quinta-feira, 26 de abril de 2018

Mais uma denúncia...

"«Na semana passada o guarda-redes do Marítimo Amir Abed Zadeh foi abordado para receber 200.000 para facilitar contra o FC Porto. Peremptoriamente o guarda-redes disse que não! O guarda-redes não aceitou e neste momento o FC Porto, por intermédio de influências de terceiros, pressiona para que seja o Charles a jogar.
Charles é um guarda-redes referenciado por Nuno Correia, um agente conhecido de Matosinhos e amigo pessoal de Pedro Pinho, que mantém relações privilegiadas com o FC Porto e a sua estrutura. 
Numa altura em que é conhecida a conjuntura actual do FC Porto, ainda paira uma dívida ao SC Marítimo de 1M do jogador Marega, os dirigentes do Marítimo foram abordados também pela estrutura do FC Porto para o acerto da dívida em falta, e consecutivo reconhecimento da mesma. 
Marega é um jogador muito importante na estrutura do FC Porto, do qual só detém 60/prct, sendo 30/prct do Guimarães e 10/prct do empresário que é francês.
O FC Porto continua a utilizar o mesmo método para corromper tudo e todos, com o objectivo de ser campeão.
Esta denúncia é real e só precisarão de abordar os intervenientes aqui descritos para que tal seja esclarecido.
Estejam as autoridades atentas que mais se vai passar nestes dias.»"

O jornalismo e a democracia

"O jornalismo sobreviverá através dos tempos, porque será a única forma das sociedades democráticas se defenderem das fake news e dos movimentos organizados que exploram a chuva torrencial de informações manipuladas e que procuram servir, exclusivamente, interesses particulares ou de grupo.
Falo, evidentemente, do jornalismo sério, do jornalismo que se orienta por regras e por princípios deontológicos e que, por isso, apesar das dificuldades próprias de um tempo de muitos alçapões e armadilhas e, apesar da terrível tentação das audiências, tem o mérito de garantir ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador que não troca a informação por ruído, não oferece lixo mediático em vez de matéria editorial dignamente tratada.
Sinceramente, não vejo outra forma do jornalismo resistir à praga consumista da maledicência ou à demagogia própria do populismo que não seja o do caminho do rigor, da independência e da autoridade moral.
O jornalismo livre e credível continuará, pois, a ser um pilar da democracia e um insubstituível guardião da liberdade. Assim era ontem, assim é hoje, assim será no futuro. Daí que se assista com justificada e até crescente preocupação, em Portugal, à degradação de algum jornalismo dito popular, incluindo na área do desporto, onde a manipulação das notícias plantadas por perigosos modelos de gestão de associações que supostamente ostentam o título de defensoras da transparência e da verdade se torna uma prática regular, procurando moldar e influenciar a opinião de um público pouco desporto e pouco avisado."

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Este hoje parece aqueles com cidadãos que pregam pelos bons costumes, e depois chega a casa, e dá um enxerto de porrada na mulher!!!

Decide-se €milhões!

"Funchal: 2.º 'jogo do título'. Portimão e 'derby': financeira 'sobrevivência'! Rui Vitória: que dilema face a 4 jogadores!

Funchal, território do Marítimo, poderá ser 'Abre-te Sésamo' na conquista do hiperambicionado título. Sim, conseguindo vencer adversário que luta pelo 5.º lugar (ombro a ombro com o Rio Ave, mas... a inacreditável distancia do 4.º: 27 pontos), o FC Porto poderá encomendar as faixas de campeão. Absolutamente inverosímil a hipótese de esbanjar 3 pontos nas 2 passadas finais: frente ao Feirense no Dragão, ou na visita a Guimarães que finaliza a época tão a léguas do que foi há um ano (campeão dos não gigantes) que já a ninguém assusta.
Ou seja: no próximo domingo, o FC Porto terá o seu 2.º 'jogo do título'. Muito improvável espalhar-se agora, depois de ter saído da Luz com o triunfo quase de certeza decisivo (no dia F, recuperou a boa forma, com grande intensidade competitiva; mantendo esse precioso trunfo no 5-1 ao V. Setúbal). E mesmo que empate... continuará líder - seguindo-se Sporting-Benfica... Marítimo/Funchal, derradeira (ténue) esperança benfiquista (pouco menos do que nula no horizonte sportinguista).

Portimão. Jogo-chave para Sporting, face ao seu objectivo ainda credível: abrir hipótese de alcançar Champions e €40/50 milhões - sendo estes, ao que alguns dados indicam, cruciais para o estado das finanças em Alvalade; logo, para a estrutura futebolística na próxima temporada.
Preto no branco: após semana de repouso pela qual Jorge Jesus tanto suplicou, se o Sporting não vencer em casa do Portimonense (este merece forte elogio no bem difícil choque com exigente regresso à I Liga), de nada lhe adiantará eventual imediato triunfo frente ao Benfica.

Luz: recebendo Tondela que já se libertou da tremenda aflição dominante em nada menos de 5 equipas, que Benfica? Sim, pergunta pertinente, por dois motivos...
- Equipa subitamente periclitante (com boa vontade...) nos últimos 3 jogos: sofridíssimos triunfos em Setúbal e no Estoril (arrancados ao cair do pano), e, pelo meio, acabrunhante desaire, em casa, no tal dia D perante FC Porto.
- Muito complexa, e perigosíssima!, gestão de cartões amarelos. Se Rúben Dias, Jardel, Grimaldo, Fejsa (quase toda a estrutura defensiva!) virem outro cartão depois de amanhã, ausência certa em Alvalade, provavelmente no segundo dia D, agora decidindo 2.º lugar... Luisão leva 4 meses sem jogar... (e outro defesa central não existe no plantel). Eliseu quiça mais de 4 meses... (porque Rui Vitória não os colocou em campo num ou outro jogo neste longo período, depreende-se que muito tem deixado a desejar a nível competitivo deste dois veteraníssimos). Quanto a Fejsa, alternativa chama-se Samaris, o qual, convenhamos, chamado para poucos minutos aqui e além, convincente é que não tem sido. Por isto - e não só! - nem sei que pensar quando leio, ou oiço, que o Benfica tem plantel pelo menos ao nível dos grandes rivais!!!
Que decidirá Rui Vitória neste jogo imediatamente antes do derby? Arrisca poupar Rúben Dias, ou Jardel (ambos nem lhe será possível...). O mesmo fazer com Grimaldo e Fejsa, quiça comprometendo imperioso triunfo? Ou arrisca entrar com debilitada capacidade defensiva no grande confronto em Alvalade que deverá decidir os trais €40/50 milhões... imporantíssimos para a próxima época? Que dilema!


