrático, a que os órgãos de comunicação social sob tutela pública por maioria de razão se deveriam associar."

Sabe quem é? Acabou a vender peixe - Neto

"Campeão europeu no Benfica, desfez o mistério do chá de Guttmann; Nas Antas a «pantufada» e o comprimido

1. Nascera a 5 de Outubro de 1935 - estava a caminho dos 23 anos, jogava na segunda divisão, trabalhava o dia inteiro na fábrica de cortiça de Manuel da Luz Afonso. No defeso da época de 1958/59, o patrão levou o Benfica a jogo ao Montijo, a sua ideia era que Otto Glória se encantasse por ele...
2. No final desse Montijo - Benfica, Otto correu a dizer que sim: que o contratassem na hora. Ofereceram-lhe 3 contos por mês, 8 era o que custava barato aparelho de TV. «Depois, o Sporting começou a pagar 4 contos, o Benfica foi atrás. Assim fui vivendo: a três ou quatro contos por mês e luvas de fazer rir. No primeiro contrato foram 15 contos de luvas, mas divididas em prestações de três em três meses...»
3. Os seus primeiros tempos na Luz foram sobretudo de treino específico: «para ganhar o músculo que não tinha» - e à sétima jornada do campeonato, Otto Glória deu-lhe a titularidade pela primeira vez, no Barreiro. O Benfica venceu por 3-1, não saiu mais da equipa - foi o ano em que o FC Porto ganhou o campeonato que fez história no «caso Calabote».
4. Duas semanas após a sua estreia no Benfica foi às Antas empatar 0-0 - e, mais de 20 anos depois, revelou a Jorge Schnitzer, em A Bola: «Fala-se muito termos sido bicampeões europeus à custa de doping, mas só uma vez fui drogado. Não foi sequer no tempo de Béla Guttmann. Era Otto Glória o treinador, estávamos a jogar com o FC Porto, Hernâni tinha-me dado uma pantufada que eu pensava que me tinha partido a perna, ao intervalo, o médico queria dar-me uma injecção - não quis. Disse-lhe que preferia que me desse antes um comprimidozito daqueles azuis - e, na segunda parte, fiquei com uma força que nunca mais parei. Foi a única vez».
5. Perdeu o campeonato para o FC Porto, ganhou-lhe a Taça de Portugal, esse seu primeiro título saiu do golo de Cavém aos 13 segundos. A época seguinte foi a do primeiro dos seus quatro campeonatos - já tinha ganho um dos cognomes que lhe marcaram a história: A Formiga do Benfica.
6. O caminho para a sua primeira final na Taça dos Campeões (em que bate o Barcelona) passou pela Escócia e no programa do Hearts-Benfica trataram-no como Senhor Movimento Perpétuo, por dar ao meio-campo o frenesim e a combatividade que lhe dava. A Jorge Schnitzer também o afiançou: «O chá do Guttmann não era doping, não! Só tomava o chá quem queria - nos treinos, ao intervalo, no fim. Eu bebia e ficava na mesma. E era o chá porque Guttmann não queria que bebêssemos água, que nos ficava a chocalhar cá dentro. Também não nos deixava tomar limão, a garganta secava-nos, parecia que morríamos».
7. Fez o percurso para lá, mas na final da Taça dos Campeões contra o Real, viu-se suplente do Cavém. «Suplente também fui na final de Londres que perdemos com o AC Milan. Aí, ainda levei 30 contos, pela vitória de Berna deram-me 22» - e a Guttmann tivera o Benfica de pagar 300 contos.
8. Schwartz não prescindiu dele ao lado de Coluna na final da Taça dos Campeões de 64/65 - «contra o Inter, a que tivemos muito azar, o Eusébio fartou-se de falhar golos». Foi a que o Benfica acabou com Germano à baliza por Costa Pereira se aleijar, tendo de voltar a Lisboa em cadeira de rodas. Mesmo perdendo, o prémio foi o maior de sempre: 50 contos - por cá havia Lamborghinis à venda por 545.
9. Guttmann regressou à Luz, pouco o utilizou - e, para a época de 66/67, Fernando Caiado levou-o para o SC Braga. «Na véspera do jogo em que ganhámos ao Benfica por 4-0, fiquei doente com um problema nos pulmões, o Caiado agarrou-se a mim a chorar, não renovaram comigo, por medo que eu estoirasse. Vim para o Montijo, ainda joguei três épocas. Tinha 33 anos, não valia a pena mais, só me davam 1100 escudos por mês».
10. Largou o futebol, o Montijo não. «Com o dinheiro que ganhei na boa, fiz um prediozito, ficou-me por 176 contos - e montei um café». Ao chegar-se a 1979, trespassou o café por 560 contos, por 60 arranjou lugar na praça. Levantava-se às cinco da manhã, ia a Setúbal esperar pelos pescadores, comprava-lhes o pescado - e, na praça, era raro não se ouvir de pai ou mãe para filho: «Ali, o senhor Zé, jogou com Eusébio, foi campeão europeu...»."

António Simões, in A Bola