Milhões de euros. Eis o que, para lá da magna questão do título!, estará em jogo nas 3 últimas jornadas. Falhar até o 2.º lugar, significando insuperável adeus à Champions, passou a ser um problemão!
O Benfica decidiu, nesta temporada, colocar máxima tónica no saneamento financeiro. Tinha grande almofada competitiva de ser tetracampeão...; mas decerto já percebeu que terá de regressar a investimento em reforços... que o sejam (onde o dinheiro, se o fiasco desportivo, na Europa e nas Taças nacionais, se completar com 3.ª posição no campeonato!).
O Sporting, já se percebeu, depara-se com situação financeira, afinal, bem melindrosa...; está dito precisar, urgentemente, de €60 milhões. Verbas saltando da NOS não são inesgotáveis... Saída de jogadores que têm sido cruciais - alguns agora mal vistos pelo presidente!... - deve ser necessário. E, sobretudo se sem acesso à Champions, investimento como o feito esta época no plantel (17 aquisições!) tornar-se-á, creio, quimera do impossível.
Como irão entender-se Bruno de Carvalho e Jorge Jesus?"

Santos Neves, in A Bola

Os bons e os maus

"1. Não é que hoje haja mais fenómenos de violência no desporto relativamente ao passado, o que aumentou foi a divulgação que acentua o paradoxo: quanto mais uma sociedade evolui socialmente e condena episódios como o que se verificou numa final universitária de futebol, em que jogadores de uma das equipas agridem violentamente os árbitros, maior se torna o vício inconsciente de novas réplicas. Esta é uma discussão que já se fez sobre os incêndios ou sobre os vídeos de violência nas escolas: o perigo do mimetismo.
2. Mas é inegável: de todos os desportos, o futebol é, infelizmente, aquele que tem uma maior relação com a violência. Sempre assim foi mais agora com uma diferença, falando do caso português: instalou-se de vez o terrorismo comunicacional. e num crescendo de perversidade. Benfica, FC Porto e Sporting gastam hoje mais dinheiro em comunicação do que nunca. É dinheiro desviado dos relvados para a contra-informação. Nalguns casos, mais depressa compravam o Pravda do que um bom lateral-direito.
3. Uma coisa está ligada à outra: 2017/2018 ficará sempre como o campeonato dos e-mails. Se o Benfica o perder para o FC Porto, será muito mais do que uma derrota desportiva: será a vitória de uma narrativa construída pelos rivais. E se porventura perder o segundo lugar para o Sporting, Luís Filipe Vieira ficará tão ou mais exposto às críticas quanto Rui Vitória. Porque é ele o líder, é ele que subscreve a praxis. Perder um campeonato todos perdem; perder um campeonato e a moral é uma goleada. Mas se o penta for uma realidade, é todo um argumentário que perderá força como as grandes ondas que se transformam em mera espuma quando beijam a areia.
4. Nas três jornadas que faltam não estão em causa, portanto, apenas nove pontos. É muito mais que isso: é a sobrevivência de uma ideologia. O provar que uns são bons e os outros são maus. Isto é tudo menos desporto."

Fernando Urbano, in A Bola

PS: Se voltar a 'meter todos no mesmo saco' já não é novidade, não deixa de ser extraordinária, como o roubo e divulgação de correspondência privada, descontextualizada e manipulada, é relativizado a uma simples 'narrativa', aparentemente totalmente legítima!!!
A narrativa só 'passa', porque a incompetência, a cobardia e a cumplicidade dos jornalistas tem permitido que a mentira seja vencedora...ainda hoje, na BolaTV se discutia troca de e-mails entre o CEO do Benfica com a sua esposa... e um suposto convite ao actual Presidente do CD da FPF, em 2007, quando não tinha qualquer cargo na estrutura do futebol... nem fazia prever que iria ter!!!

O dia em que o soccer (por uma vez) saiu da sombra

"A vitória por 1-0 dos EUA frente à Inglaterra no Mundial 1950 é considerada uma das maiores surpresas de sempre, com uma equipa recheada de amadores (e dois luso-descendentes) a ganharem à pátria do futebol. Tão inconcebível que, segundo reza a lenda, alguns jornais britânicos achavam que a notícia tinha chegado com um erro: afinal era 10-0 para a sua equipa (Esta é a quarta história na nossa nova série enquanto Portugal não entra em campo no Mundial da Rússia)

Será provavelmente o momento mais alto da história do futebol norte-americano - vulgo soccer para aqueles lados - e no seu país praticamente ninguém se recorda ou fala dele. Mas do outro lado o seu efeito foi sísmico e destruiu um mito de superioridade que nunca mais se reafirmou com a mesma veemência. Argumento onde os protagonistas foram os EUA e a Inglaterra, o palco foi o Mundial 1950 no Brasil e o resultado foi uma vitória por 1-0 frente aos pais do futebol.
Apesar de terem participado no primeiro mundial, onde inclusivamente chegaram às meias-finais, o futebol foi durante largas décadas um desporto de terceira ou quarta categoria comparativamente a outras modalidades mais mediáticas nos EUA. Sem competições nacionais de relevo, a selecção era composta inteiramente por jogadores amadores, com um condutor de carros funerários e carteiros entre a comitiva, composta em grande parte por imigrantes de segunda geração e atletas recentemente naturalizados. Era o caso, por exemplo, de Eddie Sousa e Clarkie Souza, dois luso-descendentes que jogavam pelo Fall River Ponta Delgada (um dos clubes dominadores do futebol norte-americano de então) e compunham a ala esquerda da equipa.
Falamos de uma selecção que tinha perdido os seus últimos sete jogos internacionais sem apelo nem agravo, com um registo de 2 golos marcados e 45 sofridos, e que viajava para o Brasil com o rótulo de derrotada à partida. Só que como qualquer pessoa fã de uma boa história poderá dizer, pode haver sempre uma surpresa na manga. O que não parecia muito possível desta feita, até porque logo no primeiro jogo a doer da competição, a equipa norte-americana foi derrotada por 3-1 frente à Espanha. E seguia-se a Inglaterra.
A equipa de Sua Majestade participava no seu primeiro mundial, após ter recusado entrar nos anteriores por não considerar que houvesse adversários à altura dos inventores do futebol moderno. Conhecidos então como "os Reis do Futebol", tinham um histórico de 23 vitórias, 4 derrotas e 3 empates desde o final da 2ª Guerra Mundial com triunfos por 4-0 sobre a Itália e 10-0 frente a Portugal, entre outros. Uma equipa composta inteiramente por profissionais e onde pontificavam alguns dos melhores futebolistas do mundo, com destaque para o que era considerado mesmo O melhor, Stanley Mathews, o mago do drible.



Passar à fase final do Brasil 1950 (em que só os vencedores dos quatro grupos passavam ao grupo final) era considerado quase uma formalidade e a equipa não se deu sequer ao trabalho de juntar os jogadores de imediato, deixando alguns fazerem um tour de exibição para ganharem mais dinheiro, incluindo Stanley Mathews. Decisão que pareceu vindicada após a vitória sobre o Chile por 2-0 no primeiro jogo e que levou o treinador a tomar a decisão de deixar a estrela da companhia no banco para o jogo frente aos norte-americanos. Que tinham probabilidades, de acordo com as casas de apostas, de 500 para 1 de ganhar e que segundo o "Daily Express", até podiam começar "com três golos de avanço." Consegue adivinhar o que se segue?
"Acho que ninguém de nós achou que tínhamos alguma hipótese de ganhar", lembrou um dos veteranos da equipa, Walter Bahr. "O nosso objectivo era não perder por muitos." Ou, como afirmou o treinador, Bill Jefrey, os jogadores eram como "ovelhas à espera da chacina." O que não terá passado de jogo psicológico, mas não deixa de ser forte.

Incredulidade geral
Os relatos que sobrevivem do jogo em Belo Horizonte deixam perceber o expectável. Domínio intenso dos ingleses desde o primeiro minuto do jogo, com o guardião Frank Borghi (cuja verdadeira ambição era jogar basebol, sonho que a 2ª Guerra Mundial terá travado) a aplicar-se várias vezes. Entre duas bolas no ferro até aos 12 minutos de jogo e uns ingleses complacentes, os EUA começaram a desenvolver algumas jogadas que mereceram o agrado dos exigentes adeptos brasileiros.
Os arranques de Clarkie Souza, sobretudo, iam provocando alguns calafrios enquanto a equipa subia timidamente. E eis que aos 37 minutos o impensável aconteceu. Um remate fraco de Walter Bahr, que o guarda-redes Bert Williams parecia ter controlado, foi desviado pelo recentemente naturalizado Joe Gaetjens (de origem haitiana) com a bola a entrar lentamente na baliza inglesa. 1-0 e choque entre as hostes adversárias.
O golo deu renovada confiança aos americanos, que entraram mais fortes para a segunda parte, à espera do assalto inglês. Que nunca se materializou como se esperava, apesar de mais algumas oportunidades de golo, um apelo de grande penalidade e uma bola que o árbitro negou que tivesse entrado. Parecia estar destinado e o resultado improvável manteve-se até final, perante os vencedores (e uns vencidos) incrédulos.


Quando a notícia viajou o Atlântico até aos jornais ingleses, alguns editores assumiram que era um erro tipográfico e que o resultado, na realidade, teria sido 10-0 a favor da Inglaterra. Equipa que não mais recuperou do choque e perdeu no jogo seguinte também 1-0 para carimbar o adeus prematuro ao Mundial dos vencedores eleitos.
Já os norte-americanos viram o seu feito digno de David e Golias passar completamente ao lado do público e imprensa, até porque só havia um repórter do país a cobrir o evento, Dent McSkimming do "St. Louis Dispatch", que tinha pago a viagem do próprio bolso. "Foi como se a equipa de basebol inglesa tivesse jogado com os Yankees e vencido", recordaria mais tarde.
Passariam 40 anos até os EUA voltarem a participar num Mundial e a vitória histórica caiu no esquecimento. Os jogadores voltaram ao anonimato das suas vidas de sempre, com a excepção, pelos piores motivos, de Joe Gaetjens. O marcador do golo regressou ao Haiti, onde as suas ligações à oposição ao ditador Papa "Doc" Duvalier garantiram o seu desaparecimento e assassinato.
Já Clarkie Souza viu a sua exibição ser reconhecida com a eleição para a equipa do torneio, proeza que só voltaria a ser repetida por um norte-americano em 2002, Claudio Reyna que, curiosamente, também é luso-descendente. No Mundial que ficou para a história como o do Maracanazo, em que os favoritos brasileiros foram derrotados em casa pelo Uruguai (com direito a suicídios), a surpresa maior terá sido mesmo cometida por uns amadores de que poucos se lembram."

O futebol em risco de morte

"A decisão da Procuradora-Geral da República de juntar na competência de uma só equipa os indícios de crimes registados em vários inquéritos judiciais pode salvar a essência do futebol que se joga em Portugal. Mas não será fácil nem curto o caminho.
O que é a essência do futebol ou de qualquer desporto, que se tenha profissionalizado por se ter tornado um espectáculo pago pelas massas? A essência é acreditarmos que todos os intervenientes estão a dar o seu máximo para deixarem a melhor imagem possível. Os jogadores a quererem ganhar, ou, no mínimo, não perder. Os árbitros a querem julgar sem erro.
Durante décadas, o foco de dúvida sobre a boa fé no erro foi colocado nos árbitros, ou nos fiscais de linha, entretanto promovidos a árbitros assistentes.
E a malta discutia a cegueira de um ou outro. E outro ou um foram caçados nas malhas da corrupção, logo nos primeiros anos após o crime passar a ser previsto.
Agora, o cancro desceu mais profundo na relva. Há cada vez mais indícios de casos que envolvem jogadores comprados para não procurar ganhar. Quando os jogadores deixam de procurar ganhar, ou, no mínimo, em caso de grande desequilíbrio de forças, empatar, o futebol deixa de fazer sentido. Quando vemos um defesa fazer penálti, com uma mão feita asa, e não estamos seguros da sua inépcia com boa fé.
Quando vemos um guarda-redes sofrer dois golos nos primeiros minutos, devido a gestos muito estranhos, por pouco naturais, e não achamos apenas que vai perder o lugar, por ser nabo, não suportar a pressão, e os colegas não admitirem ter entre os postes um cromo que defende para a frente bolas simples. Quando já não acreditamos no que os nossos olhos estão a ver, o futebol caminha para a morte. O erro sempre fez parte do sortilégio do jogo. Maus árbitros sempre existiram. Jogadores sempre falharam. Mas protagonistas com falhas selectivas vão matar a razão de ser do espectáculo mais atraente do Mundo.
É fundamental que a justiça invista a sério nesta causa. Que desça aos meandros onde se cruzam alegados empresários da noite, de jogadores, de claques. De droga. Presidentes cada vez mais sombrios. Clubes detidos por capitais putrefactos associados a apostas globais. Que a investigação dure uma, duas, três épocas. Mas que limpe este sector tão lindo, tão mágico, e hoje tão mal tratado. Os sinais de alarme chegaram da segunda liga. Mas parece óbvio que se instalaram já no escalão maior.
E a justiça dos balneários? Também já feneceu? O meu amor ao futebol vem de um tempo em que quem não dava tudo em campo estava tramado no balneário. Era o grupo que expurgava as ervas daninhas. Em caso de dúvida, expurgava-se o faltoso, e pronto. Agora, vê-se gente gerar lances inexplicáveis. E os mesmos nabos, ou algo mais, voltam como titulares na jornada seguinte. Socorro!!!"

Um polícia no banco dos réus

"Como é possível um homem, em situação de superioridade clara (pois é agente da autoridade), espancar brutalmente um fulano, ainda por cima à frente do pai e dos filhos?

Levar a tribunal agentes da Polícia é sempre um problema muito delicado. Porque, no fundo, é colocar a autoridade do Estado no banco dos réus. E é dar um rebuçado à delinquência: os malfeitores exultam ao verem um agente da Polícia sentar--se no lugar que habitualmente está reservado para eles.
Por outro lado, é preciso pensar que ser polícia é uma profissão muito difícil. Os agentes têm de lidar frequentemente com situações complexas, em ambientes de marginalidade, no meio de grande tensão psicológica e riscos físicos, pelo que um certo exagero no uso da força não só se compreende como por vezes se justifica, para evitar males maiores.
Ainda por cima, os perigos a que a Polícia se sujeita revelam-se por vezes inglórios. Quantos agentes não se têm arriscado em perseguições e detenções de alta dificuldade e perigosidade – para depois verem os detidos serem libertados pelos juízes? Acredito que seja altamente frustrante…
Por isso, os ataques às intervenções policiais, vindos em geral da esquerda, devem ser olhados com muita desconfiança. À esquerda sempre conveio a fragilidade do Estado, para melhor poder agir.
Vem isto a propósito do julgamento que se iniciou esta semana do subcomissário Filipe Silva, que espancou um adepto do Benfica a seguir a um jogo em Guimarães.
As imagens captadas em exclusivo pela CMTV são brutais. Vê-se o subcomissário a falar com um fulano vestido com uma camisola encarnada, percebe-se que há uma troca de palavras, de repente o agente agarra no homem e empurra-o contra um muro, um indivíduo mais velho tenta perturbar a ação do agente e este vira-se e dá-lhe dois murros, depois volta a interessar-se pelo de camisola vermelha, atira-o ao chão, dois miúdos (dos seus 8 e 13 anos) tentam também intervir mas são impedidos por outros agentes, o subcomissário retira o bastão metálico do cinto e começa às bastonadas ao homem caído, depois vira-o, mete-lhe o joelho nas costas e finalmente entrega-o a dois outros agentes, que o retiram de cena. Enquanto isto, o miúdo mais pequeno é consolado por dois outros guardas, que o cobrem para não ver a agressão.
Os dois miúdos, como se previa, eram filhos do homem agredido – e o mais velho era o pai.
Esta cena coloca dois tipos de questões: umas de natureza humana, outras de natureza profissional. 
As de natureza humana têm sobretudo a ver com o seguinte: como é possível um homem, em situação de superioridade clara (pois é agente da autoridade), espancar brutalmente um fulano, ainda por cima à frente do pai e dos filhos? Mesmo que se sentisse insultado, deveria pensar duas vezes antes de iniciar a agressão naquelas circunstâncias, com as crianças e o indivíduo mais velho a assistir. E, para cúmulo, esmurrando este, que apenas tentava (naturalmente) defender o filho.
As de natureza profissional podem colocar-se assim: um agente graduado, que comanda uma força policial, não pode perder daquela maneira o controlo sobre si próprio. Com a agravante de o fazer na presença daqueles que comanda – mostrando-lhes a sua fraqueza psicológica e dando-lhes um péssimo exemplo. E tudo isto numa situação sem grande stresse, pois os agentes encontravam-se em grande superioridade numérica e não estavam a ser atacados por adeptos nem corriam qualquer perigo. Tratou-se de uma violência gratuita, sem sentido, produto de má índole ou de descontrolo nervoso do subcomissário. Em qualquer dos casos, totalmente inadmissível num responsável policial. 
Acresce que, no tribunal, Filipe Silva terá dado mostras de grande frieza no depoimento que prestou. Ora, na sala de um tribunal um agente mostra-se frio e calculista, e no exercício da sua actividade profissional descontrola-se? Custa a perceber...
‘Se queres ver o vilão, mete-lhe a vara na mão’ – assim reza o ditado. Aquela cena ocorrida em Guimarães, depois de um jogo entre o Benfica e a equipa local, ilustra na perfeição esta verdade. O subcomissário Filipe Silva pode ter sido muito bom noutras alturas – mas naquela revelou não ter condições para ser agente da autoridade. Muito menos num lugar de comando."

SC Braga, o melhor ainda está para vir

"Faz precisamente hoje um ano que Abel Ferreira foi oficializado como treinador do SC Braga e o presidente António Salvador não pode estar mais satisfeito por ter apostado no então técnico da equipa B, depois das opções menos conseguidas com José Peseiro e Jorge Simão. A equipa arsenalista está em quarto lugar a morder os calcanhares ao Sporting na luta pelo terceiro posto e até ainda pode chegar ao segundo lugar, a três jornadas do fim. E depois os números não enganam: são já 33 vitórias somadas em 55 jogos realizados e uma série de recordes batidos. Mas o mais importante é que este SC Braga joga bem.
O salto qualitativo que o SC Braga deu de uma época para a outra foi, de facto, muito grande. A qualidade de jogo deste SC Braga e a facilidade com que nesta recta final de época tem vindo a marcar golos como quem respira - está a um de somar 100 na época em curso - convencem, e, a manter-se a base de jogadores deste plantel, deixa água na boca para a próxima temporada na perseguição ao sonho que une presidente e treinador: a conquista do título de campeão nacional.
Com Abel, um treinador que soube aproveitar bem a janela de oportunidade de treinar na I Liga, o SC Braga é uma equipa tacticamente evoluída, que consegue mudar de sistema durante um jogo sem quebra de rendimento. Há ali dedo do treinador, uma identidade de jogo bem definida, estabilidade defensiva, com uma interessante saída de bola a três, e um ataque em bloco que sufoca os adversários. Nota-se ainda que a equipa está bem trabalhada do ponto de vista colectivo, percebe os momentos do jogo e sabe o que tem de fazer para tentar desbloquear qualquer sistema defensivo do adversário. Seja em ataque rápido, seja em ataque posicional. Um estilo de jogo atraente, atrevo-me a dizer o melhor desta Liga. E depois há o estilo de liderança. Abel é um treinador com uma forte personalidade e força de espírito que passa para os jogadores dentro de campo incutindo-lhes uma força de vontade da qual a equipa acaba, a maioria das vezes, por sair premiada. E sabe-se que a parte mental é crucial no futebol moderno.
O SC Braga está, pois, a realizar um campeonato merecedor de rasgado elogio. A três jornadas do fim, a época para a equipa não está fechada. Para além de estar a bater consecutivos recordes históricos do clube na competição, o SC Braga ainda pode chegar aos lugares de pódio, sobretudo ao terceiro lugar. E ao contrário do que Jorge Jesus disse em recente conferência de imprensa, não é assim tão indiferente ficar em terceiro ou quarto. É a diferença entre entrar na 2ª ou 3ª pré-eliminatória da Liga Europa, é todo um planeamento diferente a fazer consoante a classificação final no campeonato.
Recordes e mais recordes que acabam por espelhar a excelente época do SC Braga e a afirmação assertiva de Abel Ferreira, um treinador que se faz notar. Ele está perto de bater o recorde de pontos do emblema minhoto. Para já, com 71 igualou a marca de Domingos Paciência mas tem três jornadas para o conseguir, o que parece estar ao alcance. O SC Braga até ao fim da Liga tem de jogar com Belenenses (f), Boavista (c) e Rio Ave (f). Mais: com a vitória diante do Marítimo, na última jornada, Abel chegou às 23 vitórias numa única edição da Liga, superando o registo de Domingos,que em 2009/10, quando os minhotos foram vice-campeões, conseguiu 22 triunfos, em 30 jornadas. Mas há ainda mais: este SC Braga marca golos como quem respira. Com 72 remates certeiros na Liga, Abel já superou a marca de José Peseiro, que em 2012/13 chegou aos 60. No total de todas as competições desta época, os arsenalistas somam 99 golos, estando a um do golo 100, que pode chegar já este domingo, aquando da deslocação ao Restelo para jogar com o Belenenses.
Um ano depois, Abel mudou o SC Braga e depois de ter começado por arrumar casa no início da temporada fez crescer a equipa para patamares de excelência de jogo e potencializou jogadores, de que Ricardo Horta e Paulinho são os exemplos mais flagrantes. O melhor parece mesmo ainda estar para vir, seja Salvador paciente e o plantel não sofra muitas alterações para a próxima temporada. Será que Abel vai fazer aquilo que ainda não foi feito num clube a três anos de completar o centenário?"

As faltas no futebol (II)

"Continuamos a analisar as faltas no futebol, as que nunca ou raramente são marcadas, os casos em que não há falta mas deve ser mostrado cartão, o benefício do infractor e outras situações merecedoras da atenção de quem gosta de futebol. Aqui ficam alguns casos seleccionados.
Os guarda-redes são useiros e vezeiros na demora de reposição da bola em jogo. No caso de terem a bola na mão, já registámos demoras de 10, 12 e até 15 segundos (em vez dos seis autorizados) e não temos ideia de alguma vez ter sido marcada falta; acresce que, depois de toda aquela demora, a bola é colocada no chão e já nem há limite para o arrastamento do jogo passivo.
No caso do pontapé de baliza, os árbitros têm critérios muito díspares na punição dos exageros, só mostrando o cartão amarelo muito mais tarde do que deveriam ter feito; e acontece por vezes que, depois de "amarelados", os guarda-redes mantêm a mesma postura – mas não recordamos que alguma vez a reincidência tenha sido punida com 2.º amarelo e consequente vermelho.
Outro caso é a reposição para um defesa que, acossado pelo adversário, toca a bola dentro da área obrigando a repetição; em rigor não há falta, mas é anti-jogo a justificar a exibição de cartão amarelo, como, aliás, já foi defendido num painel televisivo recente.
Há muitos anos (anos 50) num Académica-Belenenses disputado em Coimbra, aconteceu a situação insólita de a bola ter sido agarrada dentro da área por um defesa do Belenenses, mas... com a mão! Grande bronca, o facto é que não estava em jogo e apenas houve repetição do pontapé de baliza; mas nesse tempo ainda não havia amarelos...
Na discussão se foi mão na bola (falta, sem qualquer dúvida) ou bola na mão (involuntária?), aqui a decisão deverá ter em conta a eventual vantagem do prevaricador, ou porque ficou com posse da bola ou porque pôde lançar um contra-ataque, por exemplo; nestes casos de evidente benefício deverá ser marcada falta.
Saber aplicar a lei da vantagem é apanágio dos bons árbitros, tantas são as vezes que muitos deles a ignoram; num recente FC Porto-Sporting (2-1) registámos quatro situações de falta em que a bola continuou na posse da equipa que a sofreu, mas em três delas foi beneficiado o infractor; pela positiva, no Braga-Sporting (1-0), o juiz sinalizou a infracção (por sinal grave) mas deixou seguir e só na paragem de jogo usou o critério disciplinar, mostrando cartão amarelo ao faltoso, que até era o 2.º e provocou a expulsão."

Silêncio sobre o essencial

"Entre os habituais comentaristas do futebol, na TV, férteis e imaginosos compiladores cénicos de “faits divers”, encontram-se também perfeitos efabuladores da intriga; exemplos de uma vida emotiva e febril, ao serviço (dizem eles) de um incomparável amor clubista; e ainda impulsivos pacientes de uma “clubite” (terrível patologia) em último grau. Portugal é, com toda a certeza, o país do “orbe terráqueo” onde mais futebol se discute, na televisão e na rádio e nas redes sociais e nos jornais. E nos barbeiros, nas repartições públicas, nos consultórios dos dentistas, nos cafés, nos restaurantes, etc., etc. Quer isto dizer que adormecemos e acordamos ao som das sentenças de convictos e conceituosos sábios, no que ao futebol diz respeito. Por vezes, até o “bacalhau à Gomes de Sá” é mais futebol que bacalhau. O Aristóteles dizia que o homem é um “animal político”. Em Portugal, não - em Portugal, quase todos os portugueses (não há regra, sem excepção) são verdadeiros “futebólogos”, ou “futebologistas”, ou seja, especialistas na “ciência do futebol”. O português, de facto, tornou-se um “futebólogo”, ou um “futebologista”, no sentido mais insociável, mais irritante, mais faccioso, que estas duas palavras possuem. É que, porque sabem apontar os erros “clamorosos” dos senhores árbitros, porque sabem que existe o 4x3x3, o 4x4x2 , o 3x5x2, o 4x2x3x1 e o 4x1x3x2, julgam-se entre os mais indiscutíveis talentos da nossa “pós-modernidade” e, emotivos até à raiz dos cabelos, não temem qualquer viva, truculenta e sanguínea discussão sobre a técnica do Cristiano Ronaldo e do Messi, ou a táctica do José Mourinho e do Guardiola, mesmo com um conceituado treinador de futebol. Pudessem eles ostentar as vernáculas qualidades de um prosador de eleição e voltaríamos a escutar as soberbas sonoridades da prosa camiliana…
Só que, para cientista, não chega ser homem de letras. E assim, porque também não são homens de letras, e de futebol não passam da expressão rápida e rude de uma grande ignorância, já cansa a incessante polémica, quero eu dizer: tanto clubismo cego, tanta competição sem valores. Por força das caricaturas inolvidáveis de Eça de Queirós, a sociedade portuguesa começou a rir-se de si mesma. Mas estes tristes comentaristas são demasiado depressivos e amargos, para acompanharem o que dizem de uma gargalhada sadia. Demais, julgam-se magistralmente versados, na explicação dos golos do Jonas e do Bas Dost, dos passes do Pizzi e do Bruno Fernandes, na compreensão da inteligência táctica do Herrera e da pujança do Marega. Considero o desporto (como já o disse inúmeras vezes) com realce para o futebol, o espectáculo de maior magia no mundo contemporâneo. Chega a ser um instrumento precioso, em prol do que mais nobre a humanidade tem. Dói-me, porque muito o respeito, que tanta gente pretenda fazer do “desporto-rei” um instrumento mesquinho e grosseiro, ao serviço doutros interesses que não se confundem com a beleza moral dos ideais desportivos. E dói-me ainda (a mim que, nas décadas de 30 e 40, fiz do Estádio “José Manuel Soares”, ou das Salésias, a minha segunda casa) que possam qualificar-se, como desportistas, pessoas que tomaram de assalto o dirigismo desportivo, para servir-se, unicamente para servir-se, do desporto da “sociedade do espetáculo”. Perdeu assim o desporto português os seus grandes modelos, como o Dr. Salazar Carreira, como o Prof. Mário Moniz Pereira, como o Dr. Armando Rocha, como o Prof. Noronha Feyo, como o Prof. Celestino Marques Pereira, como o Prof. Leal d’Oliveira, como outros nomes ilustres, que hoje são sombras, para dar lugar a outros, que a vida remoça e fecunda e… que serão sombras também!
Se é verdade o que me vêm dizendo alguns estudiosos, foi a minha tese de doutoramento, intitulada “Para uma epistemologia da motricidade humana”, a primeira investigação que se conhece, em língua portuguesa, sobre “epistemologia do desporto”. E com um objectivo primeiro: tentar provar que a Ciência da Motricidade Humana, onde se integram o Desporto, a Dança, a Ergonomia, a Reabilitação e a Motricidade de todas as idades, é uma nova ciência hermenêutico-humana e que os especialistas que a estudam e praticam são os chamados “professores de educação física”. E disse mais: “A Ciência da Motricidade Humana pode perfeitamente situar-se na re-orientação radical da Universidade, denunciando o postulado da primazia da razão, onde não há lugar para o amor, para a festa, para a poesia, para o jogo, para a corporeidade livre e libertadora; o postulado do progresso unicamente definido por critérios económicos, sem referência a um projecto fundamental e transcendente de vida; o postulado da primazia do rendimento, que origina o homem unidimensional, servo obediente dos anseios incontroláveis do Poder e do Ter. E simultaneamente anunciando: o postulado da transcendência, como realização do ser carente, que é o homem, como princípio de desfatalização da História; o postulado da relatividade, como postulado profético, dado que nada do que se faz ou do que se pensa é definitivo, inscreve-se numa tarefa sempre por acabar; postulado da motricidade, como abertura à relação e à esperança, já que todo o acto, verdadeiramente humano, é fruto da liberdade. Assim, provar-se que a CMH é uma nova ciência do homem, ou os que nelas licenciados são especialistas em tudo o que na motricidade é ciência e valor – equivale à tentativa de resposta a um desafio do tempo, ganha a dimensão de uma nova filosofia: não mais a filosofia do ser e do logos, mas a filosofia do projecto e da relação” (p. 158).
Quero eu dizer que, entre outras coisas, o Desporto tem a sua ciência e o seu método científico e os seus especialistas e que não pode discutir-se, portanto, só com emotividade e muito “amor ao clube”. É portanto insustentável, ou ridículo mesmo, defender, no conhecimento científico, um relativismo gnosiológico, ou reafirmar que uma ciência se possa resumir cabalmente ao nível linguístico, a… conversa. Uma inteligência profunda, ao mesmo tempo teórica e prática, dominada pelo bom senso, sabe que assim não é. O que se vê e ouve e lê, muitíssimas vezes, não passa de puro oportunismo, próprio de espíritos acanhados, estreitos e aferrados a uma concepção do futebol-espectáculo já gasta e desacreditada. É preciso repensar o futebol, tendo em conta a complexidade da ciência actual. E não esquecendo que se trata de um fenómeno social, de incomparável popularidade. Os perdedores na vida precisam de identificar-se com os vitoriosos, nos estádios, para poderem superar as frustrações de todos os dias. Jorge Araújo, em livro que se aconselha vivamente, “A busca da Excelência”, escreve: “Para ser treinador, não basta saber. É fundamental saber transmitir, ser capaz de inspirar e mobilizar a motivação daqueles que dirige (…). Controlar a ansiedade, ser paciente (…). E mais importante a relação a estabelecer com os formandos, o estilo de comunicação que utiliza, que muitas vezes a matéria que aborda (…). Daí a necessidade de preocupação com aqueles que treinamos (…). Partindo sempre deles e não de nós” (pp. 105/106). De facto (vou repetir-me) não há jogos, há pessoas que jogam. E, se o humano é o infinitamente complexo, para debater um problema, discutir um método, esclarecer uma dúvida, no futebol, há necessidade de muito mais do que formular juízos apressados, por ignorância, inveja, antipatia e despeito. E portanto, silenciando sempre o essencial…"

Liga dos Campeões

"Esta terça-feira o Liverpool – Roma com o interesse de ver jogar Salah que está a fazer uma época excepcional e defrontava os seus antigos companheiros de equipa. Salah, na Premier League, tem 33 golos estando na frente da Bota de Ouro, Jonas tem 33 golos, mas o coeficiente do campeonato português é de 1,5 pontos, no campeonato inglês tendo em conta o grau de dificuldade é de 2 pontos.  
Na Liga dos Campeões, antes da meia-final com a Roma, tinha 8 golos contra o imperial Ronaldo com 15 golos.
Salah fez 34 golos em 83 jogos pela Roma. Todavia em 10 meses no Liverpool, já obteve 41 golos em 46 jogos.
A sua velocidade e poder de remate tornaram-no dos mais eficazes dianteiros da actualidade. Salah não deixou os seus créditos por mãos alheias no embate com a Roma. Marcou dois golos, o primeiro foi espectacular, duas assistências e inúmeras arrancadas que desfizeram a defesa da Roma. Contribui decisivamente para a vitória de 5-2 ante a Roma.
Visto, à distância, depois da transferência de Neymar por 222 milhões de euros, a sua transferência pelo valor de 40 milhões da Roma para o Liverpool foi uma pechincha.
Com esta exibição está relançado o caminho para o intocável pódio do tridente Cristiano-Messi-Neymar. Falta-lhe ganhar um título e se vencer a Liga dos campeões pode ser Bola de Ouro, mas atenção, ainda falta o Mundial.
Esta quarta-feira, o duelo Bayern Munique – Real Madrid para ver, de novo, Cristiano Ronaldo e companhia. Apesar, do seu mau arranque no início de época, Ronaldo chega a este momento numa forma fantástica. Ronaldo, por indicação de Zidane, ao dosear o seu esforço acertou na fórmula. Tem marcado em todas as partidas sucessivamente.
A sua eficácia é notória com 42 golos em 39 jogos! Esta performance é melhor que Messi (40 golos em 50 jogos) e do líder da Bota de Ouro Salah (41 em 46 jogos).
Zidane que é supersticioso, quis fazer como o ano passado. Falou para a imprensa Kroos, mesma tripulação do avião, mesmo hotel, equipamento preto, em vez, do habitual branco. A superstição deu resultado – o mesmo resultado do ano passado 2-1.
O jogo, desta quarta-feira, ficou marcado pelo fantasma do ano anterior, sobre a polémica expulsão de Vidal e com dois golos fora-de-jogo de Ronaldo. Todavia convém salientar, que Vidal, podia ter sido expulso antes e que o golo de Ramos na própria baliza vinha precedido de fora-de-jogo de Lewandowski.
Polémicas à parte, Ronaldo ficou em branco, mas ajudou o Real Madrid a vencer 2-1. As lesões de Robben e Boateng condicionaram de certa forma o Bayern de Munique.
A France Football pediu desculpa por nunca ter atribuído uma Bola de Ouro a Iniesta, mas também o deveria ter feito em relação a Ribéry que fez um jogo espantoso na ala esquerda.
Ribéry eleito o melhor jogador da Europa na temporada 2012/13, recebeu a Bola de Bronze nesse ano. Ronaldo continua como goleador máximo na Liga dos Campeões com 15 golos e tem Salah, agora, com 10 golos.
Os jogos em Roma e em Madrid vão ser emocionantes, pois, nada está decidido."

Sabe quem é? O morto não era ele - César

"Farsante viveu como se fosse o Herói da Libertadores; Por causa dele, o FC Porto sem Pedroto e Pinto da Costa

1. A caminho dos 63 anos, vive no aconchego de Atafona, lugarejo de São João da Barra: «Dá para fazer quase tudo a pé ir, vez que outra, pendurara conta da carne no açougue, colher de tudo do quintalzinho; côco, acerola, araça, romã - e pegar no barco para pescar, seja no rio, seja no mar, meu passatempo preferido. É, claro, também viver, gostoso, as memórias da minha vida no futebol».

2. O golo mais famoso que marcou foi o que deu ao Grémio a Taça dos Libertadores de 1983 - e havendo alguém que parecia incrível clone de si, passou a viver como se fosse ele. Tinham até a mesma idade - e o farsante chegou a participar em iniciativas do Grémio como se fosse o «herói da Libertadores», não sendo.

3. Ele, o verdadeiro «herói da Libertadores» já vivia na pacatez de São João da Barra - por isso não se apercebeu do alarido que, certo dia, causou a notícia da sua «morte» num hospital de Porto Alegre. Não, não foi ele que morreu na verdade, foi o farsante. Só deu conta disso quando um amigo ligou para dar pêsames à mulher, ele próprio atendeu o telefone - e antes até minuto de silêncio já se fizera no jogo do Grémio.

4. Meses, depois de se tornar «herói da Libertadores» sofreu lesão entre o fémur e a bacia - não mais ficou bom. Ainda penou pelo Palmeiras e o São Bento de Sorocaba, Scolari chamou-o para jogar na equipa que então treinava, o Pelotas: «Fazia um jogo, ficava 15 parado. Mesmo assim fiz uns golzinhos, mas vendo que não dava mais, parei de jogar». Tinha 31 anos - e nem pelada pôde fazer mais, depois.

5. Em São João da Barra, a 300 quilómetros do Rio, nasceu a 13 de Abril de 1956 - e quando o pai o foi registar juntou aos dois apelidos de família: Martins de Oliveira um nome apenas, nome de imperador romano. Futebol começou a jogar no Fluminense de São João da Barra, passou pelo Americano de Campos - e aos 19 anos saltou de lá para o Américo do Rio. Três anos tornou-se o melhor marcador do Campeonato Brasileiro: «Esse meu titulo tem história curiosa, sabe?! O troféu eu cheguei a receber, guardo lá na minha sala, mas o dinheiro do prémio nunca resgatei por causa da saída apressada para a Europa que eu logo tive...»

6. Ferreira Queimado sonhava com avançado de classe internacional no Benfica - e viajou para o Rio com uma ideia na cabeça: trazer Cláudio Adão, o Cláudio Adão do Flamengo. De repente tudo mudou: em vez do Cláudio Adão trouxe para Lisboa o avançado que o Flamengo já tinha combinado para o lugar de Cláudio Adão (e daí a sua «apressada saída para a Europa»).

7. A Lisboa chegou em finais de 1979 - e Mário Wilson logo o pôs a jogar. Foi em Portimão, fazendo ataque com Reinaldo. Na semana seguinte, contra o Marítimo, fez o seu primeiro golo em Portugal, os outros três da vitória da sua equipa por 4-0 foram de Nené.

8. Nos 12 jogos para o campeonato de 1979/80 marcou 8 golos. Nos 3 para a Taça fez um - e esse foi o golo da vitória na final com o FC Porto: «Lhe chamaram o gol da curva da banana, esse gol me salvou. Sem ele, a época teria sido um fracasso para o Benfica e, assim, talvez até a minha contratação tivesse melado...»

9. Também foi ele que o contou: «O Benfica tinha perdido o campeonato para o Sporting, só nos restava a Taça. Vi Fonseca goleiro do Porto, adiantado rematei com um efeito brutal e foi gol, um gol lindo. Os telejornais do Brasil deram destaque grande, vários jornais disseram: um brasileiro deu um titulo ao Benfica de Portugal! E, na época seguinte, então, ganhámos tudo!»

10. Essa época em que ganhou tudo foi a de 80/81. O golo que marcara no Jamor levou no Verão Quente das Antas - quer Pedroto, quer Pinto da Costa foram-se embora de lá em guerra com Américo de Sá. E do Benfica se foi ele embora em 1983, com dois campeonatos e três Taças.

11. Foi para o Grémio, outro era para ser o seu destino. Estava apalavrado com o Boavista quando Fábio Kroff, presidente do Grémio, lhe telefonou de Porto Alegre, desafiando-o para lá, dizendo-lhe que precisava dele para ganhar a Taça dos Libertadores - e ele contou muito depois: «Fiz as malas de pronto, o pessoal do Boavista está me esperando lá até hoje...»"

António Simões, in A Bola

Sabe quem é? Antes foi o horror... - Júlio César

"A baliza mais pequena que o seu medo; Para ir treinar, a mão dava-lhe com água na cara (e ainda era madrugada)

1. Janderson, o irmão mais velho Espíndola começou por ser conhecido, quando se revelou no Botafogo - mas já era o Pardal quando foi campeão pelo Vasco em 1997. Júnior, o outro irmão, não quis fazer vida do futebol, mas abriu-lhe caminho à eternidade...

2. Entre a família Espíndola, sempre o trataram por Cesinha e tudo começou como a mãe contou: «Era sempre Júnior que o desafiava para os fundos da casa onde morávamos na Zona Norte do Rio. Duas cadeiras serviam como postes, as meias garantiam a diversão. Elas eram enroladas como bola. E também substituíam as luvas nas mãos do Cesinha... Até que um dia ele chegou a falou que queria ganhar luva de 'goreiro'. Ele nem sabia falar ainda direito e já era destino».

3. Era destino mas não foi esse logo o seu destino: «Minha parada era só rua, futebol de rua, futebol de esquina. O carro vinha e a gente falava 'carro'. Aí todo mundo parava no lugar, esperava, o carro passar e a gente continuava. E, nessa altura, eu só pensava ser como Janderson, marcar golos...»

4. Tudo mudou na tarde em que ele e Júnior se precipitaram para o campo do Grajaú, perto de casa: «Fomos só para aquele gol e gol na quadra, de chutar de um para o outro. Aí faltou jogador que era federado no pré-mirim e me chamaram para completar o time. Era o goleiro que não tinha ido, fui eu - logo me perguntaram se queria continuar jogando pelo Grajaú, continuei...»

5. Não era futebol de 11 que jogava no Grajaú - era de salão. Ricardo Vandejão, seu treinador, soube que o Fla andava à procura de guarda-redes nascido em 1979 - e convenceu Isaías Tinoco a levá-lo à Gávea: «Quando soube que ia no Flamengo, nem acreditei. Era o clube de toda a família. Fiz semana de experiência lá, mas foi um horror...»

6. A razão de ser um «horror» era a baliza mais pequena que o seu medo: «O gol era bem maior que no futebol de salão, corria atrás da bola, gol. Corria atrás da bola, gol. No futebol de salão só pulava no lugar, não fazia aqueles saltos necessários no campo, não dava medo, não». Por isso, ao voltar a casa, descrente, murmurou: «Não vou ser aprovado, não. O gol do 11 é grande, tudo o que chuta, entra». Enganou-se.

7. Por essa altura já tinha ídolo que foi a luz que lhe marcou o caminho: Taffarel. Acabara de fazer 13 anos e ao assinar pelo Flamengo - ainda andou tempo sem gostar nada da baliza grande (o medo, perdeu-o...): «Mas o que eu curtia mesmo era o futebol de salão. Depois, havia o outro troço...»

8. Desse «troço» que ele dizia falou a mãe: «Tinha de chegar à Gávea às 7 horas da manhã para treinar. Sempre o acordava às 6 e ele se levantava meio sonolento. Ás vezes jogava água no rosto dele para o despertar, mas era o chuveiro que o acordava mesmo, o empurrava para lá a dormir. Levava marmita no campo porque após o treino ia direito para a escola, só tinha tempo de almoçar lá dentro mesmo. Era tudo na correria. Mas valeu a pena, sim...»

9. Andou tentado a largar o Fla: «A casa chegava às 10 da noite todo destruído e tinha de voltar a levantar de madrugada. Falava para minha mãe que voltar para o futebol de salão do Grajaú, mas ele não deixou».

10. Em Duque de Caxias nascera prematuro com sete meses e 18 dias, a 3 de Setembro de 1979 - e aos oito meses já andava, já corria atrás das bolas que havia por casa. Aos 17 anos, estreou-se no primeiro time do Fla: «Entrou na fogueira contra o Palmeiras em jogo decisivo da semifinal da Copa do Brasil, após Zé Carlos se machucar. Fechou o gol, o Flamengo se classificou para a final. E foi a 13 de Maio, 13 de Maio de 1997», disse Fátima, a mãe...

11. O resto é história, uma história de 30 títulos. Do Benfica levou mais do que três campeonatos. Do Inter, com Mourinho, levou mais do que Liga dos Campeões. Nesse ano de 2010, em que foi eleito o Melhor Guarda-Redes do Mundo, o Brasil ganhou a Taça das Confederações à Espanha, ele subiu à tribuna para receber as medalhas com a camisola de Casillas vestida em sua homenagem. Ao pegar no telemóvel viu mensagem de Mourinho. O que lá estava deixou de ser segredo antes do seu emotivo no Flamengo - América: «Tu estás maluco. O gajo é que tem que vestir tua camisola e não tu a dele» - e ainda disse que Mourinho lhe dissera que com um braço defendia mais do que Casillas com os dois..."

António Simões, in A Bola